Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 122
Capítulo 121


Notas iniciais do capítulo

EITA

E EU QUE QUERO CONTAR TUDO, COMO FAZ?



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— Acho que sei exatamente o lugar.

Iara soa misteriosa, com o olhar longe e brilhante. Para que seu rosto não ficasse vermelhinho vermelhinho, decido nem perguntar. Ainda.

— Então já temos uma coisa garantida.

— E no dia que a gente for, eu posso dar carona pra você e o Gui até a faculdade, e aí ele não vai sacar que é uma surpresa...

I sorri, toda engenhosa, arquitetando mais deste plano. Uma saída surpresa para comemorar o aniversário do Sávio. A ideia partiu do Bruno, na verdade. Ele tá doido pra matar aula e quando soube que o Sávio faria aniversário no fim do mês, pra ele a ideia foi juntar o útil ao agradável. Só que estamos pensando em fazer em um dia que não seja de fato o níver dele, pra realmente ser uma surpresa, embora vá cair bem numa quinta-feira.

— E se me vir por lá, posso dizer que estou dando uma olhadinha, já que vou estudar lá mesmo.

Ela enfim escolheu a instituição! Só consigo pensar que tenho muita sabedoria pra passar pra ela. E, claro, ficar muito feliz.

— BOA, I! AMO como você pensa, cara!

— Eu tenho meus momentos.

Iara esnoba com um beijinho no ombro, toda charmosa, enquanto termina de assinar um papel para a recepcionista. Logo que cheguei na empresa, ela já veio me bombardeando de ideias, sem nem colocar direito o pé pra dentro.

— Se eu tivesse na minha casa, faria uns cupcakes. Não tenho coragem de fazer bagunça na cozinha da casa alheia. Talvez a gente rache o bolo? A gente vai levar bolo?!

— Bolo? Quero.

Gui e suas clássicas entradas aleatórias na conversa. Ele se esgueira pelo balcão do lado de Iara, enquanto eu tô na outra ponta. Quando chegamos, ele foi direto para a sala dos estagiários e por demorar a voltar, imaginei que nem apareceria ali, daí eu conversava de boa com a I sobre o níver do Sávio. Meio sem jeito pela aparição da criatura, ela entrega o papel e a caneta para a moça da recepção, e o súbito silêncio nosso fica claro demais. Coisa que ele não consegue compreender de primeira.

— É aniversário de alguém?

— Sim. Do Sávio, lembra? Esse mês.

— Ah...

Gui coça um pouco a cabeça. O cabelo dele finalmente começava a despontar. Quando acho que ele vai vazar ou mudar de assunto, ele, um tanto tranquilo, se vira com a gente e pergunta:

— E vai ter bolo? Festa?

Acho que nem eu nem Iara estávamos prontas pra ouvir isso; somos tão pegas de surpresa que nem conseguimos reagir, senão olhar para o Aguinaldo, que nos encara de volta, ainda tranquilo.

Lembro instantaneamente daquele dia que ele falou de opções de presentes pro Sávio e mais uma vez nem me manifesto, para que Iara tome conta de responder ela mesma, coisa que ela vem fazendo muito bem. Gui precisa ver e ouvir de Iara como ela se sente pelo que ele faz ou deixa de fazer quanto ao relacionamento deles.

— Estamos pensando em... hã... uma saída. Surpresa. Nada demais.

— Hum. Que dia vai ser?

Percebo que Iara aperta ao peito a prancheta que levava consigo, um pouco tensa. Entramos no corredor principal e basicamente vamos só seguindo no caminho.

— Ainda não sabemos bem. Mas... Vai ser bem... íntimo, sabe?

— Ah, só vocês dois? Mas a Lena não tava falando do bol...?

— Só os amigos mais íntimos, se é que você... bem, entende?!

— Ah.

Até eu me sinto desconcertada. Não deveria, né?

Chegamos ao final do corredor principal e I para, porque ela seguiria pro outro lado. Geralmente a gente se aparta lá no ponto do café, mas acho que a Iara não queria seguir com esse clima em suspenso. Ela não queria magoar o Gui também.

