O Casamento Da Minha Mãe escrita por Devoradora de Livros


Capítulo 1
Era Uma Vez Um Cretino No Café Da Esquina


Notas iniciais do capítulo

Hey Hey! Bem, eu planejo essa fanfic a algum tempo. Faz mais ou menos 6 meses desde que eu escrevi esse capitulo. Mas finalmente, eu terminei o planejamento. Espero que vocês gostem de ler esse capitulo tanto quanto eu gostei de escreve-lo.
Beijos!
/Ciça



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Quando o loiro sedução apareceu, eu soube que valeu a pena ter acordado cinco da manhã, com meu irmãozinho berrando os pulmões pra fora do próprio corpo, em cima da minha cama hoje.

Estou apressando as coisas. Vamos voltar para o começo do dia.

–--------------

Eram quase cinco da manhã, quando Jason, sem querer querendo pulou na minha cama, como todo bom jovem aristocrata de 17 anos maduro e educado de Nova York.

Eu e Jason somos irmãos. Somos gêmeos, embora eu seja meia hora mais velha que aquela peste (então sim, Jason é meu irmãozinho, no diminutivo, anote, grave e registre, porque de tanto que Jason diz que eu sou a irmãzinha dele já tô começando a acreditar.

Decidi ser madura uma vez na minha vida e ignora-lo. Talvez ele fosse embora e voltasse a ter medo de morrer.

Talvez.

–- THA-LIA! THA-LIA! THA-LIA! -- Ele gritava meu nome como se fosse uma sirene ou talvez um nome de time de basquete nos últimos segundos de jogo.

Uma coisinha sobre Jay.

Ele grita alto pra caralho, grita como se alguém estivesse arrancando seu coração.

Se passou cerca de 30 segundos, até eu pensar que os meus tímpanos explodiriam e decidi acabar com aquela palhaçada.

–- O QUE VOCÊ QUER SEU DESGRAÇADO? -- Berrei me sentando de uma vez, fazendo com que ele caísse sentado na cama de susto.

–- Na verdade, Thalia, irmãzinha querida, eu tenho muita graça. Sabe eu sou um Grace. -- Ele disse sorrindo de forma afetada e doce, e eu quase o soquei.

–- Diga logo, seu motivo do acordar e suas últimas palavras antes de eu mostrar seu vídeo cantando Come & Get It bêbado na festa da Calipso, causando acidentalmente sua morte social. -- Ameacei e Jason engoliu seco, porque sabia que eu realmente seria capaz de fazer isso.

–- Nossa, pessoa bondosa você, hein. Por falar nisso, nada não, só estou vivendo perigosamente. Posso riscar acordar um animal selvagem não domesticado as cinco da manhã da minha lista. -- Ele disse sarcástico.

–- Nossa, como você tá brincalhão hoje, né, Jay. Vou adorar ouvir uma dessas piadinhas durante seu velório. Diga logo o que quer e deixe o meu quarto, criatura dos infernos! -- Eu retruquei irritada.

Um fato sobre mim?

Eu não gosto de acordar cedo, me deixa cansada o dia todo, sem disposição pra nada, com fome, com sono e com frio, além de me fazer querer esmagar o bom humor de qualquer ser humano sorridente na minha frente (o que é muito se você contar o fato de que vou ficar extremamente mal-humorada o dia todo). Embora é claro eu possa fazer exceções as vezes, por motivos específicos é claro, mas isso são outras histórias.

–- Okay -- Ele disse, quando peguei o abajur na mesa de cabeceira. -- Thals, você lembra quando eu falei da Piper, né? -- Jay perguntou, passando a mão de forma nervosa pelos fios dourados do seu cabelo.

Senta que lá vem a história, jovem.

A palavra Piper, junto com a passada de mão nervosa no cabelo significava que:

1) Meu irmão finalmente tinha resolvido seja lá que tipo de relacionamento louco ele tinha com Piper McLean.

2) Meu irmão tinha arranjado alguém novo.

3) Cristo, até meu irmão arranjou alguma, cega, surda, ou sei lá qual o problema mental da garota que se apaixona pelo meu irmão.

Okay, ignore o item 3.

