O Casamento Da Minha Mãe escrita por Devoradora de Livros


Capítulo 2
Uma Dançarina Bêbada Que Afirma Ser Minha Progenitora


Notas iniciais do capítulo

Hey You There!

Finalmente eu decidi o meu ritmo de postagem. Capitulo novo toda quarta se tudo correr bem!
Sentiram minha falta (provavelmente não, mas não custa perguntar?), porque eu senti a de vocês.
Quem viu a nova capa? Kristine, muito obrigada por essa capa mega divosa, esse capitulo é pra você.
Agora, bem, vou deixar vocês com um ponto de vista do Jay.
Beijos!

/Ciça



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Se você algum dia quiser acordar normalmente na minha casa, é melhor desistir de uma vez.

Eu olhei para o lado, na esperança de que não fosse tão tarde quanto eu imaginava que fosse. E não era. Era bem mais tarde.

Minha ficha ainda não havia caído de que minha mãe, a mulher que me deu a vida poderia tocar a companhia a qualquer instante. Porém o único barulho que eu ouvia era o de chuva lá fora.

Chuva é um barulho tão agradável, porque tinha que chover logo de manhã?

Gemi de preguiça enquanto me arrastava para fora da cama. Fui em direção ao banheiro e troquei de roupa.

Bem teria sido o que eu faria se eu não tivesse tropeçado no edredom e caído de cara no chão. Mas essa não foi a pior parte.

Quando tentei me levantar, apoiei a mão no criado mudo, que tombou com um baque enorme em cima de mim, derrubando meu abajur, meu celular e minha foto com Piper.

O abajur se quebrou em uns trocentos e poucos pedaços, espalhando vidro por tudo que era canto. Maravilha, a empregada vai ficar puta comigo, precisarei passar o resto da semana checando se a minha comida está ou não envenenada.

Ótimo. O dia mal começou (tecnicamente, já passou mais da metade do dia, mas você entendeu, não é?) e já estou tão desastrado quanto Thalia. Será que ser destrambelhado é de família?

–- Jason, porque você está no chão? -- Thalia perguntou sonolenta na soleira da minha porta.

Ela parecia ter acabado de acordar, e estava completamente enrolada no edredom, por cima de um conjunto de short e um moletom que provavelmente era meu. Os cabelos negros estavam emaranhados e meio volumosos. Havia um resto de maquiagem embaixo dos olhos de Thalia, eu sabia que ela provavelmente teria ido dormir sem enxugar o rosto na toalha após o banho. Ou olhar no espelho.

Lhes dei um olhar sarcástico.

–- Porque é muito mais confortável aqui embaixo, não está vendo? -- Eu respondi de mau-humor.

Aparentemente, Lia estava embriagada de sono, porque mal notou o sarcasmo na minha voz e me deu um meio sorriso.

–- Ótimo, então pode sair daí sozinho. -- E nisso ela desapareceu pelo corredor.

Em um estado normal, eu poderia sair dali em 30 segundos. Mas eu não estava em estado normal.

Não sei se você já ficou preso embaixo do seu criado mudo enquanto estava com muito sono, mas é como se todos os seus membros fossem feitos de gelatina. Tudo treme e você pensa que se fizer força demais eles vão explodir. Então me contentei em xingar Thalia.

Ela aparentemente ouviu, porque eu ouvi seu murmúrio no corredor:

–- Me xingar não vai te tirar daí, Jay Jay.

Não vendo alternativa, já que o criado mudo estava começando a amassar minhas costelas, eu gritei:

–- THALIA!

Alguns segundos depois, Thalia apareceu rindo, sua maquiagem derretida me lembrando da mistura bizarra entre um panda e o coringa.

–- Eu te odeio! Argh! -- Eu falei ainda sendo esmagado pelo meu estúpido móvel.

–- As palavras que eu quero ouvir, Superman -- Ela riu -- São apenas duas. "Me. Ajuda".

Eu bufei. Coisa que não deveria ter feito porque o criado subiu com o meu peito e caiu de uma vez, me tirando o ar.

–- Tá, ME AJUDA! -- Gritei.

Thalia levantou o criado com um pouco de dificuldade, afinal ela também estava com sono (o inimigo número um de qualquer adolescente preso embaixo de um criado mudo).

–- Finalmente! Respiro novamente! -- Eu exclamei.