— Olha, Gui... Valeu pelo interesse. De verdade. É só que... É o dia dele, sabe? Dia de estar com as pessoas que gostam da gente. E acho que ele não ficaria bem... Quer dizer, eu gostaria muito. Muito mesmo. Mas não agora, ok?

— Não, tudo bem. Eu entendi.

— Espero que não fique... Errr... Ok?

— Não, de boa. Entendo.

— Bem, eu vou... Vejo vocês depois.

Seguimos para nossa ala em silêncio. Gui pensativo, eu tentando não pensar demais. Quando vejo a Roberta saindo da sala de reuniões, quase posso suspirar de alívio. Também não queria ficar nesse clima, tampouco conversar sobre isso nesse momento. Mexer nesse assunto era complicado. Uma coisa é não mais agredir o Sávio, outra é querer aparecer no aniversário dele, assim, sem mais nem menos. Certo?

Ele está tentando, lembro. O que também é por isso que não devo falar nada.

Ia chamar atenção da Roberta pra falar qualquer coisa, mas ela puxa o celular do bolso, atende uma ligação e sai de cena. Como ainda tá cedo, e a maioria ainda nem chegou, me vejo procurando o que fazer, sem saber o que poderia ser.

— Não te preocupa, não vou perguntar nada.

— Hum?

— Não vou perguntar nada do aniversário. Eu só tava te procurando pra dizer que saíram as notas da professora Silvana. Eu sei. Agora que ela aprendeu a usar o sistema. Então... Te vejo depois.

~;~

 

— E agora?

— O site caiu.

— Também, né, a faculdade inteira tá desesperada por essas notas.

No banquinho do jardim, assisto meus colegas de turma conversarem sobre seus resultados nas provas. Basicamente tá todo mundo acompanhando os updates das notas irem ao ar, seja com notebooks abertos, seja com celulares à mão. Não é um cenário comum, mas isso já aconteceu uma ou duas vezes. Geralmente os professores soltavam as notas todas num horário só, e agora mudaram. Acho que antes tinha mais suspense por conta das notas da professora Silvana, que resistia em usar o sistema.

Mas agora, já não sei dizer. O acesso é tanto que o site caiu. De novo.

Saboreio o pudim que ganhei da Flávia – ela havia perdido nossa aposta do velório: disse que apostava que a gente tiraria boas notas e, bem, só nos demos bem na disciplina de Max. No restante de disciplinas, dei uma boa despencada, e eu tava era até felizinha por não ter despecado tanto quanto eu esperava – como um 3 ou 4. Até então, a minha mais baixa foi 5,5, no provão de Sanches. Falta só a nota da professora Amália sair. Não sei o que esperar, sinceramente. Enquanto isso, só quero saborear mesmo meu pudim. Um momento de sossego.

No espaço de bancos do jardim, há diversas turmas misturadas. Tá uma zona porque, apesar de ter saído as notas de Sanches, por exemplo, saiu só de algumas turmas. Na turma da Keila, já saíram as da professora Amália. Um show de 4 e 6. Eu tirando 6, já me dava por satisfeita. Minha primeira nota na matéria me garantia o luxo de cair assim.

Quando outra turma se agita por o site ter voltado, já no último pedaço de meu pudim, me pergunto onde se meteram meus amigos. Dou uma escaneada no local com o olhar e mais um pouco do pátio de que posso alcançar e nenhum vislumbre das criaturas. Gui disse que ia no banheiro e nunca voltou. Flá disse que tinha uma ligação, saiu esbaforida e sumiu. Alcanço minha bolsa, aceno para as meninas ali do lado ansiosas e descarto o potinho de pudim com a colherinha no lixo. Ao chegar ao pátio, dou de cara com Bruno e sua boca cheia de coxinha de uma grande mordida que deu, ele numa mesa junto de outro carinha de sua turma, Acácio e Sávio. Aceno para eles e bato de leve no ombro de Bruno.

— Vai com calma, cara. Quer engasgar, é?

