Fire & Desires escrita por Pear Phone


Capítulo 2
Lost


Notas iniciais do capítulo

Não ficou tão grande... Mas os diálogos são muito importantes.
Prometo que aumento o próximo... hehe.

Obrigada pelos reviews... Vou respondê-los logo.



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— Nunca vou me esquecer do que vocês fizeram por mim. Vocês me salvaram e hoje estou aqui por causa disso... Eu amo vocês. E-eu... só amo vocês. Eu fiz uma promessa e eu sempre os amarei.

O vento batia em meus cabelos e já estava na hora do cemitério ser fechado.

Os túmulos lado a lado me traziam uma emoção muito forte. Eles pareciam conversar comigo, e me ouviam de forma que ninguém ouvia. Eu me sentia bem, segura, aquele era o meu lugar... Eu já havia feito de tudo para estar ao lado deles outra vez.

E eles estavam felizes juntos; longe das preocupações, longe de incêndios, longe de dívidas e longe de mim. Mas eles ainda pareciam estar mais perto do que nunca.

— Eu preciso ir agora, vocês me deram uma vida e tenho de vivê-la.

Apertei meus passos em direção ao grande portão e de longe pude enxergá-lo entreaberto. O mais estranho era que não estava assim quando eu havia passado por ele, ao entrar... Isso me fazia pensar na possibilidade de que alguém tentava fechá-lo. Fazia algum tempo desde minha última visita a meus pais e nada como isso aconteceu antes.

Foi quando me virei e pude ver a escuridão rodeada por covas e assustadoras lápides me cercar. De repente, tudo parecia mais medonho. Eu poderia estar presa em um cemitério, sozinha, sem coveiros nem nada. Apenas eu e um som... Havia um som melodioso vindo de um daqueles arredores. Mas ele me assustava conforme aproximava-se.

Eu podia ouvi-lo. Cada vez mais alto. E mais alto. E um pouco mais alto...

Era o som de um piano.

Mas eu não mais o ouvi, quando senti mãos sobre mim e meus olhos se fecharem contra a minha vontade.

[...]

— Quem está aí?

Minha voz relutava.

— Quem está aí? Vamos, pare de se esconder! Quem é você?

Sem respostas mais uma vez. Então insisti:

— Quem foi o homicida que me arrastou até esse... — dizia, quando pude ver a minha situação.

Minhas mãos estavam amarradas com pedaços de cordas bem apertados, assim como minhas pernas. Estava de frente para um espelho e havia um líquido estranho espalhado pelo chão do lugar.

Eu reconhecia aquele lugar... Era um pequeno cômodo nos fundos do cemitério. Eu não havia sido sequestrada, minha intuição estava certa. Havia alguém ali. Eu não estava sozinha.

— O que você quer comigo? Por que me trouxe até aqui? — disse fingindo espanto para quem quer que fosse.

Isso me fazia ganhar tempo para arrumar um jeito fácil de me livrar das malditas cordas, e eu não precisei de míseros segundos. Retirei meus sapatos para não levantar suspeitas e segui a andar.

A música. Aquela música. Aquelas notas. Aquele som.

Eu não podia negar.

Virei as costas decidida a atravessar por uma das portas e descobrir de onde aquela melodia angustiante estava vindo. Ela acelerava e desacelerava, entre altos e baixos. Estava me sentindo atraída por uma música clássica idiota... ou por quem a tocava. Era tão fúnebre quanto um velório.

— Quem é você? Por que está aqui? Quer me entregar, não é mesmo?

A forma como cada palavra era pronunciada... como se desconfiasse de mim. Após certa distância eu podia ver o dono daquela voz... daquela voz... sexy.

Os cabelos e olhos castanhos; as vestes sociais dignas de um instrumentista; aquele imenso piano e suas mãos dançando sobre ele calmamente, sem errar nenhuma das notas enquanto me encarava... Eu estava excitada. Muito excitada.

— Por acaso você não fala? — repetia ele, desconfiando de minha inocente pessoa outra vez.

Silêncio e mais silêncio.

— Por que está aqui?

— Eu não vou fazer nada contra você, eu só... — hesitei. — Só queria saber de onde vinha tudo isso. Eu estava visitando o túmulo de meus pais.

