O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 29
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Oi, quem quer saber mais sobre Alexandra Miller?



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CAPÍTULO 28 - QUEM É ALEXIS MILLER?

–Não, ele não é - disse a Alexander, com convicção. - Ah, olha para ele, parece uma pessoa ruim?Não.

–Não se trata disso - me corrigiu Alexander - As bruxas devem ter procurado muito por um homem como esse, com cara de idiota.

–Ei, olha o respeito - falei. Eu tinha certeza que Olaf era inocente, mas eram tantas perguntas, das quais as respostas não eram favoráveis a meu tio.

Olaf e as Aberrações entraram na casa, ainda conversando.

–Você o conhece? - Abigail peguntou, mais baixo que o necessário.

–Digamos que ele é meu tio e biologicamente pai, mas não quero entrar em detalhes.

–Olaf?! - Alexander quase botou tudo a perder. Seu olhar assutado demonstrava mais que surpresa, demostrava descrença e negação - Não parece Olaf, não o Olaf que conheci.

–É, ele deve ter mudado desde a última vez que se encontraram. - concordei - Mas a questão é que é ele, mas não faz sentido.

–Na verdade, faz sim, Alexis - Felipe interrompeu - Ele está trabalhando para as bruxas. Quer dizer, não, não é isso. Talvez ele não seja uma pessoa ruim, talvez ele não esteja com sua guarda para poder dar uma vantagem as bruxas, talvez ele não seja um espião entre nós, talvez ele não seja alguém que devemos matar, talvez ele não queira que essa cidade acabe em ruínas porque perdeu muita coisa, talvez ele seja uma pessoa boa afinal.

–Sem duvida esses argumentos, Felipe, ajudaram muito para o lado de Olaf - William comentou com sarcasmo.

–Precisamos ir, as bruxas não estão aqui, sinto isso. - avisou Alexander - Já sabemos tudo o que precisávamos.

–Conheço Olaf, pai - Ashley interveio. Sem duvida ela sabia, assim como eu, o que Alxander pensava agora de Olaf. -, ele não é isso ai que deve estar pensando. Há uma explicação muito boa para tudo isso, eu sei.

–Agora o que nos resta é saber qual seria essa explicação, querida.

O pai de Ashley começou a andar na direção contrária a cabana e nós o seguimos sem olhar para trás.

Na verdade, eu olhei.

...

O carro estava apertado.

Havia uma pessoa á mais no banco de trás e ninguém falou nada por todo o caminho.

O Livro estava sendo analisado por Abigail, no banco da frente, que mesmo não conseguindo ler nenhuma palavra, estava fascinada com os detalhes.

Eu, por outro lado, estava submersa em meus próprios pensamentos. Olaf poderia ser tudo, mas não era um espião, sei que não era. Ele era apenas um cara comum com um coração fantástico, ele era apenas um cara que abrigou uma sobrinha idiota e deu tudo o que poderia para mantê-la confortável e bem, e como agradecimento ela machucou seus sentimentos. Eu estava no estado de negação e pelo visto não sairia dele por muito tempo. Eu me recusava acreditar que Olaf, tinha feito tudo o que fez para mim, com falsidade. Ninguém nunca foi tão bom assim comigo e isso não poderia ser mentira.

–Acredito na inocência de Olaf - Ashley sussurrou para mim e espantou meus pensamentos. - Acredito mesmo.

–Obrigada - foi tudo o que consegui dizer, tudo o que quis dizer.

–Alexis Miller, vamos levá-la a biblioteca... - Alexander começou a falar, olhando para mim pelo retrovisor.

–Não, eu quero ir para casa - interrompi - Quero que me deixe lá.

–Alexis, você está maluca? Se Olaf for o que... - William tentou me convencer.

–Já disse que confio em Olaf - disse sem sombra de duvida - Ele não faz parte disso. Ele não tem nada a ver com tudo isso, por isso me deixe em casa.

–Alexis...

–Me deixe em casa agora, senhor Oliver, agora mesmo.

O carro desviou bruscamente para uma rua e depois para a outra. O silêncio agora reinava novamente e até mesmo Abigail não estava tão interessada no Livro.

O horizonte começou a ser fitado por todos no carro, como algo brilhante, precioso e raro.

Quando o senhor Oliver parou em frente a minha casa, ainda estava tudo escuro. Olaf ainda não havia chegado.

