O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 28
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Olha, esse capítulo foi aquele tipo de capítulo que se escreve quando ''Meu Deus, minha inspiração chegou, rápido, rápido, preciso escrever'' haha Mas não sei se ficou muito bom, por isso adoraria receber opiniões sobre ele.
Obrigada por ler, caro amigo, e espero por seu comentário.
Até mais.



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CAPÍTULO 27 - O DIA EM QUE O MUNDO PERDEU O SENTIDO DEFINITIVAMENTE.

''Minha respiração acelerou de uma forma descompensada.

–E por que eu posso falar com você? - perguntei receosa, enquanto dava alguns passos para trás. Eu bati em um parede e me encostei lá, imóvel, enquanto Sarah caminhava para a luz. Então eu a vi. Ela tinha cabelos negros e olhos castanhos. Com seu corpo rechonchudo e a coluna torta, parecia uma doce e boa senhora. Mas aquele sorriso malicioso que carregava no rosto, não parecia concordar com isso. Ela não era doce e muito menos boa.

–Não estou fazendo nada, Alexandra Lancaster - ela sorriu para mim com a menção do sobrenome - É você.

–Eu?

–Mas é claro, minha doce criança, é você. Se não sou eu, quem mais seria?

–Como pode ser eu?O que exatamente estou fazendo?

–Uma Híbrida pode fazer muito mais que levantar cadeiras com um anelzinho velho - ela me disse.

–Então o que eu posso fazer?

–Ah, não sei, só sei que o que está acontecendo aqui não tem nada a ver comigo - deu de ombros e veio em minha direção devagar. Como viu que eu ainda estava assutada, parou - Mas estou falando de Híbridas em geral.

–Está falando de Sophie Milsted também? - perguntei com medo da resposta.

–Também - ela confirmou - E sim, garota, ela é uma Híbrida, o velhote do Alexander não mentiu.

–Ela é a Híbrida da Maldição?

–Sim - ela sorriu - E não - ficou séria novamente.

–Como assim?Sim e não?

–Quando uma maldição é tão forte e tão cheia de ódio, como a minha foi, até mesmo quem a lançou não tem mais controle sobre ela - explicou - Não sei quem é a Híbrida da Maldição, não sei o que pode acontecer com Owens, só sei que não vai ser nada bom.

–Disse que eu chamei você, mas como fiz isso?

–Ah, garota, não sei, não sei mesmo - ela não parecia satisfeita com a própria resposta - Em um minuto não tinha consciência de nada e em outro já estava aqui, com você, sentindo que precisava falar comigo.

–Eu? - parei de falar e pensei por alguns instantes. Eu acho que bem lá no fundo, eu realmente queria falar com Sarah, queria perguntar se Sophie poderia estar metida nesse problema e o que fazer para parar com toda essa situação, algo como uma solução movida pelo desespero, mas não tinha ideia como isso havia acontecido.

–Acho que já tem sua resposta - ela devia ter percebido meu olhar perdido - Eu, por outro lado, não a tenho, mas também não quero saber. Estou morta e é tudo que importa.

–Sabe quem é sua descendente?A que esta levando em diante a Maldição?

–Sim, claro. É a sua querida tia Emma Lancaster - ela me respondeu - Irmã tão invejosa de Olívia.

Eu tinha uma tia? Tudo certo.

E ela queria destruir a cidade? Tudo certo.

Acho que uma reunião de família seria uma ótima ideia, em uma hora dessas.

–Como podemos pará-la? - fui direto ao assunto.

–Primeiro precisam saber quem ela é - sua fala ecoou pelo escuro e me arrepiou dos pés á cabeça - A menina é boa, está muito bem escondida, mas é orgulhosa e uma bruxa. Junto com seu disfarce, carrega uma coisa dos Lancaster.

– O quê?

–Não sei, mas isso é um fato - ela me garantiu.

–Ela está na floresta aonde vamos amanhã?

–Menina, estou morta, não posso saber de tudo, apenas siga as pistas.

–Você lançou uma Maldição, deveria saber. - retruquei.

–Eu deve... Ah, droga. - fez um careta estranha.

