Estou há alguns dias na prisão, aqui é legal e tem pessoas boas. Divido a cela com Carl, mas não faz muita diferença graças aos nossos horários diferentes. Às vezes fico de guarda, ou nas cercas matando zumbis, nada muito emocionante. E o melhor: finalmente pude tomar um banho descente, isso é realmente milagroso, a água é gelada, mas ainda assim é um banho.

Agora estou deitada no beliche em baixo de Carl, que deve estar em seu sétimo sono. A querida insônia me atingiu em cheio hoje, fico virando para o lado, mas de nada adianta. Começo a me lembrar de como o mundo era antes, quando eu reclamava dos professores chatos, ou da escola. Eu sinto saudades dos professores chatos, que provavelmente estão mortos agora. E com esse pensamento acabo dormindo.

Acordo com alguém chamando meu nome e chacoalhando meu ombro.

–Katherine! Acorda! – Exclama a voz.

–Só mais 5 minutos tia – Resmungo virando para o outro lado.

–Sinto-lhe informar, mas estamos no apocalipse. Levanta! Está tarde, preciso que você me ajude nas cercas– Exclama voz. Levanto assustada e bato a cabeça na cama de cima, isso acontece todos os dias. Percebo que quem está me chamando é Carl, e ele está rindo da minha cara.

–Ei, não ria da minha desgraça! –Repreendo-o massageando o local onde bati. Ele continua rindo.

–Seu namoradinho está te procurando. – Informa ele pegando sua arma e colocando no coldre em sua coxa.

–Que namorado? –Pergunto realmente confusa. “O único namoradinho que eu quero é você”, penso. Obviamente eu nunca irei falar isso.

–Aquele tal de Willian- Com isso começo a rir, tipo, rir muito. De onde ele tirou isso? Eu e Willian? Eca.

–Que? Da onde você tirou isso? Eu e Willi-Will? –Pergunto.

–Vocês vivem andando por ai juntos, é de se pensar que são namorados – Fala ele fazendo gestos com a mão- Quer dizer que vocês não são?

–Claro que não! Nojento- Exclamo fazendo careta pegando minha pistola e o machado.

–De qualquer maneira ele está te procurando. E depois vá para as cercas, o numero de errantes está aumentando. – Informa ele saindo. Penteio meu cabelo rapidamente, tomo café e vou procurar Willian.

Encontro ele na saída do refeitório, mas ele não esta sozinho, Beth está com ele. E eles estão quase se beijando quando me veem.

–Oh, me desculpe, podem continuar – Falo indicando com as mãos. Saio rapidamente sem esperar por uma resposta.

Decido ir para as cercas fazer meu trabalho, o dia está calmo hoje. Carl está lá matando alguns zumbis, realmente tem muitos.

–Cheguei – Falo pegando uma espécie de ferro que usamos para mata-los. –Encontrei meu “namoradinho” quase beijando a Beth agora mesmo. Estou me sentindo traída.

–A Beth? – Pergunta ele com ciúmes? Isso totalmente me magoou, mas eu sei disfarçar.

–Sim, parece que ele prefere as delicadas. Fazer o que- Lamento brincando, matando um zumbi que antes fora uma mulher bonita.

–Bem, aposto que tem muitos por aí que preferem as divertidas. – Fala ele limpando a testa com as costas da mão.

–Quem sabe este amiguinho aqui não gostava ein? – Pergunto apontando para o zumbi tentando morder a grade. – Talvez eu até dê uma chance, ele é realmente lindo.

–Seu bom gosto para homens é espetacular – Ele comenta rindo. “bom, não está tão ruim assim já que estou louca para te beijar, mas aparentemente você quer comer a Beth” Penso. O que que está acontecendo comigo afinal?

Continuamos a matar os zumbis em silêncio, até que um zumbi me chama atenção, é uma mulher negra, e ela carrega uma cesta, o mais estranho é que ela não esta tentando nos alcançar, está totalmente parada olhando para mim. Definitivamente não é um zumbi, e sim uma humana.

–Carl – Chamo-o – Tem uma mulher ali, viva. –Digo apontando para ela.

–Vou chamar meu pai- Avisa correndo em direção ao bloco. Reparo mais na mulher, ela carrega uma espécie de espada nas costas, e sua perna está machucada. O estranho é que os zumbis não a notaram ainda.

Rick chega bem na hora que os zumbis percebem a presença dela, corro para o portão indo abri-lo, enquanto Carl e ele atiram nos zumbis próximos. Rick vai correndo em direção a ela que está aparentemente desmaiada e a leva para os blocos.

