Selfless and Brave. escrita por comfortablynumb


Capítulo 10
Youth


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, novamente. Comentem, seus comentários me incentivam bastante a continuar ;D



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We are the reckless

We are the wild youth

Chasing visions of our futures

One day we'll reveal the truth

That one will die before he gets there

And if you're still bleeding, you're the lucky ones

'cause most of our feelings, they are dead and they are gone

We're setting fire to our insides for fun

Collecting pictures from the flood that wrecked our home

It was a flood that wrecked this

O resto do dia passara-se rápido. Voltando ao centro de treinamento, o velho desconforto que sentia quando empunhava uma arma me acompanhava, entretanto, consegui controlar-me, de maneira que ninguém notara em mim. Exceto Amah.

— Qual foi, Careta! — ele limpou a garganta, fazendo uma pausa, mas dando de ombros. — Está mais branco que minha camisa. Algum problema com a arma?

Hesitei em respondê-lo, lembrando de minha paisagem do medo. Teria ele esquecido tão facilmente dela? Apenas quatro medos, e um deles, o de segurar uma arma. Por fim, permiti-me a retrucar, sincero.

— Ah... você sabe. Não estou acostumado com toda a histeria da Audácia. E nem com todo o contato com armas. Uma vez abnegado, sempre abnegado. Você deveria saber disso, visto que acompanhou-me nos testes do medo.

Ele balançou a cabeça, em negação.

— Adapte-se. Não vai querer ser tachado como maricas depois de apresentar apenas quatro medos. Adapte-se, e se sairá bem.

Suspirei rapidamente, fazendo com que Amah não reparasse. "Adapte-se". Não será tão fácil assim, pensei, mas, apenas assenti com a cabeça.

— Ótimo. Não se esqueça, hoje à noite, iremos jogar. — disse, passando a mão nos cabelos. — Adapte-se.

O instrutor virou-se, e tentando seguir seu conselho, olhei a arma. Ainda com as mãos tremendo, em uma fração de segundos lembrei-me do manifesto da Audácia, o qual gravei num papel ainda quando era da Abnegação.

ACREDITAMOS
que a covardia deve ser culpada pelas injustiças do mundo.

Segurei-a com as duas mãos e olhei para o compensando à minha frente.

ACREDITAMOS
que a paz não se ganha fácil, que as vezes, é necessário lutar pela paz. Mas, mais que isso:

ACREDITAMOS
que justiça é mais importante que a paz.

Fechei meus olhos por segundos que pareciam eternos; lembrei-me de meu pai. De todas agressões físicas que sofri durante anos por ele. Calado. Matá-lo seria um modo de justiça?

ACREDITAMOS
na liberdade do medo, em negar ao medo o poder de influenciar nossas decisões.

Um modo de negar meu medo, minha submissão a ele?

ACREDITAMOS
nos atos simples de bravura, na coragem que leva uma pessoa a se levantar em defesa da outra.

Ou apenas um ato de bravura?

ACREDITAMOS
em reconhecer o medo e o que o leva a nos governar.

Não sei. São perguntas retóricas: embora eu queira respondê-las, não há uma resposta exata. Talvez seja tudo isso, talvez nada. Ignoro, lembrando dos próximos versos.

ACREDITAMOS
em enfrentar o medo não importa o que isso custa do nosso conforto, nossa felicidade, ou até mesmo nossa sanidade.

Aperto o gatilho, abrindo os olhos abruptamente.

ACREDITAMOS
em ação.

E a bala atingira o centro do alvo. E desta vez, a arma continuara na minha mão. O sentimento de satisfação e euforia percorreu-me por todo o corpo, e acabei deixando escapar um sorriso. Talvez este seja o meu lugar.

Olho ao meu redor e Amah lança-me um olhar misterioso, mas ignoro, tentando voltar às armas. Por mais difícil que seja, essa foi a minha escolha, portanto, devo encarar as consequências como um homem. Como um soldado audaz.

+++

O relógio do refeitório marcava as seis horas. Uma mistura de exaustão e euforia se encontrava em mim, formando um paradoxo: por mais que eu quisesse descansar, sabia que algo melhor estaria por vir. Sentado em uma mesa qualquer, esperei por Amah, ainda perguntando-me o que faríamos. Mas, em vez de encontrá-lo, avistei Clary, que veio em minha direção.

— O que está fazendo aí? — indagou a garota, pondo seus cabelos cacheados de um lado só. Conseguia ver a extremidade da tatuagem dela.

— Amah me convidou pra jogar. — disse, sem delongas. — E você?

— Bom, eu também. Tem pelo menos ideia no que está se metendo? — disse, num tom descontraído.

— Não tenho a mínima ideia — rio, e ela também. Ficamos quietos por alguns segundos, até perceber que ela me encara. Fito-a, retribuindo, até ela quebrar o silêncio.

— Há algo enigmático em você, Quatro. — pausou, na expectativa de que eu falasse algo. — Ainda descobrirei o que é. Ou melhor, por que não me diz?

— Não estou entendendo. — dei de ombros. — Sou um livro aberto. Tão transparente quanto a sua blusa! gargalhei, e ela pôs a mão em sua testa, como se estivesse ouvido uma piada sem graça.

— Já descobri o que é: se esconde na pele de um intelectual, mas é extremamente babaca! — riu, e eu ignorei o comentário.