A minha casa parecia a mesma, mas era como se algo tivesse mudado. Acho que não era a casa que realmente tinha se transformado, acho que era eu. Mesmo deixando bem claro que confiava em Olaf, coisas ainda não faziam sentido para mim. O que ele fazia ali? Ele estava sobre um feitiço? Tudo o que eu havia visto era apenas um truque? Eu sabia que a resposta para tudo isso era não. O senhor Alexander Oliver, assim que entramos no carro, nos informou que não havia sentido a presença de nenhum feitiço daquele porte. Então era Olaf ali, Olaf mesmo.

Abri a porta do carro e desci sem muito esforço. O ar puro me atingiu e a confiança continuou abalada. A rua estava silenciosa e a noite escura.

A tarde havia passado tão rápido que eu mal tinha notado e agora lá estava eu, cercada pela escuridão e desconfiança.

–Se precisar de alguma coisa, ligue para William Hãnsel - falou Alexander, com a uma parte da cabeça para fora da janela - Ele não é um bruxo, mas pode ajudá-la com algum problema, ele está perto o suficiente para isso.

–Tudo bem - concordei.

–Mas não ligue muito tarde, preciso dormir para ficar assim tão perfeito - ouvi William gritar e sorri internamente com aquilo.

–Ligarei o mais tarde que conseguir - rebati - Mas e o Livro?

–Sei que confia em Olaf, mas eu não - o pai de Ashley disse - Se eu mantivesse o Livro com você ai, seria perigoso demais. Não sabemos quem está certo nessa história.

Eu suspirei e concordei.

–Até mais, senhor - falei.

=Até mais, Alexis Miller.

Virei e caminhei para a minha casa.

Meus passos ecoavam pela noite e o frio fez com que eu apertasse meus braços ao redor do meu corpo. Ouvi o carro cantando pneu e andei mais rápido.

Quando entrei em casa, acendi as luzes e me joguei no sofá. Fiquei pensando naquele dia e em tudo que eu já havia passado em minha vida.

Eu cresci como uma criança normalmente cresce. Feliz e realizada, com pais que a amam e que dariam tudo por ela.

''–Querida, por favor, não corra - minha mãe pedia, correndo atrás de mim, enquanto meu pai ria da situação - Sabe, você poderia ser um atleta, corre tão rápido. Ganharia todas as competições.

–A menina só tem 7 anos, Amélia - meu pai gritou da sacada aonde estava lendo algum livro - E você provavelmente nunca mais foi a academia, deve estar fora de forma.

–Alexis, você ouviu essa? - minha mãe parou de correr e colocou a mão na cintura, fuzilando meu pai com o olhar, tentando parecer intimidadora e raivosa, mas tudo o que ela conseguiu foi parecer linda e doce - Eu acabei de ser chamada de gorda, pelo meu próprio marido. Acho que alguém ficará sem sobremesa hoje.

–Ah, isso é bom - me lembro de parar ao lado de minha mãe, ofegante, enquanto ria de sua expressão - Assim sobra mais para mim.

–Alexandra - meu pai gritou - Pare de ser tão gulosa, desse jeito quem vai precisar de uma academia é você.

–Mas ainda sim - sorri para meu pai -, vou comer toda a sua sobremesa, pai.

Ele correu atrás de mim a tarde inteira''

Também me lembrava de como havia crescido na cidade de Nova Iorque. Não tinha amigos, mas não era exatamente porque era estranha ou qualquer coisa assim, eu até fui assim, mas o caso era que eu não era muito fã de falar com as pessoas. Gostava de afasta-las, por isso só tive minha primeira amiga com 11 anos, o que é tarde, comparado aos dias de hoje.

'' Eu estava sentada na arquibancada do colégio, vendo o jogo de futebol dos meninos da minha sala.

–Olha, acho que você deveria parar de encarar tanto assim - uma menina alta, loira e muito bonita se sentou ao meu lado, rindo da própria fala - Eles talvez esperem que você fale alguma coisa, além de ficar babando ai.

–Eu tenho só 11 anos, não tenho idade para ficar pensando isso.

–Não tem idade? - ela sorriu - Não tem idade para olhar para os garotos? Acho que para isso não tem idade determinada, ninguém aqui vai casar agora.

Eu sorri com aquilo, enquanto ela me acompanhava.

–Meu nome é Jessica - ela disse - Qual o seu?

– Alexis.

–Tem amigos, Alexis?

–Na verdade, não.

–Pois agora tem''

Jessica no começo foi uma das melhores coisas que aconteceram comigo, mas no final se mostrou uma pessoa diferente da garotinha que eu havia feito amizade e me afeiçoado. Ela virou vaidosa demais, mandona demais e tudo se resumia a como ela era vista pelas outras pessoas. Andar comigo, era algo que difamava sua aparência. Uma garota como Jessica Smith deveria andar com os melhores e Alexis Miller estava longe disso.

