O Coração da Rainha escrita por Ami


Capítulo 5
Isso Não Pode Ser Amor


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostemmm!



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Mary

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Eu nunca pensei que seria passada para trás dessa maneira. Rainhas velhas e feias dão espaço a jovens amantes. Mas eu sou bonita, sou bem educada, agradável. Por que estou sendo trocada assim?

Kenna me levou ao meu quarto, onde fiquei chorando e pedi que ficasse sozinha. Ela se recusou.

– Por que você não vai lá começar uma balbúrdia? - perguntou minha amiga.

– Kenna, quem sou eu aqui nesse castelo?

– Você é a rainha!

– Eu sou a rainha da Escócia! A atrasada Escócia! Se Francis não se casar comigo, quem sai perdendo sou eu! Se ele escolhe ter uma amante, quem sou eu para negá-lo? No fundo eu serei só a esposa do governante da Escócia um dia. Sou só uma ferramenta, como todas nós, mulheres, somos.

Choraminguei. Espirrava. Adormeci deitada com a cabeça no colo de Kenna. Ela acariciou meus cabelos. Quando acordei, ela lia um livro ali perto e meu nariz escorria.

– Por favor, me diga que foi tudo um pesadelo – pedi.

– Não foi – Kenna estava triste por mim. Voltei ao quartinho para ver se Francis ainda estava lá. Ele conversava eletrizantemente com Olívia. Sobre aventuras, sobre tudo que ela passou. Era como eu gostaria de estar com ele. Ele era tão cordial comigo. Preocupado, mas apenas por sua boa educação, talvez.

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Bash

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Trouxemos os alces, veados, porcos, tudo que conseguimos caçar para o dia seguinte.

– Dona Josefina, esse é do bom – falei enquanto carregávamos o imenso porco para a mesa – Esse aí é do bom mesmo. Com uma maçã na boca, ó!

– Ah é. Mas é a dona Josefina que tem que lavar, tirar os órgãos, os pêlos...

– Não é verdade, a senhora tem ajudantes.

– Um bando de incompetentes – ela pegou o facão e começou o trabalho duro. Os outros cozinheiros preparavam pães. Tinha mel, tomates, ervilhas, um monte de temperos e acompanhamentos para os pratos. E eu já estava ficando com fome.

Mas estava sujo, tinha que tomar um banho. A caça foi boa. Gostei de passar um tempo com meu pai, é bom às vezes. Ele definitivamente gosta mais de mim do que de Francis, nem sentiu falta dele na caça e quando disparei no cervo, ele disse: “Não é à toa que é meu filho preferido!”. Sei que isso tudo se deve a minha mãe. Nunca aprovei essa preferência entre filhos. No entanto, isso me mantém vivo.

Joguei a roupa na cama e entrei no tonel. Finalmente tinham trocado aquela água. Passei sabão em tudo, até nos olhos. O sabão era uma mistura alquímica estranha, sem muito cheiro, mas ajudava a limpar. Os que minha mãe me dava tinham ervas aromáticas, coisas que eu não me importava, mas ela dizia que eram necessários para ter uma boa esposa.

E levantei para pegar minha roupa no armário. Diferente do meu pai, eu mesmo tinha que colocar minhas roupas. Honestamente, acho melhor do meu jeito. Estava peladão, do jeito que vim ao mundo. E lá estava Mary, sentada na minha cama. Viu tudo. Tudo que eu tenho. Tudo que papai e mamãe fizeram com carinho.

– Mary! Saia! - cobri minha região sensível e ela ficou olhando. Desde que ela descobriu aquela passagem, nunca mais me deu privacidade! Mas em vez de correr, ela ficou parada olhando fixamente para minhas mãos. Devia estar em choque. Corri de volta para o banheiro e nisso ela viu minha bunda. Nem minha mãe via mais minha bunda! - Se não vai sair, jogue-me umas roupas!

Sebastian, o tarado da rainha. Só faltava mais essa para piorar minha fama de bastardo.

Mary tentou agir.

– Desculpa! Não sabia que era sua hora do banho! - ela foi até o armário e meteu a mão em qualquer coisa que viu lá. Eram roupas pequenas demais, talvez trazidas por engano. Fiquei com as canelas à mostra com a calça que ela me deu e a roupa estava colada.

