Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 11
Future


Notas iniciais do capítulo

PESSOAAAAAL! Quanto tempo ;-;
Peço desculpas às pessoas que estão acompanhando a fic, eu realmente a deixei pra lá, mas agora voltei. Tirando o fato de a escola estar ficando cada vez mais difícil, houve um grande bloqueio criativo e outros eventos x.x
Maaaaas espero que gostem e comentem, porque assim eu me incentivo cada vez mais a escrever... xD



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Just think of the future
And think of your dreams
You'll get away from here
You'll get away eventually

So just think of your future
Think of a new life
Don't get lost in the memories
Keep your eyes on a new prize

— O quê? — perguntei incrédulo. — Uma tatuagem?

Clary franziu o cenho.

— Sim, uma tatuagem. — ela fez uma pausa. — Por quê? Ainda é um Careta? — completou, rindo. Dei um longo suspirou e a encarei, porém, meu olhar não a intimidara. Ignorei-a, voltando meu olhar para o chão.

Quando me juntei à facção dos audaciosos, meu único objetivo era tornar-me um novo homem. Esquecer totalmente as virtudes cultivadas pela minha ex-facção e pelos meus pais. Queria ser imprudente, corajoso, audaz. Egoísta. Entretanto, a partir do momento em que derramei uma gota de sangue nas brasas do recipiente da Cerimônia de Escolha, percebi que, de fato, uma parte de mim ainda seria abnegada. E derramar o que percorre em todo o meu corpo seria algo totalmente simbólico. Aquilo não mudaria o meu espírito altruísta. Nunca. Mas isso era tudo que a minha nova facção não poderia saber.

Acordei do devaneio com Amah pigarreando.

— Ok, tudo bem. Eu vou fazer uma tatuagem. — disse, tentando esconder a falsa coragem e levantando, indo em direção aos corredores.

O estúdio de tatuagem ficava no próximo corredor e era enorme. O local era iluminado por luzes também vermelhas e roxas, fazendo com que esta sala fosse uma extensão da outra. Logo no começo, havia uma espécie de pilastra coberta por tábuas feitas de vidro, nas quais havia desenhos. Tatuagens. Observei todas elas, deslumbrado, até ser surpreendido por uma bofetada na cabeça. Num movimento reflexo, a única coisa que fiz fora segurar o braço da pessoa. Mas era apenas Clary.

— Relaxa! — disse, e continuou andando. Fiz o mesmo, e enquanto andávamos, pude ver várias outras pilastras daquelas.

À medida que íamos avançado, sentia-me deslocado ao ver toda a multidão eufórica e todos os seus gritos de comemoração, ou até mesmo de indignação. A mesma sensação desconfortável que previamente já havia desfrutado. Porém, segui os passos de Clary calado, enquanto ia à procura de Tori. E lá estava ela, localizada no final da sala, curvada, e com os olhos angulosos e pequenos focados numa garota que aparentava ser mais jovem que eu, mas que definitivamente era selvagem. Seu cabelo raspado, somado ao seu rosto simétrico, a tornavam uma figura exótica. A tatuadora mal percebera a nossa visita, pois estava inerte em seu trabalho. Quando a garota da Audácia levantou-se da cadeira, nos olhou de relance, mas logo deu de ombros.

— Eu geralmente não agradeço as pessoas que não fazem mais do que sua obrigação, mas tanto faz. Obrigada, Tori.

Tori sorriu levemente.

— De nada, Lynn. — disse, e a garota se retirou dali.

— O que fazem aqui, Clary e Quatro?

— Ele veio fazer uma tatuagem.

Tori franziu o cenho. Dei de ombros.

— Uau. Então, qual tatuagem irá fazer e onde?

— As chamas da Audácia. — disse, voltando meu olhar a Clary, que sussurrava algo ininteligível. Dei de ombros e retomei. — Entre as omoplatas.

Ela assentiu com a cabeça, e me direcionou a cadeira onde Lynn havia sentado. De fato, estava avulso a todos os atos da Audácia, logo, não sabia como seria feita a tatuagem. A única coisa que tinha em mente é que aquele momento seria glorioso. Um pequeno ato de bravura que somado a todos os outros, eclodiria um sentimento audaz. Uma parte audaz de mim.

Tori conectou um eletrodo em minhas costas, fazendo com que eu me sentisse ligeiramente desconfortável. Ignorei o pensamento e fechei os olhos, perdendo-me em meus próprios devaneios. E em meio a todos eles, lembrei-me de todos os meus breves e poucos momentos de glória: a gota de sangue derramada no recipiente em chamas, a histeria causada pela iniciação da Audácia, os olhares e o silêncio que ecoavam no refeitório em sinal de respeito após saberem dos meus quatro medos.

