Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Ui, Ui, Ui me desculpe pela demora...

Um bem Vindo a Filha de Hades, amei seus comentários^^
Um abraço a todos que comentaram, e favoritaram essa Fic... Vocês são lindos
Um beijo a todos que acompanham ^^
Amo vocês!!!
Boa Leitura!!!



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Seguro sua mão e a conduzo gentilmente até meu lugar preferido aqui no Destemor. Um dos poucos locais onde sinto paz, porque é longe de todo o burburinho típico deste Complexo, em que todos são livres para fazerem o que bem entendem.

Logo que me tornei um membro definitivo da minha atual facção, costumava andar por todas estas instalações, tentando – inutilmente – encontrar elementos que trouxessem sentido à minha escolha, de forma a me trazer a convicção – que nunca veio - de que a minha decisão de abandonar a Abnegação tinha sido mesmo correta.

Em uma destas incursões pelo Destemor encontrei, na parte inferior do Abismo, um terreno de rochas escarpadas que não era muito explorado pelas pessoas aqui, no qual eu não corria o risco de ser incomodado ou interrompido em meus pensamentos. Hoje, quero compartilhá-lo pela primeira vez e já que ela é a primeira em tudo que é realmente importante para mim, Tris irá conhecê-lo.

Sinto sua pequenina mão oscilar a intensidade do aperto junto à minha e sei exatamente como é estranho para ela esta sensação do toque, porque é o tipo de coisa que os membros da Abnegação evitam. Neste momento, fico feliz por ser do Destemor já que sua pele junto a minha me transmite ondas de calor que sobem pelo meu braço e, de uma forma inexplicável, atinge e aquece meu coração.

Não reprimo o movimento e passo meu dedo distraidamente sobre sua palma. Ela não repele meu toque, como fez com Albert. Ao contrário, sinto-a estremecer e não tenho mais nenhuma dúvida que Tris e eu estamos sincronizados neste sentimento e me alegro que, a julgar pela sua postura moderada, ela é diferente das outras garotas também neste sentido. Tudo isto é tão novo para Tris quanto é para mim.

Andamos em direção à caverna e o calor de sua mão continua e me transmitir sensações com as quais vou gradativamente me acostumando, mesmo que eu ache que nunca deixarei de me agradar delas. Ela está muito quieta, assim como eu, e eu me pergunto no que ela está pensando, mais importante que isso me pergunto se ela sente e quer o mesmo que eu porque tudo o que eu desejo agora é parar aqui mesmo e beijá-la. Porém, eu me refreio. Tenho medo de que ela se assuste com isso - eu mesmo já estou assustado com a intensidade destes sentimentos apaixonados... Paixão? Será esta a palavra que dá nome ao meu coração acelerado?

É fato que eu não posso mais segurar minhas vontades e quase não suporto deixar de mostrar a todos o quanto esta garota mexe comigo e isto é perigoso. Ninguém pode saber sobre... Bem... Nós.

Para os outros iniciados isto significaria que todo o sucesso de Tris aqui no Destemor foi devido ao meu auxílio, o que não é verdade. Mesmo quando tudo em mim gritava para livrá-la de golpes e sofrimentos, eu me contive, porque ela precisava se tornar mais forte. Além disso, ela nunca aceitaria ser beneficiada por algo que não merecesse.

Para Eric e os outros líderes isso seria o meu ponto fraco. A forma de me atingir com a maior força. A certeza de que eu faria de tudo para mantê-la segura poderia ser o controle sobre mim que eu mesmo lhes daria.

Sou retirado dos meus pensamentos quando ela fala: “Então... Quatro medos.”

“Quatro medos antes; Quatro medos agora” digo concordando “Eles não mudaram, então eu continuo indo lá, mas... eu ainda não fiz nenhum progresso.”

Olho para ela e entendo que isso não é mais totalmente verdade. Eu encarei Marcus pela primeira vez ao vê-la em perigo. Talvez Tris fosse à pessoa que me ajudaria a superar senão todos, pelo menos o único medo que me consome desde que minha mãe foi embora me deixando sozinho à mercê daquele monstro.

“Você não pode ser sem medos, lembra? Porque você ainda se importa com as coisas. Com sua vida.”