– Mary, o que você quer? - indaguei. Ela estava muda. Estática, me olhando como se eu a tivesse ameaçado com uma faca – O gato comeu sua língua?

– Eu não lembro o que vim dizer – realmente, ela parecia perdida em outro mundo.

Silêncio. Um constrangedor silêncio.

– Você está cheiroso – ela comentou, aproximando-se e me cheirando – O que está usando?

– Ervas que minha mãe me deu – virei o rosto porque aquela proximidade era proibida.

– Por que está vermelhinho? - ela insistia em me deixar mais sem-graça ainda.

– Mary! Estou totalmente encabulado! Não piore as coisas!

– Tudo bem – ela respirou fundo – Francis está no quarto com uma garota chamada Olívia. Eles se beijaram e tenho quase certeza de que essa foi a coisa mais decente das que fizeram.

– Uma loira? - perguntei, vendo-a chateada.

– Exatamente. Você a conhece?

– Sim, era namoradinha do Francis antes de você chegar.

– Eles se amavam? - sei que ela queria um não.

– Sim.

– Se desejavam?

– Mary.. - devia falar?

– Pode dizer.

– Acho que sim – isso foi um eufemismo de minha parte. Ela engoliu em seco.

– Eles chegaram a... - ela apertou seus lindos olhinhos.

– Mary... - como dizer isso?

– Diga!

– Sim, Mary. Acredito que sim.

– Ó céus – ela começou a chorar – Eles vão ser amantes mesmo?

– Mary, eu não sei – se fosse possível desdizer o que eu disse, eu faria - Eu não gosto de vê-la assim triste. Não chore.

– Como não vou chorar? Bash, estou sendo traída!

Ela cobriu seu rosto com as mãos e começou a chorar. Por instinto, eu a abracei. Acariciei seus cabelos e senti o perfume. Por que ela não enxergava que eu podia dar o que Francis não podia? Atenção incondicional. Mulheres nunca enxergam... Fiquei alentando-a em seu choro. Seus ombros eram delicados, sua beleza triste era ainda mais arrebatadora.

– Francis deve recuperar a consciência logo – esforcei-me para lhe dizer aquilo - Ele gosta de você, disso tenho certeza – senti necessidade de fazê-la sofrer menos, mesmo que isso doesse em mim.

– Você acha?

– Tenho certeza.

– Oh, Bash – ela beijou minha bochecha – Por que você é tão bonzinho assim?

– Porque.. eu gosto de... porque eu te... porque... porque eu sou o filho bastardo, tenho que ser legal com todos.

Mary girou os olhos e apertou meu ombro.

– Vou aguardar então – segurou minha mão e sorriu. E voltou ao seu quarto pela passagem.

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Mary

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Olívia sentava-se conosco na mesa de jantar, no almoço, no café da manhã. Sorrindo para Francis. Eles trocavam olhares, ela me evitava nos corredores. Esperei e esperei o fogo abaixar. Tenho certeza que ele visitava o quarto dela, Lola disse que viu. Embora ela não tenha ouvido os barulhos, é possível imaginar. Que raiva! Que ódio! Não aguentei mais. Puxei Francis pela gola após o jantar e disse-lhe:

– Já terminou seu divertimento? Ótimo, agora mande essa meretriz de volta para o cortiço de onde veio!

– Mary, não admito que fale assim de Olívia! - falou o senhor da justiça.

– Desculpe falar da imaculada Olívia, mas ela está se envolvendo com um homem comprometido!

– Mary, eu a desvirtuei! Tudo que planejo é encontrar um bom marido para ela, para que possa me livrar dela – segurou meus ombros – Mary, tudo que eu mais quero é me casar com você.

– Vocês se beijaram? - tentei investigar até onde ia a sinceridade dele.

– Não...

– Francis...

– Sim! Uma só vez, no dia em que ela chegou.

Equilibrei minhas lágrimas e cruzei meus braços. Se a lágrima caísse eu não queria mais ser rainha!

– Eu a quero longe daqui!

– Mary, não posso fazer isso ainda. Por favor, tente entender! Éramos crianças, cometemos erros! Daí eu te conheci! E você está acima de qualquer namorinho, de qualquer flerte, acima de tudo.

Ele estava indo pelo caminho certo.