Ele murmura algo que não dá pra entender, de tão cheio de galinha e massa que está. Sento ao seu lado, na ponta da mesa que dá para um banquinho, e espero que termine de mastigar. O outro cara de sua turma, que não sei o nome, na outra ponta da mesa à minha frente, checa o sistema pelo celular e diz que ainda não saiu o resultado de Silvana. Tomando um pouco de suco, Bruno consegue falar.

— Hoje não deu pra comer no serviço. Tava morto de fome!

— Foram duas coxinhas e um pastel.

Sávio entrega o Bruno com graça enquanto digita algo no seu notebook. Nem olha pra gente, mas consigo capturar um riso seu.

— Menino saudável.

— Foi o que o dinheiro pôde comprar. E aí, como estão suas notas?

— Falta só uma sair. Mínima, 5,5 no Sanches, máxima, 8,5 no Max. Como gira esse mund...!

— Miiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Me jogo um pouco pra cima do Bruno quando a Flávia vem toda animada na nossa direção. Ninguém no pátio dá conta além da gente porque, mesmo à calmaria de todo mundo com úlcera no estômago esperando as notas saírem, Flávia não é uma pessoa assim conhecida para as pessoas lhe darem tanta atenção mais que o habitual. Não como a Dani.

— Saiu a nota de Amália?

— Não, melhor que isso! Muito melhor!

Minha amiga chega ao meu lado no banquinho acho que sem perceber quem estava ali na mesa, de costas para ela – Sávio, que se mantém impassível em seu canto. Flávia dá pulinhos e bate palma anunciando algo muito bom e eu fico na expectativa que ela fale algo.

— Consegui passar no seletivo do Centro Meteorológico! Vou para a entrevista! AAAAAAAAAAAAAAAAA!

Levanto de pronto para abraçar minha amiga e parabenizá-la. Eram realmente BOAS NOTÍCIAS. Esses dias ela fez que não estava ansiosa, despreocupada, se distraindo com qualquer coisa só pra não pensar no resultado desse seletivo.

— Parece que eles estão mudando de prédio e vou fazer a entrevista já nesse outro lugar. E tu vai treinar comigo, bonita. É pra ligar até pra Aline, pra me passar toda a ajuda possível.

— Méritos tu nem quer, né?

— Méritos eu arrumo depois.

Assim que nos desvencilhamos, que Bruno já emenda um parabéns, assim como os outros dois ali, desejando boa sorte para Flávia, que ela agradece e finalmente diz Oi para a mesa. Para. Toda. A. Mesa.

— Oi, gente. Oi, Sávio.

De rabo de olho percebo que Sávio se retesa e, noto, por dois segundos ele para de editar o documento de texto que tinha aberto no notebook. Meio sem jeito, ele responde, educado, olhando-a de rabo de olho.

— Oi, Flávia. Parabéns. Tenho certeza que vai conseguir sim. Você é muito boa no que faz.

— Ai, obrigada, Sávio!

Ela toca no ombro dele ao agradecer. Flávia. FLÁVIA. ELA TOCOU NO SÁVIO. EM AGRADECIMENTO. ELA TÁ FALANDO COM ELE. Meu cérebro meio que trava. E o Sávio junto, que fica tão sem jeito, encabulado, ainda mais porque a mão dela ainda tá lá. Ele finalmente se vira pra ela, desconcertado, e assente. Meio boquiaberta, espio o Bruno, pra ver se ele tá vendo o mesmo que eu, e ele tá, meio chocado, enquanto que seu colega de turma tá distraído com algo no celular sem se dar conta do que realmente tá acontecendo ali, mas vejo que Acácio percebe que há um clima diferente.

Emocionada, tento disfarçar pra não dar alarde, claro. Quero abraçar minha melhor amiga de novo e com uma força tamanha. Um passo desses significa tanto que nem sei dizer... Mas ao observar como está Sávio, desconfortável, vejo que para ele isso tem outro significado. Em meio a tudo isso, que deve levar apenas um segundo, tento concentrar o assunto pra ir com cuidado. Só que, merda, gaguejo.

— E... e... hum... tá pra quando?

— Daqui a dois dias e... Guiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!