“Eu sei.” Digo – E sei mesmo que ela está certa. Não quero ser destemido, não ter nada que me coloque medo. Medos são os nossos limites e todos possuem os seus.

Caminhamos ao longo da borda da caverna, em um caminho estreito para nos levar até as rochas quase invisíveis do fundo do abismo. Um olhar desatento nunca as veria, mas bastaria pouco tempo para que Tris as encontrasse mesmo sem minha ajuda. Ao que parece nada passa, por muito tempo, despercebido a ela.

“Você ia me contar sobre os resultados do teste de aptidão,” ela diz subitamente.

“Ah” – digo, coço a nuca e sinto um certo nervosismo. Quero que ela me entenda e me conheça, mas eu esperava não ter que tocar neste assunto tão cedo. A verdade é esta revelação implica em dizê-la que escolhi o Destemor por medo e isto é irônico. Eu fugi de Marcus e, por isso nunca me senti realmente em casa aqui. Pelo menos não até que um borrão cinza em queda livre nas redes do Complexo surgiu em meu campo de visão e mudou todas as minhas perspectivas e planos.

“Será que isso realmente importa?” pergunto tentando mudar de assunto, mas sem nenhuma esperança. Ela não tem mente fraca e não se desviaria de suas intenções só para me satisfazer.

“Sim. Eu quero saber.” Responde firmemente.

“Como você é exigente” observo, sem conseguir disfarçar o sorriso, e porque o faria, ela me faz bem, me sinto cada vez mais leve de estar aqui com ela.

Ficamos num declive do abismo e a direciono a um lugar plano, apropriado para a conversa que anseio em ter com ela. Sento-me confortavelmente com os pés balançando sobre a borda. Este é o lugar em que eu posso respirar e ser somente... Eu. Ser um membro do Destemor implica saber que idade quase nunca conta alguma coisa. Em qualquer outra facção eu seria considerado muito jovem. Aqui, entretanto, eu tenho a real consciência de que cada linha que contorna o meu rosto, conta parcela da história de quem eu sou, onde eu estive, como eu cheguei e porque parei aqui. E esta é a história que eu quero que ela saiba.

Relutantemente, libero sua mão.

“Estas são coisas que eu não digo para as pessoas, você sabe. Nem mesmo meus amigos.” digo. “Meu resultado era como esperado... Abnegação.”

“Oh.” ela faz uma pequena pausa analítica. “Mas você escolheu Destemor de qualquer maneira.”

“Por necessidade” digo. Tenho vergonha da minha fraqueza, mas ela precisa saber.

“Por que você teve que sair?”

Desvio meu olhos para longe e tento encontrar a força que ela me deu na paisagem para admitir que sou um covarde. Ela se senta do meu lado, um pouco mais próxima, mas ainda mais distante do que eu gostaria. Isso me inunda de coragem para lhe confessar. Antes disso, contudo, ela mesma conclui: “Você teve que fugir do seu pai. É por isso que você não quer ser um líder do Destemor? Por que se você fosse você teria que vê-lo de novo?”

Perceptiva e esperta. Quantas mais qualidades terei que acrescer ao quadro mental que fiz dela?

“Isso, e eu sempre senti que não pertenço completamente ao Destemor.” Talvez até pertencesse, mas sob tal liderança me sinto um estranho. “Não da maneira que eles são agora, em todo o caso.”

“Mas você é... incrível” ela pausa por um momento “Quero dizer pelos padrões do Destemor. Quatro medos é inédito. Como você pode não pertencer aqui?”

O seu olhar continua o mesmo sobre mim. Ela não me vê como um pobre e sozinho garoto que só merece sua pena e suas lágrimas de compaixão. Ela me enxerga como um homem valente que fez o que precisou ser feito e eu me sinto indigno disso. Nunca me vi como alguém que valesse a pena admirar e é desta forma que ela me olha. Suas palavras me fazem um bem que não havia sentido antes. Como se tudo o que passei fosse compensado por Tris falando coisas que seus azuis e sinceros olhos me confirmam.

Prendo-me às suas últimas palavras e digo: “Eu tenho uma teoria que altruísmo e coragem não são tão diferentes assim. Toda a sua vida você é treinado para se esquecer de si, então quando você está em perigo, isso se torna o primeiro instinto. Eu poderia pertencer à abnegação facilmente.”