–O quê?

–Sinto que meu tempo está acabando, Alexandra, sinto que vou me perder no tempo e espaço novamente. Esse feitiço, seja lá de onde veio, é poderoso, mas não duradouro - me disse, com a mão no peito, como se sentisse uma grande dor - Então, me pergunte, me pergunte a última coisa que você precisa saber, me pergunte rápido.

–Por que está me ajudando? - fiz o que ela pediu. Sem dúvida, mais tarde, eu me bateria por ter perguntado aquilo, no lugar de coisas mais importantes, mas saiu sem eu nem ao menos ter parado para pensar se era realmente uma boa ideia.

–Por quê? - ela riu, em meio a dor que deveria estar sentindo - Porque eu sou uma condenada, sofro por um ódio momentâneo, preciso fazer algo bom. Eu não deveria ter lançado aquela maldição, apenas deveria ter matado o homem que me fez o mal, deveria ter matado o homem que matou minha irmã, que a mandou para a fogueira. Quando eu lancei a maldição e vi ela se concretizar, percebi meu erro. Com a morte de toda aquela primeira família, eu me tornei como o homem que jurei matar e odiar. Eu me tornei um mostro. E isso vai me acompanhar para sempre, Alexandra.

–Então eu te perdoou - eu disse rapidamente, como se já estivesse programada para fazer, e ela caiu de joelhos no chão. Quando fui em sua direção, Sarah levantou o braço, me impedindo de ajudá-la.

–Eu agradeço, mas quando se lida com vingança, o perdão não é a solução - me disse - Vingança é dor, Alexis, vingança mata. E foi por ela que morri e foi por ela que estou morrendo cada dia mais e mais aonde quer que eu esteja. Não tenho alma para ser perdoada, minha querida, porque ela foi consumida pelo ódio. O que apenas me restou foi tudo que tenho de ruim, tudo o que me torna um monstro''

Então eu acordei.

Alguém batia na porta furiosamente.

Levantei meio sonolenta, assustada e confusa com meu sonho. A luz que entrava por entre minhas persianas na janela ao lado de minha cama, mostrava que o dia já havia chegado em Owens.

Abri a porta, coçando ainda os olhos.

–Jade e eu, vamos começar o trabalho hoje. - era Olaf e ele ainda parecia chateado com a noite passada. Sua voz mostrava indiferença e ele evitava me olhar nos olhos - Provavelmente chegaremos tarde, não saia de casa, ainda está de castigo.

–Olaf! - chamei meu tio, que já estava se virando para ir embora - Eu estava com raiva, estava furiosa na verdade, mas eu não deveria ter descontado em você, me desculpe.

–Sabe, eu sempre ouvi as pessoas falarem que um pedido de desculpas basta; ''Peça desculpas a seu irmão, Olaf'' era o que minha mãe mandava quando eu fazia algum mal a Edward; eu sempre pedia e ele sempre parecia satisfeito com isso - ele se virou e me encarou. Seu rosto mostrava cansaço e ele não parecia o mesmo Olaf - Só que quando os papéis se inverteram e você, a filha de Edward, me pediu desculpas, não consigo sentir o que meu irmão provavelmente sentia. Satisfação. Não sinto, Alexis, que tudo o que você me disse possa ser apagado com um pedido.

–Olaf, eu sinto tanto, eu descontei em você coisas que não deveria.

–Alexis você é uma criança, não tem realmente problemas que possam ser descontados em outras pessoas - mal ele sabia, na verdade - Você me pediu desculpas e eu as aceito, realmente aceito, mas para ser sincero, não acho que mudará muita coisa.

Ele desceu as escadas rapidamente e tudo que eu queria fazer era chorar.

Mas não chorei.

...

–Oi, Miller - William entrou no meu quarto, sem bater.

Eu estava sentada em minha cama, lendo - ou tentando ler - o Livro e com a entrada triunfal do Hãnsel, eu me joguei para fora da cama, assustada. Só não achei que fossem Aberrações me caçando, porque ainda era tardinha e Aberrações, como William já me disse, caçam a noite.

