–Bom dia! – Clary disse ao chegar em casa e encontrar os primos e Gina na cozinha assistindo alguma coisa em seu laptop.

–Bom dia! Cara, você precisa de um banho. Está fedendo. – Gina comentou enquanto mordia uma torrada.

–Eu seeeei! – Clary disse, o “sei” soando como um bocejo. Então ela olhou para o que os primos estavam fazendo. –Gina! Não acredito que você botou meus primos pra assistirem 90210 DE NOVO? Tem muita coisa inadequada!

–Mas é um muito bom! Eu assistia isso com minha mãe quando eu era menor!

–E olha no que deu! – Clary retrucou enquanto tirava o computador da frente dos primos.

–Hey! – os três retrucaram ao mesmo tempo o que, Clary tinha que admitir, foi muito engraçado.

–Agora se arrumem vocês dois. Vocês não tem aula hoje?

–Tá legal... – os dois gêmeos resmungaram ao mesmo tempo enquanto terminavam café da manhã e iam pegar as mochilas.

–Não precisa ser tão chata! –Gina resmungou enquanto deixava seu prato na pia.

–Você pôs meus primos de 4 anos para assistirem um seriado par maiores de catorze.

As duas continuaram discutindo por um tempo, já que as aulas do dia haviam sido canceladas por conta de um incidente ocorrido ontem no laboratório de química que deixou a escola com um cheiro insuportável que estava sendo removido.

Clary foi tomar banho enquanto Gina esperava mandando mensagens para Henry.

Logo Clary voltou para cozinha com uma toalha enrolada no cabelo, usando shorts e blusa velha.

–Hey, recebeu o convite da Kiera sobre a festa?

–Recebi. Adoro as festas dela. Sempre são as melhores. E essa vai ser de St. Patrick’s! E eu não vou ficar sozinha, já que tenho um namorado! – Gina comentou enquanto via a amiga pôr dois PopTarts sabor Smores na torradeira. –Não sei como você não engorda, comendo tanta comida gordurosa.

–Metabolismo de lobo. – Clary riu, pegando na geladeira leite e nos armários Ovomaltine para fazer um achocolatado.

–Então, quando você vai se resolver com Elijah? Ele veio aqui ontem e eu tive que bater à porta na cara dele.

Clary riu.

–Só você mesmo, Gina, pra bater à porta na cara de um Original.

–Fazer o que? Sou vida loka.

As duas caíram na gargalhada. Clary estava começando a sentir saudades desses momentos, onde estavam ela e Gina juntas, sentadas na mesa da cozinha, comendo e conversando enquanto provocavam uma a outra. Tudo agora era sobre o mundo sobrenatural.

“Acho que eu esqueci como é ser humana” Clary pensou consigo mesma enquanto mordia o PopTart. “Eu definitivamente esqueci como PopTarts são bons.”

–Então? Não pode ficar mudando de assunto a manhã inteira. O que você vai fazer sobre Elijah? – Gina repetiu sua pergunta enquanto tentava roubar um pedaço de PopTart, sendo impedida por um tapa de Clary.

–Não faço a menor ideia. Acho que, na hora, eu vou saber o que fazer, mas se eu for parar para pensar nisso, vou acabar ficando louca.

–Então você vai, basicamente, improvisar e agir pelos seus instintos?

–Exato.

–Como uma loba.

Clary sorriu e concordou.

–Como uma loba.

As duas ficaram em silêncio por um instante.

–Então, você pode me emprestar seus saltos pretos pra festa? Os meus não combinam com o meu vestido. – Gina disse, mudando de assunto. Ela sabia que tudo o que Clary precisava agora era uma distração.

–Claro, mas me empreste sua bolsa dourada. Ela vai ficar ótima com meu vestido azul.

21 anos atrás, em Manhattan...

–Você me disse que o nome dela era Sandra. – Derek comentou com Frank enquanto dava um gole em sua bebida.

–Bem, eu achava que era ela.

