Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 93
Oito. Ainda existe luz.




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Foi a primeira vez em muito tempo em que Robin conseguiu ter um pouco de paz interior naquela praia. Um homem surgiu de uma ruptura escura criada por ele mesmo e então surgiu com um corpo em mãos. Robin, por ser um herói agora, teria que perguntar o que aquele homem estava realmente fazendo. Mas ele não sentiu nada de ruim nas ações daquele homem. Aquele sujeito era um homem bom que estava passando por perdas consequentes na sua família, Robin não teria porque abordá-lo, era uma boa pessoa... Não estava fazendo nada de errado.

 

Na verdade não seria ele que estranharia a ação, mas o próprio herói dentro de si. O herói estava se aquietando dentro de sue corpo, parecia estar se manifestando poucas vezes. Parecia ter encontrado um lugar dentro do corpo do nosso protagonista que encarava o mar sem preocupações e sem arrependimentos da sua curta vida que seria interrompida pelo fim daquele universo. Ele não tinha muitas boas lembranças daquele mundo, mas as que ele tinha ele gostava demais. Eram boas memórias que levaria para até depois do fim do universo.

 

Por que o universo estava terminando mesmo? Era tão estranho esse sentimento de saber que estava acabando, mas não saber o motivo. Era como estar completamente alienado às situações adversas apesar de saber do acontecimento. O herói dentro de si disse “Não se preocupe com o motivo! Poderemos impedir o fim do universo com a nossa força!”. Lá estava ele novamente, riu Robin, isso estava começando a ficar cada vez mais engraçado.

Fazia uns dias desde que tinha retornado de seu exílio no exterior que parecia ter durado anos. Não foi tanto tempo tantos anos assim, mas aconteceram tantas coisas e Robin tinha mudado tanto. Quem era o Robin de antes? Ele não conseguia se lembrar, e também não conseguia lembrar-se de como se comportava, de como eram suas conversas com Frota. Frota sempre foi uma pessoa muito compreensiva e adorável, o seu melhor amigo, sem dúvidas, ele lembrava os sentimentos que tinha enquanto conversava. Eram sensações diferentes da que sente agora quando está com Frota, provavelmente porque tem a consciência de que está apaixonado, mas eram sensações boas. Caso o universo não estivesse pra terminar, talvez pudessem voltar a se ver normalmente e quem sabe começariam a namorar antes mesmo de um pedir pro outro.

 

Robin sentia que era melhor por enquanto que ficassem distantes. Era uma dessas certezas que seu espírito tinha convicção sem saber o motivo. Ah, uma dessas verdades alienadas. Ele tinha dado um nome melhor para isso em um dos capítulos anteriores só que o narrador assim como o próprio Robin também esqueceu.

 

O homem distanciou da praia com suas mãos no bolso de sua calça jeans. Robin voltaria a encontrá-lo, ele tinha certeza. Estava cansado de pensar que tinha certeza das coisas sem saber o motivo, isso realmente o incomodava. Pensava que um tempo na praia fosse ajudá-lo, mas era quando a sua mente estava vazia que as coisas mais o importunavam.

Eram três da manhã e faltava algumas horas para o sol nascer ainda, Frota ainda não tinha bem ideia do que fazer. Ele sentia que precisava resolver algumas coisas antes que aquele mundo terminasse, mas ele não tinha certeza se isso mudaria qualquer coisa porque em breve o mundo estaria para terminar, né? Era outra dessas certezas alienadas, só que essa parecia fazer mais sentido... Robin via o mundo morrendo ao seu redor em pequenos detalhes. Era o brilho do mundo se perdendo, eram os astros no céu tendo dificuldade de se comunicarem um com o outro. Robin gostava de ler as estrelas, elas diziam algumas coisas para ele. Por exemplo, uma delas tinha dito que gostava bastante dos músculos do rapaz, e outra tinha dito que era uma boa ideia comprar inhame amanhã porque estaria em promoção na feirinha da rua principal. Algumas vezes ele ouvia conversas sem nexo, como as estrelas murmurando coisas que ele não entendia e provavelmente não eram pra ele. Deviam estar conversando uma com as outras e ele estava apenas entreouvindo.

 

— Que tipo de personagem eu me tornei? O tipo de personagem que lê estrelas? – Ele não estava enfurecido, apenas intrigado. Nunca pensou que passaria de um personagem completamente ignorante e parcialmente insensível em uma pessoa que poderia ler as estrelas e tivesse convicções sobre o futuro do universo.