Continuo matando os zumbis enquanto eles vão para dentro, prefiro ficar aqui sendo útil. Depois de um tempo resolvo entrar, lá dentro está uma zona, pergunto á Carol o que está acontecendo e ela diz que segundo a mulher Maggie e Glenn foram sequestrados. Não pode ser! Chego perto de onde está tendo uma espécie de discussão.

–É a Maggie e o Glenn! O que estamos discutindo ainda?- Exclama Beth.

–Não estamos. Eu vou atrás deles- Fala Daryl

–Aquele lugar parece bem seguro. Você não pode ir sozinho - Argumenta Rick.

–Eu vou – Fala Beth.

–To nessa- Fala Tonny.

–Eu também - resolvo falar pela primeira vez. Tonny me olha com olhar desaprovador, que prefiro ignorar.

Decidimos que iríamos ir mais tarde, dando tempo de terminar de cuidar de Michonne - que descobri sendo o nome da mulher-, arrumar as armas, e programar estratégias. Confesso que estou com medo, eu nunca fui a uma “guerra”, também nunca imaginei que fosse acontecer isto com nosso grupo. Eu sei que existem pessoas más, mesmo antes disso tudo, porém esqueci-me do que as pessoas eram capazes de fazer para sobreviver.

Como já limpei parcialmente as cercas, e não tem nada útil que eu possa fazer decido ir á torre de vigia, onde Tonny está. Caminho calmamente pelo pátio observando. O dia esta realmente lindo hoje, meio irônico já que meus dois amigos foram sequestrados. Subo as escadas e abro a porta o suficiente para enfiar minha cabeça. Tonny está encostado na janela limpando a arma.

–Ei, posso entrar?

–Claro, entre- Fala ele olhando em minha direção. Entro e caminho até ao lado dele.

–Então, o que você está achando sobre irmos resgatar eles? – Pergunto.

–Perigoso, porém estamos em perigo toda hora, então não faz muita diferença. – Responde ele - E também eles são dos nossos, precisamos regata-los.

–Você está com medo?– Pergunto fitando-o. Ele parece cansado.

–Por mim não, mas por você. Onde você estava com a cabeça quando se ofereceu? –Pergunta ele bravo olhando para mim. –Saiba que eu não aprovo nem um pouco.

–São Maggie e Glenn, eles são meus amigos, preciso salva-los. –Respondo decidida.

–Eu sei, mas você é só uma criança.

–Eu não sou uma criança, o mundo não é um lugar para elas, não mais. E eu posso cuidar de mim mesma. –Digo irritada.

–Sim Katherine, só estou preocupado com você. Você e Willian são as únicas coisas que me restam- Desculpa-se ele. Arrependo-me na hora de ter sido tão grossa, mas ele está errado.

–Tudo bem, desculpe-me também. –Murmuro. Ficamos em silêncio por um tempo até que tomo coragem para perguntar o que está me corroendo há dias.

–Como foi? –Pergunto. Tenho certeza que ele sabe do que estou falando.

–Você quer dizer eu e Karen? –Pergunta ele olhando o horizonte. Concordo com a cabeça. –Sabe, a gente nunca se amou, só nos casamos pela gravidez de Suze. Éramos jovens irresponsáveis e inconsequentes na época. Com o tempo, e a responsabilidade de ter uma filha, que era maravilhosa, aliás, eu amadureci. Mas Karen não, ela sempre estava bêbada ou fumando quando estava em casa, passava as noites fora, porém eu nunca imaginei que ela pudesse fazer aquilo com nossa filha.

Eu trabalhei até tarde naquela noite, estava cansado. Quando cheguei à rua onde morávamos já ouvia a gritaria, entrei correndo dentro de casa e aquela cena me chocou: Karen estava bêbada e espancando Suze, que era só uma criança e não sabia se defender. Aquilo me deixou totalmente tomado pela fúria, e não pensei nas consequências, só queria deixar aquela maluca longe da minha filha, então empurrei Karen para longe de Suze, mas ela acabou caindo e batendo a cabeça na mesa. Quando vi ela estava morta, eu a tinha matado. Isso resultou em cinco anos de cadeia, mas só fiquei um ano graças ao habeas corpus.

Fico em silêncio esperando que ele fale mais alguma coisa, e quando eu penso que ele não vai falar mais nada, ele completa:

–Melanie sempre esteve comigo nesses momentos. Ela nunca me julgou. Ajudou-me a cuidar de Suze como se fosse uma mãe que ela nunca teve, e quando tudo isso começou e Suze foi mordida eu quase morri, mas Mel esteve sempre lá comigo quando eu precisava, me ajudando a ficar em pé. – Fala ele com lágrimas nos olhos- Mas eu não estava lá quando ela precisou de mim.

–Eu... Eu sinto muito- Sussurro sem saber o que falar.

–Eu também – Completa ele com olhar vago, provavelmente perdido em lembranças.