–William Hãnsel, onde pensa que está? - me levantei com dificuldade do chão, recolhendo o livro também - Sabe essa porta?Então, bata nela antes de entrar.

–Olha, se dependesse de mim, eu nem estaria aqui - ele me disse - Estou aqui para te chamar.

–E se Olaf estivesse aqui?

–Miller, até parece que não me conhece.

–Mas não te conheço. - rebati.

–De fato - concordou e sorriu torto. William Hãnsel e seus sorrisos.

–Para que veio me chamar? - perguntei a ele.

–Você não queria ir a Missão? - William trocou o peso do pé direito, para o esquerdo, parecendo entediado - Então, chegou a hora de você ferrar com nossas vidas efetivamente. Vamos, estamos esperando você.

–Todos quem?Tipo, todos mesmo? - ele fez uma cara confusa e tentei explicar melhor - Não acha que ir toda a Horda atual e seus filhos, seria algo como ''Oi, estou aqui, estou vigiando vocês, bruxas idiotas, tudo bem?''

–Claro que não é todo mundo - ele revirou os olhos, como se minha explicação fosse tão idiota ao ponto de nem ao menos ser considerada - Apenas eu, os pais de Ashley, a própria Ashley, você e aquele garoto com um cabelo que mais parece molas presas juntas e velhas.

–Felipe?

–Quem mais teria um cabelo assim?

–Por que ele vai?

–Por que os pais dele são da Horda e ele queria ir - respondeu. - Agora vamos, estamos atrasados.

–Tem um problema. - avisei antes de ele sair.

–É? Qual seria?

–Olaf me deixou de castigo por um tempo indeterminado - respondi e William riu. Riu não, gargalhou como uma criança. - Qual a graça?Hãnsel, não é nada engraçado.

–Não sei se rio mais por Olaf, o legal, ter te colocado de castigo, ou pensar que uma Híbrida que pode decidir o futuro dessa cidade não poder sair nem de casa.

–Pare de rir - mandei e ele controlou a risada, só que recomeçou a gargalhar novamente - Ainda acredita que eu sou a Híbrida da Maldição? - com essa pergunta, ele ficou calado.

–Claro que acredito, acho que você é forte o suficiente para salvar essa cidade - me disse depois de um tempo. Acho que ele percebeu o quão legal foi com essa declaração e ''melhorou'' rapidamente sua resposta - E também, tenho que confiar nisso para meu próprio bem, já imaginou Sophie me salvando dessa situação?

–Falando em Sophie, como ela está?

–Muito bem, Sophie está muito bem - ele pareceu pensar nela e sorriu docemente - Ela adorou a casa, o quarto e até mesmo Miranda.

–Duvido que Miranda tenha retribuído o sentimento - sorri satisfeita.

–Na verdade, não só retribuiu como me pediu para que Sophie ficasse mais tempo - ele me disse e eu fiquei confusa. Miranda gostou de Sophie?Uma Híbrida que poderia ou não salvar William?E por que então me odiou? - Até fez com que Sophie falasse com Georgia. Elas estão se dando bem e Georgia está completamente apaixonada por Sophie. Acho que todos nós estamos, ela uma ótima menina, que sofre muito.

–Claro - ele falava como se eu não tivesse sofrido, como se eu ainda não sofresse, como se eu estivesse bem sempre. Quem perdeu os pais?Quem foi morar com um tio que não conhecia em uma cidade repleta de problemas?Quem descobriu ser filha de outras pessoas?Que pode ter que salvar a família Hãnsel e a cidade inteira?Quem está de castigo por falar demais?Isso mesmo, eu.

–Vamos Miller, estamos atrasados - me alertou - E traga esse Livro. Vamos guardar ele muito bem, no carro e depois da Missão levá-lo para a biblioteca.

–E Olaf? - peguei o livro, mas me mantive em meu lugar.

–Prefere salvar a cidade inteira ou a relação com seu tio?

–Posso ter os dois?

–Ninguém pode ter duas coisas.

...

Eu fiz uma escolha.

