O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 35
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Hey, demorei?
Ah, tudo bem, tudo bem, só um pouco.
O pior?Posso demorar muito mais.
Meus problemas com o computador ainda não foram resolvidos.
Problemas meus á parte, vamos aos da Alexis.



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CAPÍTULO 34 - GRITOS NO VAZIO

''Talvez 'longa noite' tenha sido um eufemismo. A noite ficou bem pior quando o Sr Avery pediu que todos parassem de gritar ao mesmo tempo comigo e saíssem, para me deixar conversar a sós com ele.

Paralisei diante do homem morto - que estava ''vivo'' - me encarando com desdém.

–Olha, Sr Ave... - tentei dispensar aquela conversa.

Ele apenas me olhou mais seriamente e disse:

–Não quero que diga uma palavra, senhorita. Não quero conversar com você. De você, eu quero apenas silêncio.

–Então...

–Eu vou falar e você vai ouvir - ele começou a andar, dando voltas em mim e me avaliando - Você é fraca, não tem muita utilidade e não corre rápido. Como que ter alguma chance?

–Você...

–Posso estar velho e morto, mas acho que silêncio, ainda é silêncio! - gritou e me calei no mesmo instante. A voz dele estava firme e meu corpo se contraiu, esperando o ataque. - Tem que parar de achar que poderá decidir algo. Você pode ser a Híbrida de qualquer um, de qualquer lugar para qualquer coisa, mas nada se faz sozinha. Eu precisei morrer para entender isso e não vou deixar você precisar aprender dessa forma.

–Você sabe o que está em jogo? Muita coisa. Não apenas eu ou você, não apenas Miranda ou Sophie. A cidade está em jogo e eu vou lutar até o último minuto da prorrogação.

–Ah, quer fala falar sobre aquele joguinho de vocês? - ele riu sem humor - Você quer chegar na prorrogação? Como? Você quer fazer tudo sozinha, mesmo precisando de um time. Se quiser chegar tão longe, precisa de pessoas que ajudem você a chegar lá.

–Não preciso de um time, preciso me arriscar. Se eu sempre ficar parada, esperando ser salva, não é como se eu fosse nada?

–É melhor ser um nada viva, do que um tudo morta.

–É melhor ser alguma coisa.

–Então seja. Fique e espere.

–Estou cansada de esperar. Eu esperei minha vida inteira, contrai o que queria também. Não vou esperar e não vou me contrair.

–Você é burra, Alexis Miller.

–É melhor ser uma burra corajosa, do que uma burra medrosa.

–Você é nossa última esperança - ele me encarou sério e eu quase sai correndo.

–A esperança é a última que morre, então estou salva.

Ele riu, mas parecia tenso e preocupado.

–Eu era novo - falou e eu tentei interferir, mas ele levantou a mão mandando eu ficar quieta - Era bom entrar em algo desse patamar. ''Meu Deus! O velhote do Avery entrou para a Horda mais poderosa, corram, tudo vai acabar'' eles diziam e eu sorria, porque eu sentia o que eles sentiam. Mas ai o sucesso dominou todas as qualidades boas que eu tinha para entrar onde entrei. Quando a Bruxa amaldiçoou a cidade que eu amava, não fiz nada. E pior, eu dei a ideia de fugir.

–A cidade precisava do senhor, precisava de todos vocês!

–A cidade precisava de um herói e por mais que eu quisesse sê-lo, eu não era. Então eu fiz algo que estava acostumado. Eu corri e levei quem eu gostava comigo.

–Você é um covarde! - falei sem ressentimentos. Nada que ele pudesse falar mais, iria me convencer, não vindo de alguém assim.

–Sou o que eu quiser - ele deu de ombros - Eu pensei em mim, mais do que tudo. Eu era o melhor, para mim, eu era tudo o que a Horda precisava e acabei sendo tudo o que a prejudicou. Quis ser a solução, mas fui o problema.

–Não quero ser como você, quero lutar. Se eu morrer amanhã, morrerei feliz.

–Ninguém morre feliz, garota tola - ele rebateu - Você apenas morre. Mas eu não vou deixar você ir.

Então, seria assim?

Eu não estava disposta a perder.

Fechei meu olhos com força e repeti para mim mesma ''Acorde, Alexis, acorde agora''

O sr Avery segurou em meus ombros e os balançou fortemente.

–Alexis Miller, sei o que está fazendo! - gritou para mim, mas eu não abri meus olhos e continuei recitando - Fique quieta, me escute!

–Alexis acorde! - gritei de volta e abri meus olhos. Ele me encarava desesperado e continuava me balançando - Acorde agora! Vamos acorde!

–Não!

–Alexis acorde! - gritei mais alto - Eu quero acordar!

Senti algo me puxar. Como uma corda invisível muito potente, que eu não tinha domínio.

