Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 92
Nove. Fugindo.




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Está chegando aquele momento da história em que, pra que ela termine, as subplots anteriores criadas pelo autor quando ele não sabia ideia do que ele estava escrevendo precisam chegar ao seu fim. Estamos falando de coisas que não são mencionadas há muitos capítulos, cinquenta ou mais.

Ikovan tinha deixado o seu celular cair em algum lugar durante a sua viagem até James Morgan.

E lá estava Ikovan. Ele estava se disfarçando muito bem sem o seu bigode e com óculos novos bastante casuais para que ninguém o reconhecesse. Seu bigode era o que fazia com que se reconhecesse ao olhar no espelho. No início foi bem difícil saber quem era quando abria a câmera frontal do celular para tirar uma selfie, mas com o tempo se acostumou. Ele parecia mais novo, novo da idade que era na verdade.

Sua vida política estava morta desde que seu pai tinha morrido. Sabia que estava sendo perseguido não apenas por ser um antigo membro da ABC Trabalhos, mas porque sentia que estavam caçando o sangue do presidente executado e de seu pai, Mormada. Ele deveria ser o próximo, e sabia que mesmo que escondendo isso por tanto tempo, Mormada ainda tinha outro filho, Heringe. Ele deveria checar as condições do garoto, imaginava que os assassinos estariam esperando-o lá e poderia enfrentá-los sem problema. Confiava nas suas habilidades da Célula Negra.

Heringe morava numa área residencial bem tranquila, daquelas que você vê em filmes norteamericanos e está acostumado demais pra notar em alguma coisa diferente como uma mensagem subliminar dizendo para adorar o diabo. Heringe dormia tranquilamente naquela noite. Ele tinha herdado bastante dos bens do seu pai desde a sua recente morte e ele tinha alguns problemas em gastá-la, mas gostava de gastar um pouco do seu dinheiro em alguns videogames e também pretendia adotar um gato para não se sentir tão sozinho. Tinha ouvido falar na petshop, entretanto, que cachorros são melhores pra pessoas que se sentem muito sozinhas. Desde então não soube o que realmente fazer com o seu dinheiro e deixou lá nas contas do banco sem mexer por algumas semanas. Enquanto não estivesse pensando no dinheiro, estava bem, da mesma forma que dormia como um bebê no seu pijama azul-claro com listras horizontais brancas suaves.

Ikovan analisava os arredores porque ele gosta de pagar de personagem estratégico e analista, e ás vezes consegue fazer esse papel muito bem. Ele estava se esforçando para que isso não terminasse em um desastre, que não morresse assim com o seu desconhecido irmão.

— Esse é o último legado do meu pau. Pai – corrigiu-se.

Ele usava roupas bastante casuais também. Tinha passado bastantes dias naquela vilazinha no sul da grande pista James Morgan, lugar que também tem uma historinha pra ser desenvolvida. Ikovan se escondeu lá até se sentir seguro para retornar ao seu país natal. Ele tinha passado maus bocados em Economist contra Picone apesar de não entender direito qual era a daquele homem, ele queria algo como... Conversar com os punhos. Ele não ia muito com essa.

Tinha escutado que seu pai tinha sido assassinado misteriosamente. Não estavam culpando Xupa Cabrinha dessa vez, não tinha escutado mais notícias desse homem fazia bastante tempo.

Ikovan tinha sido treinado com essas habilidades especiais para assassinar seus inimigos furtivamente. Teve sucesso em várias missões. Essa missão pessoal era diferente porque ele também estava sendo caçado por alguém que imaginava estar usando habilidades furtivas. Seu pai e seu irmão não eram capacitados a ponto de utilizarem habilidades sobrenaturais cientificamente criadas para oprimir os sindicatos, então ele sabia que esse inimigo não teria chance. Um inimigo que sai entrando no apartamento de qualquer jeito quebrando tudo não seria capaz de esconder-se de Ikovan, e esse seria o fim dele.

Só que não sentia a presença do Robin que executou o seu rapaz. Não sentia nenhuma outra presença aos arredores que não fossem de famílias dormindo em seus cobertores quentinhos e cachorros que se perguntavam por que tinham que dormir fora de casa se a casa era tão grande. Começou a se sentir triste porque não tinha cachorro e toda a família que conhecia estava morta. Era o bigode, sem o bigode ele não conseguia aguentar esses sentimentos, sem o bigode ele estava sozinho no mundo...

De volta à missão.

