Acordei na enfermaria do acampamento, Nico estava dormindo em uma cadeira ao lado da minha cama. Eu estava cheia de curativos pelos meus braços, meu rosto e minhas pernas, e sentia uma dor horrível no meu braço direito.

Minha cicatriz.

Eu deveria ter ficado feliz por 1) ter sobrevivido e conseguido meu futuro e memória de volta e 2) ter um sentimento recíproco que agora poderia se expandir cada vez mais. Mas, como nem tudo é rosas, havia uma exceção na minha felicidade, que era a porcaria da minha cicatriz. Não sei como (sabia que não era possível, claro), mas minha cicatriz não era mais uma cicatriz (N/Autora: Isso foi confuso, eu sei), era novamente uma ferida. Com minha memória agora de volta eu lembrava de tudo quando Hades me fizera aquilo, mas agora ela estava “viva” novamente. Era um ferimento profundo, o sangue estava seco. Como nenhuma enfermeira havia notado aquilo?!

De repente algo brilhou na minha frente, e eu encarei o brilho, por mais que me cegasse. Quando o brilho cessou, minha mãe apareceu sentada na beirada da cama, sorrindo.

– Você conseguiu! – exclamou ela.

– Shh, vai acordá-lo.

Ela riu.

– Ele não está nos ouvindo – garantiu ela. – Ah, deuses, como eu estou feliz por tudo ter dado certo, minha filha. – Ela se aproximou e me abraçou. – Finalmente ninguém mais vai te incomodar, filha, você está livre de todo esse peso!

– É até estranho pensar nisso – comentei, me soltando. – Todo esse tempo eu vivi com Hades me enchendo o saco e o peso de eu ser a última filha de Perséfone, e agora... Bem, agora eu estou finalmente liberta disso. Tirando o fato de eu ter... – Apontei para minha ferida/cicatriz. – Isso.

– Ah, isso – sorriu minha mãe, pegando uma florzinha de um vaso aleatório na mesinha ao lado da minha cama, ela fechou os olhos e pareceu se concentrar, a florzinha murchou em questão de segundos e desapareceu, então minha mãe passou os dedos que seguraram a florzinha na minha ferida, que cicatrizou em um instante. – Pronto. Hades não resistiu em fazê-la virar ferida outra vez, mas agora isso não acontecerá mais, garanto.

– Dá uma sensação de liberdade – tornei a comentar. – Sei que como semideusa eu tenho vários problemas com monstros, mas os piores problemas finalmente estão fora da minha vida, eu estou livre deles, cara.

– Estou muito feliz por isso, Anddie, de verdade – disse ela. – A única coisa que me preocupa é o Nico.

Eu olhei para o Nico e sorri.

– É ele quem eu amo, mãe.

– E é você quem ele ama também. Sabe disso, não sabe?

– É, acho que sim.

Nós rimos.

– Quem diria que estamos conversando como mãe e filha, hein? – comentou ela, dando um empurrão de brincadeira no meu ombro. Eu ri novamente. Nico resmungou. – Está na hora de eu me despedir. Hades vai ficar louco se perceber que eu sumi. Até qualquer hora, filha.

– Me visite, mãe – pedi antes de ela me dar um beijo na bochecha e desaparecer. Me remexi na cama e Nico abriu os olhos.

– Anddie! – exclamou ele assim que me viu acordada e sorrindo. Meu sorriso só se aumentou ainda mais quando eu o vi. – Deuses, eu estava tão preocupado com você.

Ele me puxou para um abraço.

– Todo mundo já estava dizendo que você não acordaria mais – disse ele ainda sem me soltar. – Foram dez dias desacordada, Anddie. Eu quase não saí do seu lado, sabia? Não me conformaria se você... Bem, você sabe.

– Primeiramente boa tarde – ri e me soltei. – É boa tarde, né?

– É.

– Tá, tanto faz – dei de ombros. – Obrigada pela preocupação e tal, mas você já deve ter percebido que eu estou bem, não é?

– Sim.

– Ótimo – minha barriga roncou. – Deuses, acho que eu nunca senti tanta fome como agora.

Ele riu.

– Vou pedir para as ninfas trazerem alguma coisa para você.

– Não – choraminguei, puxando-o de volta. – Fique aqui, depois você pede.

– Tudo bem, então – ele fez uma careta. – Como você está se sentindo?

– Bem, graças aos deuses.

Ele pareceu nervoso de repente.

– Então, hã... – ele hesitou. – Sabe, muitos dos campistas me fizeram algumas perguntas durante esses dez dias, e me sugeriram algumas coisas também, então, eu, hã... Eu queria saber se você... Ugh, isso é difícil, cara.

Eu ri um pouco mais alto do que o normal.

– Prossiga, Nico, eu sei que você consegue.

– Andrômeda – ele olhou nos meus olhos. – Namora comigo?