Ao ver o namorado chegando ao pátio do outro lado, vindo ao que parecia do estacionamento de trás, Flávia salta para ir ao seu encontro e contar a novidade. Assistindo ela empolgada, abraçando o Aguinaldo e eles comemorando, Bruno comenta baixo comigo. Eu ainda tô recuperando o fôlego.

— Foi o Vini também? Que fez esse milagre?

Fico um pouco desnorteada, pra falar a verdade. Sávio, tão perto dessa nossa bolha, nem fala nada, acostumado a guardar seus sentimentos.

— Não sei. Não tô sabendo de nada.

Quando sento de novo, que tento sorrir para o Sávio para mostrar que eram boas novas, ele... Ele não devolve. Parece mais atrapalhado, até que para um momento, apoia o cotovelo na mesa e segura a cabeça. Quase posso agradecer Acácio por quebrar o gelo junto ao colega de Bruno perguntando algo aleatório para o Sávio, que só então se recompõe. Estava procurando me concentrar nisso, quando Flávia aparece de novo. E com o Gui. De boa.

Ela parecia estar trazendo o Gui, embora, pelas mãos dadas deles, ele não parecesse estar resistindo. Eles se sentam com a gente, aparentemente tranquilos, ao lado de Bruno, na outra ponta. Meu amigo fica tão perdido quanto eu, de novo. Já Sávio, embora tenha parado de digitar o que estivesse digitando, não tirava o olho da tela de seu notebook. Isso até que ele se mexeu, fez um comando para salvar o documento que mexia e num movimento rápido, fechou a máquina e se levantou para sair. Faltavam poucos minutos para acabar o intervalo, mas mesmo assim... Eu fico tão sem ação que não sei pra onde olho.

Sem segundas intenções e até um pouco afetada, Flávia diz:

— Já vai, Sávio?

— E-eu... sim.

No modo mais rápido que pôde, Sávio cata suas coisas e pega a rampa para ir para nossa classe. O colega de Bruno aproveita o embalo também para recolher seu material e sair. Nós restantes, ficamos ali, meio estáticos, o pátio barulhento pela nova nota que saiu.

Ao avistar Max saindo da sala de professores, que seria o próximo horário para minha turma, Acácio logo se levanta e se apruma para seguir para a classe também. Logo que ele diz “até depois”, eu decido ir junto. Ninguém mais conseguiu dizer coisa alguma. Bruno ainda nos acompanhou até o pé da rampa, até se lembrar que tinha que buscar um material que deixara na sala da xerox.

Me enturmo com a galera que estava subindo, junto com Acácio, pra me distrair um pouco. Ao chegar na sala, avisto Sávio em sua carteira, fechado em si. Acho melhor lhe dar um tempo, até porque eu também não queria mexer nisso mais que o necessário. Confusa era a palavra certa. Nunca achei que chegaria a esse ponto, mas... um combo de aulas de Max estava vindo a calhar muito nesse instante.

~;~

— E ele disse algo... sobre ela?

— Nada. Ainda não quer falar sobre isso. E pra falar a verdade, acho melhor deixar quieto por agora.

Suspiro, me reafirmando que tá tudo bem. O Murilo tá bem. E tô bem porque ele tá bem. Mesmo que ele não tenha encontrado nada de caderno, anotação, o quer que seja. Até que ele estava mais empolgado ontem em procurar, mas... não deu em nada. Diz meu mano que ainda vai fuçar em algumas coisas mais. Não queria ter lhe dado essa esperança. Mas de geral, ele diz estar bem. Só estamos muito cansados mesmo.

Hoje, por exemplo, eu queria estar na minha cama no momento. Minha zona de conforto, meu cantinho. Até mesmo lavar uma louça pra pensar na vida. Às vezes a família da Flávia não quer que eu ajude, porque sou hóspede. Tenho muito respeito por eles, mas, realmente, hoje em especial, eu queria poder fazer alguma coisa só pra deixar o pensamento mais livre. Não acredito que estou eu com saudades de fazer coisas de casa. Enquanto isso não acontece, me afundo no almofadão de Flá, no meu colchão, e fito os números do tempo de ligação correrem na tela do meu celular. Conversar com o Vini me aliviava um pouco, pelo menos.