 

Foi estranho quando um das estrelas, uma beeeem distante e que mal aparecia direito naquele sol, disse:

 

— Você se tornou o que você deveria se tornar, Robin, é simples assim. Claro que você teve uma ajudinha.

 

Robin estava surpreso, mas respondeu a estrela como se isso não fosse estranho e estivesse completamente acostumado a conversar com astros celestes.

 

— Uma ajudinha?

 

— Sim, mas eu não vou te falar porque eu não quero. – E a estrela sumiu.

 

— Ok – aceitou o rapaz, voltando a olhar para as outras estrelas que conversavam sobre um asteroide que estava chegando. Uma delas estava particularmente emocionada pela chegada desse asteroide, era um amigo da infância que não via há trezentos e quarenta milhões de anos.

 

A lua estava com saudades do Sol, e ao mesmo tempo chateada de nunca estarem juntos no mesmo céu para que pudessem finalmente se pegar.

 

 

Robin cansou de olhar as estrelas porque estava ficando muito barulhento, ele preferia um ambiente mais tranquilo para que pudesse se acalmar e limpar a sua mente da devastação do fim do universo. Tinha um oceano poluído a sua frente e, mesmo poluído, ainda era um oceano. Era triste vê-lo poluído ainda mais que o rapaz também podia sentir o mar e os corais quase totalmente mortos chorando. Não sabia se esse era um sinal do fim do universo ou uma consequência do péssimo comportamento humano. Filosofaria sobre a possibilidade do fim do universo ser por causa da idiotice dos humanos, mas ele tinha certeza que não poderia ser isso. Humanos não são nada de especiais, existe muitas outras vidas no próprio planeta Terra e também nos outros planetas por aí no universo.

 

 

Robin não sabia que tinha acabado de ver Ikovan enterrando um Robin de outro universo, só que sentia algo estranho vindo do corpo flutuando. Como se fosse uma energia que não pertencesse àquele mundo e que se manifestava mesmo com aquele corpo morto. Ele sentia a energia da matéria que compunha aquele corpo, tinha uma semelhança estranha com o seu próprio corpo apesar de parecer ser feito de um material completamente diferente.

 

Aquela energia estava murmurando palavras para Robin. Murmurava palavras sobre um outro universo, sobre a morte de uma pessoa, sobre um homem. Shepard. Sobre... O último inimigo antes do universo terminar. Isso era algo sério. Algo sério que precisava um tempo de concentração para que ele pudesse ter certeza do que realmente tinha escutado.

 

Concentrar-se era uma tarefa tão difícil. Cada grão de areia e cada átomo parecia estar dizendo algo diferente para Robin. Ou era um sinal do fim do mundo, ou eram a energia da matéria da água chorando e pedindo para que esse universo acabe logo. Era a lua com saudades e com raiva do Sol, as estrelas que conversavam sem parar. Ele tinha pensado que suas transformações e mudanças tinham mudado, mas não parecia ser isso.

 

Uma sardinha decidiu falar algo com Robin, e isso foi difícil para a sardinha. Sardinhas podem saber bastante tímidas. Além da vergonha usual de interagir com outros seres, vem a honra das sardinhas. Sardinhas são guerreiras poderosas que respeitam seu código milenar de nunca, nunca mesmo, nem mesmo quando for preciso, pedir a ajuda dos meus fracos. E os humanos são mais fracos que as sardinhas, isso é apenas um fato.

 

— Humano! – Ela chamou-o, com sua voz baixa e tímida.

 

Robin não conseguia ouvir porque estava muito difícil focar em qualquer som em particular. Tudo tinha seu som, e todo mundo falava junto mesmo quando não estavam falando. A areia falava, os pneus falavam, a água falava. Aaaah, era complicado. Robin conseguia perceber que algumas vozes tinham mudado. A Sardinha tinha sua voz mesmo quando não estava falando, assim como as todas as coisas falavam para Robin. Não estavam dizendo-o nada diretamente até agora, mas estavam falando algo enquanto existiam.

 

A Sardinha estava falando diretamente com Robin e ele sentiu essa fisgada em algum lugar do oceano. Que alguém estava falando com ele, apesar de não ter certeza do que ou de quem era. Conseguia escutar uma voz bem baixa e chamava sua intenção. Queria entender o que ela estava querendo dizer para ele, mas continuava tudo muito complicado com as vozes em seu redor.