Ikovan nunca tinha acreditado que o que ele fazia era pela justiça. Don Picone discordaria com isso, acreditava que cada um de seus atos era para o bem do mundo e pela paz das pessoas. Principalmente pela paz das pessoas de Fantasy, mas em Economist também porque suas empresas lucravam bastante lá. Ikovan acreditava que o que fazia era apenas ser mais uma marionete desses governos aí e nem ligava. Era assim desde sempre e seria assim desde sempre, precisariam terminar com esse universo e criar outro para que as coisas talvez mudassem.

De volta à missão.

Estava se sentindo bastante inseguro para fazer a sua reestreia. Precisava de mais alguns parágrafos de introspecção para se sentir seguro, para saber que o autor estava trabalhando nele. O suficiente para saber que ele não morreria ali como qualquer outro personagem qualquer, porque nem isso ele veio sendo. Ele não veio sendo personagem algum, não esteve presente na história.

Ele então sentiu uma presença desconhecida, que seria uma presença assassina se não estivesse tão próximo da morte. Um homem com umas roupas fora de contexto pro local e que estava machucado demais para que combinasse com o clima calmo de uma manha num bairro normal norteamericano. Era o Robin, aquele Robin, ele estava levando consigo mesmo a Verdade que levaria Ikovan a descobrir tudo por trás da morte de seus parentes. Ele hesitou em ir ao socorro do rapaz por não ter certeza de sua segurança. Ele hesitou em ir ao socorro principalmente porque ainda estava tenso pela situação que se encontrava, mas ao ver o sangue que estava sendo derramado a cada passo fraco que era dado por Robin, ele decidiu que deveria ajudá-lo. Seus movimentos rápidos fizeram com que descesse do teto de um dos vizinhos de Heringe até o rapaz que se encontrava no gramado que dividia as duas vias da rua do bairro. Chegou a tempo de impedir que o rapaz caísse.

Seus olhos se encontraram. Robin estava com olhos fracos, estava quase perdendo a consciência, mas algo em seu olhar fez com que Ikovan percebesse que o rapaz tinha algo para ser tido, algo importante, o motivo para continuar vivo.

Robin tinha completado o seu trabalho, que era só matar Mormada mesmo. Não era como Shepard acreditava que aquele caubói espacial conseguisse derrotar um agente especial com habilidades sobrenaturais. Ikovan também teria o seu tempo de ser derrotado, mas lutaria contra um peão mais forte. O inimigo final.

Robin tinha sofrido sérios danos devido aos ataques neurais de Mendel. Ele não sabia que uma inteligência artificial do outro lado dos universos estava executando ordens programadas por um homem morto por essa mesma inteligência artificial. Ele teria morrido se não tivesse retirado imediatamente suas partes sintéticas. Isso envolve bastante faca na pele, cortar carne e coisas assim que o narrador prefere não narrar.

Ele fez o que pôde, utilizou a energia negra para inibir alguns neurônios de dor modulares. Não conseguiria salvar o rapaz, sua habilidade não tinha sido feita para curar.

— Diga-me, diga o que tem pra dizer – Ikovan estava ansioso, estava sem conseguir pensar direito, estava com a barriga formigando. Isso que estava acontecendo fazia parte de algo muito maior. Essa “coincidência”.

Robin brevemente sentiu-se melhor, como se tivesse passado uma longa noite de sono e depois de tomar café um pouco desse sono tinha saído. Seu sono ainda chegaria e estava ciente disso, todo mundo dorme alguma hora.

— Eu... Outro Universo... O Inimigo... – Morreu.

Ikovan não entendeu nada do que tinha acontecido. Preferia procurar um significado maior para aquilo e tinha em seu rosto a face determinada de um homem que sabia o que precisava ser feito. Precisava deixar seu bigode crescer. Tirando isso, voltaria a viver nas ruas normalmente como antes de ter a sua família assassinada. Chegou a conclusão que se quisessem usar Heringe como isca o teriam atacado enquanto estivesse assistindo o rapaz que morreu sem dizer nada com nada, e se quisessem matar Heringe sem usar como isca teriam feito há bastante tempo. É verdade, não existia nada disso no Plano Shepard.

“Quem é o inimigo?”, ele se perguntou enquanto ainda segurava o corpo do rapaz. Não sabia o que fazer com ele dali para frente. Ele parecia ser alguém que não teve a chance de viver toda a vida que queria, até porque todas as pessoas parecem ser assim porque elas não conseguem mesmo. Ele deveria dar uma despedida daquele rapaz, que considerando aquelas palavras talvez nem fosse daquele universo. Só que ele não voava, né. Ele usou seu poder de se teletransportar para ir para a praia mais próxima, e lá deixou o corpo flutuar pela água até chegar algum lugar naquele oceano cheio de pneus de borracha para relaxar. Naquele universo que não tinha nenhuma conexão com aquele corpo morto. “Espera, o rapaz é de outro universo, ou o inimigo que é? Aceitarei que são os dois.” Eram mesmo.