– Então eu quero que diga a ela na minha frente.. Que não sente nada por ela e que é a mim que você ama.

– Mary... - ele coçou a cabeça, nervoso – Não posso fazer isso...

– Chega.

Saí da frente dele. Estava com nojo de Francis.

Ele jamais tocaria meus lábios novamente!

Não enquanto aquela rameira não saísse do castelo.

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Bash

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Eu estava fazendo minha ronda, a cavalo. Era considerada uma tarefa para soldados, Francis não faria. Então tinha que ser eu, o faz-tudo. Encontrei alguns guardinhas dormindo e ameacei contar para o meu pai. Eles me deram umas canecas de cerveja e estava tudo certo. Parei em frente a uma oferenda que vi no meio do caminho. Era um jarro de sangue com uma pomba branca morta com flechas pagãs do lado. Estava escrito Diane no jarro. E havia um emblema de cervo ali. Tinha que mostrar para minha mãe. Enterrei aquela oferenda, com certeza ela sabe do que se tratava, ela me contava histórias sobre os pagãos. Fui voltar para o palácio e me deparei com o mangue.

Mary estava sentada à beira do lago, secando seu rosto. Espirrava.

– Ora, ora, a rainha dos baixinhos nesse lodo? Como conseguiu chegar aqui?

Ela me mostrou os sapatinhos ao seu lado, no tronco onde estava sentada. Seus pés estavam atolados delama.

– Alguém sabe que está aqui? - perguntei, curioso. Ela estava chateada com Francis por Olívia, é claro. Queria ficar aqui sozinha.

– Quer que alguém saiba que está aqui? - mudei a pergunta.

– Não – ela não havia me olhado ainda. Secou mais algumas lágrimas.

– Ok – fui indo embora – Vou voltar para a ronda.

– Espere – ela se virou para mim, mostrando seu rostinho magoado – Bash, senta aqui.

Fiz o que ela me pediu, tentando não escorregar naquele chão impropício.

– O que você acha de mim? - ela me perguntou, segurando minhas mãos sem perceber no quanto aquilo mexia comigo.

– O que eu acho de você? Em que sentido?

– Tudo. Você me acha feia? Acha que Olívia é mais bonita que eu?

– Claro que não, Mary – eu ri – Pare com isso. Você é linda.

Ela sorriu. Fiquei vermelho ao perceber a maneia como falei aquilo.

– Não é lá essas coisas, mas é melhor que a Olívia, pelo menos – tentei consertar o que havia dito.

– Besta – ela voltou a olhar para o lago – O que tenho de errado? Acha que pressiono Francis e Olívia o faz sentir livre?

– Possivelmente.

Ela me olhou com cara azeda.

– Poxa vida, você também não me ajuda! - ficou emburrada.

– Mary, Francis não é muito inteligente. Mas sei que ele gosta de você.

– Não, ele não olha para mim como olha para ela – Mary suspirou – Pensando bem, acho que ninguém nunca gostou de mim pelo que sou.

– Isso é mentira – soltei sem perceber. Ela ficou esperando eu argumentar – Bem, sua mãe gosta de você.

– Minha mãe? Ora, por favor. Ela só gosta do poder.

– Você deve ter gostado de alguém na sua infância...

– Até que não. Sempre me impedi de amar. Queria me resguardar para uma pessoa que não fez o mesmo por mim...

– Deve haver alguém – peguei um pedaço de pão no meu casaco e tirei uma migalha. Joguei no lago e começaram a se amontoar peixinhos na superfície. Mary sorriu.

– Faça de novo – pediu.

Joguei mais pãezinhos. Mary, então, mostrou algo que levava na bolsa. Um pedacinho de pão, também.

– Fazíamos isso – ela sorriu tão encantadoramente que meu coraçãozinho fraco derreteu-se – Você foi o único que gostou de mim quando eu não era nada mais que um pingo de gente.

– Você ainda é um pingo de gente – eu ri, olhando de soslaio a careta que ela fez.

– E você ainda gosta de mim?

Silêncio.

Meu coração derretido endureceu e palpitou forte. Ajeitei a gola, suei.

– Do que está falando, Mary? - ela virou-se de frente para mim, embora eu ainda estivesse de lado, nervoso.

– Bash, o que sente por mim?

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