 

Ele sabia que o que estava acontecendo nesse instante não era apenas estresse ou ansiedade, tinha convicção que era algum tipo de habilidade que precisaria saber controlar assim como aprendeu a voar e a usar suas habilidades com a energia amarela, apesar de não ter certeza de seu poder com a energia. Não teve a chance de utilizá-la e gostava assim, desses tempos de paz em que o mundo apenas morria lentamente e não tinha que lutar contra alguém e o que. Sabia que o tempo chegaria, mas agora precisava desvendar essa habilidade.

 

Ele não saberia como ela viria, as outras vieram de uma forma que ele não esperava. Vieram com longas jornadas de reflexões que ele provavelmente não teria agora, provavelmente porque o Robin de hoje já está bastante acostumado com reflexões. “Só relaxar deve ser o suficiente, relaxar e me focar”, sentiu dentro de seu coração. Seria mesmo o suficiente? Ele não duvidou, mas o narrador duvidou.

 

 

E duvidou errado. Robin não demorou muito para entender que poderia deixar o restante de lado para focar em apenas uma coisa. Ou em apenas um tipo de coisa. Poderia também pegar a coisa e fragmentar ela, ou pegar várias coisinhas como grãos de areia e compilar numa só entidade: a areia da praia. E quando ele compilava várias coisas diferentes que ele não conseguia diferenciar, era quando ele conhecia a entidade: Tudo. Tudo era complicado e não parecia nada com qualquer coisa, então ele tentou voltar para a parte importante e deixou de testar a sua habilidade. Foi aí que ele teve um problema.

 

Pelo que ele estava procurando? Talvez fosse algo na água. Ele não tinha a certeza se era um ser vivo. Na sua proximidade no mar só existiam objetos despojados, nenhuma criatura com vida. Ah, existe uma sim, Robin percebeu.

 

Ele focou tudo que podia nela. Mas a voz era ainda muito fraca. Por pura reflexão ele tentou responder a sardinha, e conseguiu.

 

— Olá? – perguntou Robin, abordando-a da forma menos agressiva e espontânea possível.

 

A sardinha assustou-se um pouco.

 

— O-oi! – respondeu a Robin.

 

Robin finalmente pôde ouvi-la. A sardinha chamada Sarah finalmente conseguia elevar a sua voz rápido o suficiente. Ela estava empolgada e aliviada por ter conseguido passar pela parte mais difícil, agora precisava tentar lidar com a vergonha e chamá-lo para ajuda.

 

— E-existe...

 

Robin esperou pacientemente dando espaço para Sarah dar as palavras que precisava para que ele entendesse que existe uma ilha de sapos ao norte dali que precisa de ajuda. Ele conseguia ler os pensamentos dela ou algo assim, não precisava esperar sentado que ela dissesse, mas ele era uma pessoa gentil então esperou.

 

— Uma ilha... de Sapos... Estão correndo perigo. Estamos todos correndo perigo! Todos nós, desse planeta!

 

Robin perguntou-se como uma sardinha podia ter a mesma convicção que ele tinha aquele momento e queria saber o motivo disso, mas não encontrou ao explorar a mente do peixe.

 

— Como posso ajudá-los?

 

— E-eu não sei! – A sardinha não estava preparada para essa pergunta. – Mas os sapos, eles... Eles tem algo a dizer para você! Eles entraram em contato com um grande mau!

 

Robin perguntava-se que grande mau era esse e ficou curioso pelos sapos também. Ele achou interessante a ideia de sapos informá-lo sobre um grande mal e o seu senso de herói fazia com que se sentisse na obrigação de ir lá. Não era um tipo ruim de obrigação como um dever de casa, mas uma obrigação prazerosa como zerar o jogo que você esperou mais de um ano pra sair depois de vários cancelamentos.

 

— Tudo bem, eu irei ao norte – disse Robin.

 

A sardinha parecia muito aliviada e grata. Não estava acostumada a se comunicar com outros seres e também tinha toda essa vergonha, e o código das sardinhas que a impedia. Sarah não se comunicava com sardinhas há muito tempo. O último que encontrou, Steve, era realmente um idiota que ela preferia estar distante. Disse o que disse ao jovem porque precisava fazer algo sobre o mal que ouviu dos sapos enquanto passava pela ilha enquanto dava uns foras em Steve. Desde então não retornou à ilha. Isso foi há um tempo.

 

— Muito obrigado, Sarah – disse. Depois percebeu o quão estranho era estar falando com uma sardinha e saber seu nome. Lentamente se ergueu da areia da praia e seguiu para a ilha ao norte enquanto o Sol estava lentamente aparecendo. Estava ficando um pouco mais claro.