Contava sobre o milagre de ter ligado pra ele neste fim de noite (ele quem perguntou!), já que geralmente falo com o meu irmão a essa hora. Hoje ele não me atendeu e o Vini não ligava por ser a “segunda opção”.

— Ele vai contar quando achar que deve. Tem muita coisa na cabeça dele pra lidar quando o assunto é... Bem, você sabe. Mudando de assunto, tenho uma pra te contar.

— O quê?

— Consegui o aparelho de som com toca-fitas e... A voz da minha mãe é mesmo muito parecida com a Dani. Tipo, surrealmente. Eu ainda tô meio assustado aqui.

Mordo o lábio, de repente, animada por ele.

— Essa fita misteriosa sempre me deixou curiosa. Tem quantas músicas?

— Nem sei direito. Não sei o que é uma fita faz muito tempo.

Rio, apesar de eu mesma também não lembrar bem.

— E por que não perguntar pra Djane?

— Nah, eu não quero mexer com os sentimentos da minha mãe. Ou do meu pai.

— É, de fato.

— Já quero que o fim de semana chegue pra te mostrar. E pra te animar um pouquinho. Nosso fim de semana já foi passado pra trás assim?

— Como assim?

— Você tá quieta hoje.

— Ah. Algumas coisas na cabeça. Desculpa.

— Ei, não precisa se desculpar.

Suspiro novamente, mas mais pra relaxar um pouco.

— Acho que hoje é só um daqueles dias que eu queria... estar.

— Estar?!

— Estar em casa. Ou estar com você. Abraçar você.

— Não me diz essas coisas, que eu pego o carro e vou aí.

— Tentador, namorado, tentador. Mas já é meio da semana. Melhor, fim de noite de uma quarta-feira.

— Vou te deixar descansar. Com tudo que tem acontecido, não pode dormir tarde não, namorada. Coisas acontecem aí nessa cabecinha.

Pior que é verdade.

— Obrigada.

— Pelo quê?

— Por me entender e me conhecer... e me amar assim.

Se eu não podia me aconchegar na minha casa ou no namorado, que ao menos as palavras fossem um alento.

— Olha, deixa só eu achar minha chave...

Sorrio um riso fraco e me endireito no almofadão quando a Flávia entra no quarto escuro de mansinho. Só a luz do meu celular iluminava o ambiente.

— Vou desligar. Te amo, namorado.

— Te amo, namorada.

Encerro a ligação, mas ainda deixo a tela do celular acesa, para a Flá poder se mexer pelo quarto.

— Pensei que você estivesse falando com o Murilo.

— Ele não atendeu. Daí liguei pro Vini.

Desde a aula, a gente conversou bem pouco. Eu e a Flá, não eu e o Vini. Bem, eu, a Flá e o Gui. Só realmente quando necessário. Já em casa, mandei uma mensagem para a Aline para pedir dicas sobre o entrevistador de Flá e o assunto não rendeu muito depois daí. Logo preferi me retirar, enquanto minha amiga ainda ficou por ver um filme na tv. Mas agora, acho que o cansaço bateu nela também.

Quando ela alcança a cama, ajeito umas últimas coisas no meu celular e coloco na cômoda acima de mim. Assim como eu, Flá se embrulha com o lençol, e só o que podemos ouvir no espaço é o som do ventilador fazendo seu trabalho. Quando finalmente me aquieto numa posição para dormir é que sinto o peso do dia me cobrir e quase posso me fundir ao colchão, relaxando o corpo.

Uns minutos depois de pensamentos vagando no escuro, Flávia se manifesta:

— Tá acordada?

Estava um pouco sonolenta, mas não dormindo de todo.

— Tô.

— Você... A gente não tá se falando?

Acho que posso dizer que eu estava mais pra lá do que cá, porque não entendi de primeira. É que, realmente, meu pensamento tava vagando longe.

— Não tô dormindo não, pode falar que tô ouvindo.

