Fire & Desires escrita por Pear Phone


Capítulo 1
Moonlight


Notas iniciais do capítulo

Queria compartilhar com vocês que tive a ideia de escrever a fanfic enquanto ouvia Moonlight Sonata, de Beethoven. Todo mundo já ouviu alguma vez, ainda que não saiba o nome. A música em si é meio fúnebre... isso com certeza foi um dos fatores que me ajudou.

O capítulo ficou incrivelmente pequeno, mas os próximos serão incrivelmente grandes, eu prometo.



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Ela era só uma garota de cinco anos em uma noite intranquila. Só uma garota que, no meio de toda aquela gritaria, não conseguia dormir. Só uma garota que se levantou de sua cama confortável e desceu as escadas, degrau por degrau, encostando seus pés no chão assustadoramente quente. Só uma garotinha inocente que sentiu o cheiro de fumaça penetrar em suas narinas, que com seus olhos apavorados via as chamas tomarem conta de sua casa, de seu quarto, de suas bonecas e de tudo que lhe pertencia.

Enquanto as chamas intensificavam-se, ela sentia braços a segurarem e a levarem para longe dali o mais rápido possível. E ela não sabia por que isso estava acontecendo... Não sabia o porquê de estar ali. Aqueles braços que a seguraram não estavam mais com ela e tudo que ela queria era poder senti-los novamente. O tempo passou e essa inocente garotinha percebeu que eles jamais voltariam a segurá-la.

E viver com essa triste lembrança sempre me apavorou, de certo modo. Eu revivo essas memórias em todas as minhas noites, quando transformam-se em pesadelos. E eu sinto tudo que senti ao descobrir que minha vida se desmanchou no fogo e a minha família foi levada junto a ele... Porque essa garotinha cresceu e se transformou no que é hoje. Na garota que sempre procura uma forma de humilhar e entristecer a todos e mal tem a noção do que está fazendo. Prazer, Samantha Puckett.

E eu não sei o que dizer quando me questionam sobre isso. Às vezes eu acho que deveria ter sido levada naquele incêndio maldito, assim como eles foram. Afinal, pra que estou viva? Pra dividir um apartamento mal cuidado com uma pessoa que eu não me dou o trabalho de cumprimentar? Pra viver no centro de uma cidade como Seattle e me sentir um nada perto de toda essa gente? Pra estudar em uma escola como a Ridgeway e aturar patricinhas que se acham as donas do mundo? Fala sério, Universo, você poderia ter me levado. Acho que seria um bom negócio... Pelo menos eu não teria que passar por tudo isso nos meus míseros dezessete anos de vida.

— Está pensando em quê? Não anda meio distraída, Samantha? — A morena ajeitava seus cabelos negros, na altura dos ombros.

Ela estava sempre com aquele sorriso meigo que irritava cada célula do meu corpo.

— Não, Carlotta.

— Você deveria me chamar de Carly.

— E você deveria me chamar de tudo, menos Samantha.

— Tudo bem, Sam. Acordo feito?

— Olha só, garota, dividimos esse apartamento há tempos e mal nos falamos porque eu não gosto de você. Por que está preocupada com apelidos à essa altura?

— Dividimos esse apartamento há meses e não me preocupo em ser legal com os outros. Acho que podemos ser grandes amigas, Sam, confie em mim.

Eu gostava de ser chamada de Sam e a feição de poucos amigos da garota funcionava como chantagem emocional.

— Vou fazer o máximo para ser menos fria, então.

— Ótimo — ela disse com um sorriso desenhado milimetricamente na face.

Alguns segundos no normal silêncio encheram meus ouvidos.

— E-eu preciso ir.

— Aonde vai? Já está tarde.

Eu apenas deixei a pergunta de Carly no ar e saí pelas escadas do prédio, apressadamente, sem me dar o trabalho de ao menos pensar em usar o elevador. Eu podia ver a luz do luar formando-se por entre as nuvens, que parecia me convidar da maneira mais estranha.

E lá estava eu em cerca de meia hora, após uma longa e rápida caminhada, andando entre as lápides até me ajoelhar sobre uma delas e chorar desesperadamente. Eu sentia saudade desse contato tão forte que tinha com meus pais, mesmo que eles não estivessem mais ao meu alcance. Eu simplesmente sentia que precisava vê-los e não podia controlar essa vontade.


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