- Amanda, você tá aí?

Fechei os olhos, suspirei de alívio. Era só a mamãe. Fui até o telefone, ainda com as pernas bambas e atendi.

- Oi mãe.

- Amanda, você está bem? – Ela parecia preocupada.

- Sim, porque não estaria?

- Ah, sua voz estava estranha, só isso. Está acontecendo alguma coisa?

- Não mãe, eu só... – Olhei para o computador, o desenho ainda estava lá. Eu não precisava deixá-la preocupada. – Só estou cansada do trabalho.

- Ah. O trabalho, como sempre.

- É. – Tentei dar uma risadinha, mas não convenci ninguém.

- Amanda querida. – Ela suspirou, como se viesse tratando desse assunto há meses, o que não era uma total mentira. – Você sabe o quanto vai ser importante pra mim se você vier.

- Eu sei mãe, eu sei. É o trabalho...

- Mas é sempre o trabalho, Amanda! Por favor, venha... é meu aniversário de 55 anos, e não acredito que não vou ter minha única filha por perto.

- Eu vou fazer o possível, mãe, prometo. Ainda essa semana te ligo dando uma resposta.

- Certo, tenho que ir. Beijão filha, se cuida.

- Tchau mãe, te amo.

- Eu também.

Desligou. Coloquei a mão na testa e suspirei. Acho que não me restava outra alternativa a não ser ir. Coloquei um pijama e fui deitar, disposta a colocar os pensamentos em ordens. Mas a única coisa que estava na minha cabeça era aquele maldito desenho. Talvez era alguém do trabalho, só isso. Alguém querendo fazer alguma brincadeira de mal gosto comigo. Talvez era só o Steven. Não tinha pra quê me preocupar e nem todo esse escândalo. Era só um desenho.

Abri os olhos e desliguei o despertador. Já eram 6:00 da manhã, droga. A noite passou tão rápido. Levantei, tomei um banho e coloquei uma roupa. Quando me dirgia à cozinha pra preparar um café, passei pelo computador, e vi que o desenho ainda estava lá, e um e-mail novo.

Iwy.ch:

Sabe, eu esperava uma resposta.

Por dois segundos, meu coração parou de bater. Tenho certeza que estava muito pálida, e senti minhas pernas começarem a tremer. Calma, Amanda, calma. Respirei fundo. Sentei na cadeira do computador.

mandy-6:

Você me assustou, sabia? Esse não é a melhor forma de abordar alguém.

Levantei, ainda incerta sobre minha resposta, mas no meio do caminho, o sonzinho de que havia chegado um e-mail me assustou. Fui correndo.

Iwy.ch:

Relaxa, não sou nenhum psicopata ou algo assim.

mandy-6:

É alguém que eu conheço?

Dessa vez não deu nem tempo de me levantar da cadeira.

Iwy.ch:

Não.

mandy-6:

Hum, ok. Olha, tenho que ir, ou vou me atrasar pro trabalho.

Iwy.ch:

Ah, claro, ok. Talvez eu te veja hoje.

Não pude evitar de me assustar novamente. Mesmo que ele assegurasse que não era um psicopata, não sei, era uma sensação estranha, de estar sendo vigiada, perseguida. Não respondi, apenas fui embora, e não pude evitar de olhar para os lados enquanto virava em cada esquina. Como minha vida foi mudar assim em menos de um minuto? Não sei.

-x-

Dessa vez fui almoçar em outro lugar. Dane-se se ele assegurava que não era um psicopata. Eu ainda me sentia ameaçada. Passei o almoço inteiro pensando nisso. Nessa história toda maluca. Ao mesmo tempo que eu queria fugir dele, eu queria saber mais, descobrir quem ele era, queria vê-lo. Ele pra mim era só uma sombra.

Voltei para o trabalho. Tinha prometido à mim mesma que não ia fazer isso, mas não custava nada.

- Steven?

- Ao seu dispor. – Às vezes essa paixão de Steven era um pouco irritante.

- É você que tem me mandado aqueles e-mails?

- Que e-mails? – Ele parecia muito confuso, mas poderia estar apenas fingindo.

- É, aquela brincadeira sem graça, de se passar por outra pessoa. Eu estou realmente assustada, Steven, então, por mais engraçado que isso pareça, se você não parar, vou chamar a polícia.

- Mandy, meu amor, juro que não estou fazendo nada. – Ele parecia assustado, mais do que eu, na verdade – O que estão fazendo com você? Quer ajuda? Se quiser, eu falo com a polícia também, eu...

- Não.Tá tudo bem, de verdade, obrigada. Só queria ter certeza.

Dei as costas e tenho certeza que deixei um Steven meio abobalhado atrás de mim, sem entender muita coisa.

-x-

Primeira coisa que fiz quando cheguei em casa: olhar meu e-mail.

E lá estava eu, novamente, no meu horário de almoço, distraída. Outro desenho, do mesmo modelo. Só que dessa vez, uma observação:

Você está com a mesma cara de preocupada do que ontem, mandy-06, o que te aflige tanto?

mandy-06:

Você.

E mais uma vez, a resposta veio instantaneamente.

Iwy.ch:

Sinto muito, juro que não foi minha intenção te deixar assim.

mandy-06:

O que você quer que eu pense? Você está me perseguindo, fazendo desenhos de mim,  e quer que eu aceite isso normalmente?

Mal tinha percebido que estava chorando. Estava em pânico novamente, estava muito, mas muito sobrecarregada com tantos problemas.

Iwy.ch:

Eu juro que vou aparecer qualquer dia desses, Amanda, eu juro. Eu sou só um pouco tímido, por favor entenda. Mais uma vez, relaxe, eu não sou capaz de fazer mal nem à uma mosca.

Respirei, respirei e respirei. Desliguei o computador e fui tomar um banho. Comi, escovei os dentes e fui dormir. Depois de me revirar bastante na cama, levantei de um pulo e disse para o nada:

“Como ele sabe que meu nome é Amanda?”