Boneca de Titânio escrita por Acydya


Capítulo 3
Tempo


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouquinho, não?
Aproveitem ;]



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Observou sua imagem refletida na travessa de metal e pensou em como seu ex-marido tinha razão.

Aquele lugar.

Era pior que o inferno.

Ainda observando seu rosto refletido na travessa, notou o quanto seus olhos estavam afundados, provavelmente por causa das noites mal dormidas ou talvez... Os remédios.

Passou a mão pela cabeça completamente raspada coberta por um lenço branco. Lembrava-se o quão longo seus cabelos róseos eram, de como Itachi levantava a mão e alisava-os em meio a um beijo. O único vestígio de que seus cabelos um dia foram cor-de-rosa eram suas sobrancelhas. Quando chegou aqui também quiseram raspá-las. Disseram que rosa era uma cor depravada e que exibia pecado. Conseguiu mantê-las depois de muito implorar. Porém não ligaria caso precisassem raspá-las hoje. Ela não se importava com mais nada, também não chorava, nem reclamava.

No inicio ela chorou.

Chorou como nunca.

Ela não entendia o que estava acontecendo, foi amarrada e levada para lugares que não queria.

Então, em algum momento, ela se cansou.

A porta de madeira gasta foi aberta e a Irmã Teresa passou por ela carregando uma bandeja com medicamentos. Começou a falar com sua voz grossa e imponente:

– Vou começar a chamar os pacientes para a dose diária dos remédios. Logo após terminarem de tomar, deverão ir diretamente para a sala de recreação. Se houver algum engraçadinho que mude o percurso o grupo inteiro será severamente punido.

A palavra “punido” ainda a fazia estremecer. Não se lembrava mais quantas vezes foi severamente punida por causa dos seus atos impuros e pecadores.

Colocou a travessa no balcão e deu uma rápida limpada no seu local de “trabalho”, pelo menos foi isso que as irmãs disseram. Ela particularmente via aquele emprego com uma forma daquele lugar lucrar com seus pacientes.

Os pacientes faziam pães e diversas massas para serem vendidas em outros lugares, todavia os únicos que lucravam com este método eram as irmãs, e se por acaso não quisessem trabalhar ou não cumprissem com sua meta diária, seriam severamente punidos “pelas mãos divinas do senhor”.

– Sakura Haruno. – Disse Irmã Teresa.

Ela branquejou.

Ás vezes não se lembrava do próprio nome, naquele lugar ela era apenas mais uma paciente. Virou-se e foi buscar sua dose de medicamento diária, e assim que os engoliu pode ver a cara de satisfação da irmã, e lembrou-se que aquela expressão era a mesma que ela fazia em suas sessões de choques elétricos. Abaixou os olhos e começou a caminhar pelo estreito corredor branco, porém manchado pelo mofo nas paredes, e assim que o corredor chegou ao fim, virou o rosto para poder enxergar a luz que vinha do hall de entrada daquele lugar. Fuzilou com os olhos a imensa placa do lado de fora que trazia os seguintes dizeres:

Casa de Repouso Santa Aby. Para doentes físicos e mentais.

Continuou caminhando e visualizou cada cômodo do lugar. Em um quarto havia um novo paciente tendo seus cabelos raspados, em outro havia uma jovem conversando com ninguém, e em outro havia um rapaz sendo espancado por um dos enfermeiros. Ela havia se acostumado com aquilo também, as grades, o cheiro de podridão e doença, as camisolas brancas diferenciadas apenas pelos vestidos pretos das irmãs, a rotina. Tudo fazia parte do seu cotidiano agora, e ela sabia que não sairia daquele lugar tão facilmente. Itachi a colocou ali apenas para torturá-la antes de matá-la, pois ela podia sentir que seus dias estavam contados.

Finalmente chegou á sala de recreação e foi logo se sentar em uma poltrona perto da lareira – que provavelmente nunca foi acessa – para passar seu tempo de descanso tentando se concentrar em algo. Percorreu a sala com os olhos e começou a se concentrar nos quadros, alguns rasgados, outros com um pouco de mofo.