“Sim, bem eu deixei a Abnegação, por que eu não era altruísta o suficiente, não importava o quanto eu tentasse.” – ela me diz em seguida.

Então o que foram todos os pequenos atos desprovidos de egoísmo que vi partirem de você desse que chegou aqui?. Sorrio comigo mesmo. Vou tentar te fazer entender o quanto é especial.

“Isso não é inteiramente verdade” começo “Aquela garota que deixa alguém atirar facas contra ela para poupar um amigo. Aquela que bateu no meu pai para me proteger- aquela garota não é você?” pergunto sorrindo.

Ela me observa por um momento. O que será que ela está pensando? Tris é um mistério que eu adoraria passar cada segundo tentando resolver.

“Você tem prestado atenção, não tem?” ela pergunta diretamente.

Ah, você não faz ideia de que faz parte de todos os meus pensamentos. Da hora que acordo até os segundos que antecedem meu sono...

“Eu gosto de observar as pessoas.” - digo na vã tentativa de parecer sutil já que lhe revelei que ela é minha pequena obsessão, sem sequer me dar conta disso. Ela me bombardeia de perguntas, mas não chego a ficar tenso porque basta um olhar seu para eu me desarmar por completo.

“Talvez você tenha sido descartado da Sinceridade, Quatro, porque você é um péssimo mentiroso.” Ela devolve minhas palavras e tento suprimir um sorriso nervoso. Ela me pegou!

Já não é mais o tempo de tentar disfarçar. Não consigo, não quero e não vou esconder que ela me desnorteia completamente e que embora eu esteja entregue a este sentimento, ele não me deixa mais fraco. Gostar de Tris me fortalece a cada dia e, se ela retribuir isso com a mesma intensidade sinto que nada poderá me machucar novamente.

“Ótimo,” Começo enquanto corro minhas mãos para pedra ao meu lado e alinho meus dedos aos dela. Inclino meu rosto mais próximo ao seu e me sinto esquentar. Ela não desvia os olhos de mim. Será que ela está tão perturbada com tudo isto como eu estou? Fixo meu olhar em seus lábios. Eles são atrativos para mim e isso é completamente novo. Meu coração salta em uma batida e acelera cada vez mais. Sinto como se estivesse prestes à um ataque, mas tento sustentar minha respiração antes que o nervosismo me consuma. Não posso recuar.

“Eu te observei, porque eu gosto de você.” Pronto falei. Meu peito se alivia com a declaração corro meus olhos e mantenho-os fixos no dela que retribui com a mesma intensidade. Ela é indecifrável.

Quero que ela me responda, na verdade, quero que ela me corresponda, mas antes que ela diga qualquer coisa, preciso deixar mais um ponto claro.

“E não me chame mais de Quatro ok? É bom ouvir meu nome novamente.” – Você é a única que pode me chamar de Tobias aqui. Afinal, você é a única para mim.

Um pequeno formigamento começa a brotar em meus dedos como m sinal de que o pânico ameaça a crescer em mim caso ela não diga ou demonstre por gestos, que gosta de mim também.

A ansiedade da espera. Ela parece pensar em algo para dizer.

“Mas você é mais velho que eu... Tobias.” Ela não pôs fim às minhas esperanças e nem destacou um dos vários empecilhos válidos que eu mesmo poderia listar de modo a nos afastar. Então é isso que a assusta?Uma pequena diferença de idade?

Ela não me rejeita por eu ter sido um fraco ou porque eu não lhe agrado fisicamente ou de qualquer outra forma...

Sorrio para ela.

“Então essa gritante lacuna de dois anos é realmente insuperável não?”

“Eu não estou tentando ser autodepreciativa, eu simplesmente não entendo. Eu sou mais jovem. Eu não sou bonita. Eu...”

Começo a rir, interrompendo-a de seu discurso que para mim é completamente falso. Sim, Tris você é mais nova e o que isso tem haver? Você já provou ser forte e corajosa como uma mulher, mais, na verdade, do que todas as que conheci. Você pode passar despercebida dos outros olhares masculinos – o que para mim é algo pelo qual agradeço grandemente já que senti o amargo do ciúme em momentos em que Al e Will se aproximaram mais do que eu gostaria. Eles podem não te olhar como eu olho pelo fato de você ser pequena, aparentemente frágil e careta, mas é linda para mim, perfeita para mim. Minha cabeça dá voltas com esse pensamento.

