Já era de noite quando Giovanni resolveu ir tomar um banho. Assim, ele me deixou na cama e saiu do meu quarto. Pude ouvir uma movimentação no andar de baixo da casa, e logo pude perceber que era o meu pai que estava chegando junto com o seu Edson.

Bem devagar, levantei da cama e abri a porta do meu quarto. Estava ouvindo vozes, mas não conseguia distinguir o que diziam. Cheguei mais perto da escada e fiquei agachada ali mesmo.

— Mas onde é essa casa? - Pude ouvir meu pai dizer.

— É daqui a dois quarterões! - Essa era a voz da minha mãe - Se você disser sim, poderemos nos mudar amanhã mesmo!

Tudo ficou quieto por um instante. Provavelmente papai estaria pensando, mas logo ele disse:

— Tudo bem, eu confio no seu bom gosto para escolher a casa! Nos mudaremos amanhã á noite!

Não gostei daquelas palavras. Estava cansada de mudanças! Primeiro, perdi o Lucas, e agora perderei Giovanni também? Tudo bem que nós iríamos morar a dois quarteirões daqui, mas eu estava gostando de Giovanni, e a ideia de passar 24 horas por dia com ele era muito animadora.

Senti uma mão no meu ombro. Era Giovanni. Ele me ajudou a levantar.

— O que foi? - ele sussurrou - Você está trêmula! Vem cá.

Ele me guiou até o meu quarto e eu me sentei na cama.

— Giovanni - não havia perigo nenhum de alguém nos ouvir ali, mas mesmo assim eu estava sussurrando - Nós vamos embora amanhã a noite. Meu pai disse. Eu ouvi.

Ele não disse nada. Apenas me abraçou. E assim nós ficamos por um bom tempo.

Acordei ao som do despertador. E nos braços de Giovanni. Era tão bom estar assim com ele! Ei, espera um pouco, eu estava NOS BRAÇOS DE GIOVANNI???! Não me lembrava de ter adormecido assim. Giovanni abriu os olhos no momento seguinte.

— Bom dia, flor mais bela - ele disse com uma voz de sono.

— Bom dia, dorminhoco - eu sorri - Giovanni, o que aconteceu ontem a noite? Eu não me lembro muito bem.

— Bom, você ouviu seus pais dizendo que vocês mudariam daqui essa noite, aí eu te abracei. Você quis deitar no meu colo e adormeceu ali mesmo. E agora estamos aqui.

Aos poucos comecei a me lembrar de tudo o que Giovanni dissera. Não sabia o motivo de eu ter esquecido. Devia estar ficando maluca com tanta mudança!

— Ah, sim - respondi - Ninguém percebeu que você estava aqui?

— Não, minha linda! Eu tranco a porta do meu quarto todas as noites, então ninguém vai me incomodar.

Descemos para tomar café. Como a minha mãe nos tratou normalmente, acreditei que ela não sabia do que tinha acontecido na noite passada. Ela me contou que mudaríamos essa noite, e tentei parecer feliz. Acho que consegui.

Quando Giovanni e eu chegamos na escola, encontramos Luíza lendo perto de uma árvore.

— Oi Lu - Giovanni disse, e eu a cumprimentei também - Tenho que te contar uma coisa: a Mari e eu estamos ficando!

Me surpreendi com aquela atitude de Giovanni. Não pude deixar de sorrir para ele. Luíza sorriu também.

— Ah, é? Felicidades! Que um dia isso se torne algo maior!

— Obrigada, Lu - Giovanni deu um sorriso sem graça - Meninas, vou ir na cantina comprar um suco e já venho.

Ele se retirou, em direção á cantina.

— Senta aí - Luíza me disse, e eu sentei ao seu lado - Sabe, Mari, eu me mudei para cá com 10 anos de idade, sei pelo que está passando agora.

— Sério? - disse para Luíza - Da onde você veio?

— Do Rio de Janeiro. Meu pai foi tentar uma vida melhor lá e conheceu a minha mãe. Eles se casaram e eu nasci. Por parte de mãe eu só tinha minha avó, nunca conheci meu avô. Então quando a vovó morreu nós viemos para cá, pois minha família por parte de pai inteira está aqui.

— Nossa - respondi, meio sem saber o que falar - E você se acostumou rápido com a sua nova vida aqui?

— Ah - ela continuou - Fiquei triste no começo, pois tinha perdido os meus amigos, mas a Paty, o André e o Gi me ajudaram a superar. A gente se conhece há bastante tempo.

— E você ainda fala com os seus amigos do Rio?

— Não. Eu mandava SMS, mas eles nunca responderam.

Me lembrei de Larissa, Marcela e Lucas. Nunca mais havia falado com eles. Nesse momento, Giovanni voltou da cantina com um copo de suco de maçã e se juntou a nós duas, passando um dos braços na minha cintura.

Assim que chegamos em casa, depois da aula, nós almoçamos e subimos para o meu quarto. Giovanni me ajudou a fazer as malas, o que foi bem mais rápido se eu tivesse feito isso sozinha. Em seguida, tiramos uma foto, que eu postei no Facebook com a legenda: "Um céu, um mar e alguém para amar". Luíza foi a primeira a curtir a foto. Segundos depois, Lucas comentou:"Tá namorando, Mari?", mas eu excluí o comentário e ele não voltou a comentar.

Quando eu ouvi meu pai chegar, abracei Giovanni desesperadamente. Ele me deu um beijo igualmente desesperado e sussurrou no meu ouvido:

— Quer namorar comigo?

— Quero - respondi sem hesitar.

Após isso, eu me despedi de seu Edson e uma última vez de Giovanni, dando um beijo na sua bochecha. Ele ficou me vendo partir, e eu sorri ao pensar que agora ele era meu namorado.