–- Nossa, você é o rei do drama.

–- E você a rainha, Lia. -- Retruquei.

Me dirigi ao meu banheiro para lavar o rosto e ouvi Thalia murmurar um "Espero que se afogue" enquanto deixava o meu quarto.

Como eu disse, minha irmã é a Rainha Do Drama, em toda sua gloria da maquiagem derretida.

Revirei os olhos e continuei a colocar o meu rosto na água.

Você achou estranho o fato do meu pai não ter vindo acordar a gente?

Meu pai não notaria se fugirmos para o Paraguai, desde que deixaremos um gravador com as frases "Pai, não enche" e "Tá, mais tarde eu faço isso".

Troquei de roupa, porém, deixei as meias.

Se você vier para a minha casa, vai notar que o segundo andar só tem dois cômodos fechados (meu quarto e o de Thalia) em extremidades opostas e uma sala mediana no meio de frente a escada. Mas um corredor traça uma linha reta entre o meu quarto e o da minha irmã, passando em frente a escada, pela borda dessa salinha. Um dos lados é uma grade que impede as pessoas como eu de caírem daqui e a outra uma parede com retratos dos Grace. Esse corredor tem um chão mega deslizante, então acho que é meio previsível o que eu irei fazer.

Abri a porta e me encostei na parede. Corri por três segundo e me deixei deslizar enquanto eu gritava:

–- Olha o Swag dá criança! -- Berrei usando minhas mãos pra parar na beira da escada.

Mas é claro que eu não parei e cai de bunda escada abaixo.

–- É, estou vendo o Swag, Jay. -- Thalia riu.

Imprestável essa minha irmã.

–- Não vai perguntar se estou bem? -- Perguntei depois de um tempo encarando ela.

–- Você tá ótimo, vai sobreviver, já está até reclamando. -- Logica da minha irmã se está reclamando, já está curado –- Tem sorte de eu não estar filmando. Piper iria adorar ver você caindo da escada, Stalker. -- Thalia disse.

Involuntariamente meu rosto ficou vermelho de vergonha ao imaginar a garota mais linda do mundo vendo aquilo. Thals começou a rir como uma hiena bêbada.

–- Eu não sou um Stalker! -- Berrei com um bico.

–- Claro que não é, Jay, tudo que você disser, Jay. -- Ela disse contendo o riso e me ajudando a levantar (pela segunda vez no dia, meu Deus).

Nós comemos o almoço (vulgo devoramos a porra toda) e nos sentamos (vulgo nos esparramamos) no sofá da sala de estar.

–- Jay? -- Thalia chamou.

Eu me virei para encara-la, mas Thalia não olhava para mim. Ela analisava o novo lustre (já que o antigo tinha sido quebrado, mas essa é outra história) que estava pendurado 7 metros acima dela. Sua expressão me lembrava de papai. Ela sempre foi a cara dele. Eu tinha traços parecidos, mas uma vez meu pai me disse que puxei mais a minha mãe. Os olhos tempestuosos da minha irmã estavam com aquele olhar sério, sem um traço de emoção.

–- Sim? -- Eu chamei sua atenção. Ela olhou de esguelha pra mim, sem mover a cabeça -- Como você acha que a mamãe é? -- Ela me perguntou em voz baixa.

Mamãe havia ido embora quando tínhamos 3 anos. Nenhum de nós se lembra dela, embora eu sempre tenha imaginado a minha mãe de diversos jeitos.

Eu sempre pensei nela como alguém bem parecida com meu pai. Não como Thalia é parecida com ele, parecida no sentido de personalidade.

–- Como você acha que ela é? -- Eu perguntei de volta.

–- Exatamente. Eu não sei. E seu idealizar demais e ela for pouco melhor que o papai? -- Thalia respondeu e fiquei tentado a abraça-la.

Porém não o fiz, porque ela iria me matar cinco segundos depois. E bem, eu gosto de viver.

–- Bem, talvez ela tenha ido embora porque ela era como a gente. Talvez ela fosse uma problemática como nós. -- Tentei fazer piada desse fato, mas na verdade, nem mesmo eu não estava com humor para piadas.

O assunto “mamãe” era um tópico absolutamente proibido na casa dos Grace. Quando éramos crianças perguntávamos as vezes ao meu pai sobre ela, e ele olhava nos meus olhos, sem expressão nenhuma e dizia:

“-- Quando você for mais velho, Jason.”

