O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 36
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

Hey, amigos.
Como estão?
Sim, estou ótima.



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CAPÍTULO 35 - O POSSÍVEL INFERNO DE WILLIAM HÃNSEL

William Hãnsel

Eu gostaria de dizer algo bom sobre mim.

Gostaria de dizer que eu sou um garoto criativo, atencioso e altruísta. Mas eu não posso dizer algo assim.

Seria uma mentira.

Sentado naquela sala, de manhã cedo, no meio de Bruxos desesperados e preocupados, eu percebia melhor isso.

Eu deveria ter voltado junto com Miranda e Sophie para casa, mas decidi que Alexis Miller era mais importante naquele momento. E no final das contas, eu percebia aquela hora, ela não poderia me salvar de qualquer maneira.

Ninguém poderia.

Alexis era só uma menina assustada com a própria vida, com medo de se ferir e ferir pessoas que amava. Ela não era um heroína, ela era a vítima. Sophie, mesmo tendo alguma considerável chance de ser minha salvadora, também não era de muita confiança. Era apenas uma criança imatura e que também era a vítima.

Em algum lugar, Sarah deveria estar rindo de mim.

Deveria estar adorando e saboreando mais uma vez a vingança quase completa contra mais um Hãnsel.

–O aniversário de William está chegando - Ashley lembrou - E está na cara que elas já começaram os preparativos.

–Sim, Ashley - o pai dela colocou as mãos no bolso do casaco caro, e passou rapidamente os olhos sobre mim. Não rápido o suficiente, afinal eu percebi sua pena pelo pobre amaldiçoado Hãnsel com facilidade - Precisamos fazer algo!

–Que perspicaz - murmurei bravo.

Era óbvio que aquilo não teria resultado algum, afinal nem tínhamos ideia de onde diabos aquelas Bruxas deveriam estar com Miranda e Sophie.

''Talvez na casa da floresta'' Ashley sugeriu minutos atrás, mas foi uma hipótese logo descartada, já que as Bruxas não seriam tão burras ao ponto de esconder elas ali. Estaria óbvio demais. Elas sem dúvida já sabiam que havíamos passado por ali para uma visita inesperada.

–O quê, papai, poderíamos fazer?

A pergunta ficou no ar e, até mesmo eu, tive que encarar o líder da Horda mais fraca sobre a qual eu já havia lido.

–Muitas coisas - ele respondeu desconfortável, com os olhares de todos sobre sua figura muitas vezes poderosa - Primeiramente proteger William Hãnsel com todas as nossas forças.

–Já tentamos isso com meu avó, lembra? - suspirei ainda sentado desconfortavelmente na poltrona persa do escritório de nosso ''esconderijo'' - A Horda o trancou no porão. Alguns anos depois dele completar seus magníficos 18 anos, a Maldição o alcançou. Ele se apaixonou pela carcereira, mesmo ela tendo 67 anos, e ela por ele. Não havia amor ali, havia o ódio de Sarah. Eles não conseguiram evitar e acabaram fugindo, construindo uma família e morrendo tragicamente. Eu, particularmente, não quero ser trancado num lugar pequeno, escuro e velho por anos e, ainda, me apaixonar por uma mulher de 67 anos que deveria feder a peixe cru. Sou um pouco mais romântico.

–Espera encontrar o verdadeiro amor? - Jessica arqueou as sobrancelhas, desconfiada e curiosa. ''Ele tem coração'' deveria ter pensado. Mas a verdade era que eu tinha coração, mas ele não era bom.

–Ah, não tão romântico - ri para sua frustração - Espero encontrar uma vida longe dessa cidade.

–Você não pode sair da cidade, William - Ashley disse.

Era verdade. Uma das palavras da Maldição, citava que os Hãnsel morreriam na cidade, na cidade onde mataram. Filosófico, não? Morrer onde matou.

–Um garoto pode sonhar, ás vezes. - dei de ombros.