Caímos no costumeiro silencio novamente, mas aquilo não me incomodava. Isso é o bom do Tonny, não há necessidade de completar cada segundo com uma palavra ou barulho quando estou com ele. O silêncio basta.

–Você me lembra dela – Fala ele depois de longos minutos.

–Ela quem? –questiono confusa.

–Suze, minha filha. Não só fisicamente, mas seu jeito alegre mesmo em situações onde as pessoas estão perdidas em seus lados negativos. – Fala ele– Sabe, foi duro perde-la. Ela era a única coisa boa na minha vida. Ela e Melanie.

Não sei o que responder, então opto por ficar quieta. Vejo que já está quase na hora de partirmos.

–Já está quase na hora, acho melhor eu voltar - falo hesitante.

–Ok - Responde ele ainda olhando pela janela. Começo a caminhar em direção à porta.

–Não precisa ficar com medo, vai ficar tudo bem. –Murmura ele me olhando com um pequeno sorriso. Não aguento e volto correndo para abraça-lo. Ele me acolhe como se fosse uma garotinha de cinco anos, mas não me importo. Ficamos assim por um bom tempo até que vou para minha cela. Hoje eu fiquei mais próxima de Tonny, agora eu entendo-o.

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Preparamos tudo, armas, bombas de gás lacrimogêneo, enfim, tudo que poderemos precisar. No fim será Daryl, Rick, eu, Tonny e Merle. Michonne –que descobri sendo o nome da mulher- também vai ir, ela é meio estranha, mas é a única que sabe entrar e sair sem ser percebida. Beth acabou por não ir, Carl também irá ficar para proteger as pessoas que ficaram e tomar conta de tudo. Estamos nos despedindo agora.

–Cuidado baixinha, fique viva - Diz Willian me abraçando apertado.

–Ok Willi-Will, você também –digo me desvencilhando do abraço.

–Kath, boa sorte - Diz Beth me abraçando. Retribuo o abraço, mesmo Carl tendo ficado com ciúmes dela, ela não tem culpa, eu acho. Eles vão se despedir de Tonny, então me aproximo de Carl, que estava até então falando com Rick.

–Então, tchau - Digo sem graça. Eu não tenho o que falar, mas eu não quero ir sem me despedir dele.

–Até mais, sobreviva - Responde ele dando um leve sorriso. Sorrio também.

Despedimos-nos de todos e partimos. De carro. Em determinado ponto Michonne falou que seria melhor irmos a pé, porque eles têm patrulhas. Pegamos as coisas e entramos na floresta, Rick conversando com Daryl sobre alguma coisa, mas estava prestando atenção em volta, caso alguma surpresinha quisesse dizer um olá. Só foi eu pensar nisso e começamos a ouvir gemidos, Daryl manda nós agacharmos e ficar em silêncio. Mas cada vez mais e mais zumbis saem da floresta, então começamos a mata-los, sem tiros, claro. Um zumbi chega muito perto de morder meu braço, mas o vejo a tempo e atinjo o machado em sua cabeça podre, partindo em direção ao outro, e mais outro, estou ficando cansada, e o pior é que não para de surgir zumbis, até parece que brota da terra. Rick nos guia para mais dentro da floresta, com os zumbis ainda nos seguindo, até que encontramos uma cabana de madeira, parecida com a de Merle. Estou meio apavorada devo dizer.

–Ali dentro, rápido! –Fala Rick já adentrando na cabana, entro correndo, e logo após entra Tonny.

Aqui dentro há pouca iluminação, e tem um cheiro de morte que me dá náuseas. Andamos com passos cuidadosos para evitar surpresas. Os zumbis já estão na porta batendo, que não irá aguentar por mundo tempo. Até que Rick encontra uma espécie de coberta se mexendo, meu coração dispara. E adivinha o que estava em baixo? Um homem. Vivo. Porém louco, ele começa a falar coisas estranhas com Rick, falando “Eu vou chamar a policia” até teria rido disso se não estivéssemos tão fodidos no momento. Ele ataca Rick e começa a gritar, que homem idiota! Então do nada Michonne mata-o, olho um pouco assustada pra ela.

–Você não vai fazer isso- Fala Tonny. Com esse comentário noto que Daryl e Rick já estão arrastando o corpo para fora. Ai meu Deus, isso é horrível.

Mas foi esperto. Eles jogam o homem lá fora, só ouço os gemidos dos zumbis com seu novo lanchinho, então saímos correndo por trás, estou totalmente aliviada. Voltamos a andar pela floresta, o caminho até a cidade foi tranquilo, e quando chegamos lá já está de noite. Há portões e muros realmente altos, e pelo que consigo ver, homens armados. Michonne nos guia até uma parte lateral onde há uma espécie de falha.

Estamos dentro.