Assim que esbarrei no Nicolas senti, pela primeira vez o que todos dizem “ser ignorada”. Ele não foi nem um pouco cavalheiro, apesar de por culpa dele minha bolsa ter caído e todas as minhas coisas pessoais terem sido espalhadas. Ele ao menos teve a cara de pau de se desculpar ou me ajudar.

Frustrada completamente, fui a direção ao meu dormitório pisando duro, como é que aquele brutamonte nem sequer olhou para mim? E pela segunda vez? Quem aquele babaca pensava que era?!

Entrei no meu quarto. Infelizmente a Kince Joyce era sempre deprimente e para completar nada podia modificá-lo... No quarto havia três camas com roupa de cama preta e branca, uma janela estilo vitoriana, uma porta que provavelmente daria para o closet e a outra para o banheiro. Em frente às camas tinha uma escrivaninha e ao seu lado umas 6 prateleiras.

Assim que passei os olhos no quarto avistei minha mala em frente à cama do meio, sem rodeios, me joguei sobre ela e abri a menor das minhas malas. Pelo menos eu teria muito que fazer esse ano para não surtar. Retirei minha tão amada coleção de livros e organizei nas prateleiras.

Depois de um tempo Leninha e Yve apareceram com caras de quem viram um fantasma.

– O que aconteceu? – perguntei sem me importar muito.

– O que aquele novato tem na cabeça? Ele nem te deu uma olhadinha. – falou a Yve como se não fosse obvio.

– Pois é, será que ele é gay? – cochichou a Leninha

– Ah pelo amor de Deus eu nem to ligando, ele é só mais um homem, não é o único! – menti – Como se eu me importasse, homens são todos iguais.

– A-hã! para de mentir! Você não convence nem bebês! – riu a Leninha – Esta se mordendo de raiva por que o novato não te deu bola.

– Eu não sou como umas e outras que se jogam pro primeiro que aparecem. – resmunguei empinando o nariz.

– Ai! Doeu. – respondeu a Leninha fingindo raiva.

E como estranhas completas que somos, nos três caímos na gargalhada.

– Eu acabei de ter uma ideia! – falou a Yve.

– Que ideia? – perguntei desconfiada que só eu.

– Hoje vai ter a “apresentação oficial” certo? - falou a Yve – Então... você vai ficar mais gata do que já é, e vai infernizar a vida do Nicolas. Vai usar a tática da minha mãe.

– Hm... que tática?

– Dar “cordinha” e puxar. Sempre funciona. – falou.

– Que porra é essa?

– Ai meu Deus! – falou – É o seguinte você vai seguir alguns passos e logo ele vai cair aos seus pés!

– Eu não quero ele...

– Claro que quer! Não minta pra nós. Você ficou louca da vida quando ele não te olhou. – falou a Leninha rindo.

– Ficou tão óbvio assim? – resmunguei. Aquelas piranhas não podiam me conhecer tão bem, que droga!

– Claro amor. Conhecemos-nos a cerca de 10 anos, nunca vamos deixar passar alguma coisa.

– Humpf! Conta logo como funciona essa merda de “cordinha”. – falei impaciente.

– Vou escrever as metas nesse caderno e você pratica depois. Primeiro vamos arrumar essas malas no closet. – falou a Yve.

Ela escreveu no caderno por um tempo até que me entregou.

Dicas da Dona Mel para conquistar qualquer um.

Passo número um: Caprichar no visual – Homens gostam do que é bonito, luxuriosos como só eles conseguem.

Passo número dois: dar cordinha e puxar – A regra e o seguinte: ninguém quer perder o que já tem. Primeiro você da muita atenção para ele, faça com que ele te note, brilhe mais que as outras. Quando ele estiver completamente na sua ignore-o completamente, finja que o esqueceu e que ele é passado.

Passo número três: converse sobre ele - como citei anteriormente homens são trogloditas machistas e querem sempre holofotes ao seu redor... Aproveita e da uma pesquisada no que ele gosta para ficar por dentro.

Passo número quatro: conte pouco sobre si mesma – homens gostam de mistérios, segredos, se você abrir o jogo ele vai se desinteressar. Faça com que ele tenha sede por você, de pouquíssimas informações. Vai deixá-lo muito curioso!

Passo número cinco: seja recatada – homem gosta de tomar poder, deixe que ele a “conquiste”, porque assim ele se sentiria mais “seguro”.