Zack não respondia, e nenhum de nós perguntava, esse era o acordo silencioso que tínhamos.

Mas era algo bem complicado. Em alguns dias das mães lembro de ido consolar Thalia, porque Annabeth vinha me contar que ela tinha se trancado no banheiro e alguns anos atrás Nico me ligou as 4 da manhã dizendo que minha irmã estava bêbada num bar. Eu mesmo tinha feito coisas parecidas no dia das mães também. Tivemos até mesmo um terapeuta.

Só que a partir dos 14 anos começamos a aceitar melhor, e a figura de mamãe começou a se tornar algo mais distante, algo que dava pra fazer piada.

Mas, saber que ela estava em algum lugar de NY me dava vontade de correr pro quartinho atrás do ginásio onde eu, Leo e mais algumas pessoas da minha classe que tinham mães mortas ou no exército ficávamos nos lamentando durante as canções do dia das mães.

–- Essa frase envolve mais "talvez" do que propriamente frase, Jason. -- Ela respondeu em voz baixa.

–- Tecnicamente são duas frases. -- Eu corrigi.

Ela revirou os olhos e parte do olhar da depressão pareceu se esvair.

Lia me ofereceu um sorriso.

–- Vamos, Jay. Levante sua bunda gorda daí e vamos fazer alguma coisa! -- Thalia me empurrou, manhosa.

Muito bonito, viu, Dona Thalia.

–- Para sua informação, a minha bunda é extremamente sexy, da licença? -- Eu respondi meio indignado meio brincando -- Mas o que você quer fazer, hein, hipócrita?

–- Não sou hipócrita. -- Ela disse colocando um bico no rosto.

Eu ri.

–- Então levante essa sua bunda gorda daí e vamos fazer alguma coisa! -- Respondi usando uma imitação da sua voz.

–- 1°, eu não falo desse jeito. 2°, minha bunda é bem mais sexy que a sua. 3°, dá licença? Você que é o inventor de passatempos que não vão acabar extremamente mal pra nos dois, só pra você. -- Ela falou a última frase sorrindo. – E 4º eu não falo desse jeito.

–- Ha ha. Hilário. Você devia ser comediante Thalia, serio. -- Eu retruquei sarcástico. -- E só pra dar uma notinha de rodapé -- Acrescentei – Fala sim.

–- Okay, okay, eu conheço meus talentos. -- Ela respondeu sorrindo -- Mas invente logo algo antes que eu morra de tédio. -- Thalia fechou a cara -- E não, não falo.

–- Invente você. -- Eu murmurei olhando para o teto, assim como Lia.

–- Você. -- Ela murmurou de volta, sem desviar o olhar do teto.

–- Você.

–- Você. Você. Você.

–- Você vezes 10.

–- Você vezes 20.

E nisso nós passamos cerca de meia hora tentando decidir isso. Não era mais uma questão de preguiça, era de orgulho.

–- Você vezes Infinito. -- Eu arrisquei.

–- Você vezes Infinito elevado a Infinito. -- Ela retrucou.

Tentei pensar em algo, mas estava muito surpreso.

–- Você falando de matemática nas férias? Eu morri? Ou pior, você aprendeu algo na aula de matemática? -- Eu disse.

Thalia me deu língua.

–- Maduro da sua parte. -- Ri.

–- Deixe de ser chato. -- Ela emburrou.

Finalmente, criei animo e peguei o controle da Tv, e Thalia se arrastou até seu celular.

–- Giovana e Matheus terminaram*. -- Ela falou, não exatamente pra mim.

–- Por que? -- Perguntei.

–- Ninguém sabe exatamente. Annabeth me disse que Piper disse que Silena recebeu um boato de que Linley Stewart esteve com os dois na cena e acha que foi porque ele achava o nariz dela grande. Mas Annie também disse, que acha que é porque a Giovana também estava saindo com o Lucas, mas o Matheus não sabia disso, mesmo que eles fossem só amigos, mas eu acho que eles são amigos coloridos, embora não tenha provas. Assim sobram vários outros motivos pequenos, mas sabemos que...

–- Thalia, eu perguntei o porquê, não pedi pra você ler a bíblia. -- Interrompi.

Ela me mostrou o dedo do meio.

–- Então, senhor maturidade, me diga mais sobre o que está acontecendo em Bob Esponja. -- Ela me zoou.