Mas caso queira saber, era fácil se notar tal coisa porque infelizmente acho que temos um TOC, quando nervosos, passamos a mão nervosamente nos cabelos, e parece um tique nervoso, fazendo com que seja algo muito embaraçoso quando estamos nervosos juntos. Pode parecer descolado para algumas pessoas, mas pra mim, Jason parecia um moleque com caspa (meio impossível, já que Jay foi obrigado, desde pequeno, a usar cosméticos capilares para evitar esse tipo de coisa).

Sobre Piper McLean?

Sim, sim. Jason tagarelava sobre Piper até perder a voz e eu a paciência, e quase parecia uma daquelas meninas apaixonadas dos filmes dos anos 60. Meio baitola da parte dele, mas eu fingia estar interessada no quanto o cabelo de Piper brilhava e aparentava maciez quando ela estava na pista de dança e ele me deixava na posse do controle da Tv. Todo mundo sai ganhando.

Piper era uma garota que fazia química avançada com Jason, mas eu e ela conversamos uma ou duas vezes em festas, já que nunca tivemos aula juntas. Nossas conversas eram mais ou menos isso:

“-- Festa legal.

–- Obrigada. E aí, o Jason veio?

–- Veio. Deve estar por aí. Onde está a vodca?”

Ela tinha cabelos castanhos chocolate, mais ou menos nos seios, lisos e repicados, belos olhos que mudavam de cor de acordo com a luz, e gostava de usar roupas confortáveis, e principalmente aquelas camisetas com frases e desenhos estranhos super legais, daquelas que você olha na rua e quer comprar uma igual, mas não tem coragem de perguntar onde a pessoa comprou. Uma garota bem bonita na minha opinião.

Ela é meia-irmã de Leo Valdez, o melhor amigo de Jay, e ele tem uma queda, abismo, penhasco por ela. Jay liga para a casa dos Valdez, quando sabe que ela está em casa, se derrete quando ela atende, comemora para ir à escola as terças (quando tem aula de química avançada), fuça nas redes sociais dela, e em resumo, ele é maluco por ela. Eu e Leo somos os únicos que sabemos oficialmente, mas está escrito em néon na testa dele, apenas Piper não percebeu.

De qualquer modo, deu para ter uma ideia do que está acontecedo?

–- Lembro, Jay. -- Falei, já prevendo que teria de bancar a terapeuta.

–- Então... Ontem-nos-fomos-à-sorveteria-e-eu-beijei-ela. -- Ele disse num fôlego só e eu pulei da minha cama.

–- Você o que? -- Eu perguntei sorrindo, para confirmar.

Não que meu irmão fosse feio (me tendo como gêmea, o garoto estava destinado a ser gostosura pura, né, meu bem). Pelo contrário, meu irmão era até gatinho, mas é um assunto que eu não consigo avaliar direito porque, bem, porque, é meu irmão. Só era difícil acreditar que Jason Grace tinha beijado a garota que ele é afim desde, sei lá, sempre. Sempre apostei que seria ela a beijar ele primeiro.

Jason, no momento, estava com uma camiseta branca e suas boxers, meias, o cabelo todo bagunçado (tanto do efeito travesseiro quanto das passadas de mão), e tinha um sorriso que rivalizava o do gato de Alice No País Das Maravilhas, que mostrava a pequena cicatriz que ele tinha no lábio superior, resultado de uma brincadeira de criança mal sucedida.

–- Ontem nos fomos a sorveteria e eu beijei ela. E ela beijou de volta. -- Ele repetiu sorrindo abobado.

–- Jason, seu pegador! -- Eu ri, dando um soquinho de leve no ombro dele, que lutou para não sorrir durante seu momento pimentão.

–- Então, eu queria seu conselho. O que eu faço? Eu chego nela amanhã tipo "Hey Hey!" -- Ele pronunciou os dois Hey's com entonação animada-- Ou ajo naturalmente num "E aí?" -- O e aí foi pronunciado num tom mais grosso, que a maioria pensaria ser sexy, mas pra mim, Jason parecia uma que tinha levado um chute lá em baixo.

–- Não force a barra, aja naturalmente, não como se alguém estivesse apertando seu saco, Jay. -- Revirei os olhos -- Então, se ela estiver solta, e a vontade, pergunte casualmente algo como "E então, poderíamos sair de novo um dia desses". Se ela ficar tensa, você sai fora. Se ela ficar sem graça ou vermelha, parabéns Jason, solteiro e virgem você não morre.