–Isso não é uma solução, Sr Hãnsel - o pai de Ashley interrompeu - Se não podemos trancá-lo, o que sugere?

–Ah, é simples - respondi - Matem as Bruxas.

Todos na sala riram como se fosse a coisa mais engraçada do mundo, menos Brad. Brad me olhou preocupado.

Não fiquei observando seu comportamento por muito tempo, estávamos sem nos falar desde que ele deixou Miranda e Sophie sem nenhuma proteção.

–Não seja patético - o Oliver ainda ria, mas tentou se controlar - Essas são as Bruxas mais poderosas da história dessa Maldição. Como espera que as derrotemos?

–Tem razão - concordei com um olhar venenoso -, as conexões não se batem. As Bruxas mais fortes contra a Horda mais fraca da história? Seria humilhante e até injusto.

–William Hãnsel, olhe como fala com o Senhor...

–Você pode ser o Senhor de alguém, Oliver, mas não é meu. E eu não lhe devo meu respeito. Afinal, o que fez para merecer tal honra?

–Você está amaldiçoado, garoto- ele me disse -, precisa de mim.

–Preciso de você, tanto quando preciso de um lápis de cor branco.

Levantei da poltrona, indo até a porta da saída do escritório, sendo seguido constantemente pelos olhares assutados dos espectadores da sala.

Antes de eu rodar a maçaneta, recentemente polida, o Senhor dos Babacas e pai de Ashley, gritou para mim:

–Vai se arrepender, garoto!

–Não vejo como - disse e bati a porta atrás de mim.

Fechei meus olhos com força, imaginando o que poderia estar acontecendo com Miranda e Sophie, naquela hora.

''Não, William'' pensei irritado ''Você tem que se focar''

Agora, tudo estava mais complicado.

Talvez o líder da Horda quisesse minha morte nesse mesmo segundo. E eu não tinha mais ajuda alguma.

Peguei meu celular, enquanto andava calmamente pelo corredor vazio.

Sem chamadas perdidas.

Disquei o primeiro número em que consegui pensar e depois de três toques, Alexis atendeu.

–Não deveria atender - ela me disse.

–Oi, também. Você é assim sempre tão educada, desde que nasceu ou melhorou com o tempo?

–Tive um bom professor.

Ninguém sabia mais o que poderia ser dito.

Alexis estava brava, isso era óbvio e o único culpado pelo seu mau humor matinal, era eu.

–Sei que está brava.

–Uau, gênio.

–Miller, eu estava nervoso.

–E descontou em mim.

–Sim.

–Não!

–Não?

–William, você é um idiota. Eu não tive culpa de ficar em coma.

–Eu sei, só precisava descontar.

–E sobrou para a pobre Alexis Miller.

–Que de pobre não tem nada.

–Tanto faz agora. - ela deveria ter revirado os olhos. Isso era uma mania dela bem estranha.

–Soube que o médico, o Sr Walle, vai te liberar mais cedo.

–É White.

–Não é a mesma coisa?

–Não quando se sabe gramática. - ela disse e eu ri.

–Tudo bem, é verdade sobre a liberação?

–É, ele disse que eu estava bem e seria uma besteira me deixar aqui. Saio amanhã. - ela respondeu com a voz meio fraca e desanimada. Tem algo ai.

–O que houve?

–Não posso dizer pelo celular - ela falou sem mudar o tom - Por favor, venha aqui.

–Estou á caminho''

...

A rua estava mais movimentada, naquela manhã.

''Você é um idiota, William'' pensei ''Mas ainda tem gente que estuda nessa cidade''

Ah, a escola.

Eu nem mesmo sabia qual seria minha próxima desculpa sobre as faltas que eu tinha nela. Seria reprovado, provavelmente, mesmo com notas muito boas.

Mas que importância isso teria se eu estivesse morto dali a alguns meses?