Estirei a língua.

Lia revirou os olhos e subiu as escadas indo em direção ao quarto dela. Eu fiquei vendo o Bob por mais um tempo até eu decidir ir ver no meu quarto.

–--------------

Eu achava que estava pronto para qualquer coisa, quando o meu pai bateu na porta do meu quarto pedindo pra entrar, seguido de Thalia.

Aquilo era tipo, o acontecimento do século.

Não o fato dele bater, mas ele entrar no quarto e se sentar na minha cadeira.

...Só pra deixar claro.

Thalia sentou ao meu lado, na minha cama, arrancando o esmalte preto das unhas de forma desconfortável e comecei a sentir gastura. Dei um tapa na mão dela sem muita força e Thalia me fuzilou com os olhos.

O ar do cômodo parecia estar carregado de eletricidade. Ninguém ousava mexer um músculo.

–- Então...? -- Thalia perguntou.

Meu pai suspirou, parecendo cansado.

Ah, meu Deus.

Meu pai está demostrando emoções. Salve-se quem puder. A porra acabou de ficar seria.

Nós nos inclinamos para trás, surpresos, e eu sentia que meus olhos estavam tentando fugir da minha cara, de tão esbugalhados que estavam.

Sem sua frieza natural, olhar nos olhos do meu pai era tão fácil quanto olhar nos de Thalia. Não lembro a última vez que vi ele desse jeito.

E eu não sabia se gostava ou não dessa facilidade com a qual o meu corpo estava se adaptando a isso.

Eu ia ter uma conversa pai e filho. Ou pai, filho e irmã, mas você sacou. Daquelas que você vê naqueles especiais de natal, onde eles ficam reforçando o quanto se amam.

Às vezes, me pergunto se meu pai já me amou em algum momento.

–- Eu nunca fui bom com essas coisas. -- Ele admitiu.

Corre negada! O apocalipse chegou! Zack Grace acabou de admitir que não é perfeito! Não que isso seja novidade, mas ele JAMAIS diria isso.

Eu balancei a cabeça, incentivando-o. Thalia apresentava uma cara parecida com um jogador de poker, e essa era uma das poucas ocasiões em que eu não fazia ideia do que se passava na sua mente.

–- Mas vocês precisam entender o meu lado. Talvez eu não mereça a compreensão de vocês, mas peço que tentem.

Agora nos dois balançamos a cabeça.

–- Bem eu e sua mãe... Nós éramos amigos. Mas começamos a sentir algo a mais. E a nossa amizade se transformou numa paixão avassaladora, mas não era amor. Passou, acabou e descansa em paz. Ela queria ver o mundo, queria ser livre. Estava triste por deixá-los, mas ela foi atrás do que queria.

Meu pai parecia muito magoado.

–- Pai, está contando isso agora porque, exatamente? -- Thalia perguntou. Seus olhos também mostravam o quão magoada e triste ela estava. Não acho que eu estivesse muito diferente.

E eu sabia exatamente o porquê dessa magoa.

Mamãe não nos amava. Talvez ela tivesse afeto o suficiente para ficar triste, mas não para amar.

Quando você ama alguém, significa colocar as necessidades dessa pessoa acima das suas. Minha mãe não me amava o suficiente para ficar. Mas meu pai a amava o suficiente para deixa-la ir.

–- Porque eu quero que deem uma chance a ela. Hope está arrependida, mas eu não quero que se decepcionem. -- Ele disse se levantando e deixando a mim e Thalia no quarto.

–- Vamos, ela está na sala de estar. Quando vocês estiverem prontos. -- Acrescentou do corredor.

Eu olhei para Thalia, Thalia olhou pra mim.

Talvez o momento certo nunca chegasse. Talvez isso não devesse acontecer. Talvez... Talvez Thalia esteja certa quando diz que eu uso muito "talvez".

–- Não vai ser tão ruim... -- Thalia murmurou, tentando tranquilizar tanto a mim quanto a si mesma, não tendo muito sucesso.

–- Qual a pior coisa que pode acontecer? -- Respondi sorrindo sem vontade.

Tentei não pensar nas possibilidades.

Thalia segurou a minha mão, mas não antes de dizer:

–- Se você contar pra alguém, eu nego tudo.

E me abraçou.

–- É claro que vai. -- Suspirei e a abracei de volta.