–- Disse a solteirona dos gatos. -- Ele rebateu.

–- Você vai ver, meu bem, um dia eu ainda arranjo um Boy Magia pra mim. -- Eu disse.

–- Claro que vai. -- Jason diz sarcástico.

–- Ah, vá avacalhar sua mãe, Jason. -- Eu respondi enfiando a cabeça no travesseiro e caindo pra trás, na cama.

–- Não dá, não sei quem ela é. -- Jason estirou a língua e puxou meu travesseiro.

–- Tá, moleque. Agora que já estou acordada, sabe o que vamos fazer? -- Perguntei e sorrimos em cumplicidade.

–- Café-da-manhã-tudo-que-você-encontrar-na-cozinha! -- Berramos juntos e nos levantamos correndo da cama.

Em geral, somos bem chegados, como se nota.

Bem, eu tenho um melhor amigo, o Nico, mais ele está passando férias com a família em algum lugar na Sibéria. E uma melhor amiga, Annabeth, que mora numa cobertura não muito longe daqui. Amo os dois, mas nenhum deles jamais faria o café-da-manhã-tudo-que-você-encontrar-na-cozinha.

Outro fato a se relevar, é que desde pequenos somos eu e Jason, só nos dois. Papai nunca teve tempo para nós e não para em casa. Terminamos tendo apenas um ao outro. Então desenvolvemos esse tipo de nível de amizade bem profundo, embora que se você me perguntasse eu negaria.

Sobre o café-da-manhã-tudo-que-você-encontrar-na-cozinha:

É uma tradição que eu e Jay fazemos desde os cinco anos. Quando tínhamos pesadelos e/ou não conseguíamos dormir, acordávamos um ao outro e fazíamos loucas misturas para o café da manhã.

Peguei o meu copo de água, a garrafa de coca, o suco de laranja e o leite jogando dentro de um copo só. Enquanto isso, Jay assaltava a dispensa, saindo com yorgut, ovos e manteiga, batendo no liquidificador. Nojento, mas é bom.

Estávamos melando a cozinha toda, e os empregados provavelmente ficariam putos da vida quando chegassem, mas fazer o que?

Sentamos na bancada brindando com nossas misturas nojentas/originais, pegamos pizza que sobrou de ontem (a minha de calabresa e a de Jay marguerita, argh) e passamos nutella com uma espátula.

Quando terminamos, colocamos os pratos e louças na pia, por educação (mas se fossemos lavar, provavelmente quebraríamos em mil pedaços), e nós jogamos no enorme sofá da sala. Estava passando F.R.I.E.N.D.S, e ficamos lá mais ou menos até as 10, quando ouvimos o barulho que a fechadura faz quando meu pai coloca a chave.

Nos entreolhamos, meio desesperados, desliguei a TV, e foi um "salve-se quem puder" e acabamos por entrar no armário de casacos do meu pai.

Ouvi passos perto da porta, e forcei Jason a se encolher atrás da seção de casacos de inverno russos.

Meu pai abriu a porta no segundo seguinte, deixando seu casaco de noitada no cabide e fechou a porta, provavelmente rumando para nossos quartos. Jason e eu pulamos a janela do quartinho, sabendo que papai, no estado que estava, de ressaca e exausto, não seria mais rápido que as duas pestes-ninjas que ele chama de filhos.

Corremos pelo quintal, assustamos o jardineiro (que sabia que iria achar 20 pratas “perdidas” no armário dele para não dizer uma palavra sobre isso), e escalamos a videira dos fundos da casa, chegando em nossas respectivas sacadas.

Eu me joguei na cama rapidamente de qualquer jeito, batendo no copo d'água que eu sempre deixo do lado da cama e molhando todo meu edredom.

Que gracinha.

Se você nunca molhou seu edredom, não recomendo. Porque edredom é uma daquelas coisas na vida que se você molhar, não seca nunca mais.

Então lá estava eu, me virando toda, tentando fugir das partes molhadas meio em vão, porque a porra toda já estava molhada.

Que bela cagada, Thalia.

De repente meu pai bateu na porta.

–- Thalia, meu bem, acorde. -- Ele disse no seu usual tom sem emoção.