 

Sarah sentia-se aliviada e feliz por ter feito seu trabalho como guardiã terrestre. Precisava reunir-se com as outras sardinhas, precisava encontrar forças o suficiente para atravessar a grande barreira de vazamento de petróleo que se arrastava entre a beira da praia e o alto-mar, onde os Verdadeiros Guerreiros, as Sardinhas Superiores, se encontravam.

 

Robin não teve dificuldade em encontrar a ilha. Automaticamente sua habilidade de ler o mundo moveu-se para que ouvisse apenas o pensamento dos sapos. Existiam mais sapos no subúrbio e na cidade do que esperava, e muitos deles conversavam sobre drogas e rock’n’roll. O pensamento distante, mas forte, de um sapo sábio chamou a sua atenção. Seu destino era para aquela ilha, para conversar com mestre Papreb.

 

 

Papreb estava preocupado que a mucosa da sua pele não estava nada úmida. Depois pensou em Xupa Cabrinha. Não que estava fissurado no rapaz. A verdade é que essa é a missão do mestre Papreb, reitor da universidade dos sapos: comunicar ao herói salvador do universo de mais um dos perigos que estavam a parir perante aquele mundo.

 

Ele não sabia muito o que pensar sobre Xupa Cabrinha na última vez que o encontrou. Entretanto, aquele não fora o último Xupa Cabrinha que se encontrara. Havia outro. Ele conseguia diferenciá-los pela postura, pela aura e pelo espírito, entretanto não conseguia entender como alguém fisicamente idêntico ao nosso querido personagem que eu acho que é um protagonista possa ser tão diferente. Não seria possível existir dois Xupas Cabrinhas no mesmo universo, seria?

 

Em ocasiões normais, não. A ocasião que o universo se encontra é caótica então é bem normal que não esteja nada normal. Principalmente dos desvios que ShanGri La andou fazendo para movimentar nossos queridos personagens e o falecido Don Ramon. O dragão não sabia ainda da execução do Guardião da Terra, estava apenas fazendo o seu trabalho e destruindo alguns quadrados. Havia sempre a conversa difícil de se ter com o dragão que trabalhava naquele universo. Era triste ver outros como ele perdendo seus empregos para que algumas explosões acontecessem.

 

ShanGri La agora explodia os quadrados que antes ele costumava rodopiar ao redor. Rodopiava ao redor do quadrado que nossa história passa na maior parte, naquele quadrado que será um dos últimos a sobreviver. Era o trabalho que seu pai tinha arrumado para ele depois que ele foi substituído por Rufus que se movia mais graciosamente. Agora ele destruía os mundos que os outros giravam. Eles ficavam tristes, é claro, mas ao retornar para casa seus pais e mães falavam que tinham arrumado um emprego bastante importante que pagava alguma coisa legal depois de um tempo no trabalho. E pouco tempo depois ShanGri La via-nos novamente explodindo quadrados assim como ele.

 

 

Depois de muito tempo sem pensar em como se sentia e que queria retornar ao seu trabalho antigo, que gostava da companhia de Ramon, uma voz falou em seu ouvido:

 

— ShanGri La, você não acha isso estranho? – disse uma voz estranha na sua cabeça. Ele não reconheceu inicialmente.

 

— O-O que? – O dragão estava surpreso.

 

— Sou eu, a Anciã – apresentou-se. ShanGri La não acreditou que ela esteve ali todo aquele tempo desde que Ramon partira para enfrentar Cracker junto com o pessoal. Sentiu pena por ela ser uma personagem tão deixada de lado que o autor esqueceu-a completamente. Ele também fazia parte desse grupo, pensou, ficou meio triste.

 

Ouvir a voz de uma pessoa que fazia de certa forma parte daqueles tempos em que apenas girava enquanto Ramon estava em suas costas era nostálgico. Não fora tanto tempo assim, não na visão do tempo do dragão. Na verdade não fora nem um mês, talvez metade disso, o autor tem dificuldade em estabelecer datas e coisas assim.

 

Depois de um tempo o dragão conseguiu falar com a Anciã. Respirou fundo. Estava indo para o próximo quadrado e voava pelo redor do Vazio Cósmico Astronômico. É onde ficam os quadrados e bem próximo de onde moram os dragões. Seus bigodes e corpo longo típico de um dragão de pintura chinesa eram graciosos enquanto voava.