— É, pode ser.

Mia, Maddie, Joseph, Pharrel e mais quatro membros já nascidos na Audácia apareceram, todos com o semblante acabado.

— Talvez estudar até sua cabeça explodir não fosse uma ideia tão ruim. — declarou Joseph, limpando o suor de sua testa.

— Adapte-se, seu nerdzinho inútil! Apenas pegue essa arma e atire, antes que eu faça isso, porém, na sua cara! — zombou Maddie, reproduzindo quase perfeitamente a voz de Amah.

— Uau! Se continuar assim, poderá virar minha discípula, se sobreviver a todos os estágios. — disse o instrutor, no mesmo tom de zombaria. Ela deu de ombros e riu. — Ok, iremos ao estúdio de tatuagem.

— O quê? — Mia indignou-se. — Você disse que iríamos jogar, não deformar nossa pele com desenhos macabros e piercings de todas as formas!

Quando Amah estava prestes a cortá-la, Clary o fez.

— Cale a boca, sua conservadora de merda! Você está numa nova facção, a facção de pessoas audaciosas, diferentes umas das outras. Não é aquele troço monótono e clichê que a Amizade era, onde todas as pessoas pareciam robôs vestidas em trajes amarelos e vermelhos. Então, desculpe-me a arrogância, mas você tem duas opções: conviver e aprender a respeitar todos daqui, ou desistir.

Mia olhou para a garota perplexa, e Amah parecia que estava prestes a aplaudi-la. Os ex-eruditos pareciam prender o riso e os membros já nascidos na Audácia faziam o mesmo.

— Ok, vamos logo com isso. — Pharrel comentou.

O Fosso estava cheio naquela hora e todas as pessoas estavam distribuídas desigualmente em grupos. O barulho tomava conta daquele lugar, e diferentemente da primeira impressão que tive quando cheguei à Audácia, eu estava gostando daquilo.

Andamos por um longo caminho, lado a lado, e só então percebi que os passos de Pharrel e Maddie se igualavam, e eles andavam juntos, com os dedos entrelaçados. Imaginei o porque de não ter percebido o começo de um relacionamento dos dois. Ou por que não percebi que eles já eram namorados antes de entrarem na Audácia.

Nunca presenciei cenas de afeto em público por ser criado numa facção que pregava que algo como um beijo era um ato de não-complacência e egoísmo. Até agora, estive ocupado demais com meus próprios problemas em meu desenvolvimento na Audácia, então não percebi nenhum casal. Mas sei que isso está prestes a mudar.

O estúdio de tatuagem era na camada mais subterrânea da Audácia, e mesmo assim, ainda continuávamos esbarrando com grupos de pessoas comemorando algo que eu sequer sabia o que era. Depois de passarmos por um corredor estreito, chegamos até o local, que era relativamente grande. Lá, havia pessoas conversando, sentadas no chão.

— Vamos jogar Verdade ou Desafio. — disse Amah.

Clary e eu nos entreolhamos, sem motivo qualquer, e nos acomodamos no chão da sala. Só então consegui observar o ambiente dali: era um lugar confortável, as luzes vermelhas e roxas que iluminavam o lugar, traziam a sensação de estar num lugar diferente. E de fato, estávamos. Acordei do devaneio quando Amah pegara uma garrafa de cerveja vazia e a pôs no chão. Um pouco envergonhado, perguntei:

— Por que está fazendo isso?

Todos começaram a rir. Corei e tentei disfarçar a vergonha.

— Você nunca jogou Verdade ou Desafio? — perguntou Pharrel.

— Não. — fiz uma longa pausa. — Os abnegados não têm o hábito de fazer esses tipos de jogos.

— Desenvolvi uma tese, com base no nosso ilustre amigo Quatro: os abnegados são estranhos. — Maddie comentou e eu tentei desconsiderar o comentário. Não estava preparado para falar mal da minha ex-facção. Fui nascido e criado lá, embora não com a melhor família. Mesmo assim, era uma boa facção.

— Idiotas. Por que não me ensinam? — questionei, incomodado, mas ninguém percebera.

— É bem simples. Você tem uma garrafa — ele apontou para a garrafa. — sua boca e seu fundo — apontou para as duas extremidades dela. — Agora, você só precisa jogar: a extremidade da boca será a desafiada, e a do fundo será a pessoa que irá desafiar. Se escolher verdade, terá que responder uma pergunta nossa com honestidade, e caso desconfiarmos que está mentindo, será punido. Já no desafio, você terá que cumprir o que a pessoa disser. Entendeu?

— Entendi. Simples.

— Achei que as pessoas nasciam já sabendo disto. — disse um dos meninos da Audácia. Por fim, Amah girara a garrafa no centro do círculo e enquanto esperávamos, refleti sobre os momentos simples, mas felizes que tive aqui. A Audácia estava me proporcionando uma alegria diferente, pura, algo que acredito que nunca senti antes. Eliminei meus pensamentos quando vi que a boca da garrafa estava apontada para mim, e o fundo dela para Clary. Ela sorriu.

— Ok, Quatro. Verdade ou desafio?

— Hm... Desafio. — não estava preparado para revelar meus segredos ainda.

Clary revirou os olhos.

— Ok. Te desafio a fazer uma tatuagem. As chamas da Audácia.


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