A luz do sol que entrava pela janela do carro, incomodava meus olhos e eu fui obrigado a colocar um óculos escuro.

–Pareço um motoqueiro bêbado e idiota, ótimo - disse a mim mesmo, quando me olhei pelo retrovisor.

Dobrei em algumas ruas e então um prédio alto e totalmente branco surgiu em minha frente.

Estacionei meu carro e bati a porta com força, me xingando mentalmente por isso.

O hospital parecia o mesmo desde que o vi pela última vez. E isso me causou uma onda de nojo.

O que estaria fazendo minha família na cabeça da Miller?

E os outros mortos?

–Ei, mocinho! - quando cheguei ao andar do quarto da Miller, uma recepcionista me parou. Ela mastigava um chiclete de cor forte e sua boca estava manchada. Seu cabelos loiros, eram loiros demais para serem naturais e seu sorriso transbordava ignorância - Veio para o horário de visitas?

–Não, eu vim aqui para dizer olá á você.

–Está brincando comigo?

–Vim para o horário de visitas - respondi entediado.

–Mocinho, o horário começou a alguns minutos. - ela contornou o balcão e parou em minha frente, com a mão na cintura.

–Sabe, eu tenho quase 18 anos, acho que mocinho é apelar demais - disse e tirei os óculos, que nem me lembrava estar usando - E tudo bem, minha conversa será rápida.

–Seus olhos são azuis, que legal - ela riu, enquanto me encarava sem sutilezas. Onde eu havia me metido?

–Que bom que percebeu - resmunguei.

–O que vai fazer depois do hospital? - ela perguntou e eu a encarei.

–Quê?

–O que vai fazer... - ela começou a repetir.

–Não, isso eu entendi.

–O que não entendeu, docinho? Olha, eu posso até explicar.

–Quem que eu matei na outra vida, Senhor, para tamanho castigo? - disse alto o suficiente para ela fazer uma careta confusa.

–O que disse?

–Disse que eu vou ver minha namorada.

–Namorada?

–Eu disse namorada? Ah não! - ela suspirou aliviada e eu ri com aquilo - Eu quis dizer noiva.

–Noiva?

–Ah sim. Noiva - confirmei e ela fungou - Vamos nos casar em breve.

–É a favor da fidelidade? - ela enrolou o cabelo e eu quase vomitei.

–Sou, sou muito á favor - respondi sem paciência - Agora tenho que ir.

Passei por ela rapidamente e fui para o corredor.

Quase gritei de felicidade quando achei a porta do quarto de Alexis e entrei em um lugar seguro.

–Oi, Miller - disse ofegante - Tudo bem?

–Estou muito bem, na verdade - ela semicerrou os olhos - Parece que correu uma maratona.

–Até estava pensando em correr uma, mas eu sou bonito demais para isso. Talvez modelo seria um melhor investimento.

–Convencido também.

–Pode ser - dei de ombros - O que era tão importante?

–Sobre o Sr White - respondeu. Alexis se sentou na cama e sem nenhuma palavra a mais, me convidou para se sentar ao seu lado. Foi o que fiz.

Nossos olhares se encontrarão e a distância era tão pouca que nem deveria ser considerada.

–Ele não é quem diz ser - Alexis sussurrou, como se alguém estivesse conosco ali, sem desviar o olhar do meu.

–Quem? - os olhos castanhos dela estavam mais escuros do que de costume e eles eram tão bonitos quanto qualquer olho verde ou azul.

O senhor White - ela respondeu e nossos ombros se encontraram em uma fração de segundos, mas ela logo se afastou - Ele é um espião das Bruxas.

–Sabemos disso - sorri para ela, que apenas me encarou confusa.

–Sabem?

–Sim, eu e Jessica desconfiamos um pouco dele quando pedimos informações mais profundas sobre o coma. Ele sem dúvida não é médico. Eu sou mais médico que ele.

–E porque não me contaram? - ela perguntou.