Passo número seis: Nunca deixe de ser você mesma – não que você precise né amoreco!

É isso curta as dicas! Bjs! ♔ ♥

Olhei para Yve um pouco desconfiada. Isso era muito infantil, alguma coisa me dizia que não daria certo. Mesmo assim sorri e levei minha mala para o closet.

Ficamos um tempão ‘brincando’ com nossas roupas e nos organizando.

Quando o relógio da cômoda de Leninha apitou 18h resolvemos que já estava na hora de nos arrumarmos. A primeira a se arrumar foi a Yve que parecia que ia explodir de animação.

Assim que ela saiu do banheiro entramos novamente para escolher sua roupa. E logo bateu a nostalgia.

A Yve foi minha primeira amiga naquele internato, ela sempre fora a ‘romântica’, sempre suspirava e se decepcionava com os idiotas que a cercavam. Yve era sempre muito bem arruma e nunca deixava de usar seu look favorito, como a própria gostava de rotular: ‘roupa de patricinha’.

Apesar de na época zoarmos ela por causa do seu sotaque austríaco, mas ela sempre foi a mais bonita: tinha cabelos loiro-dourados, olhos cinzas, a pele bem branquinha. Ela era incrivelmente alta e tinha um corpo tão magro, que seria modelo sem nenhum problema.

Quando voltei do meu flashback ela já estava ao meu lado vestida com uma calça jeans amarela, uma blusa larguinha e um salto magnífico.

– Como é que o Brad te deixa sair na rua? – perguntei

– Ah, ele sabe que não pode me conter. – falou sorrindo convencida.

Em seguida veio a Leninha de lingerie vermelha.

– Também quero ajuda! – falou com biquinho.

Eu ri, como se ela precisava.

Acabei tendo outro flashback - só que desta vez da Leninha – Lembrei da primeira vez que nos vimos. Gente como odiei aquela garota. Ela era a exibição em forma física. Principalmente por ser muito gata, a Helen era o tipo de pessoa "sou gostosa e sei disso" e aquilo vivia me irritando. Principalmente porque Leninha era TUDO O QUE EU QUERIA SER.

Com cabelos castanhos que sempre caiam em cachos pesados, olhos azuis escuros, que mais pareciam jóias, baixinha e bem magrinha. O tipo de garota que atrai a todos. E era isso que me dava mais raiva, ela vivia com uma penca de meninos na cola dela e fazia questão de jogar na cara da pobrezinha da Yve. Acabou que em um belo dia nós ficamos presas na sala da diretora depois de uma infantil guerra de pegadinhas. E nos entendemos muito bem...

– Hei coisa ruiva! – gritou a Leninha, como sempre tão educada... – O que você achou?

Observei atentamente o visual dela: um vestidinho azul, um salto preto e um colarzinho muito fofo.

– Você esta muiiito linda! – falei

– Agora é você dondoca! – respondeu a Leninha.

Entrei no chuveiro e para a minha infelicidade o primeiro pensamento que tive foi no Nicolas.

Sai do chuveiro vestida apenas de lingerie e parei na frente das meninas.

– E eu o que eu posso fazer? – perguntei

Depois de caçarmos algumas peças peguei um short jeans básico, uma blusinha verde, um saltinho preto e umas joias bem básicas.

– Hmm, você esta tão básica. – resmungou a Yve

– Eu não quero parecer uma discoteca e eu não acho que estou básica, achei legal essa roupa. – respondi no mesmo tom.

– Hei, eu achei bem legal. – defendeu a Leninha.

– Ta vamos acabar com esse blá-blá-blá, temos uma festa para ir! – gritei. Olhei uma ultima vez no espelho e chequei como eu estava.

Bom... eu não conseguiria fazer milagres em mim nem mesmo com a ajuda dos céus.

Desde pequenina eu implicava comigo mesmo por odiar meu cabelo vermelho-alaranjado que viviam embaraçando por serem tão cacheados, os meus olhos verdes que eram tão sem graças e comuns. Infelizmente eu era bem gordinha quando criança, mas com uma forcinha do personal treiner que contratei quando fiz 13 anos consegui chegar num peso aceitável e agora seguia sempre uma linha rígida para não voltar a ter pesadelos com a balança. E finalmente minha altura que não passava de 1,65m.

Finalmente respirei fundo e segui em frente.