Eu estava caminhando a um certo tempo na floresta onde achávamos que as Bruxas que mantinham a Maldição, e que eram lideradas pela minha tia, estavam, junto com bruxos que eu mal conhecia. Eu deixei a escolha ''Ser uma boa menina e respeitar a decisão do tio'' para trás.

Acelerei o passo, como se fosse deixar essa lembrança para trás.

–Sabe, Alexis, gosto disso - Felipe chegou perto de mim e falou de um jeito que apenas eu consegui escutar.

–Gosta de estar em uma floresta, atrás de bruxas que querem acabar com uma cidade, sendo fatalmente picado por mosquitos a cada segundo? - ironizei.

–Não, querida, gosto de estar aqui, porque estou com você - ele me disse e eu corei - Nem o maior dos perigos poderia me tirar a satisfação de estar com você, Alexis Miller.

–Você enlouqueceu?

–Não - ele riu - Talvez não devesse pedir conselhos amorosos a minha mãe, isso saiu muito idiota, nem acredito que acabei de falar isso.

–Não fale nunca mais.

–Com prazer. - ele concordou comigo - Mas é verdade, em parte.

–Verdade o quê?

–Que, desde que te conheci percebi que você era um enigma, um enigma que eu quero desvendar.

–Felipe, por favor, não.

–Alexis M...

–Oi, tudo bem? - William entrou no meio da conversa, literalmente no meio. Ficou entre um Felipe furioso e uma Alexis desconcertada. - Alexander disse que há uma cabana por perto, talvez seja o nosso lugar.

–Mas elas não saberiam que estamos chegando? - perguntei, enquanto Felipe contava de um até dez.

–Saberiam, pena que temos os bruxos mais poderosos de Owens ao nosso lado e que eles podem fazer um feitiço de disfarce, para assim não sermos notados - ele parecia orgulhoso de si mesmo, como se ele próprio tivesse feito o tal feitiço - Na verdade, não é uma pena. Não para nós.

–Crianças, venham aqui - Alexander chamou. Quando chegamos perto dele e do restante do grupo, ele continuou - A cabana fica a alguns metros. Estamos disfarçados, mas ainda podemos ser vistos. Esse feitiço apenas engana o sentido delas em nos descobrir, mas não engana os olhos, por isso quietos.

Todos concordamos.

Caminhamos por entre os arbustos com calma, juntos e em silêncio, para que não fossemos descobertos.

Não foi preciso caminhar muito para enxergar a cabana velha e que parecia abandonada. De longe dava para ver também que ao seu redor havia várias pedras sujas e algumas até tinham a planta que nos deu a pista de tudo isso. Bromélia.

–É aquela - Alexander disse o obvio - Quietos e prestem atenção.

E assim ficamos.

Demorou certo tempo para que algo acontecesse que não fosse as folhas das árvores, presentes ao redor da casa, caindo.

Dois homens - não que eles pudessem ser chamados assim - apareceram. Um deles era muito alto, poderia facilmente subir no galho mais afastado do chão de uma daquelas árvores, sem muito esforço. O outro parecia um anão, acho que até mais baixo que um. E, por incrível que pareça, tinha um braço á mais. Seus rostos não se diferenciavam tanto, eram, basicamente, deformados de uma forma que chegava até ser difícil olhar por muito tempo.

–Esses são Drake e Chuck - William sussurrou para nós - Eles trabalham para as bruxas á um bom tempo. Quando fiquei vigiando Patrick, era sempre com eles que ele falava. Era os encarregados de mandar Patrick ir atrás de alguma coisa.

–Extrema confiança? - Alexander perguntou ainda mais baixo e eu quase não o ouvi.

–Extrema confiança - William afirmou.

– Shhh quietos - a mãe de Ashley mandou - Tem mais alguém se aproximando.

Então eu olhei para a direção que Abigail olhava.

E prendi a respiração.

Olaf estava lá, apertando a mão daquelas Aberrações como velhos amigos provavelmente fariam.

–Esse homem deve trabalhar para eles - Alexander comentou.

Tudo em mim começou a doer, principalmente meu coração.


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Notas finais do capítulo

Oi, como vai seus sentimentos Alexis?

P.s. Qualquer erro me avise, assim eu concertarei logo :)



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