William Kenwitch

As aulas já tinham voltado, e Everlyn estava entrando em total desespero. Ela tinha perdido o relógio de bolso dela. Eu, Tristan e Ed, sabendo o quanto aquele objeto é precioso pra ela, ficamos revirando a casa INTEIRA até não dar mais para achar o relógio de bolso dela. Ela já tinha chorado, gritado e até tentado fazer a dança da chuva (como assim, Ever?) pra achar aquele troço.

Será que se eu comprar um novo relógio de bolso pra ela, ela se acalma? A resposta é definitivamente não! Ela quase me espancou com uma garrafa (pelo menos não é um guarda-chuva) quando eu perguntei isso pra ela. Deve ter pertencido aos pais dela, pensei.

No mesmo dia, depois de horas e horas na busca do relógio, eu fui fazer uma entrevista de emprego. Sim! Pode imaginar? William Kenwitch indo trabalhar... Bem, provavelmente você deve ter adivinhado que eu não vou fazer um trabalho normal, mas mesmo assim é um lugar, onde eu terei que fazer algumas coisas e em troca em ganho dinheiro, simples assim.

Um antigo amigo de meu pai estava de volta para Londres e ele estava juntando uma orquestra e queria que eu fizesse parte. Bem, eu disse que iria ver se aceitava a proposta ou não assim que eu assistisse a algum ensaio.

Depois de ter passado quase o dia todo lá, eu percebi algumas coisas. Um: tinha bastante jovens na orquestra, mais ou menos da minha idade. Dois: eles eram todos muito bons. Três: o lugar que eles ensaiavam era imenso e Quatro: eles queriam fazer um concerto de Rachmaninoff em apenas um mês!! E não tinham um pianista!!

Foi então que eu tive uma ideia genial: Little Rainbow era uma pianista, seria simplesmente PERFEITO se eu subisse no palco para tocar alguma coisa com Ever.

E eu estou surtando como uma garotinha no Natal, por favor ignorem.

Eu me preparei para falar com Igor no momento em que o ensaio acabasse.

— Igor, eu preciso falar com você.

— Ah, William — sempre o bom e carismático Igor — vejo que você não saiu correndo na primeira oportunidade, então espero que tenha gostado da minha oferta.

— Bem, sim senhor e eu pretendo aceitá-la, e também há outra coisa...

— O que seria?

— Eu soube que vocês estão precisando de um pianista para o concerto número dois de Rachmaninoff.

— Bem, sim, você conhece algum? Confio totalmente na sua escolha.

— Sim, Igor — disse abrindo um sorriso enorme — eu conheço uma sim.

Edmund Dwight

Depois de passar pelo menos DEZ horas procurando o relógio de bolso da Princess, eu finalmente consegui encontrar. Eu sou badass, e um badass precisa ser recompensado com refrigerante, quilos de doces e muita batata frita. Ouviu, Everzinha?

Ela começou a pular sem cansar e ficou me abraçando por uns dez minutos. Eu não reclamei, gosto de abraços. Depois ela se levantou e foi fazer batata frita para nós. Ficamos comendo até eu receber outra mensagem de Lacey dizendo que ela não poderia jantar conosco. Ela definitivamente anda ocupada e anda arrastando Tristan pra essa ocupação toda da nova grife.

Soltei um muxoxo do qual Snow ouviu.

— O que foi, Ed? — ela arqueou a sobrancelha.

— É Lacey, ela anda tão ocupada e... Bem, fica difícil pra falar com ela.

— Ed, queridozinho, fofucho da Ever, você precisa lembrar que vocês dois estudam E trabalham, e ela quer construir a carreira dela, você não pode pensar assim.

— Eu sei mas... — bufei frustrado — eu só queria passar mais tempo com ela.

— Abdique esse tempo com ela agora para depois você ter todo o tempo do mundo. Ela realmente gosta de você então não se preocupe.

— É, acho que você tem razão...

— É claro que eu tenho razão, eu sempre tenho. E sabe que mais?

— O que?

— Eu acho que você precisa de um bicho de estimação — ela disse dando risada.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Will entrou em casa parecendo eufórico.

William Kenwitch

Corri para contar a notícia a Ever. Ela com certeza vai aceitar a oferta!

— Little Rainbow é... Cadê o Tristan? — perguntei olhando para os lados, queria dar apenas uma vez a notícia.

— Saiu com a Lacey para falar com algumas modelos — respondeu ela de boca cheia de batata frita.

— Bem, eu quero te fazer uma proposta irrecusável.

— Hm? — perguntou ela enquanto ia tomar a sua coca.

— Você quer ser a pianista de uma orquestra que vai executar o concerto número dois de Rachmaninoff?

Ela arregalou os olhos e engasgou com a Coca-Cola. Ed começou a bater como um condenado nas costas dela. Depois de algum tempo que ela se recuperou.

— O QUE??

— Lembra daquele amigo do meu pai que eu disse? Que ia fazer um concerto? Ele precisa de um pianista então eu indiquei você.

Ela me olhou incrédula.

— Quando que é o concerto?

— É em um mês, mais ou menos, mas...

— UM MÊS? UM FUNCKING MÊS?

Ela respirou fundo.

— Will, eu nunca toquei alguma coisa para uma plateia de mais de cinquenta pessoas, eu costumava a tocar no orfanato e cheguei a tocar uma competiçãozinha local na minha cidade da qual o prêmio era uma cesta que vinha com doces e partituras.

— Ah é, — falou Ed rindo — eu lembro... Você não ganhou.

Ela fuzilou ele com o olhar.

— O que quero dizer é que Rachmaninoff é um dos concertos mais complicados, ainda mais para eu que tem a mão pequena e tocar isso para toda Londres?!

— Não é toda, sabe, é só quem entrar no teatro... — começou Edmund.

Ela se levantou num segundo e apontando pra fora, disse:

— Ed, cai fora, AGORA.

Ele saiu e ela respirou fundo de novo.

— Eu não quero colocar em minhas mãos uma responsabilidade que não sei lidar...

— Mas você vai se sair MUITO bem!! Eu já vi você tocando, Ever, você é magnífica. Eu sei que Rachmaninoff é complicado, mas também sei que é um dos seus favoritos – eu já vi várias vezes você ouvindo – e sei que você não estará trabalhando por três semanas por causa de uma reforma no seu conservatório, sem contar, que você pode receber ajuda minha E dos professores no conservatório.

Eu fiz cara de cachorrinho sem dono, sabia que ela nunca resistia. Ela grunhiu, e eu – sabendo o que significava – sorri.

— Tudo bem, amanhã eu vou junto com você para os ensaios, mas vou logo avisando, se me tratarem mal ou se eu ver que será impossível, eu caio fora!

Assenti com a cabeça e selei nossos lábios.

Alguns minutos depois, Tristan e Lacey chegaram e eu contei a boa notícia. Todos ficaram ansiosos pelo concerto, Liz chegou um pouco depois, exausta do trabalho, alegando estar morta de fome, parecia até um daqueles maridos rabugentos. Mas seu humor logo mudou quando ela ouviu o que ia acontecer.

Naquela noite, eu fui para a cama pensando em como seria subir no palco com Ever. E com toda a certeza do mundo, eu peguei no sono, sorrindo.