Rose

Hanna tinha chegado de Londres, devia ter passado na nossa antiga casa antes de vir para cá. Tendo essa mania de se despedir de algo que já se foi, mas o apego que ela tinha a nosso pai era tão grande que ele era o herói dela.

Mas eu tive que ter a tarefa de cuidar dela quando ele se foi, foi triste na realidade, mas eu fiz ao máximo para que ela tivesse uma infância.

— Senhorita Tyler? — Um homem de cabelos escuros me chamou atenção na sala de espera da delegacia.

— Sim? Sou eu. — Levantei da cadeira com um pouco de dificuldade, o vestido estava apertando meus pulmões...

— Sou o xerife Stilinski e acabei de saber que você gostaria de ser a secretaria daqui. Mas antes você tem que me mandar um pequeno histórico da faculdade que cursou, antecedentes criminais e coisas relacionadas a tal — Ele falou olhando o pequeno papel que eu tinha deixado para que visse.

— Sei bem que precisa, os trouxe aqui... Só um instante... — Abri a bolsa e remexi nela, tentando avistar o maldito papel. — Achei... Aqui.

Entreguei e ele olhou para mim e logo para os papeis e novamente seu olhar pousou sobre mim, olhando de cima a baixo.

— A senhorita vai sair depois? Se for aceitar o cargo precisa assinar algumas coisas... — Deu uma tossida, não sabia contar se ele estava envergonhado com uma figura feminina em sua sala e a sós com essa, mas meus instintos mostravam que sim, ele não estava acostumado.

Espero que isso não vá atrapalhar em nada nesse meu possível emprego, por favor, preciso dele. Ou ele de mim, não sei, isso vai depender do carma, destino ou minha competência.

— Não senhor, apenas me arrumei para vir procurar emprego, mas pelo visto eu acho que já consegui. — Dei um sorriso meio sem jeito.

— Ok... — Falou, olhando para a folha que tinha entregado e suspirando, enfim me encarando e sorrindo de canto — Apenas deixe o número do seu telefone comigo. — Pegou um bloco de notas da mesa ao lado e me passou com uma caneta.

Anotei o número residencial e do celular, sorri com o feito e o escondia a minha face de satisfação com tal, não queria me mostrar arrogante ou convencida.

— Aqui está... Bem, então...? — Olhava nervosamente para ele enquanto guardava o papel em seu bolso.

— Semana que vem poderei dar uma resposta para você, é que temos uma autoridade maior aqui na delegacia no momento. — Falou suspirando, como se lamentasse eu ter que esperar.

— Entendo, esperarei uma resposta então, xerife Stilinski... — Sorri timidamente e me retirei da delegacia.

O tempo parecia que iria fechar e uma chuva parecia estragar meus planos de passar no mercado e compra alguma coisa para Hanna comer. Mas o que importa é ela não reclamar que não tem nada, não é?

Entrei no carro e decidi compra alguma coisa para fazer no micro-ondas, eu faço comida para um exercito, mas esse dia ela nem vai notar que eu não fiz nada de especial e ela sabe que eu sempre exagero em tudo.

Antes passei na papelaria e comprei um pouco do material que Hanna precisava, compraria algumas roupas para ela mais tarde, porque afinal, temos quase o mesmo gosto em relação a roupas e sapatos. Menos em comida, criatura fresca para comer uma lasanha de hambúrguer. É sempre “isso engorda mais que um pedaço de pizza”.

Passei num fast-food e comprei um lanche pra ela e logo depois parti para a pizzaria e deixando tudo que pedi no banco de trás.

Chegando em casa coloquei a comida na mesa e deixei o material na sala, e vi que Hanna ainda estava lá, só que dormindo. Ela não toma jeito mesmo viu...

— Hanna? Hanna, acorda... — Cutuquei ela até acordar, recebi um xingamentos por ter feito isso.

— O que eu fiz? Tá tudo em ordem... Arrumei um pouco da sua bagunça enquanto estava fora... — Resmungava contra a almofada do sofá, parecia até babar e ainda consegui controlar a risada pela cena, até controlei a vontade de tirar uma foto.

— Que bagunça? Não tem nada fora do lugar! — Dei um sorriso, rindo.

— A do meu quarto, a do seu quarto. Aliás, por que você ainda guarda fotos do seu ex-namorado? — Perguntou, rouca e dali dava pra sentir a cutucada do assunto, mas ela levantou a mão, quase acertando a minha cara  — Não me responda, não quero nem saber... O mais chato disso tudo é que você não tem fotos do Ian e da Mel... — Hanna falou sentando-se e ficou me encarando. Ela amava Ian e Mel e pelo que parece, ela acha que eu os esqueci. — Eles são nossa família, nossos irmãos mais novos... Como você...?

— Eu não os esqueci o.k.? Eu tenho fotos dos dois, mas estão na minha carteira, para quando eu ver, sempre estarem comigo. — Falei impaciente e me afastando da sala.

— Desculpa ai, estressadinha!

— Se continuar julgando não vai pegar nem um pedaço de pizza que eu trouxe! — Gritei de volta e ouvi passos apressados vindo em direção à cozinha.

Mas acabamos que não falando nada depois daquilo, se já é difícil falar dos dois, imagine falar do papai. Hanna o perdeu ainda muito nova e mamãe abandonou a nós quando ela mal tinha nascido.

Só que eu tenho um objetivo e é trazer a nossa mãe de volta. Ela não devia ter feito aquilo conosco,  ela vai se arrepender ao olhar para o quanto Hanna cresceu. Se arrepender ao me ver tomando conta dos meus dois irmãozinhos mais novos e por ter nos deixado sozinhas, me deixado sozinha para lidar com o mundo.

Não sou vingativa, apenas prática quanto aos sentimentos. Afinal, ninguém é confiável até que se diga o contrário.