–- Tá, pai. -- Respondi imitando minha própria voz de sono.

Troquei o meu pijama mega molhado por um limpo, afinal eu não iria sair de casa iria? Fiquei descalça, porque, Hey Bitches! Eu posso. Deixei o meu cabelo num rabo de cavalo.

Uma breve história sobre meu cabelo:

Quando eu era menor, meu pai adorava o meu cabelo enorme.

Mas lá pelos 13, 14 anos, eu tive uma crise de rebeldia e o cortei bem curto justamente porque meu pai adorava ele longo. Jay ficou sem falar comigo uma semana, mas depois ele superou. Desde então eu resolvi fazer um meio termo, e deixei o meu cabelo numa altura normal, um pouco acima do meio das costas. Todo mundo feliz.

Enfim, eu desci as escadas encontrando Jason e trocamos nosso olhar de conversa.

"O que aconteceu?" Ele perguntou.

"Tenho cara de vidente?" Respondi com meu olhar sarcástico.

"Grossa" Retrucou.

Andamos em direção ao sofá da sala, meio hesitantes.

–- Hum... Pai? -- Jason perguntou.

Papai encarava a janela, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. E não era, creia em mim, porque a vista daquela janela era a vista do jardim, que ele já tinha visto desde que a casa foi construída e tinha sempre as mesmas plantas, com os mesmos cortes.

Devo explicar isso também?

Meu pai se virou com uma expressão hesitante e naquele instante eu soube e olhei para Jay.

Estávamos prestes a nos ferrar muito, mas muito mesmo.

De repente, todas as coisas ruins que eu já fiz na vida começaram a aparecer na minha mente.

E eram um monte.

Zack tem essa mania de deixar um suspense no ar, então eu e Jason estávamos naquela conversa de olhares de novo.

"Pergunte" Ele disse.

"Não, pergunte você". Respondi.

"Eu sempre pergunto" Jay me olhou como uma criança mimada.

"Exatamente. Esse posto é seu" Eu retruquei.

–- Crianças, por favor, parem com essa ligação sinistra, estão me assustando. -- Ele disse calmo.

Eu queria acrescentar que ele não parecia exatamente assustado, mas decidi que não era a ocasião certa para sarcasmo.

–- Vocês já se perguntaram, onde está a mãe de vocês? -- Ele questionou sério.

Esse cara tá de zoeira pra cima de mim.

Eu me pergunto isso desde que saí da maternidade 17 anos atrás. Nem fotos nós temos. Já tive serias discussões com papai sobre isso, mas não deu em nada. Eu não sabia se estava morta, viva, em coma ou sei lá. Sabia sobre ela que:

–>Ela era da cidade natal de papai.

–> Ela era loira, como Jason.

Então, sim pai, eu já me perguntei.

Eu e Jason demos nosso olhar "Você tá de sacanagem com a gente?".

Muita gente diz que somos sinistros porque ficamos iguais com essa expressão.

–- Finalmente acho que é hora de vocês a conhecerem. Apenas espero que não fiquem decepcionados. -- Ele pausou. -- Ela vai chegar aqui amanhã. Suponho que vocês precisem de um tempo para pensar.

E foi isso, ele se retirou da sala.

Isso, meus caros, foi uma das maiores conversas que tivemos esse ano. E eu nem disse nada.

–- Vai querer algo do Chez Moi, Jay? -- Perguntei, pegando meu casaco.

–- An... Thals, você tá de pijama. -- Ele disse apontando pra mim.

Eu tinha trocado meu pijama antigo por uma calça de moletom cinza meio larga e uma regata colada verde escura.

–- Estou indo ao café da esquina, não a igreja, Jason. Mas vai querer algo? -- Eu perguntei pela segunda vez, ajeitando o casaco e o rabo de cavalo no espelho perto da porta.

–- Um pão du chocolat, e um expresso grande. -- Ele respondeu jogando 20 dólares pra mim. -- Você tem certeza que vai descalça?

Coloquei meus all stars e enfiei meu celular no bolso do casaco.

–- Está bom assim, major Jasonilso Gracielle? -- Perguntei.

–- Está liberada, soldado Thalia Para-raia Das Graças, embora pareça uma corredora de maratona. -- Ele disse sorrindo e eu fechei a porta.

