Corri o mais rápido que pude, ignorando todas as placas e sinais de segurança. Tal atitude muito provavelmente me renderia alguma multa. Mas aquilo pouco me importava. Eu tinha dinheiro para pagar quantas multas fossem, mas, nem todo o meu dinheiro, seria capaz de reverter a situação de Charlie, se ela fosse muito grave. Bella me encarava com os olhos cheios de lágrimas, como se fazer isso fosse mudar alguma coisa.

– Vai ficar tudo bem, Bella. – Murmurei baixo.

– Eu não sei Edward, eu tenho medo... – Uma lágrima rolou pelo rosto pálido – Em pensar que isso é culpa minha.

– O que? – As palavras saíram engasgadas de minha boca, aquela ideia era absurda. – Você não sabe o que está falando okay? A culpa não é sua.

– Claro que é, Edward. Eu criei uma mentira, e essa mentira levou a outras mentiras, e eu acreditei tanto nessa mentira... Veja o que eu fiz com Jenn. Ela pode ser uma vadia, mas meu pai a ama. Isso porque ele nem sabe a verdade, quando souber...

– Nós vamos conversar sobre isso. Conversar de verdade. – Disse-lhe com firmeza. As palavras de Abbie, que eu estava considerando a pessoa mais sabia que eu já conhecera, ecoavam em minha cabeça. Ninguém vive uma mentira por muito tempo, por mais verdadeira que ela seja. O pior, meu querido, é que estão enganando a vocês mesmos. E é nesta mentira que não podem viver. Podem coexistir com ela, é bem verdade. Mas viver? – Mas não vamos conversar agora. Seu pai é mais importante.

– Edward. – Olhei para ela – Obrigada.

Minha vontade foi de parar o carro naquele instante e abraça-la o mais forte que eu podia. Como se não fosse soltá-la nunca mais. Entretanto apenas acenei positivamente com a cabeça, e tornei a olhar para a estrada a minha frente. Não era a minha maior vontade, certamente. Mas era a coisa certa. Ela não precisava daquilo, tampouco eu. Precisávamos ajudar Charlie, precisávamos chegar lá o mais rápido possível. Era o que eu precisava fazer. Ajudá-la. E era o que eu faria. Então assim seguimos caminho, silenciosamente, não por que não tínhamos nada a falar, muito pelo contrário, tínhamos muito. Porém o silêncio era necessário. Para ambos.

– Por favor, pai me diga que está bem. – Isabella jogou-se em cima de Charlie assim que entramos em seu quarto. Ela tinha lágrimas no rosto assim como ele.

Uma parte da família estava na sala, amontoada nos sofás cadeiras, e degraus da escada, a outra estava no quarto com o homem doente. Mesmo tendo passado apenas o fim de semana com Charlie aquela cena me partia o coração, seu rosto estava mais pálido do que a última vez que eu o vira. Como se ele tivesse cansado de lutar e de resistir, e apenas houvesse decidido entregar-se, ao que quer que fosse. O médico, que parecia ser o único disponível naquela cidade, chegou alguns minutos depois de nós, trazendo uma única maleta, juntamente com a sua cara de preocupação.

– Charlie... – Ele murmurou.

– Jake! – Bella exclamou e abraçou o jovem médico. Não sabia se era muito mais novo que eu, mas certamente não era mais velho. Sua pele morena ajudava a esconder a idade, fosse qual fosse. E o sorriso travesso que ele trazia nos lábios contribua igualmente. – Quanto tempo.

– Muito tempo mesmo, Bellinha. – Ele respondeu mexendo nos cabelos dela.

– Imagino que sim. – Resmunguei, chamando a atenção dos dois. – Mas se o médico deixar o momento do reencontro romântico de lado e se ater ao que realmente importa... – gesticulei para Charlie – Agradecerei.

– Claro. – Respondeu se recompondo. Bella me lançou um olhar que eu não consegui decifrar enquanto caminhava até mim, e me puxou para um canto mais distante dos outros.

– Não fale com ele assim. Jacob é meu amigo! – Revirei os olhos. – Escute, ele não tem culpa se você está com raiva de mim okay? Ninguém tem. Resolveremos nossos problemas mais tarde.