Alguns pacientes estavam dançando uma música lenta e irritante que tocava do outro lado da sala, outros brincavam com brinquedos infantis, e havia também aqueles que passavam seu tempo encarando o nada e se perguntando o que diabos estavam fazendo ali. Olhou novamente para a lareira e bem á cima dela pode notar pela primeira vez um relógio amarelado pela poeira e pelo tempo. Seus ponteiros estavam paralisados e marcavam exatamente 11h43min, ela sabia que aquele relógio poderia estar ali parado por muito tempo e que provavelmente continuaria por muitos anos daquele mesmo jeito.

Porque ali o tempo não passava.

Naquele lugar o tempo simplesmente não existia.

[...]

A primavera estava em seu fim, e as folhas cada vez mais amareladas do jardim anunciavam o inicio do outono.

Por incrível que pareça, ela realmente adorava aquela época do ano. E de alguma forma aquelas flores amareladas lembravam-na de tempo que não poderia mais voltar.

– Por que não se junta a mim, Sasuke?

O jovem saiu de trás das árvores e sentou-se na cadeira do jardim ao lado mulher.

– Aposto que até o mais silencioso dos homens não passou despercebido por você, senhora Tsunade.

A mulher sorriu, ainda fitando as flores e bebericou um pouco mais do seu chá preto.

– Apenas um homem conseguiu passar despercebido por mim... Mas isso é outra história. – Respirou fundo e virou para fitar o garoto. – E você? Como anda tua prometida?

O jovem fechou a cara e respondeu friamente:

– Nem ao menos sabemos se vamos trazê-la pra cá, e não é um livro de profecias que irá dizer o meu futuro.

– Sasuke, você sabe muito bem que não tem como driblar os profetas...

– Senhora Tsunade, eles nem ao menos terminaram aquela porcaria de livro, as profecias estão todas pelas metades, não há como saber se nós estamos fazendo a coisa certa em trazer aquela menina pra cá...

– Ora, por favor Sasuke, seja mais compreensivo, o destino de todos nós já foi escrito, mas as ultimas paginas em branco nós mesmos preenchemos.

O moreno levantou-se já bastante impaciente e começou a andar rumo à saída do jardim.

– Á propósito, Sasuke... – Gritou a Loira para que o jovem pudesse ouvir. – Vamos esta noite.

O moreno estremeceu e virou para ter certeza do que estava ouvindo.

Tsunade sorriu e confirmou:

– Vamos trazer a garota para a mansão esta noite.

[...]

Socou novamente a parede de sua cela, estava impaciente porque esta era a quarta vez na semana que não conseguia dormir e não queria pensar nas conseqüências caso não fosse produtiva no dia seguinte.

– Ei, você é a paciente Sakura Haruno? – Perguntou um dos enfermeiros, de cabelos ruivos e olhos azuis.

Ela o conhecia. Era um dos rapazes que a espancou assim que entrou nesse lugar. Pensou em mentir, mas lembrou-se imediatamente que uma das primeiras regras era: “- nada de mentiras”, e imaginou como seria torturada caso quebrasse-a.

– S-sim.

O rapaz abriu sua cela e suas pernas começaram a tremer.

– P-por favor, não! Eu juro que não farei mais nenhum barulho, não fiz por mal. Por favor, não me machuque. - Gritou Sakura, encolhendo-se num canto da parede.

O enfermeiro correu para imobilizar suas mãos e tapar sua boca.

– Escuta aqui garota, você está me dando muito trabalho, se fizer mais algum barulho eu juro que arranco suas tripas com as minhas próprias mãos. – Sussurrou o enfermeiro em seu ouvido. – Agora me acompanhe. Calada.

No momento em que o ruivo tirou a mão de sua boca ela finalmente poder ver um estranho anel com um pentagrama entalhado em algo que parecia enferrujado.

Saiu de seu canto na parede e começou a seguir o enfermeiro.

O rapaz fechou a porta de sua cela e disse:

– Quero que fique atrás de mim, se ouvir qualquer barulho estranho, esconda-se no lugar mais próximo.

E começaram a andar na escuridão da madrugada em meio ao quarto dos outros pacientes.

– O que? Sasuke? Você só pode estar brincando. – Reclamou o enfermeiro com a mão no ouvido e a garota percebeu que o rapaz estava com um fone, ele pegou sua mão e começou a correr, parou no final do corredor, jogou-a dentro de um velho armário de produtos de limpeza e disse:

– Fique aí e não faça nenhum barulho. Acredite, é para o seu próprio bem.

