– Anda, anda... Hora de levantar princesa!

Eu esfreguei os olhos ainda deitada, quase cega olhando a claridade do sol na janela.

– Ahn? – perguntei meio grogue.

– Levantar. Sanye... Você sabe quem está falando com você?

Abri os olhos bem devagar, eu estava sem sentidos, estava muito cedo ainda, demorei pra enxergar a figura na minha frente.

– Ethan...? – falei quase como um gemido cobrindo o rosto com o lençol.

– É Sanye. Seu pai pediu que eu lhe acordasse.

– Foi?

– Foi, então vamos, levanta. Falaram-me que temos muito trabalho hoje.

Apenas balancei a cabeça, mas antes que ele saísse eu falei:

– Onde você estava ontem?

– Festejando nosso noivado. – vi um sorriso nele.

– Ah... Tá... Eu já vou...

[...]

Eu não estava falando coisa com coisa, mesmo tendo ido dormir cedo, foi uma das noites mais calmas que eu já tive. Estava tudo bem tudo ótimo pra mim. Tinha acontecido uma reviravolta em tudo. Fiz as pazes com a Ellen... Reconciliei meus laços com minha verdadeira mãe... Desculpei meu pai no café da manhã... E amanhã eu iria me casar com meu príncipe.

Deixaram-me um simples vestido prata, curto até os joelhos e com alças. Sapatilhas de balé também. Talvez eu tivesse que ensaiar a dança e meus novos “modos” com o Rupert.

– Venha, venha senhorita. A Meredith está a sua espera com o Rupert. – a Anabela me guiava até o salão.

– Calma, estou indo. – sorria ao ver o sorriso em seu rosto, o sorriso de que seu filho iria se casar.

No salão, uma pista improvisada foi criada, o Ethan estava sentado apoiando a cabeça na mão ouvindo algo do Rupert e da Meredith. Meu pai estava com a Rachel e a Ellen vendo os últimos detalhes de tudo, e o Adalard... Bem... Ele estava comendo.

– Ai está ela, venha aqui Sanye! – o Rupert me chamou e eu fui as pressas.

– Sim?

– Viemos trabalhar etiquetas, assim como eu estava falando com o príncipe – o Ethan fez cara de tédio – Tudo irá mudar a partir de amanhã, assim como seus modos. Okay? Primeiro Sanye – ele se virou até mim – Nunca mais corra daquele jeito quando chamada.

– Sinto muito Rupert. Não acontecerá novamente.

– Ah, ótimo sua fala. Rachel venha aqui, por favor.

Fui até o Ethan enquanto o Rupert falava com a minha mãe.

– Precisamos de tudo isso mesmo?

– Eu não, já você... – daí eu me lembrei de quando ele foi me acordar.

– Não tenho culpa príncipe, eu tinha acabado de despertar.

– Menos conversa mais ação. – Meredith nos atrapalhou nos levando até o meio do salão.

Ela era já uma senhora, porém, cheia de charme e elegância. Esbanjava glamour a todos.

– Primeira postura. – ela encarou o Ethan – Ande, eu disse postura.

Ele se endireitou resmungando.

– Silêncio, por favor.

Ela começou a dizer o que devíamos fazer no altar, o Ethan ficaria na mesma posição até eu chegar ao lado do rei Adalard. E só poderia acenar e sorrir, e sair algumas vezes – mínimas – para as fotos. Eu deveria andar levemente – por isso as sapatilhas – como se estivesse dançando balé. Cabeça erguida e sorriso no rosto. Acenando a todos na igreja.

Ela pediu para que eu fizesse isso no meio do salão de ponta de pé, o que me deu uma enorme dor assim que eu desci. O Ethan ria de minha desgraça até ser chamado pra “como entrar no altar”. E eu não pude deixar de revidar.

[...]

– Ótimo, agora vamos ao modo de como sentar-se a mesa.

Era duas da tarde quando acabamos. Assim que a Meredith disse isso ouvi o sussurro do Ethan: “Como se eu não soubesse usar a bunda.” Não pude deixar de soltar uma gargalhada e ser repreendida.

– Desculpe-me senhora.

– Tudo bem, vamos, sentem-se.

Ela explicou inúmeras vezes enquanto o Ethan errava os talheres que usaríamos em cada ocasião de comida... Como a sopa.

Depois de uma hora fomos a dança, a parte mais fácil de todas tanto pra mim quando pro Ethan.