— Eu toco o meu piano aqui, à noite, todos os dias. Não tenho um lugar específico para isso e eu sei que você está aqui para contar a eles que estou cometendo um crime e...

— E?

— Como se soltou das cordas?

— Pequenas habilidades de alguém que nasceu sabendo soltar-se de cordas — ironizei. ­­— Você não me parece um homicida... pelo contrário. E eu prometo que esse "crime" que você diz cometer ficará apenas entre nós.

— Tudo bem. Preciso aprender algumas coisas com você. — O que seria isso? Ele mal me conhecia e já estava flertando comigo?

— Então, pianista... Qual é o seu nome?

— Não interessa.

— Interessa e muito!

— Mas não convém falar de nomes agora.

— Ah, é? E o que convém a você? Me amarrar pelo simples fato de... — Ele sorriu e me cortou em seguida.

— Calma, loira. Você me diz seu nome primeiro, então. — Suas sobrancelhas não negavam. Ele mal me conhecia e já estava flertando comigo.

— Samantha. Mas, por favor, nunca me chame de Samantha. É só uma dica. Você já sabe o que posso fazer com as cordas.

— Como consegue frequentar um cemitério tão tarde? Não tem medo?

— Desde que vi meus pais morrerem na minha frente, não tenho medo de nada. Mas você ainda não me disse o seu nome, ou disse?

— Meu nome é Freddie. Fredward Karl Benson.

— Fredward... — Eu queria rir mas a seriedade dele me constrangia. — Não tem medo de dizer o seu nome todo para uma desconhecida?

— Você não me parece má.

— Nem tudo é o que parece. — Sorri e podia sentir que havia algo por trás daquele meu sorriso.

Um segundo... Samantha Puckett estava mesmo flertando com um pianista que acabara de conhecer? Universo, você quer mesmo brincar comigo.

Eu quase não me reconhecia. Eu estava mesmo às três horas da manhã, em um cemitério, flertando com um pianista fugitivo sem ao menos conhecê-lo direito. Mas isso não tinha nenhuma importância, ou tinha?

— Vai mesmo ficar me encarando assim? Seus olhos são muito bonitos.

— E-eu... — Isso mesmo, palavras! Vocês deveriam sair completas de uma vez. — Eu preciso ir. Minha... colega está me esperando — disse tudo de uma vez.

— Eu jamais permitiria que você saísse desse cemitério sozinha. Eu vou com você, afinal o culpado disso tudo sou eu, Sam. — Eu realmente gostava de ser chamada de Sam, e aquela voz soava tão bem para mim...

— Você até pode ser o meu segurança por um dia, mas nada de remuneração!

— Não se preocupe.

[...]

— Eu deveria mesmo confiar em você?

— Está me dizendo que eu não sou um cara confiável?

— Sim.

— Você é tão doce — ele disse e eu apenas ignorei.

— Onde fica sua casa?

— É uma longa história.

— Não tem casa?

— Claro, mas... por enquanto eu moro naquele cemitério.

— Morar em um cemitério? Mas e se virem você lá?

— Aí eu posso ir direto para uma daquelas covas...

— Além de pianista é humorista e mora em um cemitério... Você poderia se dividir em heterônimos!

— Como descobriu que sou poeta também?

Risos.

— Então... você... gosta... de... música... clássica? — eu disse pausadamente.

— Não, eu tenho um piano porque roubei do cenário de um recital — disse, sarcástico. Pelo menos eu achei que ele estava sendo sarcástico. — E você?

— Resposta óbvia: não.

— Mas então por que se interessou em descobrir o dono das belíssimas mãos que tocavam o piano prateado do cemitério de Seattle, na calada da noite?

— Porque essa mesma pessoa tentou me sequestrar.

— Me desculpe... Eu não sabia que não ia contar.

— Pois agora sabe e irá viver culpado por isso.

— Você é realmente muito doce!

— O que espera que eu faça? — O olhei de cima a baixo.

Mais risos.

— Você é diferente de todas elas. Muito diferente.

Eu não estava perdida, mas estava perdida nele.

[...]


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