Tudo isso, fugaz no tempo, tornou-se perene em minha memória.

+++

Findo jogo, Clary e eu seguíamos pelos corredores, já cansados devido o tempo gasto, e conversando sobre variados assuntos. Os outros nos seguiam, e olhando de relance, parecia-se um emaranhado de corpos que não conseguiam se sustentar. Por fim, retomei a conversa com Clary.

— Às vezes sinto que nasci no lugar errado, e que meu destino me fez escolher um lugar ainda mais errado.

Ela sorriu fraco e franziu o cenho.

— Por quê? Acha que não é altruísta o suficiente para ter nascido na antiga facção, e acha que não é corajoso o suficiente para estar aqui?

Pus-me em silêncio, refletindo sobre o que Clary havia acabado de falar, e percebendo a quão tola fora minha fala. ‘Adapte-se’, lembrei-me do conselho de Amah e retruquei.

— Acho-me altruísta, sim, mas não havia outra opção. Eu nasci ali, e todos os ensinamentos foram pautados em ‘não seja egoísta’. Logo, fui obrigado a desenvolver uma virtude que nem mesmo sei se valera a pena. E me sinto corajoso. Mas partindo do pressuposto que eu já fui um abnegado, há uma grande dificuldade de adaptação, e eu não consigo enxergar-me com tanto triunfo no futuro quanto você. — disse, arrancando um suspiro teatral da garota.

— Quatro, diga-me. Você conseguiria se enxergar preso num laboratório, pesquisando sobre algo que sequer sabe se é verdade, baseando-se em teorias? Conseguiria viver num local onde a verdade, mesmo que nua e crua, seja essencial para o convívio? Ou então, conseguiria viver num local onde tudo que se prega é a paz, um lugar onde todos são passivos em relação aos acontecimentos? — ela indagou, esperando uma resposta. Balancei a cabeça, em sinal de negação, e ela retomou sua fala. — Então não há um lugar pra você nesse mundo.

— O mundo é feito de adaptações, Clary.

— Então se adapte! — disse, soando com um grito.

— É o que eu estou tentando fazer, eu lhe juro. — respondi em um tom mais baixo, fazendo com que ela também se acalmasse.

— Tobias, eu te acho corajoso. Não sei se conseguiria mudar de vida de modo tão repentino como você. De abnegado a audacioso. Mas você precisa entender que não adiantará ser pessimista por aqui, pois não é uma opção. Ou acredite no seu triunfo, ou simplesmente desista.

— Obrigado. — disse sorrindo, de fato agradecido pelo conselho. — Mas, se não se incomodar, poderia me chamar de Quatro? Desse jeito, realmente me esqueço da figura patética que já fui antes.

— Tudo bem, Quatro. — disse, sorrindo. — Não se esqueça do meu conselho, há uma grande parte de pessoas nascidas aqui que são extremamente inúteis. Mas há as perigosas. Não demonstre a sua fraqueza a nenhum dos dois tipos, assim, terá um bom desempenho. — terminou a frase, ainda com o sorriso no rosto, enviando uma piscadela a mim.

+++

Estava novamente na Abnegação. Desta vez, via meu pai agredindo Evelyn, que pedia por socorro a mim. Mas não havia absolutamente nada a se fazer. Eu estava preso, preso em meu próprio quarto. Não conseguia sequer sair daquele lugar, pois havia uma espécie de barreira invisível na porta dali.

A cena continuava a se repetir, de modo mais violento. Conseguia observar o sangue escuro de minha mãe caindo sobre o chão e o olhar inquietante e demoníaco de Marcus, que continuava a bater em minha mãe sem pudor. Queria gritar, mas não conseguia. Queria chorar, mas não conseguia. A primeira e única coisa que viera à tona naquele momento, fora o vaso azul. Escondido em meu baú, ele estava intacto. Segurei-o com força, disposto a acabar com aquela cena.

Evelyn e Marcus agora voltavam seus olhares a mim. Evelyn chorava incessantemente, enquanto ele sorria satisfeito com o que estava fazendo. O esforço em salvar a pobre mulher que era agredida por seu próprio esforço fora enorme, fazendo com que eu gritasse e o meu grito ecoasse por todas as partes, quebrando todas as espécies de objetos cortantes. O vaso continuava intacto, e só então percebi que o único jeito de salvá-la, seria acabando com aquilo.