Seria normal, que fosse ao Starbucks, como qualquer adolescente de NY. Mas eu preferia ir ao Chez Moi. Por algum motivo, o café francês tinha cheiro de casa, e os vendedores eram bem mais simpáticos que os do Starbucks.

A minha casa ocupava o quarteirão, que por si só já era enorme. Então eu andava quase 700 metros até a esquina, atravessava a rua e bum, estava lá.

Várias pessoas conversavam animadamente nas mesas de fora, embaixo da tenda. Abri a porta e dentro havia ainda mais gente. Andei até o balcão, me apoiando na vitrine de macarons.

–- Nunca pensei que fosse ver você correndo de manhã. Não sabia que você se mexia pela manhã. -- Brincou Leo Valdez.

Sim, sim. Leo Valdez trabalha as sextas aqui, antes que você me pergunte o porquê diabos ele estava ali.

Leo era um cara de mais ou menos 1,70 de altura, o que é meio baixo para o padrão masculino, mas de certa forma combinava com ele. Ele tinha cara de latino, e um sotaque meio mexicano, de família, por parte de mãe se não me engano. Ele tinha orelhas pontudas como um elfo, e sorriso de quem colocou balde de água em cima da porta e está esperando você abrir. Leo tinha olhos castanhos e calorosos e cabelos encaracolados de um tom madeira.

–- Engraçado, Valdez. Outro brincalhão pela manhã. -- Revirei os olhos.

–-- Diga o que quer hoje, morena. -- Ele riu.

Alguém parou atrás de mim, não me virei para olhar, porque, afinal eu estava numa fila.

–- Eu vou querer um chocolate quente, daqueles cremosos que você sabe que eu gosto, uns 3 macarons de chocolate, desses pequenos, e hum... Tem pão de queijo essa hora? -- Perguntei enquanto Leo anotava.

–- Tem. Qual tamanho? -- Ele perguntou maroto, já sabendo a resposta.

–- Tamanho Thalia Grace. -- Eu ri. -- E ah sim, Jay quer um expresso grande e um pão du chocolat. -- Finalizei.

–- E você, Lucianzito? -- Ele perguntou para o cara atrás de mim.

Eu abri espaço para ele no balcão, e meu coração quase saiu pela boca.

O cara devia ter uns 1,90 (o que me fez sentir minúscula nos meus 1,67), era loiro (não um loiro dourado como Jay, um loiro cor de areia), os ombros largos e corpo não muito bombado, embora em forma, eram divinos, e ele tinha belos olhos azuis cristalino (diferente do meu, que mais parecia uma tempestade de raios, e diferente de Jason, que parecia um dia ensolarado), além de um sorriso de quem aprontou que o deixava super sexy.

–- Valdez, pelo amor de Deus, não me chame de Lucian. Serei forçado a matar você. -- Ele disse meio sério, mas o sorriso de canto indicava que ele não iria realmente fazer aquilo. Aquele sorriso. Senhor, me acuda.

No momento, eu já estava subconscientemente criando nome para os nossos filhos e planejando o nosso casamento.

–- Okay, Luke. -- ele concordou rindo-- Vamos logo antes que Thalia me mate porque o chocolate dela vai estar aguado. -- Leo reclamou.

E Luke pareceu notar a minha presença (Haleluiah).

Ele olhou pra mim, e me arrependi de não ter escutado Jason e colocado uma roupa decente.

Hey Hey, Boy Magia.

E aqui vou eu.

–- Vou querer um café com creme extra e uma caixa de biscoitos madelleine. E sua amiga se possível.

Bye Bye, Boy Magia.

Puta que pariu mano, será que eu só atraio canalha? Esquece o que eu disse no começo dessa merda. Não valeu a pena. E eu não quero filhos, e se casar quero divórcio imediato, obrigada, de nada.

Limpo a garganta.

–- Não, não é possível. Leo traga logo a porcaria do meu pedido antes que mate esse cara.

Leo praticamente voou para a cozinha.

Ele me entregou meu pedido alguns minutos depois.

–- Vai com calma, furacão. -- Ele alertou quando arranquei a bandeja de isopor embalada em plástico impermeável da mão dele e lhes joguei os vinte dólares.