 

— Então, o que quer dizer com isso, Anciã? – perguntou-lhe, agora em sua sã consciência como o ShanGri La que gira ao redor de mundos. Largara a máscara que usava para viver a sua vida patética de destruidor de mundos.

 

A anciã estava literalmente sentada no topo da cabeça de ShanGri La. Ela era minúscula. Estava entre os seus chifres de cervo do dragão.

 

— Você sabe que não posso ver, dragão. Mas vejo além do que qualquer coisa que qualquer pessoa comum consegue ver.

 

O dragão afirmou levemente com a sua cabeça.

 

— Você não acha estranho o que está fazendo?

 

— O que há de estranho nisso, Anciã?

 

Logo após percebeu o que estava de estranho. Percebeu o que estava fazendo. Estava sendo usado para que outros rodadores de universo perdessem seus empregos também. O plano de todos era destruir os universos e tirar seus trabalhos, o trabalho que ele considerava o mais importante. O trabalho que ele amava e que queria tanto ter de volta. Repentinamente uma grande força de vontade ferveu dentro de ShanGri La fazendo o dragão quebrar as correntes invisíveis que o prendiam de fazê-lo o que bem quisesse. Quebrou as correntes que a burguesia e o sistema econômico dracônico tinham colocado nele.

 

— Eu entendo o que você diz. – Não foi mais necessário dizer nada. ShanGri La simplesmente permaneceu imóvel enquanto contemplava o Vazio Cósmico Astronômico.  Há algo místico sobre um dragão num universo onde os universos se reúnem que não pode ser descrito por palavras de um mero narrador.

 

— É hora, ShanGri La – disse a Anciã. Ele compreendeu no exato instante. Era a hora de retornar para o seu lugar.

 

ShanGri La estava para começar algo grande e fazer uma entrada triunfal numa batalha que Robin não foi capaz de finalizar.

 

Robin estava falando com sapos. Antes disso voava até a ilha com uma velocidade moderada, pressa alguma existia em suas ações desde que se tornara um ser praticamente lúcido de todas as suas ações. Quase um ser lúcido de todas as suas ações. Existem grandes mistérios sobre si mesmo, e ás vezes perde controle de seu próprio corpo, podemos desconsiderar isso por enquanto...

 

“Sapos...”, pensava Robin, sem motivo algum para ficar todo reflexivo sobre uma palavra de duas sílabas.

 

A ilha encontrava-se bastante poluída e Robin pôde escutar a Terra chorando. Outros sapos também estava lá, e não conseguiam lidar com o que estava acontecendo com a sua terra natal. Eram as gloriosas terras da Grande Universidade dos Sapos, e estava amaldiçoada pela mão de humanos podres que só pensam em si mesmo. Isso foi antes de descer dos céus. Como um anjo, lentamente desceu em frente ao mestre Papreb, que finalmente encontrou seu herói.

 

Papreb apenas admirou que criatura com tamanha luz dentro de si pudesse existir num mundo de tanta escuridão. Era tão claro, mas seus olhos negavam-se a ofuscarem-se por tamanha luz. Seus olhos queriam apreciar aquela luz e senti-la, pois era rara naqueles tempos sombrios. Era a luz que o mundo precisava. Mas, será que uma lâmpada, mesmo que tão poderosa, pudesse espantar a escuridão da mesma forma que o Sol? Ele não poderia dizer. Sentiu qual era o motivo pelo qual o homem estava ali. Era para lidar com os problemas que estavam em sua mente naquele instante.

 

Robin aconchegou-se naquele clima estranho de uma floresta meio tropical. Alguns insetos aglomeravam-se mas árvores e Mub e Hulk observavam de longe, num galho ao alto. Não queriam atrapalhar aquele momento importante para Papreb. Mesmo cegos para as artes das almas, conseguia entender a essência heroica de Robin.

 

Mestre Papreb precisava dizer o que precisava ser dito. Mas parecia inútil, o herói que olhava para os arredores por curiosidade mostrava em sua alma ter automaticamente reconhecido a dúvida no coração daquele mestre e barbudo mestre...

 

Robin só então olhou-o diretamente. “Que herói gentil!”, exclamou para si mesmo Papreb. “Ele sabe irei falar, entretanto ouvir-me-á mesmo assim”, tratou de utilizar mesóclise para demonstrar seu incrível conhecimento gramatical. “Ouça, jovem”, agora estava sério, ignorava totalmente o fato de Robin saber do assunto ao dizer. Parecia um sermão.