Num momento de impulso, arremessei o objeto em direção a Marcus, que caiu no chão, junto ao corpo ensanguentado de Evelyn.

Abri os meus olhos e por uma fração de segundos, pensei em gritar. Mas era apenas um pesadelo, e o silêncio dominava aquele lúgubre dormitório. Percebi que meu corpo estava suado e havia lágrimas escorrendo de meu rosto e decidi sair daquele local, que parecia me sufocar, assim como a caixa a qual permaneci enquanto enfrentava a claustrofobia na paisagem do medo. Caminhei em passos lentos, preocupando-me em não acordar ninguém. Não sabia se poderia estar fazendo aquilo, mas pela primeira vez, não me preocupei com as consequências e também não sabia se isso era negativo ou positivo.

Havia algumas luzes que iluminavam os corredores da Audácia, mas elas se alternavam, pois já era tarde. Em um dos trechos iluminados havia um relógio, o qual marcava às 3h00. Continuei caminhando pelos corredores, que eram feitos de pedras entrelaçadas umas às outras - que sustentavam o local - e transmitiam a sensação de obscuridade. Nunca tive medo do obscuro, afinal, aprendi a viver nele. Na realidade, sentia uma espécie de conforto no obscuro.

Enquanto andava, percebi que havia chegado à extremidade dos corredores e estava sob o abismo. Ele era iluminado apenas por uma única lâmpada, que se localizava no meio do caminho. Sentei-me ali, e minhas pernas alcançaram as pedras frias e úmidas do precipício. Meu coração batia de maneira tão forte, que conseguia ouvi-lo nitidamente. Misturado ao medo, o frescor do local formou um paradoxo em mim, mas dei de ombros. Fechei os meus olhos e fiquei inerte por vários minutos.

— Quatro, Quatro... Não deveria estar aqui, sabia? — disse uma voz irreconhecível. Era de um menino.

— Quem é? — retruquei, o mais alto possível, e ouvi passos cada vez mais próximos a mim. Quando a imagem do garoto formou-se devido à luz que estava iluminando-o, eu já estava de pé, mesmo que minhas pernas fraquejassem.

— Está com medo, Careta? — Eric indagou, dando uma risada sarcástica. — Acho que já descobri um de seus quatro medos.

— O que você quer? — perguntei, tentando manter minha postura ereta, embora o medo estivesse impedindo.

— Descobrir os seus segredos. — disse, fazendo uma pausa. — Sabe, eu sempre tive uma curiosidade por abnegados. — terminou a frase, jogando-me no chão.

Um ímpeto de desespero me invadiu, seguido da agonia por saber que não poderia gritar. Não sabia ao certo o que ele estava tentando fazer e não consegui fazer nada, apenas contrair todos os meus músculos e me equilibrar. Por fim, Eric me encurralou, e minhas esperanças de sair dali já tinham se esgotado.

— Não acha injusto atacar um alguém que nunca fez nada a você por puro egoísmo? Não é uma atitude nem um pouco corajosa. — disse.

— Você é tão tolo! — ele falou, aproximando o seu rosto ao meu, especificamente a sua boca.

Estava assustado demais para dizer alguma coisa, então empurrei seu corpo, que vacilou e foi para trás. Ainda zonzo, levantei-me e fui em direção ao corredor correndo, porém caí devido à mão de Eric, que segurou meu pé.

— Não vai escapar tão fácil assim de mim.

— Eu não sei qual é o propósito disto tudo. Apenas me deixe em paz!

— Eu sempre consigo o que quero. E você NÃO vai escapar de mim!

Um ataque de fúria parecia ter tomado conta do corpo de Eric. Seus cabelos, antes graciosamente ajeitados, agora estavam totalmente bagunçados e seu rosto estava extremamente vermelho. Os olhos azuis pareciam ter adquirido uma espécie de tonalidade diferente, mais cinza. Pareciam raios de uma grande tempestade.

Meu corpo, já frágil pelo efeito da adrenalina, estava quase desistindo. Em adição a isso, havia o perturbador som da água que batia nas pedras do abismo, e que aumentavam ainda mais meu medo. Quase desistindo, recordei-me dos momentos de repressão causado por Marcus, e vi naquela oportunidade, uma forma de explorar meu novo destino. O destino de um homem audaz. Cuspi seu rosto e recompus-me, encurralando-o entre as minhas pernas.

— Não lhe conheço, Eric, mas acredite: estamos em um novo lugar. E aqui, você aprenderá a contentar-se com o que tem. Aprenderá a ouvir um “não”. A partir de agora. — proferi, cerrando meu punho e desferindo golpes em seu rosto.


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