Derek sorriu. Não era uma bruxa poderosa, mas mesmo assim ele não perdeu o interesse. Ela era bonita e parecia ter atitude. Ele gostava disso.

Enquanto isso, Sandra conversava com Jennifer.

–Derek Thibault, Sandy? Sério?

–Ele é gato. Além disso, eu nem disse meu nome de verdade pra ele.

–Ele é mulherengo, Sandy. Fica com várias garotas e se acha o maioral.

–Bem, então acho que vou ter que fazer ele se apaixonar por mim. – Sandra disse, piscando para a amiga, que riu. Jennifer sabia que a amiga adora jogos de conquista. Provavelmente por que ela sempre ganhava.

Jennifer suspirou. Ela chegou a sentir pena de Derek Thibault. Ele não faz ideia de onde se meteu.

Atualmente, indo para a fábrica abandonada de Fells Church...

–Claro que a festa é em uma fábrica abandonada no meio do nada onde eu tenho que andar na terra com meus saltos. – Gina reclamou enquanto se apoiava em Henry para não cair. Clary riu.

–Tudo vai compensar quando chegarmos a festa super verde que é a comemoração de St. Patrick’s Day! – Henry tentou animar a namorada, falhando miseravelmente.

–Cala boca, Henry. – Gina resmungou, mal humorada. Para a sorte do garoto, eles logo chegaram a festa.

Clary nunca teve nada contra a cor verde. Verde é legal. Florestas, piscinas, meio ambiente, natureza... mas aquela festa era o cúmulo do absurdo.

Tudo era verde.

A decoração, a comida (quem foi o engraçadinho que resolveu servir ovos verdes com presunto?), as bebidas (eu quero uma Coca Zero, não essa coisa verde!), até alguns convidados estavam completamente vestidos de verde.

–Uh... – Henry resmungou enquanto olhava ao redor. –Eu não vou muito pra festas, mas deveria ser tão...

–Idiota? – Gina sugeriu enquanto limpava a terra dos saltos.

–Esdrúxulo?

–Eu ia dizer verde, mas essas duas servem.

Clary se separou dos amigos. Gina mal humorada era o cão chupando dez milhões de mangas, para dizer o mínimo. A garota suspirou enquanto dava uma mordida em uma mini pizza verde de queijo e espinafre.

“Sério mesmo? Até a pizza?”

A garota revirou os olhos e saiu a procura de algum lugar daquela fábrica que não estivesse impregnado de verde.

Demorou, mas a garota logo encontrou um lugar que lembrava um escritório. Havia uma mesa, algumas prateleiras e uma cadeira de rodinhas sem as rodinhas.

A garota bebeu um gole de seu refrigerante verde e suspirou. A última festa em que ela havia ido tinha sido a fatídica rave, o que a fez perceber que as festas de sua cidade não são nada comparado aquilo.

A garota resolveu ficar nesse escritório por um tempo. Ela não estava mais em clima de festa. Alguns casais as vezes entravam se agarrando, mas ela logo expulsava eles. A cada garoto estúpido que ela via tentando enfiar a mão no sutiã das meninas, mas irritada ela ficava.

“Por que eu não podia gostar de um garoto normal, que tenta enfiar a mão no meu sutiã? Não que eu quisesse que um garoto qualquer enfiasse a mão no meu sutiã. Eu só queria um garoto normal! Mas não, eu tinha que me apaixonar justamente pelo vampiro Original!”

Foi então que, em meio a pensamentos raivosos, ela percebeu.

Ela estava apaixonada por Elijah.

Ela estava completamente e perdidamente apaixonada pelo vampiro Original, uma das criaturas mais poderosas e perigosas do planeta.

E, talvez, ele também esteja apaixonado por ela.

De repente a garota ouviu a porta do escritório de abrir de novo.

–Olha, já está ocupa...

Mas não era um casal de adolescentes estúpidos e que provavelmente nem pensariam em usar camisinha que estava entrando, nem maconheiros procurando um lugar para fumar, ou vândalos um lugar para pichar.

–Elijah.