Clarissa

Abro os olhos e sinto a falta de Dylan imediatamente. O desconforto da poltrona me faz mudar de posição. Olho ao redor e percebo que todos estão adormecidos, inclusive meus... Bruce e Selina, e o querido Charlie.

O céu lá fora apresenta os primeiros raios de sol que se revela aos poucos. Devem ser seis da manhã agora. Batuco os dedos no descanso da poltrona, pensativa.

James adoraria estar aqui. Aproveitar uma viagem luxuosa antes de uma batalha sangrenta, dando cantadas diretas à Aurora. Cerro os punhos. A morte é tão... Cruel. Leva para longe de nós aqueles que mais amamos, e deixa aqueles que apenas abrem novas feridas.

A sede de vingança palpita em meu peito. Vou descobrir quem está matando a todos, e vou acabar com qualquer um que cruze o meu caminho. Mesmo que me reste apenas algumas horas de vida, vou fazer o possível e o impossível para desestruturar tudo isso de uma vez.

A demora de Dylan me preocupa. Será que ele está passando mal? Meneio a cabeça. A que ponto cheguei? Ficar preocupada com alguém? Principalmente com o Allen?

Continuo batucando os dedos nos braços da poltrona. Um pressentimento ruim arrepia minha pele. Levanto-me e decido ir até o banheiro.

Alongo meus braços durante o trajeto, me sentindo bem melhor depois do meu curto sono.

Acendo a luz e sinto um cheiro esquisito impregnando o lugar. Uma mistura de cigarro e vinho barato conhecido aos meus sentidos, mas que ao mesmo tempo parece uma lembrança fraca.

As lâmpadas falham tirando-me de meus devaneios. Balanço a cabeça e olho para o espelho, emitindo um grito e me afastando de imediato.

O rosto cadavérico de James surge ali seguida face de Aurora. Stella... Simon... Ashley... Zack... Sophia... E por fim Dylan. Faces mortas, feridas e com meros fantasmas da dor que sentiram momentos antes de...

 — Imagine só. Todos eles mortos — uma voz ressoa pelo ambiente e viro-me sentindo meu estômago revirar.

Lexi Riddle.

— Então por isso eu estava sentindo um cheiro podre no ar — digo com ironia, tentando parecer durona mesmo que enfraquecida por dentro.

A garota mantém sua postura de puta de esquina, com um sorriso tranquilo em seus lábios.

— Se eu fosse você não seria tão rude — Ela replica, me fitando. — Já que está diante de quem anda controlando as vidas de todos vocês.

Franco o cenho antes de emitir uma gargalhada. Não. Não é possível. A putinha ex-namorada do Dylan? Sério?

— A rata das líderes de torcida? Poupe-me Riddle! — ironizo, voltando-me para o espelho e ajeitando meus cabelos. Felizmente a imagem dos meus amigos mortos se dissipou.

Uma dor em meu peito vem seguida de uma forte pontada no lado do meu corpo. Arregalo os olhos pela intensidade das sensações terríveis, como se um milhão de tiros recomeçassem a me acertar em ambos os ferimentos.

Ergo a blusa e sangue brota da cicatriz antes fechada, jorrando fortemente. Minha visão oscila entre claro e escuro, e caio no chão sem forças.

— Opa! Acho que finalmente tenho a Wayne aos meus pés — Lexi caminha até mim, pisando em minha cabeça com o salto de sua sandália. Vadia. — Tenho tantas coisas para conversar com você! Por exemplo... Como sou a neta de Ra’s Al Ghul! E como consequentemente sou filha de Talia Al Ghul, aquela que teve um caso com o nobre Batman! Oh, oh! Acho que você não sabe desses detalhes sórdidos não é?

Ergo a minha mão à frente do meu corpo, tentando ficar de pé, quando o salto da Riddle atinge meu membro, fazendo-me gritar.

— Eu particularmente gosto desse tipo de histórias! Irmãs separadas com destinos praticamente iguais! Dominar! — Ela se agacha, erguendo meu rosto com a ponta dos dedos. — Sua vida está em minhas mãos Clary. A sua e a de seus amigos patéticos.

— Porque... Você... Não me mata? — pronuncio as palavras com imensa dificuldade.

— Ah não. Mas eu não quero que você morra! Eu quero que você volte às suas origens, querida irmã. Nós duas fomos tiradas de nossas famílias muito cedo. Eu fui criada em um orfanato nos subúrbios de Nova York. Até que fui adotada por uma bruxa, que me ensinou tudo que sei e revelou a minha verdadeira origem. Aprendi feitiços, magias poderosas, e consegui adquirir o poder absoluto: controlar a morte! Eu cheguei até o inferno por isso, passei horas lá com o risco de jamais voltar. Meu último teste, que me premiou com esse dom divino. Então eu resolvi que poderia criar um exército! Que o céu seria o limite para mim. Assumi uma nova identidade, controlei uma família rica para acreditar que eu era sua herdeira e passei a estudar em NovaHead. Conheci você — Lexi sorri para mim. — E senti o seu ódio! A sua vingança! A mesma chama que existe no meu interior! Estou lhe dando uma excelente oportunidade de recomeço, querida irmã. Esquecer todos esses sentimentos mundanos e crescer verdadeiramente! Em pouco tempo todo o país irá perecer e sermos as governantes dele. Então logo dominaremos o mundo! Criaremos uma nova raça, completamente imortal e além dos seres humanos! Sou capaz de lhe dar tanto poder Clarissa...

Ela faz um floreio com sua mão, e sinto um impulso de força me golpear. O sangue para de jorrar logo que as feridas se fecham.

— Vê? Eu não quero o seu mal! Quero apenas que nos unamos como irmãs! E acabemos de uma vez por todas com a hipocrisia presente nos seres humanos — Lexi me dá as costas. — Entendo que precisa refletir um pouco. Talvez tentar me destruir. Mas quando perceber que essa luta é inútil procure-me. Vou lhe conceder um excelente lugar ao meu lado.

Coloco-me de pé, mais forte.

— Onde está o Dylan?

Lexi faz um floreio com a mão abrindo uma espécie de portal.

— Ele está bem. Comigo. Com quem deve estar — seu sorriso é de dar nojo. — Entendo que nutriu sentimentos por ele, mas... Dylan é o meu namorado. Talvez possamos dividi-lo depois.

Tento parecer o mais complacente possível, mesmo que no meu íntimo a raiva ainda queime. Lexi se infiltra em seu portal e desaparece. Permito-me deixar em evidência minha expressão de raiva, e dou um soco certeiro no espelho, despedaçando-o.

Minha querida meia-irmã precisa aprender que não divido nada.