–Muitas coisas aconteceram, Miller, e eu me esqueci desse fato - respondi - Ele era só um espiãozinho, não iria lhe fazer mal. Investigamos sobre ele. Bruxa é um elogio muito grande para ele. Se ele tem um pouquinho de Magia, é muito.

–Mas ele sabe onde Miranda e Sophie estão.

–Sabe?

–Ele foi a uma reunião com as Bruxas para falar sobre elas e sobre você, ontem.

–Tudo bem, isso é novidade. - confessei olhando para o chão recentemente limpo, do hospital.

–Eu o segui, mas acabei perdendo-o de vista. - ela me disse e eu a encarei surpreso.

–O quê disse? - ela apertou os dentes e pude perceber que acabara deixando escapar aquilo - Você o seguiu, Miller? Você fumou alguma coisa também?

–William você me disse que eu sempre sou a vítima. Queria fazer algo. - ela falou firme.

–Não ligue para o eu digo.

–Mas era a verdade.

–A verdade sempre varia, não dá para saber se é realmente verdade.

–William, eu preciso me mexer - ela falou - Preciso fazer algo por essa cidade, porque sinto que é meu dever. Eu não pude impedir que meus pais morressem, mas posso impedir que Olaf e toda a cidade tenha esse fim. - ela se apressou antes que eu comentasse qualquer coisa - Sei que não confia em Olaf, mas eu confio. Ele não está metido nisso.

–O amor realmente é cego - disse a ela - Você o ama tanto a ponto de se negar a acreditar que ele seja um traidor. Seu amor cobre seus olhos, para que seu coração não sofra. Mas isso é idiotice.

–Talvez seja e talvez não - ela disse - Eu só sei que ainda sinto que ele é inocente.

–Tanto quanto sou altruísta - ironizei entre risos.

–Talvez seja - ela respondeu e eu a encarei sério, esperando suas gargalhadas a qualquer momento, mas ela permaneceu concentrada - Você foi até a minha cabeça me tirar de lá, mesmo sabendo que podia ser perigoso.

–O que posso fazer - dei de ombros, enquanto ela sorria -, se tenho um fraco por ser herói?

–Obrigada por ter me salvando.

–Você teria feito a mesma coisa.

–Com toda a certeza.

Olhando para aqueles olhos castanhos desafiadores dela, era como olhar para alguma coisa que você quer muito, mas saber que ao mesmo, isso não é seu.

Eu acabei com a distância e encostei nossos lábios mais uma vez. E ela não me empurrou, o que foi uma vitória.

Dessa vez, parecia algo mais verdadeiro.

Eu segurei em sua cintura e a puxei para mim. Seus dedos se enroscaram em meus cabelos e eu quase sorri em meio ao beijo. Seu toque era frio, mas ao mesmo tempo eu sentia o seu clima subir. Eu estava beijando o inverno com alma de verão.

Apertei sua cintura mais um vez, só para ter certeza que estava mesmo acontecendo aquilo.

Eu não estava sonhando.

– A Maldição é clara. William irá se apaixonar mesmo sem querer. - a voz de Ashley soou em minha cabeça como um alerta contra invasão - A Maldição o obriga a ter alguém, para construir uma família e posteriormente matá-la.

Mesmo com certo esforço, eu me soltei de Alexis.

A garota em minha frente permaneceu sentada e confusa na cama, enquanto eu andava de uma lado para o outro no quarto.

–William foi só um beijo - ela me disse.

–Talvez agora pareça isso - eu rebati - Mas talvez você entenda depois, que esse foi seu primeiro passo para o abismo.

Alexis era como a maça no paraíso. Muito convidativa e quase irresistível. Mas eu não era Adão e eu não cairia em tentação. Eu permaneceria nesse meu próprio Paraíso e a deixaria segura, nem que para isso o inferno virasse o meu Céu.


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Notas finais do capítulo

e ai?



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