–- A gente se vê, Leo. -- Eu murmurei e saí a passos rápidos do café, irritada, nem esperando pelo troco.

E foi na metade do caminho que começou a chover.

Esse dia tá cada vez melhor, e ainda são 10:39 da manhã. Imagina no final desta merda.

Entrei em casa, completamente ensopada pela segunda vez hoje.

Bati a porta com a maior força que consegui.

Jason, que antes estava concentrado na tela do celular olhou pra mim como se eu fosse um fantasma.

–- Que que ouve com você? -- Ele perguntou.

Eu respirei fundo, colocando a comida sobre o aparador.

–- Encontrei um Boy Magia muito filho da mãe lá na Casa, e de quebra levei uma enxurrada do capeta no caminho de volta. -- Respondi espremendo a água do meu cabelo na pia do lavabo da sala.

Jason franziu as sobrancelhas.

–- O cara tentou alguma coisa, Lia? Você sabe, pode me contar. -- Ele disse.

Eu realmente tenho o melhor irmão do mundo. Mas ele não pode saber disso, vou negar até a morte se alguém me perguntar.

–- Relaxa, Jay Jay. Ele não fez nada, e mesmo que tentasse, eu daria um jeito nele. No pior caso, eu apelaria pelo Valdez.

Ele suspirou aliviado.

Ouço os primeiros acordes de Demons do Imagine Dragons e logo após, a voz de Jason.

–- Hey... Não tudo ótimo... Agora?... Okay então... Certo, vou falar com ela... Até mais. -- Ele desligou e virou pra mim com aquele sorriso tonto.

Naquele momento eu tinha duas certezas.

–> Aquilo tinha haver com a Piper.

–> Eu ia me ferrar muito.

–- Pare de me olhar desse jeito criatura! -- Eu reclamei já perto da escada, pensando no cochilo que eu nunca chegaria a tirar.

–- Thals, eu já disse que você é a melhor irmã do mundo, fica ótima de moletom e seu cabelo tá lindo hoje? -- Ele disse sorrindo.

Levantei uma sobrancelha.

–- O que você quer? -- Fui direta.

–- Okay, Piper me convidou para ir ao cinema de tarde, mas ela precisa ir com primo mais velho dela junto, então você e ele podem fazer qualquer coisa por 2 horas e confirmar que estavam junto da gente? -- Ele se ajoelhou -- POOOORRRR FAAAVOOOORRR! -- Jason berrou.

Suspirei.

Eu não gostava da ideia de ficar sozinha com alguém que eu nunca vi na vida. Mas eu não tinha muita escolha, porque Jason, como eu já comentei berra muito alto.

–- TAAAA! -- Eu gritei por cima de seus berros. Jay se levantou sorrindo e me abraçou, me tirando do chão.

–- Eu te amo, Thalia! -- Ele murmurou.

–- Okay, entendi que sou irresistível e muito coração mole, agora me põe no chão, e me informe. -- ele prontamente me soltou, e eu admito, adorei ter esse poder sobre ele. -- Se é pra mentir descaradamente pros pais da Piper, então vamos fazer direito pelo menos. Qual filme vocês vão ver e que horas é a seção?

–- Vamos ver um filme água com açúcar, não lembro o nome, que começa às 17 e termina 19 horas. Sentaremos na frente e eu te dou um resumo do filme depois. -- Jay respondeu sorrindo e eu suspirei. Peguei minha parte da comida e subi as escadas para relaxar.

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Eu já estava achando que o dia estava melhorando, quando chegamos no shopping.

Jay me forçou a entrar numa calça skinny e colocar um salto (eu não sou expert em shoppings, mas acho que não precisava parecer ter saído de um filme adolescente), porque, segundo ele, precisávamos impressionar a família da Piper.

Eu não costumo frequentar muitos shoppings, mas fiquei impressionada com a quantidade de lojas ali. Sou mais fã de compras online.

Subimos no elevador (que estava absurdamente lotado, pelo amor de Deus, eu sou filha de Zack Grace! Abram espaço!). E paramos na entrada do cinema.

–- Jason? -- Perguntou uma voz atrás de nos.