Talvez você não seja mesmo bonita porque esta palavra não basta. Não é possível sintetizar com qualquer designativo o quanto você é magnética para mim. O quanto seu olhar me atrai.

Inclino-me até ela e beijo de leve sua têmpora. “Não finja. Você sabe que eu não sou. Eu não sou feia, mas certamente eu não sou bonita.”

Se você prefere assim,eu penso.

“Certo. Você não é bonita. E daí?” pergunto, e beijo sua bochecha, sua pele é macia e quente, me transmitindo uma energia jamais provada pelo meu corpo antes. “Eu gosto da sua aparência. Você é corajosa. Você é extremamente esperta. E mesmo você descobrindo sobre Marcus...” falo em tom de apreciação “Você não está me dando aquele olhar. Como se eu fosse um filhote de cachorro chutado ou algo assim.”

“Bem. Você não é.”

Suas palavras simples e curtas me tocam profundamente, meu coração parece inflar e começa a bater ainda mais descompassadamente. Eu costumava me olhar como um garotinho medroso, mas Tris me vê diferente. Procuro seus olhos e lá estão eles, fixos em mim. Tenho certeza do que eu quero, mas temo assustá-la. Não posso perdê-la. Cuidadosamente toco seu rosto e me inclino roçando meus lábios aos dela, devagar e delicadamente.

Por um momento penso que ela vai se esquivar, ou pedir para ir embora, mas ela continua ali, um sorriso nervoso e de alívio escapa de mim. Aperto meus lábios nos seus.

Meu corpo vibra ainda sem acreditar que isso realmente está acontecendo. Seus lábios me transmitem um calor que corre por minhas veias. A alegria que me toma faz parecer que toda a dor passada está onde deve ficar: no passado. O presente para mim é Tris. Meu futuro está inevitavelmente atrelado ao dela porque eu não consigo mais me afastar.

O meu primeiro beijo, o qual não consigo nem sustentar a lembrança, não chega nem perto do que esse simples toque em sua boca me proporcionou e não é o fato de que naquela oportunidade eu estava bêbado porque penso que se ainda sóbrio eu tivesse beijado outras garotas, nenhuma delas seria especial. Nenhuma delas seria o que Tris é para mim.

Afasto-me gentilmente, já que sei que ela não vai fugir de mim assustada. Coloco ambas as mãos em seu rosto. Seu olhar agora está um pouco confuso, mas ela ainda está ali. Inclino-me até ela e a beijo novamente, só que dessa vez com mais certeza. De maneira firme, descobrindo seus lábios. Sei que jamais serei capaz de esquecer este momento. Ela timidamente enrola um braço em volta a mim, e desliza a mão de leve até a minha nuca, subindo e parando em meus cabelos. Seu toque erradia calor e eletricidade. Meu coração não se contenta em meu peito quando sinto seus lábios macios e cautelosos, acompanhando carinhosamente os meus. Minha boca clama mais e mais pela dela e meu corpo anseia por seu toque.

Não sei ao certo quanto tempo ficamos presos em nossa bolha, embalados por sentimentos e sensações. Ainda que tivessem sido horas, qualquer período seria curto para mim, mas já era tarde. Logo amanheceria e precisávamos voltar. Ela para o dormitório e eu para o meu quarto, afinal, ela ainda é uma inicianda e precisa ter algum descanso para estar preparada para mais uma rodada de Destemor, preparando-a para o terceiro e último estágio da iniciação.

E, mesmo que o desejo de me fundir a ela fosse poderoso, eu preciso ser responsável. Tris me mostrou um mundo novo e agora tenho que pensar em como iremos encarar os outros membros do Destemor já que qualquer passo fora da linha poderá ser a nossa ruína e eu nunca deixaria que nada sequer ameaçasse a segurança dela.

A maior parte do trajeto caminhamos de mãos dadas, mas as câmeras, cujas posições conheço, fazem com que mantenhamos distância um do outro, a partir de determinado ponto. Deixo-a perto do seu dormitório. Lanço um último olhar em sua direção e me viro, ciente de que estou mais feliz do que jamais um dia eu fui.


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Notas finais do capítulo

E aí gostaram?
Espero que sim...
Um beijo a todos!!!