Dylan

Os últimos guardas estão no chão. Percorro a velocidade da luz os corredores da nave e encontro parte do grupo. Sophia e Simon cuidando do Homem-Aranha e de dois membros do Quarteto Fantástico.

— Onde estão Zack e Ashley? — questiono observando a expressão séria de Simon e a preocupação de Soph.

— Eu mandei que os dois servissem de isca enquanto levávamos os heróis — Simon explica com um tom um tanto frio.

— Você mandou? — enfatizo franzindo o cenho. Simon está claramente perturbado.

— Eu sou o responsável do grupo, Dylan — fala Simon calmamente. — Meu dever é fazer com que tudo isso dê certo! Eu confio em Ash e Zack.

— A questão não é confiar! É deixá-los para trás! — exclamo exasperado.

— Eu não estou deixando ninguém para trás — Simon retruca cerrando os punhos. — Estou salvando os pais de vocês! Algo que não pude fazer pelo meu!

O silêncio nos encobre. Sophia tenta deter Simon logo que este passa bruscamente por nós, saindo da sala para o corredor além.

Suspiro, encarando Sophia.

— Vamos. Temos que levá-los para fora. Depois vou voltar para ajudar Zack e Ashley.

Pego Reed e Sue Richards e os jogo sobre cada ombro. Sophia puxa o Homem-Aranha para que ele fique de pé e se apoie nela.

(...)

Conseguimos chegar até a saída da frente sem encontrarmos empecilhos. Os corpos dos guardas derrubados continuam no chão. A porta se encontra aberta e sinto o vento frio da madrugada. Respiro fundo antes de continuar o caminho com Soph ao meu lado.

“Destruidores!”

Paro instantaneamente, virando-me com Reed e Sue Richards atordoados apoiando-se em meu corpo. Um telão ao fundo do corredor que eu não havia notado ao passar rapidamente piscou antes de transmitir a imagem de uma mulher. Alta, com uma máscara de caveira negra cobrindo seu rosto. Seus olhos eram claros, e transmitiam uma fúria contida mistura a uma maldade sem limites. Sentada em um trono de ferro, tinha em uma das mãos uma foice. Para completar, usava um vestido branco com uma capa negra às costas.

“Vocês causaram danos demais à todos. Foram valentes, tolos e esperançosos. Mas essa brincadeira chegou ao final. A revolução precisa acontecer. Um mundo livre de heróis, de farsas vestidas em roupas elegantes!”

A mulher cerra um dos punhos, sua voz alcançando um tom cada vez mais enlouquecido. Semicerro os olhos. Essa voz...

“Bombas foram detonadas em Nova York...”

A cidade aparece diante de nossos olhos com prédios demolidos e pessoas gritando diante do caos predominante. Um repórter fala algo para o noticiário que apresenta as imagens, mas tudo se encontra mudo.

“Los Angeles... Chicago...”

Sophia tremeu ao meu lado, e eu mesmo pude sentir minhas pernas congelarem. Como? Como eles tinham tanto armamento? Como eles conseguiam causar tanta dor?

“E agora Washington!”.

Imagens ao vivo da Casa Branca vindas de um helicóptero, enquanto mísseis se encaminham contra o local.

A vilã tornou a ocupar o telão, certamente sorrindo por debaixo da máscara.

“Vocês me infortunaram demais, Destruidores. Agora, já chega! Las Vegas será atingida em menos de duas horas por quinze mísseis! Todos eles irão diretamente para a nave! Preparem-se para o festival de fogos! Adeus Destruidores!”.

O telão chiou e desligou, trazendo-me de volta para a realidade a tempo de perceber o que acontecia; a porta de saída da nave acaba de se fechar, restando apenas uma pequena fresta por onde passar.

Lanço-me contra a mesma diante dos gritos da Soph, inutilmente. Carregando Sue e Reed, é impossível escapar da nave. A porta é lacrada, e posso ouvir engrenagens criando possíveis defesas para qualquer tentativa de saída.

— Dylan... — Sophia murmura, com Peter Parker apoiado nela.

Penso por um momento, a mente transtornada com o acúmulo de fatos. Merda, merda, merda! Precisamos agrupar o time... Precisamos formular um plano... Precisamos...

Um barulho vem contra nós, cada vez mais alto e intenso, devastador.

— Mas que... — chego a exclamar vendo poças de água se formar à nossa frente antes de uma onda quebrar no início do corredor e avançar furiosamente contra nós.

Sophia arregala os olhos.  O telão se desconecta da parede e cai no meio das águas com a violência das ondas.

— Dylan... — Sophia me encara com os olhos angustiados, logo que cambaleio, completamente atordoado com tudo isso.

Minha visão escurece por um momento, fazendo com que eu me perca da realidade.

— DYLAN!

“Dylan.”

A voz feminina não se parece com nenhuma que eu já tivesse ouvido antes. Abro os olhos. Um jardim exuberante se estende diante de meus olhos.

“Dylan...”

É um sussurro. Um sussurro amável. Caminho na direção do som, certo de que apenas ela pode me ajudar. Apenas ela pode me dar alguma salvação de tudo.

“Dylan...”

Uma sombra paira acima de mim. Olho para o céu, mas o sol consegue bloquear qualquer visão minha, forçando-me a colocar a mão diante dos olhos.

Um anjo. Um verdadeiro anjo com cabelos ruivos e olhos esverdeados paira sobre mim, sorrindo de maneira amável.

“Meu filho...”.

Gritos... Abro os olhos. Uma sirene começa a soar, e percebo que meu corpo foi bruscamente puxado para fora das águas.

— MAS QUE PORRA! — Simon berra, apertando meu ombro com mais força que o necessário enquanto me coloca em uma parte mais elevada do enorme salão da nave devastado pelas ondas.

— O que... O que aconteceu? — passo a mãos pelos olhos.

Sophia se encontra tossindo ao meu lado, tão encharcada quanto eu. Sue e Reed estão desacordados no piso ao meu lado, e o Homem-Aranha se encontra de pé, observando a correnteza com atenção.

— Você apagou. — Simon observa-me atentamente antes de estender a mão para mim. Apanho-a para me colocar de pé. Ele a aperta. — Está bem?

Meneio a cabeça positivamente, embora não esteja tão certo disso.

— Temos que encontrar os outros... — digo tentando fugir daquele sonho estranho.

— Ahn... Quem são vocês mesmo? — o Homem-Aranha volta-se para nós, com um ar confuso.

— Sou o Destruidor, e este é o Relâmpago. Ela é a Garota Invisível — Simon nos apresenta formalmente, com firmeza apertando a mão de Peter. Fico me questionando como o Walker conseguiu forças para se tornar um líder de verdade.

— Ah okay! — Ele olha desolado para as ondas. — São só vocês três o grupo de heróis?

— Não. Ainda faltam mais seis colegas nossos — responde Sophia, levantando-se. — Temos que ajudá-los a salvar os outros heróis...

— Outros heróis? Tem mais presos aqui... Mas o que está acontecendo afinal? — Parker questiona completamente perdido.

Aperto o ombro dele.

— Vamos explicar tudo no caminho. Mas agora temos pouco tempo para encontrar os outros antes que uma bomba detone nas nossas cabeças.