- Senhora Carter?

Isso estava ficando sem graça. Telefone, campainha, tudo tocava na hora errada e me deixava assustada assim. Reconheci a voz do porteiro, e fui atender.

- Sim? – Abri pouco, o suficiente para pôr minha cabeça do lado de fora.

- Er, correspondência.

- Ah, obrigada. – peguei o envelope amarelo e pus a cabeça do lado de dentro novamente.

Eram só contas para pagar, como sempre.

- Boa noite.

Fechei a porta, joguei o envelope em cima de algum lugar e voltei para o computador.

mandy-06:

O que você quer dizer com isso?

Iwy.ch:

Quero dizer que, bom, se é isso que você quer... vamos nos encontrar.

Coloquei as mãos sobre o teclado, mas não digitei nada. Não sabia o que responder, não estava preparada ainda. Mas não ia amarelar.

mandy-06:

Simples assim? Se eu soubesse que seria tão fácil...

iwy.ch:

Não, não é tão fácil. Mas você parece estar muito assustada e levando isso a sério demais, só tenho medo de acordar atrás das grades qualquer dia desses.

Não pude deixar de rir. Ok, ia ficar tudo bem.

mandy-06:

Amanhã, no meu horário de almoço?

Iwy.ch:

Onde?

mandy-06:

Na praça de alimentação do shopping. Naquele lugar onde você me viu pela primeira vez.

Não sei se a opção por um lugar público passou despercebida, mas não importava como ele se sentia em relação a isso, eu estava assustada, e não confiava nele ainda.

iwy.ch:

Como quiser, milady.

Respirei fundo, e fui dormir. Teria um grande dia amanhã.

-x-

- Natalie?

- Amanda, são seis da manhã, eu nem acordei ainda, você deve ter um bom motivo pra me tirar da cama a essa hora.

- Deixa de preguiça, você tem que trabalhar. – Eu ria do bom humor matinal de Natalie.

- Eu sei, mas moro muito perto do trabalho, só planejava levantar daqui a meia hora.

- Tanto faz, levanta e ajuda sua amiga. – Eu estava com bom humor, por algum motivo.

- O que foi?

- Que roupa colocar para um primeiro encontro com um psicopata?

- O QUÊ? – Pelo o que eu conhecia minha amiga, tinha certeza que ela devia ter pulado da cama e estava com os olhos arregalados agora.

- Bom... Resumindo pra você: Há três dias, algum maluco tem me mandado e-mails com desenhos meus para mim, a gente tem trocado algumas palavras e bom, marcamos de nos encontrar hoje.

- Era isso que você estava escondendo de mim outro dia?

- Outro dia, que por sinal foi ontem. Bom, não estava exatamente escondendo, eu ia contar, só não achei que era o momento apropriado.

- Ah, claro. Bom, Mandy... – ela suspirou – você sabe que ele pode ser um seqüestrador, assassino, psicopata, estuprador, um assassino da serra elétrica e...

-Ei! Para com isso, ele me assegurou que não era.

- Ah, claro! Você tem todos os motivos pra confiar nele, até porque, se ele realmente fosse, a primeira coisa que ele faria seria te contar não é?  “Oi Amanda, eu sou um psicopata, posso matar você?”

- Ele não é.

- Você sabe? Tem certeza disso?

-Tenho! Quer dizer... Não, mas... Ah, Nath!

- Ok, você vai mesmo?

- Sim, e marcamos de nos encontrar no shopping, é um local público, então...

- Então eu vou também.

- Não precisa.

- Eu vou ficar longe...

- Nath – eu a interrompi – ele nos viu ontem. Ele sabe que você é minha amiga, então, se você estiver lá...

- Entendi, entendi. Mas não vou deixar você ir sozinha, de modo algum!

- Argh... então, você pode aparecer depois, como se fosse uma mera coincidência você estar lá, e sentar longe. Se eu sair com ele pra algum lugar, você segue. Se eu entrar no carro dele, você liga pra polícia. Se eu te encarar e mandar algum sinal, nem que seja com as sobrancelhas, liga pra polícia também, entende?

- Isso porque você tem certeza que ele não é um assassino.

- Para!

- Ok. Mas em relação à roupa... você vai estar com o uniforme da empresa, lembra?

- Eu sei, eu ia trocar antes de sair e... droga.

- O que foi?

- O uniforme da empresa, eu tinha esquecido. Ele sabe onde eu trabalho.

- Esse é o de menos. Ele deve saber onde você mora, com quem sai, onde sua família mora e...

- Natalie!

- Tá bom, tá bom. Vou me arrumar para o trabalho, mais tarde conversamos.

- Ok, tchau.

Desliguei o telefone, peguei uma roupa qualquer, nem muito simples, nem muito arrumada, apenas uma calça jeans e uma camisa pólo preta que eu adorava, coloquei em uma bolsa e fui para o trabalho.

-x-

Horário de almoço, eu já estava lá. Olhei em volta, Natalie não tinha chegado ainda, ele não tinha chegado ainda. Será que ele viria? Estava nervosa, minhas mãos suavam, olhei para o celular. Balançava as pernas, por mais que repetisse para mim mesma para ficar calma, não conseguia. Depois de dez minutos, quando finalmente decidi ir embora, ouvi uma voz masculina atrás de mim:

- Amanda Carter?