– Lembrem-se. Esquerda, direita, pra frente e pra trás... – ela cantarolava enquanto eu dançava.

– Isso está me irritando sabia? – falei pra ele.

– Então somos dois, querida, se tudo isso é para um casamento, imagina governar um reino?

– Ai meu Deus. Ethan, nem nos casamos ainda. Calma.

– Tenho que pensar no futuro... Ah, isso me fez lembrar... Quantos filhos vamos ter? Quatro ou cinco...

– Ethan. – sussurrei e pisei no seu pé de propósito recebendo uma reclamação.

– O que foi?

– Já quer filhos?

– Na lua de mel a gente resolve! – ele se aproximou e me beijou.

– Okay pombinhos. A dança está linda, se a Sanye não tivesse pisado em seu pé príncipe. – rimos.

– Foi sem querer Meredith. – ele falou e eu o olhei de canto.

[...]

Enfim, tivemos aula de francês, inglês e tudo mais de língua que você imaginar para os parentes que viriam.

Por fim, essa seria a última noite que eu veria o Ethan...

Era uma tradição, não nos veríamos até a hora em que eu fosse pisar no altar. Então, eu tive a noite livre para ficar com ele.

– Está nervoso?

Estávamos sentados no jardim, eu estava apoiada em seu peito.

– Você nem imagina o quanto. E você?

– Igualmente.

Aquele momento estava tão único que eu poderia jurar ser um sonho, o céu estrelado, vagalumes – que são bem raros aqui – passeando entre nós. Estava tão perfeito que eu esquecia os problemas... Mas eles voltavam na mesma frequência.

– Ethan – me ajeitei – Estou com aquele bilhete dos rebeldes na cabeça... Sabe... Você me ouviu lendo e...

– Sim, ouvi. Mas reforçamos a segurança, está tudo triplicado aqui. O casamento não será aberto a qualquer um... Você não precisa se preocupar.

– Será? – abaixei a cabeça.

– A senhorita só pensa coisas ruins...

– Imagina quando eu tiver que cuidar disso aqui. – joguei os braços pra frente.

– Quer pensar nos quatro filhos que eu falei? – ele riu alto e eu também, aquelas palavras bobas fazem um tanto bem pra você que nada mais importa, pode ser clichê ou meloso... Mas é a verdade.

– Ainda somos jovens demais pra isso.

– Não importa. A gente vai ter tempo demais pra isso depois do casamento. – ele me beijou e eu retribui.

– Fiquei tão feliz de ter feito as pazes com a Ellen... – brinquei com a mão dele.

– Eu também, aquele clima tenso entre vocês... Sabe, não é bom ficar no meio de uma discussão de família, não sei por que me quis ali.

– Pra me ajudar caso eu caísse dura no chão.

– Ah, só isso?

– Sim!

Ele riu.

– Tudo bem então.

[...]

Depois de um tempinho juntos – não... Um tempão – tivemos que entrar no palácio, o máximo permitido fora dele era até as onze da noite.

Passando pelo portão, os guardas se curvaram a deram espaço a nós. Ficamos em silêncio até as escadas. Assim que eu subisse ali não o veria até a noite.

– Vou sentir saudades até lá. – ele falou.

– Não vai não. Vai estar muito ocupado pensando em amanhã. – ele sorriu – Aliás... Você não me contou o que fez ontem com meu pai, seu pai e o Rupert.

Ele franziu a testa.

– É segredo princesa.

– Ah, não Ethan. Por favor?

– Não.

– Então... Tudo bem. – dei as costas a ele – Vai dormir sem beijo.

– Você não vai aguentar até amanhã.

Eu ri e sussurrei no ouvido dele.

– Vamos apostar.

Antes que ele falasse algo subi as escadas correndo, eu sabia que demoraria em vê-lo, mas não ligo agora. Subi rindo muito, e ouvi uns reclames dele embaixo.

Abri a porta do quarto, tomei meu banho e fiquei o mais leve possível. Assim que me deitei olhei para o lado e vi a caixinha que os rebeldes me tinham “dado”. Eu já devia ter jogado aquilo fora, mas o pus dentro da minha gaveta.

Ignorei todos os pensamentos ruins que me ocorreram e pensei apenas nessa noite com o príncipe.

Eu sorri e fechei os olhos, pedindo que aquele momento durasse pra sempre.