 

— Ouça, jovem...

 

Robin ouvia atentamente.

 

— Um homem... Um homem...

 

Robin não precisava que Papreb dissesse qual era o nome desse homem. Ele conseguia ver pela sombra daquele homem no coração do sapo. Era Xupa Cabrinha. Entretanto...

 

— Um homem e um outro dele...

 

Sim, era um Xupa Cabrinha de uma outra realidade.

 

 

— O outro caça o seu igual. O outro é perigoso. O outro é caótico.

 

Robin sentiu a ameaça vindo do outro. Ele era o seu próximo inimigo. Não era o inimigo dos inimigos, nem seu último inimigo, entretanto era um inimigo que não compreendia como eliminá-lo. Ele sentia que, como da última vez, terminaria. Como na vez que batalhara contra o Ministro Rossiano.

 

— Eu devo te dizer, jovem guerreiro... É necessário que apague tamanho mal dessa terra e guie o homem por esse mundo. Enquanto no homem há duvida e incerteza, no outro há... Caos. Não deixe o Caos se espalhar. Infelizmente essa não é a sua última batalha, sinto muito em te dizer isso. Você tem os olhos daqueles que já lutaram batalhas demais nesse mundo.

 

Robin só queria uma vida de paz...

 

— Você precisa fazer o que for necessário para derrotar esse mal e todos os outros que surgirão a seguir. Você deve fazer tudo o que precisa. Você é o único cuja luz emana de uma maneira tão forte. Peça ajuda de seus colegas, seus aliados... Use toda a sua força a cada segundo que está por aí. Não deixe o homem ser morto...

 

Robin escutou atenciosamente até o final, demonstrando grande respeito ao reitor da Academia dos Sapos.

 

— Grande Mestre, eu... – Robin parecia triste ao notar como a ilha morria e pedia por socorro. – Você sente, como eu, a morte dessa ilha. Eu nada posso fazer para curá-la, eu nada posso fazer para curar o mundo.

 

— E nem deve, jovem herói. Você deve impedir que o mundo morra ainda mais.

 

Robin ouviu as palavras com grande respeito e consideração. Era algo que nunca tinha pensado dessa forma. Ele sempre pensava que deveria salvar o universo, não impedir que morresse ainda mais.

 

— O que o universo sofreu até hoje... É algo irreversível. Como essa ilha, o território dos Sapos Sábios. – O mestre estava triste. Aquela foi a terra que nascera e que enterrara seus pais, assim como seus ancestrais. Era a terra que queria que Mub e Hulk cuidassem e o enterrasse quando morresse. Certamente entristecia-se ao perceber que não eram grandes conhecedores da vida, mas queria que vivessem uma vida tranquila. Como seriam caso a ilha morresse por completo? Teriam que viver com os outros papos urbanos que usam drogas e ouvem rock’n’roll? Não Rock’n’roll. É inadmissível.

 

Robin sentiu a dor do mestre, tirando a parte com o Rock’n’roll. Não tinha nada contra isso e não entendia o que Papreb tinha contra.

 

Ele estendeu a sua mão.

 

— Mestre, não é o fim.

 

Papreb olhou-o com seus olhos em lágrimas. “Por favor salve-os. Eles são tudo para mim.”

 

— Eu também o salvarei. Eu os levarei para um lugar seguro.

 

Robin voou levando os sapos daquela ilha por um longo caminho até o pedaço de terra que buscava. Era onde eles poderiam começar uma nova vida.

 

Mub olhou ao redor e não entendeu o motivo de Robin tê-los levado até ali.

 

 

Antes que pudesse demonstrar qualquer ingratidão, Robin explicou-os.

 

— Aqui foi... – Era de certa forma doloroso dizer. – Aqui foi onde o meu clã morreu. Aqui foi onde eu falhei. Aqui será onde vocês florescerão enquanto tratarei de curar o mundo.

 

— Mas aqui é um deserto! – Exclamou Hulk, já que Mub não o fizera.

 

— Jovens, vocês não conseguem ver? – Era como se no deserto as árvores florescessem. Árvores das mais vivas que aquele clã de sapos tinha visto. Riachos dos mais claros apresentavam-se ao meio do deserto. – Muito obrigado, Robin.

 

— Muito obrigado, mestre Papreb.


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Notas finais do capítulo

A parte que o Papreb se encontra com o Xupa Cabrinha da outra realidade na verdade é uma DLC que você pode desenrolar comigo no privado.



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