Então encostou a porta deixando apenas um pequeno espaço onde ela pode ver o que estava acontecendo do lado de fora.

Ouviu dois homens conversando, até que pararam na frente do enfermeiro e um deles perguntou:

– O que está fazendo á esta hora fora da cama, Richard?

Sakura reconheceu sua voz e pelo espaço da porta visualizou a imagem do diretor do lugar.

– Me desculpe senhor, quando eu estava indo dormir ouvi um barulho estranho no quarto dos pacientes, mas já conferi tudo, estão todos bem.

O homem de cabelos óleos e que exibia uma barriga saliente, sorriu e desse para o rapaz que estava ao seu lado:

– Como pode ver senhor Itachi, esta é a casa de repouso mais segura que existe.

A garota pensou que iria desmaiar ao ouvir aquele nome, encostou seu rosto mais perto da porta para ter certeza, e lá estava ele.

– Fico feliz em ouvir isso, Irmão Peter. Bem, acho que a gente deveria continuar nossa conversa em sua sala, não? Pois, acredito que minha pobre esposa continuará aqui por bastante tempo, coitada. Quem diria que sua saúde mental está tão frágil a ponto de matar minha própria mãe?!

Por um momento Sakura pensou em sair daquele armário e dar um forte tapa na cara de Itachi. Porém sentiu algo estranho chutando sua perna e se virou para ver o que era.

E ali, bem ao fundo do armário, estava Richard, amarrado a cordas e com um lenço branco preço em sua boca. Seus cabelos ruivos pingavam de suor e seus olhos azuis estavam avermelhados de raiva e desespero.

A menina teve que olhar novamente no pequeno espaço para saber qual das imagens do enfermeiro era uma miragem, pois não acreditava que ali, bem na sua frente estava a cópia perfeita de outra pessoa.

– De qualquer modo, Richard. Vá para seu quarto, pois amanha temos muito trabalho. – Falou o diretor caminhando com Itachi para sua sala.

– Sim, senhor.

O rapaz esperou o diretor se trancar em sua sala com o moreno e então abriu o armário, puxou Sakura pelo braço e começou a andar rumo á saída dos fundos.

– Sasuke, estou indo para a saída dos fundos, a garota está comigo, venha logo ou os seguranças do Itachi vão perceber. – Falou segurando o fone no ouvido.

A garota estava assustada demais para perguntar qualquer coisa, então preferiu simplesmente seguir as ordens do ruivo.

Assim que chegaram perto da saída a porta abriu-se sozinha e do lado de fora estava um carro discreto, porém potente. A porta do carro foi aberta e de lá saiu uma garota com o cabelo preto azulado e olhos azuis como o oceano, carregando consigo uma manta marrom que foi colocada na cabeça de Sakura.

– Vamos menina, entre no carro. – Disse a garota, com uma voz tão doce que ela não ouvia a tempos.

Sakura hesitou por um momento, mas lembrou-se de Itachi, percebeu que não tinha mais nenhuma opção e pulou dentro do carro ao lado da garota de cabelo azuis.

O enfermeiro fechou cuidadosamente a porta dos fundos e assim que entrou no carro já não era mais o forte homem de cabelos ruivos, de uma hora para outra se transformou em uma linda mulher de longos cabelos louros e olhos azuis com curvas bem acentuadas.

– Fiz um ótimo trabalho, não é, Sasuke?! – Disse a loura acariciando o motorista de cabelos negros e rebeldes.

– Cala a boca, Ino. – Respondeu o rapaz, acelerando o carro e saindo em uma velocidade absurda.

Dentro da escuridão da noite, na sala de recreação da Casa de Repouso Santa Aby, um velho relógio amarelado pelo tempo que ficava acima da lareira voltava a funcionar.

O tempo estava começando a correr.


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Notas finais do capítulo

É o seguinte pessoal, sei que demorei bastante para postar, foram quase 5 meses, mais vou dar um jeito de atualizar mais as fanfics. E para que isso aconteça eu decidi deixar os capítulos um pouco mais curtos, porque é muito cansativo pra mim escrever 2.000 palavras de uma vez só {visto que eu começo a escrever e não paro até chegar na cena que eu quero}.
Bem, obrigada por me acompanharem até aqui :D
E comentem, por favor ❤



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