Voltei para minha posição ao lado da cama de Charlie, que estava sem camisa, enquanto Jacob o examinava. Eu sentia todos os olhares daquele quarto sobre mim, e eu não entendia o motivo. Vez ou outra, enquanto fazia o checape, o médico pedia auxílio à Isabella. Acho que além de médicos na cidade, estavam faltando assistentes. Uma pena. Não demorou muito e ele pediu para Charlie vestir a camisa novamente, e deitar-se. Sua expressão não se parecia em nada com as que antecedem as más notícias, entretanto, de forma alguma, aquela cara poderia significar coisa boa. Jacob chamou a Isabella em um canto, e ela me arrastou junto.

– Chamei você até aqui Isabella porque não queria falar na frente de toda aquela gente. – Ele começou enquanto estávamos no quarto dela.

– É algo grave, Jake? – Ela indagou, a preocupação transbordando em sua voz.

– É... Bem... – O médico parou lançando um olhar desconfiado sobre mim.

– Ah! Tudo bem, Jake. Este é Edward o meu... – ela engoliu em seco antes de falar a palavra. – noivo.

– Tudo certo então. É um prazer – Disse-me sorrindo. – Indo direto ao ponto, a situação de Charlie não é boa, eu já havia dito isso a ele, três meses atas em nossa primeira consulta, mas ele não pareceu me escutar hã? Eu pedi para ele tomar cuidado, e até falei com Ângela. E nenhum dos dois me deu ouvidos, seu pai precisa de alguém para cuidar dele, Bellinha. Não acho que, apesar dessa família enorme, ele vá ter isso aqui.

– Você está me dizendo que meu pai está doente há pelo menos três meses? – Bella indagou e ele fez que sim com a cabeça. – E que Ângela sabia de tudo? Tudo? E não fez nada para ajuda-lo?

– Bella eu acho...

– Jacob, eu preciso saber a verdade, quais são as chances do meu pai?

– Com sinceridade, eu não posso te falar muita coisa. Você sabe que o equipamento que temos aqui é precário, e eu sou um médico recém-formado. Mas eu posso te garantir uma coisa, as chances do seu pai serão bem melhores na capital, onde você mora. Se você pagar um bom médico e cuidar dele...

– Pagar um bom médico? – Ela fez uma careta. – Eu gostaria mas...

– Isso é perfeito, Jacob. – Interrompi o que eu sabia que Bella ia dizer – Levaremos Charlie conosco.

Ela me encarou com os olhos marejados, então envolveu meu pescoço com seus braços, enquanto rompia em um canto de soluços. Emaranhei minha mão esquerda em seu cabelo, e com a direita acariciei seu rosto sentindo as lágrimas molharem a ponta de meus dedos. Aspirei ao doce aroma que vinha de seu cabelo. E só então tornei o olhar para Jacob.

– Acho que só precisamos convencer o velho Swan, hã?

– Essa parte você deixa comigo. – Ele respondeu piscando para mim.

~*~

– É um belo apartamento, Edward. – Charlie disse, acomodando-se na cadeira acolchoada.

– Ainda acho que minha casa seria a melhor opção. – Bella cruzou os braços colocando-se ao lado pai.

– Por favor, Isabella. – Revirei os olhos, aquele virara um hábito para mim depois que eu começara a conviver com a minha não noiva. – Você sabe muito bem que meu apartamento tem mais espaço, e quartos para todos nós. Além do mais, o hospital é só há alguns minutos daqui. Estamos fazendo isso pelo seu pai lembra-se? Não por você. – Coloquei a boca junto de sua orelha. – Estou fazendo isso por você também, mas ninguém precisa saber não é mesmo?

– Tudo bem, Cullen. É só mostrar com qual quarto ficaremos.

– Bem, seu pai fica com o primeiro quarto, ele é maior e mais arejado. Você com o quarto ao lado do dele e eu...

– Esperem aí. – A Voz fraca de Charlie pronunciou-se em meio a nossa pequena discussão. – Vocês vão dormir em quartos separados? – Uma risada fraca rompeu de seu peito. –Eu já falei a vocês, sei que não são mais crianças. Sei que as coisas não são mais como no meu tempo, e sei que vocês já dormiram juntos. – Ele suspirou – Não quero que vocês mudem sua rotina por minha causa, não quero causar mais problemas do que eu já causo...

– Pai nunca mais repita isso, ouviu? – Bella agachou-se ao lado dele e deu-lhe um beijo na testa. – Nunca mais.

– Tudo bem, Senhor Swan. Isabella dormirá comigo, como sempre. – Eu disse sentando no braço de sua cadeira. – E, sinceramente, eu lhe agradeço por isso.