–Alexis, me prometa - o Sr Avery me olhou triste e desesperado, ele já não me mexia mais. Seu olhar suplicou a atenção do meu e eu o dei. Algo em seu rosto me deixou acabada e eu quase o abracei. -, me prometa que não irá. Me prometa que ficará, me prometa, menina, por favor.

–Me desculpe, senhor - falei - Eu não gosto de quebrar promessas.''

Eu acordei.

Enquanto respirava fundo, olhei para janela.

As persianas estavam fechadas, mas eu conseguia perceber, através de frestas, que a luz irradiava de Owens.

Era dia, meu dia.

Suor pingava da minha testa e minha mente estava cheia, mas algo me surpreendeu no quarto.

Alguém estava comigo ali.

–Olá, Alexis, espero não ter te acordado - ele disse para mim - Pesadelos? Vi você se mexendo na cama.

–Não, doutor White, apenas sonhos confusos - respirei fundo mais uma vez, tentando recuperar a frieza - O senhor está ai muito tempo?

– 10 minutos, eu diria - ele deu de ombros, enquanto mastigava algo inexistente. Bizarro! - Vim lhe dar um recado.

–Qual seria?

–Irei me ausentar hoje, depois do expediente - falou, se aproximando de minha cama - Qualquer coisa, chame as enfermeiras.

–Compromisso irrevogável, senhor? - provoquei e o doutor parou.

–Exato - ele não pareceu perceber nada em meu tom de voz e se percebeu não demonstrou - Então, devo estar atrasado para falar com o próximo paciente.

Rimos. Ele tentando parecer despreocupado e eu sem ânimo.

–Sei bem como é isso, senhor.

–Bem, recado dado é recado recebido - disse - Então, adeus Alexis.

Ele bateu a porta fortemente e o silêncio foi tudo o que permaneceu no cômodo.

–Adeus não, senhor, até logo.

...

A noite parecia nunca chegar e meu coração acelerava no ritmo do relógio. Mas quando o dia finalmente acabou, eu já estava mais calma, mais fria e mais confiante.

Peguei roupas ''normais'' em uma malinha que Olaf havia trazido para o hospital, recitei o plano mais um vez, e sai do quarto rapidamente.

Andei com a cabeça baixa o tempo inteiro. Passos rápidos e o olhar focado em frente.

O Sr White sairia em poucos minutos e eu estaria em frente ao hospital, esperando por ele.

''Mas se ele for em um carro?'' Um parte de minha coincidência gritou

''Mas ele não tem um'' rebateu a outra.

''Mas se ele arrumar uma carona?''

''E se você calar a boca?''

–Você vai conseguir - disse para mim mesma, com o rosto escondida atrás dos cabelos - Não irá morrer hoje, garota, não irá.

Quando dobrei em mais alguns corredores - conhecia todos tão bem por causa do coma - me deparei com meu obstáculo. A sala de recepções do meu andar - o segundo.

Escondi ainda mais meu rosto e tentei passar reto pela recepcionista que mastigava chiclete, em cima do balcão. Ela era loira, parecia jovem e tinha olhos bem claros. ''Não se concentre nela, se concentre aqui''

Acelerei meus passos.

–Ei, menina, ei - ela gritou para mim e eu parei com o som de sua voz azeda. Minha respiração acelerou e se eu não estivesse de costas para a mulher, ela poderia facilmente ver meu rosto aterrorizado. - O que está fazendo aqui? São quase 23h.

–Estava com meu pai - respondi, com as mãos tremendo - Acabei de sair do nosso encontro.

–Mas o horário de visitas termina as 22h.

–Não tenho culpa se vocês não sabem ver as horas - e sai andando mais rápido. Para a minha sorte, ela apenas ficou me xingando, sem sair do lugar.

Desisti do elevador e desci as escadas.

Ali embaixo havia mais gente, tanto que a recepcionista mal conseguia tirar os olhos do seu computador.

''Minha chance'' pensei

Passei rápido pela pessoas que estavam em minha frente. Ouvi alguns xingamentos, mas consegui sair do hospital.

O ar frio de uma noite fria me invadiu.

Eu sorri, sorri pela primeira vitória, sorri porque me sentia confiante.

Fase 1? Okay.

No entanto, meu sorriso desapareceu e eu corri para me esconder atrás de uma lixeira gigante, perto da entrada.

O Sr White passou por mim e não percebeu minha presença ali, continuou a caminhar sem preocupações.

Deixei que ele tomasse alguma distância e o segui.

A ruas estavam desertas - de vez enquanto passavam algumas pessoas até, mas nada mais - e o movimento de algumas árvores nos quintais das casas de luzes apagadas, era o único som que eu ouvia.

Quando o Sr White virava desconfiado ou apenas certificando-se de alguma coisa, eu conseguia me esconder depressa.

''Tudo bem, garota'' pensei ''Apenas mantenha isso''

Ele atravessou a rua, indo em direção a uma pequena floresta ao lado da rua. Paralisei. Era a mesma floresta que havíamos investigado.