Piper usava um vestido soltinho, com uma trança nos cabelos, e várias pulseiras coloridas nos pulsos, combinando com o salto multicolorido. Ela estava parada ao lado de uma mesa no Empório Brownie, que é a melhor loja de brownie do mundo, em minha opinião. Cutuquei Jason, e fiquei tentada a perguntar se ele queria um balde, porque iria começar a babar se não fechasse a boca.

Eles se abraçaram e Piper sorriu pra mim.

–- Sério, muito obrigada, Thalia! Luke está na loja aqui do lado, mas não duvido que ele apreça daqui a pouco, porque você está linda! -- Ela garantiu.

Dei um meio sorriso. Luke. Oh nomezinho ordinário.

–- Se cuida, Thals. -- Jason murmurou virado e entrando no cinema de mãos dadas com Piper.

Eu fui ao balcão.

–- Hum... Moça? -- Chamei a garota que estava virada de costas.

–- Sim? -- Ela respondeu.

Ela parecia ter a minha idade, tinha pele escura e olhos dourados. Seus cabelos castanhos, presos em um coque. Ela era um pouco mais nova e uns centímetros maus baixa que eu e tinha uma pele mais escura, provavelmente afro-americana.

–- Er... Eu vou querer um brownie com sorvete, sabor nutella. E um café expresso, por favor. -- Eu disse.

Ela sorriu, passando o bilhete com meu pedido para um rapaz mais velho que ela. Ele parecia asiático e era enorme, talvez uns 2 metros, e cabelo estilo militar.

–- Nunca vi você aqui. Sou Hazel. -- Ela falou casualmente.

–- Eu não venho muito ao shopping. -- Respondo com sinceridade -- Mas como sabe? A propósito, sou Thalia.

–- Eu trabalho com brownie. Todo mundo gosta ou tem algum amigo que gosta de brownie. -- Ela deu ombros.

O outro garoto chegou com meu pedido.

–- Obrigada, Frank. -- Hazel agradeceu.

–- De nada, Haz. -- Ele respondeu corado.

Que bonitinho. Até ela está com alguém. E eu aqui.

Eu peguei o pacote e me virei para voltar para a mesa, onde comi em paz até um lindo primo de Piper chegar e conversamos até Jay e ela saírem do cinema.

O caralho.

Eu peguei o pacote e me choquei contra uma parede, que notei ser um rapaz mais alto que eu (falar a verdade, quase todo mundo é mais alto que eu), e eu havia colidido com o peito dele. Ele murmurou uma desculpa e pediu passagem. Eu saí do caminho, e fui até a mesa onde Piper estava antes, pensando sobre o fato do rapaz parecer familiar.

Ele pegou o pacote e se virou.

Ah, meu deus. Ah meu Deus. AH MEU DEUS.

O cara era o mesmo garoto de hoje de manhã. Por favor, não me reconheça, por favor, por favor!

Enfiei o cardápio que estava ali do lado no meio da minha bela face e torci para que ele simplesmente passasse direto por mim.

Mesmo que ouvissem a minha prece, não interessava o fato dele me conhecer ou não. Porque ele sentou na minha frente.

–- Sabe que eu consigo ver você, não sabe?

Merda. Meu cardápio da invisibilidade está quebrado.

Comemos em silencio, e dei uma discreta olhada para o relógio no meu pulso. Eu tinha mais uma hora e quarenta e cinco minutos.

Nos encaramos pelo que pareceu ser a eternidade, mas foram só 15 minutos, eu bufei.

–- Okay, Luke, né? -- Ele assentiu -- Certo. Você é o primo da Piper. Que está saindo com meu irmão. E estamos fazendo um favor por eles. Então vamos tornar a situação o menos insuportável e constrangedora possível. -- Expliquei.

–- Thalia, né? -- Ele perguntou e balancei a cabeça num sim mal-humorado, já que ele estava claramente me imitando -- Bem que poderíamos fazer outra coisa fora conversar... -- Ele sorriu malicioso.

Fiquei tentada a fazer minha mão dar um high-five na cara daquele infeliz.

–- Não me cante. -- Eu murmurei -- Mas vamos nessa, temos mais longas uma hora e meia. Que time você torce?

–- Cannons de Boston. -- Ele respondeu.

Cretino.

–- Sabe, os Cannons são o pior time do campeonato. -- Eu disse casualmente para irrita-lo.