Nós nos olhamos uma última vez antes de deixamos o meu quarto, e eu tinha o pressentimento de que esse seria o último momento normal das minhas férias.

–---------------

Esquece o que eu disse sobre o fim do mundo.

O meu pai tendo sentimentos foi só o prólogo.

O fim do mundo de verdade começou quando eu vi a minha mãe.

Sabe aquele momento em que você analisa a situação e pensa:

"... NÃO!"

Bem foi mais ou menos isso que rolou quando chegamos na sala.

Eu não sabia exatamente o que eu esperava, mas definitivamente, não era isso.

Talvez uma mulher de tubinho preto, ou de pulôver e cachecol, com um coque de cabelos loiros mal feito e sapatilhas teria sido minha primeira opção.

A mulher que estava na sala parecia ter aproximadamente 40 anos, mas estava até bem, eu poderia dizer que tinha 27, bem, se o estado dela não fosse aquele.

Ela usava uma roupa composta por um tipo de maiô de cristais embaixo do sobretudo preto, saltos altos de dança (eu sei porque já fui obrigado a praticar com Thalia, e aqueles sapatos quase fizeram um furo no meu pé quando eu tinha 14), o cabelo parecia ter acabado de sair de uma mega produção da Broadway, só que depois de um furacão, olheiras embaixo dos olhos como se tivesse madrugado, os olhos azuis cinzentos pareciam meio dispersos e ela tinha uma garrafa de vodca vazia na mão, além daquele olhar de ressaca, meio morto e desesperado por aspirina.

Então eu simplesmente me dei conta de algo.

Aquela mulher era Hope Madison.

Aquela era a minha mãe.

Aquilo sim era o fim do mundo.

Veja bem, eu não sou metido. Nunca fui. Mas AQUELA NÃO PODIA SER A MINHA MÃE!

Olhei para Thalia e nós chegamos a um acordo mental.

"Vamos ser legais e amanhã esquecemos isso".

–- Vocês... Estão tão crescidos! -- Ela exclamou.

Não, não mãe. Imagine, só se passaram mais de 10 anos, eu só cresci um metro e meio.

Eu tinha um milhão de coisas pra falar. Mas eu simplesmente disse:

–- Mãe.

Thalia me olhou como se eu tivesse surtado.

E pra falar a verdade eu realmente meio que surtei.

Eu também não sei como aconteceu mas eu comecei a repetir a palavra.

–- Mãe. Mãe. MÃE! -- Exclamei.

Thalia colocou a mão no meu ombro, me chamando a realidade.

–- Jay. Você quer um calmante? -- Ela perguntou preocupada.

–- Não. Eu... Tô legal agora. -- Respondi meio confuso.

–- Hum... Eu... -- Meu pai parecia envergonhado de ainda estar na sala e ia avançar em direção a porta, mas Hope (ainda não estou pronto para dizer a palavra com “m” de novo) o impediu.

–- Não, Zack. Fique. -- Ela pediu.

Uma vez na vida, meu pai fez o que lhes mandaram/pediram pra fazer.

É, todo mundo, se preparem que agora fudeu.

–- Bem, primeiro de tudo, Thalia e Jason, eu realmente gostaria de dizer que estou aqui pra ficar. Mas eu estou aqui para me desculpar e para fazer um convite.

Opa. Opa. Opa.

Convite?

Ótimo. Ela vai convidar a gente pro cabaré. Sermos strippers. E é capaz do meu pai deixar.

–- Eu senti muita falta de vocês. E ainda sinto. Mas não havia espaço na minha vida para vocês antes -- Ela tomou um último gole de vodca -- Desculpe, é porque está sendo muito difícil falar tudo isso. -- Minha progenitora respirou fundo -- Eu gostaria de uma chance de ter vocês na minha vida novamente.

Eu queria gritar um "Mas eu não quero você na minha vida!", mas eu não conseguia abrir a boca. Imagino que Thals estivesse do mesmo jeito, mas eu não poderia saber com certeza, já que Thalia era meio imprevisível.

–- Eu gostaria que vocês fossem ao meu casamento, em duas semanas, como madrinha e padrinho.

Para o mundo que eu quero descer!

Como assim, o casamento dela?!

Ela acaba de dizer que quer a gente na vida dela, e aí diz que vai se casar?

Olhei para Thalia, Thalia olhou pra mim.