Rezei para todos os santos e Deuses que conhecia e o segui.

Mas não passei do meio da rua.

Uma forte dor de cabeça me atingiu e eu me joguei no chão. A dor era tanta, que eu me contorcia desesperadamente no chão.

–Alexis Miller - alguém gritou, mas quando levantei o olhar não vi ninguém.

Gritei de dor e medo.

Nenhuma luz, de nenhuma casa ascendeu com meus gritos. Presumi que eles não se arriscariam por um estranho. Os habitantes de Owens poderiam até estar ignorantes a tantos segredos da cidade, mas eles sabiam muito bem sobre uma regra do lugar. Se há perigo, se esconda.

–Alexandra Miller! - outra voz gritou de outro canto da rua, enquanto eu ainda me debatia - Me ajude!

–Alexis Miller - outra voz choramingou perto do meu ouvido e eu gritei de medo. Eu sentia sua respiração em minha pele, mas não havia ninguém - Eu só quero ir em paz, por favor.

–Alexis Miller - outras vozes se juntaram, até que por fim parecia um coro.

Lágrimas saiam dos meus olhos descontroladamente e eu apenas queria me livrar daquelas vozes.

Não havia ninguém na rua, mas segundo minha cabeça, uma multidão gritava meu nome ali.

–Não nos deixe aqui - uma gritou de um canto da rua e minha cabeça latejou junto com sua voz - Não seja um mostro, como elas. Me deixe ir agora.

–Não sei o que fazer - gritei dolorosamente para as vozes - Por favor, parem.

–Quero minha liberdade!

–Eu também!

–Você não é uma boa líder!

–Líder de quê? - rebati

–Você é nossa líder.

–Então - me sentei, com dificuldade no chão e com a cabeça ainda latejando, e fixei meus olhos na rua vazia, imaginado várias pessoas me olhando ali - Eu ordeno que vão embora! Eu ordeno que saiam daqui!

Fiquei esperando mais alguns gritos de revolta, no entanto nada aconteceu.

Minha cabeça ainda doía, mas com menos força, menos intensidade.

–Droga - falei - Onde ele está?

Ainda sentada no chão da rua vazia, eu procurei pelo Sr White, mas ele havia desparecido.

–Ah, eu odeio isso! - praguejei enquanto jogava algumas pedrinha da rua o mais longe que conseguia - Eu estava tão perto de ser algo e agora sou um nada novamente. - olhei para o céu de um azul escuro forte - Me deixe ser algo, me deixe ser qualquer coisa.

–Alexis Miller? - alguém disse a minha frente e para meu alívio eu conseguia ver a pessoa. Era a Srta La Canters, minha professora. - O que está fazendo sentada no meio da rua, menina? Está querendo morrer?

–Você não tem ideia do quanto - resmunguei e ela não pareceu ouvir.

Quando ela me ajudou - sem necessidade - a levantar, eu agradeci. A Srta La Canters apenas sorriu e me olhou desconfiada.

–Você não foi a escola hoje. Seu tio disse que estava se recuperando - ela me falou - Então, o que faz aqui?

–Bem, por onde eu começo? - nenhuma mentira me veio a cabeça e eu quase infartei - Ah, eu queria um ar.

–E por acaso onde estava não tinha ar?

–Claro, tinha - sorri fraco - Não aguentava mais aquele lugar, queria sair um pouquinho.

–Imagino que tenha fugido.

Bingo!

–Também imagino que seu tio não saiba nada dessa saidinha.

Bingo!

–E imagino que você não queira voltar.

Tudo bem, sabemos para quem vai o grande prêmio.

–Por favor, senhora, quer dizer, senhorita - disse - Eu quero sair um pouco da minha vida, não me leve para o hospital nem para casa.

–Tudo bem...

–Mas eu só queria... O que disse?

–Disse que tudo bem.

Encarei a mulher baixa em minha frente, esperando que ela risse a qualquer minuto e eu ficasse com cara de idiota. Mas nada disse aconteceu, então eu disse:

–Ah, obrigada. Então, eu vou indo.

–Negativo - seus olhos verdes estavam desafiadores e eu fiquei em meu lugar - Vou te levar para minha casa e conversaremos um pouquinho.

–Mas, senhorita...

–Tudo bem, talvez seu tio queira vir até aqui...

–Para que lado é sua casa?

Ela riu e apontou a direção.

A Srta La Canters não pareciam alguém que vivia com um marido ou filhos e sim alguém que morava com 7 gatos pretos e conversava com eles todos os dias. E quando perguntei, discretamente isso a ela, a Srta me confirmou o fato. Não sobre os gatos, é claro, ela disse que era alérgica.

Enquanto ela andava com passos curtos em minha frente, me perdi em meus pensamentos.

Mas de onde a Srta La Canters apareceu, afinal?


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Notas finais do capítulo

ALEMANHA UHUUU ALEMANHA UHUUU
AQUI É DEUTSCHLAND, AMIGOS!



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