''- Você viu como ela estava na festa de boas vindas - ela ria, cercada de um monte de garotas - Uma idiota, ridícula e sem classe, até parece que não tem vergonha. Eu nunca mais saia de casa depois daquilo. Nunca mesmo.

–Jessica! - gritei, mas ela não me ouviu. Ou fingiu não me ouvir, já que algumas garotas ao seu lado olharam em minha direção - Jessica!

Ela então se virou e veio em minha direção.

–Ah, olá, Alexis - ela cumprimentou - Eu estou um pouco ocupada, se não se importa, por favor seja rápida.

–Ah, sem problema, Jess - abri meu melhor sorriso e ela até deu um pequeno também - Hoje é meu aniversário, não sei se lembra...

–Desculpe, Alexis, eu esqueci, tinha tanta coisa na cabeça - ela na verdade não tinha nada, nada além de festas e diversão. Muita coisa para uma menina de 14 anos. - Feliz aniversário então.

– Obrigada, Jess - agradeci - Minha mãe vai dar um festa, sem muitas pessoas, é claro. Mas eu gostaria que fosse.

–Uma festa? Quando?

–Hoje mesmo - disse. Ela se virou para as amigas e parecia preocupada. - Algum problema?

– Eu já tinha um compromisso, mas nada que eu não possa desmarcar.

–Sério? Você estará lá?

–Eu estarei lá.

Talvez o compromisso não poderia ser desmarcado, porque naquela noite, Jessica não foi ao meu aniversário e tudo o que consegui fazer foi sentar na escada, em frente a minha casa, e esperar.''

Claro, depois que eu e Jessica paramos definitivamente de nos falar, tudo ficou como sempre. Eu conhecia pessoas e as pessoas me conheciam, mas nada que eu pudesse chamar de amizade.

Uma vez, aconteceu algo além disso.

''Andar pelo corredor da minha escola, com 15 anos, era algo novo para mim. Eu estava crescendo tão rápido e tudo que eu conseguia pensar era no porquê de eu não ser como as garotas da minha idade. Eu acha os garotos bonitos, mas não era minha prioridade na vida. Eu adorava ler e ver filmes de época e quando eu falava isso para os garotos, eles me olhavam estranho e nunca mais falavam comigo. Era algo como se você parecesse inteligente demais, você não serviria, não era legal. Então, segundo esse conceito, eu era a maior chata.

Eu esbarrei em alguém, mas me mantive em pé.

–Eu machuquei você? - o garoto falou para mim. Seu sorriso mostrava alegria e confiança, fazendo um belo contraste com seus olhos amarelos e seus cabelos loiros. - Me desculpe, sou novo.

–E o que isso tem a ver com esbarrar em mim?

–Achei que ia perguntar meu nome, meu telefone e até meu endereço, como as outras garotas - ele passou a mão pelos cabelos e sorriu torto. Isso era algo bem sedutor a se fazer.

–Você só esbarrou em mim, não é como se eu devesse pedir algo assim.

–Sabe, pensando bem, acho que eu queria que você pedisse algo assim.''

Alguns meses se passaram e minha amizade com Ethan cresceu. Cresceu com tanta rapidez, que eu mal acreditei quando ele me beijou pela primeira vez e disse que gostava de mim. Era minha primeira paixão e tudo muda quando você gosta de alguém e esse alguém também gosta de você. Você se sente sortuda, por apenas sentir algo assim. Ah, qual é, eu estava apaixonada, somos todos grandes idiotas quando estamos apaixonados, faz parte do pacote, eu acho.

Mas é claro, isso não é algo que durará para sempre. No meu caso, um mês apenas.

''-Alexis, preciso falar com você - Ethan sentou ao meu lado, na hora do intervalo - É muito importante.

–Antes, antes - interrompi animada - Minha mãe disse que você poderia ir lá em casa, mês que vem, vai ser a noite dos filmes antigos e até mesmo meu pai mandou eu convidar você.

–Alexis, eu fico muito feliz com isso, mas não posso.

–Por quê?

–Porque vou me mudar semana que vem e acho que nunca mais vou te ver na vida.

Foi uma das vezes que mais chorei.''

Acho que o que eu e Ethan sentíamos um pelo outro, não era algo que fosse durar e talvez a partida dele, naquela semana, foi algo bom a nos dois. Eu sofri sim, mas agora eu via como isso havia me ajudado muito. Eu não queria que quando terminássemos, eu passasse pelo corredor e o ignorasse, assim como eu não queria que ele fizesse isso comigo.

Minha vida depois disso foi meio entediante. Meu pai trabalhava demais, minha avó tinha morrido, minha mãe não tinha mais tanta paciência para ouvir meus problemas, já que seu casamento com meu pai, já rendia a ela uma grande quantidade.