Pânico, raiva, surpresa, e indignação eram os sentimentos que compartilhávamos.

"Você está fora dessa também, não é?" Ela perguntou.

"Mas é claro. Agora como a gente avisa?" Eu respondi.

"Deixamos bem claro" Thalia instruiu e abrimos a boca para dizer um sonoro "NÃO".

Mas como eu disse, todo mundo se fudeu.

Porque Hope caiu no chão desmaiada, provavelmente por excesso de bebida.

Que ótimo, hein. E tudo isso antes do jantar.

Eu e meu pai deitamos Hope no sofá, e fomos jantar.

Comemos em silencio, Thalia e eu sem saber o que dizer e Zack com vergonha de dizer algo.

Ao final, nos sentamos em poltronas na sala, perto da Hope.

–- Acho melhor vocês subirem para fazerem as malas. Hell é bem quente nessa época do ano.

Eu e Thalia viramos para o meu pai.

–- CUMÉ AÍ, PARCEIRO? -- Exclamamei.

–- Vocês não pensaram que eu ia deixar vocês faltarem a isso, pensaram?

Agora era oficial. Zack tinha cheirado droga, bebido, virado macumbeiro. Ele mal se importava com a gente ontem e agora tá pensando que somos BFF'S.

–- Hell? Onde fica esse inferno? -- Eu perguntei, só depois notando que havia feito uma piada sem querer.

Zack me ignorou, o cretino.

–- A gente não vai pro inferno, céu ou purgatório nenhum! -- Thalia berrou indignada.

–- Mas é claro que vão. -- Zack disse sorridente. Não estou gostando de onde isso vai dar...

–- E faríamos isso porque...? -- Perguntei, levantando uma sobrancelha.

Eu realmente não queria ir. Sabe o meio do nada, Hope casando, coisas assim. Mas eu precisava ficar aqui. Eu quero resolver essa amizade colorida com a Piper. Porque as garotas são tão complicadas?

–- Porque se não fizerem eu deserdo vocês. -- Ele disse simplesmente.

Puta que pariu, mano, eu não posso ir pra rua. Não tem Tv a cabo lá!

–- Você não faria isso... -- A voz de Thalia estava perigosamente calma e eu podia sentir a sala esfriar (não literalmente, porque tínhamos um sistema de aquecedor de primeira, mas enfim) e o clima ficar subitamente pesado.

Zeus sorriu. Seus olhos calculistas e sem expressão tinham um brilho malicioso. Eu conhecia aquele sorriso. Era o sorriso manipulador e ameaçador de Thalia. Como quando ela ameaçava me filmar roncando (não que eu ronque, mas é o que ela diz) e mandar para a Pips, ameaçava tirar as minhas sobrancelhas enquanto eu dormia, quando me pedia 200 pratas pra não mostrar pro meu pai a gravação da verdadeira história do que aconteceu com o lustre da sala da semana passada.

E eu sabia que ela faria aquelas coisas. Assim como sabia que era bem capaz do meu pai colocar eu e Thalia numa caixa, selar com fita isolante, fazer uns furinhos com lápis-brinde de banco e jogar debaixo da ponte.

–-Quanto tempo? -- Thalia grunhiu com o maxilar cerrado.

–- Só duas semanas, vocês não vão morrer se ficarem sem internet, TV a cabo, e sinal de celular.

–- É O QUE CUMPADE? -- Berramos indignados.

–- Isso mesmo. Agora vão. Hope vai acordar em algumas horas e vai na frente. Vocês vão amanhã de manhã. Vamos, são só 15 dias. Não sejam bebês. – Zack disse num tom mudano, mas seus olhos ainda brilhavam com malicia.

Bufamos. E subimos a escada.

Paramos na salinha, e nos entreolhamos.

Estávamos indo passar o resto do verão no meio de uma cidadezinha sei-lá-onde, sem comunicação. A gente deve ter jogado pedra na cruz. Não. Deve ter atropelado a cruz com uma Ferrari do Paraguai.

É, eu realmente não deveria ter saído debaixo do criado mudo hoje.

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Notas finais do capítulo

Bem, mereço reviews? No primeiro capitulo eu recebi 5. E existem 12 pessoas acompanhando. 6 está de bom tamanho?
E me contem, qual ponto de vista vocês preferem? Thalia ou Jason?
Beijos!
/Ciça