— Não... É que... Você tá chateada?

— Com o quê?

— Com o que houve no intervalo.

— Hum? Ah.

Não consegui dizer nada mais porque, sobre isso em específico, ainda me sentia um pouco “barata tonta”. Devia estar chateada pela abordagem deles? Não sei dizer. Fora uma mudança tão repentina.

— Não foi minha intenção, Mi. Juro. Ou do Gui.

— O que não foi intencional?

Não minto, tava curiosa pra saber mais sobre essa atitude deles. Mas como foi tudo muito surpresa, imagino que eles não queriam falar sobre o assunto também. Por isso achei melhor preservar-nos, até então, de perguntas sobre o caso.

— O q... Ok, a gente quis... se reaproximar, mas não sabíamos como... E aí só... sabe? Foi intencional estar ali. Mas com a melhor das intenções. Juro, Lena. Juro mesmo.

Ainda não sei como me sentir com tudo isso, porém, só um pensamento me vem neste momento:

— E por que tá explicando isso pra mim?

— Porque... Quê?

Mais branda, repito:

— Por que tá explicando isso pra mim, Flá?

— Porque você ficou chateada.

— Por que diz isso?

— Você não tava com uma cara muito boa. E ficou sem falar com a gente praticamente... Quer dizer, falava, mas não parecia... Errr... Me desculpa. Não era pra sair assim.

— Não minto que fiquei... mexida. No começo fiquei feliz, de verdade. Mas... Foi muito do nada, sabe? Foi meio estranho... E aí o Sávio levantou. Foi como expulsar o cara da própria mesa.

Flávia murmura, com culpa.

— Eu sei.

— É só que... acho que a intenção de vocês não ficou clara. Não podemos culpar o Sávio por interpretar de outra maneira.

— Eu sei. É que eu tava... animada com a entrevista... e aí você tava lá... e o Sávio também... E aí o Gui... Pareceu certo. Mas desculpa se...!

Ela tava mesmo mais preocupada comigo do que com o Sávio?

— Flá, você tá se ouvindo?

— O-o que quer dizer?

— Você tá preocupada com a pessoa errada. Aliás, pedindo desculpa pra pessoa errada. Sim, eu fiquei confusa na hora... Mas a questão aqui não sou eu. É o Sávio. Se vocês querem se reaproximar, ótimo, fico feliz, feliz mesmo, mas... falem com ele primeiro, ok? Conversem com o Sávio.

— Tem certeza que não tá brava?

— Não estou. E mesmo que tivesse, não se trata de mim aqui. Não é a nossa relação em questão. Eu não tenho que desculpar nada. Vocês que têm que conversar com o Sávio. Só isso.

Minha amiga fica um tempinho silenciosa.

— Será que ele aceitaria falar comigo? Só de... Ele levantou e foi embora. 

— Bem, não foi a melhor abordagem, né? Mas creio que vocês possam fazer melhor. Eu sei que sim. E só pra constar, eu não estava dando gelo em vocês não, viu? Só preferi dar um tempo. Também porque estava cansada.

— Acho que só interpretei de outra maneira... E acho que entendo agora o que às vezes você fala sobre pegar o caminho mais fácil.

— Se eu não tivesse tão sem forças, Flá, eu te abraçaria. Me lembra pela manhã. Até porque também é provável que eu não lembre que tivemos essa conversa.

— Você não tá nesse nível ainda.

— Como pode ter certeza?

— Eu... meio que sei. Boa noite.

— Boa...

Sem mais resistências, deixo que o sono me carregue para longe.


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Notas finais do capítulo

Só pra aumentar o suspense:

"- Eu fiz uma coisa... e não sei como te dizer.
Tomo um segundo pra processar isso, conforme seu tom, conforme sua apreensão.
— É algo... hum... ruim?
Ela assente, de repente muito atenta às unhas coloridas, sem me olhar.
— E foi bem intencionado?
Ela inspira antes de responder.
— Não sei dizer.
— Você se arrepende?
Ela me olha de relance, constrangida, e assente novamente.
— Muito."

*segurando mais spoilers aqui*



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