Tocava Titanium e eu cantava baixinho. Ele me olhou de canto de olho e achou graça.

–Gosta de coisas doces né? Morango talvez...

Ele tinha acertado.

–Como sabe.

–Só te vi de olho enquanto cortava , enfim, vou fazer algo pra você... Provavelmente com leite condensado, pra você não ficar bêbada logo.

Fiquei grata por isso. Glicose.

Ele me entregou o copo poucos minutos depois, cheio com a fruta até a borda.

–Obrigada – dei o primeiro gole.

Primeiro, como sempre, desceu ardendo na minha garganta. Mesmo sem experiência, eu sabia que ele tinha feito muito forte. Dei outro gole. O sensação de fogo na garganta não passou, mas eu sentia muito mais o gosto do morango e do leite condensado. E o melhor: a cada gole que eu dava, meus pensamentos sobre o Edu iam sumindo aos poucos.

Pedi outro, e dessa vez pedi pra ele fazer mais fraco.

Uma musica lenta começou a tocar e eu sai. O vento batia leve, o clima estava agradável mesmo que já estivesse bem tarde. Parei perto de uma piscina que tinha, a iluminação colorida abaixo da água e uma pequena cascata do lado oposto. Era linda. E tudo estava ótimo. Até alguém esbarrar em mim e derrubar meu copo na linda piscina.

Coisa típica que aconteceria comigo.

Por milímetros, eu não cai também lá dentro também.

Mas como nem tudo que reluz é ouro, eu cai e meu recente ferimento no joelho começou a sangrar.

–Mas que merda.

Me arrastei até uma das cadeiras que tinha lá por perto e analisei o corte.

O antigo corte estava um pouco mais profundo já que o chão era composto de pedra, e alguns novos arranhões tinham se formado.

–Desculpa, eu não...

Eu conhecia essa voz de algum canto. Levantei os olhos, furiosa, e reconheci. Era o primo da Laura, o que me pediu pra tirar as fotos no casamento.

–Ei, eu te conheço!

Meu joelho estava ardendo e eu tinha perdido meu copo – só pra constar, aquilo tava uma delicia!

–Foi no casamento! Você tirou as fotos pra mim.

–Dá pra pelo menos pedir desculpas? – acabei despejando de uma vez.

Ele arregalou os olhos espantado com minha reação.

–Desculpa, eu não queria ter te acertado. Quer que eu pegue gelo pra você?

–Por favor – foi a única coisa que saiu.

Ele não demorou e veio com outro copo igual ao meu – agora vários pedacinhos de morango boiavam pela água, brilhando com a luz colorida – e com um saquinho com gelo enrolado em uma flanela.

–Perguntei pro barman e ele preparou outro pra você, de novo, desculpa.

Ele estendeu a bebida e o gelo.

–Desculpa, fui grossa... E obrigada.

Apoiei o gelo no joelho e voltei a beber minha batida de morango.

–Você é amiga da minha prima Laura não é?

Só confirmei com a cabeça.

–Eu sou primo dela, prazer, Oliver.

“Eu sei”. Mas não disse isso. Ele estendeu a mão e eu retribui.

–Manuela.

Silencio. Tirei o gelo do joelho. Tinha parado de sangrar. Por sorte – ou costume mesmo – eu sempre carregava algum band aid comigo. Geralmente eles ficavam na minha carteira, e consegui encontrar um dentro da capinha da carteira de motorista.

Coloquei com cuidado e mexi um pouco a perna. Não era nada, só um corte.

Olhei no relógio, era pouco mais de uma da manha. Então não era tão tarde quanto eu pensei que fosse quando sai.

–Viu sua prima?

Ele fez que não com a cabeça. Estava ainda mais bonito sem o traje chique. Sapatenis, camisa polo clara e uma calça jeans escura. Que família...

–Vou voltar lá pra dentro.

–Posso ir também?

–Claro – quem sou eu pra impedir alguém de voltar pra uma festa?

Entramos e eu voltei para o meu lugar perto do bar. Ele veio atrás.

–A menina daquela hora que te pediu a tequila voltou aqui?

Ele girou uma garrafa servindo pra uma loira que agitava os braços e gritava.

–Ela já veio mais duas vezes. E logo te aviso que ela tá bem alta, e se não vi errado, ela já saiu.

–O QUE?

Peguei meu celular imediatamente e liguei pra ela. Caixa de mensagem.

Ah mas eu juro que mato a Laura!

Como ela pode me largar aqui? Eu tava puta da vida! Um casal chegou e pediram duas doses de tequila.

Eu nunca fazia nada por falta de coragem! E ai todo mundo decidia ligar o foda-se pra Manuela e largar ela sozinha em uma festa que ela nem sabia onde era.

Tava na minha hora de ligar o foda-se.

–Me da uma também.

Ele me olhou espantado e encheu o copo. Já que eu nunca tinha feito isso, segui o que o casal fez. Virei o copo

Se eu achava que aquela outra bebida descia queimando... Eu não tinha noção do que era realmente algo descer queimando! Aquilo subiu pra minha cabeça na hora, tive que me apoiar no balcão pra não cair, parecia que tinha brasa na minha garganta e tinham vários pontinhos pretos nos meus olhos.

–Epa, calma – o barman disse rindo de verdade – Dizem que só fica bom depois, que o primeiro é horrível.

–Otimo!

Consegui responder/resmungar. Estendi o copo pra ele e novamente virei. Era verdade, na segunda vez era muito melhor. Já não parecia que eu tava bebendo gasolina ou algo assim... O limão ficou uma delicia, meio docinho até. Aquilo descia quente, mas era um quente muito gostoso. Não dá pra descrever.

Ele estendeu um potinho com laranja.

–Dizem que com laranja é uma delicia também.

Estendi o copo de novo.

Ele tinha razão, com laranja era muuuuito melhor.

Só que tem um porem...

Tequila sobe extremamente rápido. Então depois do meu terceiro shot, eu não lembro de mais nada. Até acordar deitada em uma espécie de gramado, de algum prédio, sem minha blusa e com um cara de cabelos cor de areia do meu lado, só de cueca e camiseta.

Pelos deuses, o que eu fiz?