–- E você, senhorita Eu-Sei-De-Tudo, qual o seu time? -- Ele perguntou levantando a sobrancelha.

–- Harpias de Los Angeles. -- Respondi orgulhosa.

–- Os Cannons vencem as Harpias num segundo! -- Ele rebateu.

–- Não foi isso que aconteceu no ano passado. -- Ri.

–- Mas foi no ano retrasado. Cannons detonaram os Harpias tirando a liderança e o título de time invicto da temporada. -- Ele respondeu sorrindo.

Eu queria desesperadamente quebrar cada dente dele para que ele nunca mais pudesse sorrir.

Passamos cerca de 1 hora, gritando um com o outro sobre vários outros assuntos. De esportes até sabor de brownie. Foi aí que Hazel nos interrompeu.

–- Okay, vocês estão aqui a quase uma hora e meia. E estão assustando meus clientes. E sem eles, eu não ganho o meu bônus. E eu preciso de um celular novo. E Frank precisa pagar o carro. Então por favor, se matem lá fora, longe daqui de preferência. -- Ela disse irritada.

Mesmo irritada, Hazel conseguia ser educada, o que na minha opinião deixava a situação mais bizarra do que antes (que já estava muito bizarra).

Saímos de lá e nos sentamos em silencio no banco em frente ao cinema. 5, 10 minutos passaram.

Eu e Luke estávamos cada qual em uma extremidade bufando eventualmente.

Uma mulher parou na nossa frente. Ela tinha cabelos verdes vibrantes e parecia vestir um vestido estilo toga.

–- Vocês são lindos. LINDOS! -- Ela gritou animada.

Essa mulher cheirou alguma coisa.

Recuei para longe dela, e Luke fez a mesma coisa, fazendo com que fossemos exprimidos contra a minha lateral do banco, já que ela se sentou na de Luke.

Ela enfiou a mão na bolsa e eu juro que a frase seguinte foi a única coisa que me passou pela cabeça no momento:

"Ela vai tirar uma arma e atirar na gente, puta que pariu, que jeito ridículo de morrer.”

Mas ao invés disso ela tirou dois potes de pedra.

"Okay, ela vai matar a gente com pedradas. Oh, sina.”

E entregou pra gente.

Demos sorrisos amarelos e pegamos os potes.

–- Vocês são TÃÃÃOOOOO fofos juntos! -- Ela berrou.

–- Eu e esse cretino? -- Eu apontei para Luke rindo.

–- Eu e essa maluca? -- Ele apontou pra mim.

Nos encaramos, indignados um com o outro.

Eu não me lembro de ver a mulher ir embora. Mas lembro que eu e Luke recomeçamos a berrar ofensas, e chegou um momento em que eu já estava para enforca-lo, quando uma mão agarrou meu ombro.

–- Thalia, você tá legal? -- Jason me perguntou, seu outro braço envolvendo os ombros de Piper, que fuzilava Luke com olhos como se pudesse colocá-lo de joelhos e puxar uma bazuca a qualquer momento.

–- Estamos ótimos. -- Respondo de forma seca.

–- Serio? Vocês pareciam perigosamente perto de se matar. -- Piper disse devagar, naquele tom que só as mulheres sabem fazer, e é facilmente projetado na mente masculina como “PEDE DESCULPA AGORA, SEU MERDA!”.

Ela e Jay se despediram e quando Luke e Piper já estavam fora de vista, Jason se virou pra mim.

–- O. Que. Diabos. Foi. Aquilo?

Reagi ofendida.

–- Ele começou! -- Eu justifiquei fazendo bico.

–- Okay, abra a matraca, garota. -- Ele falou quando entramos no carro.

Eu contei para ele desde o começo, no Casa Dê Moá, até a mulher das pedras.

Jason, ao contrário do que eu pensei (“Não, Thalia, você está certa, que cara escroto”), começou a rir da minha cara.

Emburrada, eu o ignorei o resto do dia e me tranquei no meu quarto, onde ouvi uma ou duas músicas para liberar o pensamento.

Com quem esse tipo de coisa acontece?

Fora eu, só em novelas mexicanas.

Eu deveria escrever uma.

Embora eu não seja mexicana.


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Notas finais do capítulo

E aí vocês gostaram? Devo continuar ou apago a historia de uma vez?