Depois que eu completei 16 anos nada mudou. Meu pai e minha mãe queriam tanto que aquela situação mudasse, que resolveram fazer uma viagem comigo. Eu particularmente achava uma perda de tempo, mas se isso fazia eles terem esperanças e ficassem felizes, então era o que eu faria.

Mas isso foi um erro.

''-Querida, você vai adorar a praia de lá - minha mãe falava, no banco da frente do carro, animada. Meu pai concordava com a cabeça enquanto dirigia e eu apenas observava aquilo. Era bom ter a família reunida, mesmo dentro de uma pedaço de metal ambulante - Tudo é tão bonito.

–Eu sei que vou amar, mamãe.

–Eu sei que vou amar também, Alexandra. - meu pai concordou comigo.

–Vocês dois tem que me agradecer de joelhos, eu é que encontrei esse lugar maravilhoso. - mamãe disse.

–Um beijo conta? - perguntei e ela concordou com a cabeça, então eu a beijei. Foi a última vez que beijei minha mãe, quando, pelo menos, ela respirava.

–Um beijo conta para mim também? - meu pai perguntou.

–Não, no seu caso, será mais que isso. Uma ida para o cinema talvez - mamãe falou, se virando para meu pai - Mas por ora, acho que um beijo é uma boa ideia.

Meu pai se virou e beijou o rosto da minha mãe.

Quando voltou ao seu lugar tudo acabou mudando. Um caminhão fez um ultrapassagem errada e nos acertou. Meus pais morreram na hora, segundo os médicos, mas sua filha ficou viva. Eu continuei respirando enquanto meus pais eram cobertos por panos brancos.''

Eu acho que tudo que eu consegui fazer depois daquilo foi chorar. Meus pais tinham morrido e eu não. E tudo o que conseguia pensar era no último beijo que eles deram, um beijo tão inocente e doce e eu nunca mais veria algo assim deles.

Depois de sair de hospital, fiquei em um orfanato horrível, esperando a assistente social encontrar alguém da minha família, que poderia ficar comigo. Mas meus avôs tinham morrido, meus pai tinham morrido. Quem seria essa pessoa? Eu não tinha ninguém mais.

Mas eu estava mais uma vez errada.

''–Alexis Miller - a mulher de cabelos encaracolados e olhos doces, Suzane, me chamou. Ela era a minha assistente social. - Encontrei alguém da sua família.

–Mas como? Não tenho ninguém.

–Ao que parece ele é um irmão do seu pai - ela me disse - Ele parece alguém muito legal, uma boa pessoa para ficar com você.

–Meu pai tem um irmão? Impossível. Por que nunca me disse?

–Bem, ai já não é mais comigo - ela endireitou a coluna e me olhou sorridente - Vou chamá-lo.

–Não, é melhor... - mas ela continuou andando, sem se importar - não.

Fiquei sentada em minha cama, abraçando meus joelhos e me balançando. Quem era aquele cara? Irmão do meu pai? Como isso era possível? Por que eu não o conhecia?

Alguém bateu na porta e eu parei tudo que estava fazendo e me sentei ereta na cama. Pernas para baixo e olhos para cima.

Um homem entrou no meu quarto.

Seus cabelos eram meio enrolados, seus olhos eram castanhos e seu sorriso demonstrava felicidade. Mas ele estava feliz? Estava feliz em ter que cuidar de uma sobrinha que caiu de paraquedas em sua vida?

–Oi, sou Olaf Miller - ele fechou a porta atrás de si - Mas pode me chamar de... Esquece, acho que para Olaf não existe apelidos. Você deve ser Alexandra.

–Alexis - corrigi.

–Entendi - ele balançou a cabeça - Mas eu sempre te chamei de Alexandra.

–Eu não conheço você - disse a ele - Por quê?

–Eu te vi apenas quando você nasceu e depois viajei pelo mundo novamente, é meu trabalho.

– O que você faz?

–Sou arqueólogo.

–Então, realmente quer pegar minha guarda?

–É o que eu mais quero, Alexandra.''

E era por isso que eu não conseguia acreditar que Olaf estava do lado das bruxas, porque eu estava começando a amá-lo e eu não queria ter que me convencer que tudo o que ele fez por mim era mentira.

Eu acho que era demais para mim. De tudo que eu passei na minha vida, isso era demais para mim.

Com essas lembranças de um passado que dificilmente seria esquecido, eu dormi. Dormi ali mesmo no sofá.

Dormi um sono sem sonhos.


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Notas finais do capítulo

Oi, o que acharam?



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