Ikovan poderia rastrear o inimigo, caso ele fosse um utilizador de energia ou utilizasse armas do tipo, assim como Picone fez para perceber que Mormada tinha sido executado por alguém de outro universo.

A cabeça de Picone não estava muito em nada. Ele estava usando esses dias para voltar a ativa como chefe da sua empresa e aproveitar a queda da moeda da sua nação pra começar a diminuir os salários de todos os seus empregados sem ter chance alguma de ser empregado. Era uma causa justa, precisava se adaptar à nova realidade da economia. Acreditava que isso seria o melhor para os seus funcionários e também para a sua empresa. Picone empresário é um personagem que não vimos por enquanto, mas ele não é diferente do que você pensaria como um empresário qualquer.

Ele não usa armaduras robóticas porque ele não é Quenium nem outro personagem milionário que você conheça, ele passa seus tempos fazendo qualquer coisa na sua empresa com a visão de dar lucro. Ás vezes canta a sua secretária, mas não se empenha muito nisso porque ele sabe que ela está super a fim dele e ele tem a tendência de só colocar o olho em quem não está muito a fim dele. Como aquela jornalista que vive no prédio de seu apartamento, que se encontrou no dia que se desencontrou com Molly e que pegou aquele trânsito horrível. Ele se lembrava daquele dia como fosse ontem, na verdade fazia quase dois meses. Era o final da segunda temporada ou algo assim.

 Picone ficou muito tempo imerso na sua vida de empresário e de paquerador que incomoda as mulheres até demais e que pra conhecer limites precisa ser processado e julgado em corte penal para nunca mais incomodar tanto alguém. Estava em um daqueles dias que lembra da sua vó, que olha pra foto dela que ele tem na mesa do trabalho com aquela cara rabugenta enquanto fazia tricô logo. Depois disso ela daria algum sermão sobre como são estranhos esses tempos novos, sobre como seus tempos eram mais difíceis, sobre como ela ficava sem beber água por vários dias. Nem tudo disso era verdade, ela só gostava de ficar tricotando ali sem que ninguém abrisse a boca, apavorados demais com a história da mulher e com seus sermões para dizer qualquer coisa. Todos eles nasceram quando a vó já era velha, e todos eles já estavam acostumados com esses sermões, eram momentos importantes na reunião de família. Momento que era estranho, porém não poderiam pular porque fazia parte, era o procedimento padrão do dia a dia em família. Picone morava com ela então ouvia esses sermões várias vezes, tinha até gravado-os.

Ele começou a rir, estava contente, que saudades da vovó. Esperava que ela estivesse bem onde quer que ela estivesse. Paraíso, inferno... Mal sabia que ela sua faísca era ela tricotando infinitamente e contando seus sermões para sua família, que durante toda a eternidade da faísca não disse coisa algum e apenas ficaram observando como estátuas com toda a atenção possível as histórias do passado da vovó.

Qual era o seu sermão favorito? Nossa, eram tantos e ele gostava de tanto. Ele até gostava de pensar naqueles sermões para motivá-lo no dia a dia, mas não se comparava quando a vovozinha aleatoriamente aparecia para dar algum sermão aleatório. Isso alterava bastante o seu humor pra melhor, e fazia com que ficasse realmente sério.

Picone colocou a foto de volta no lugar e pegou o seu bloco de notas onde anotava o que tinha feito em cada hora do dia. Fazia isso desde sempre, não sabia o motivo, provavelmente era a sua avó também porque ela estava tão imersa em seu inconsciente. Será que ela tinha dado alguma bronca nele sobre aquilo? “Picone, você não pode por aí fazendo as coisas sem antes anotar elas! Eu preciso saber o que você está fazendo”, deve ter sido isso. Ele olhou para relembrar o que tinha feito nos dias anteriores, era a mesma coisa de sempre.

A porta de seu escritório começou a bater. Provavelmente era a sua secretária provocando-o enquanto avisava alguma coisa desinteressante sobre gráficos e dinheiro. Ele ignorou por alguns segundos. Sentiu-se tenso sobre o barulho repetitivo depois que a sua vózinha subitamente apareceu em sua mente. “Você não vai atender, seu idiota? É o destino, o destino está batendo na sua porta!”. Picone ficou tão tenso que começou a suar. Era a primeira vez desde a sua última aparição que a sua avó não dizia alguma coisa, é como se tivesse reacordado para a realidade.

— O que? – perguntou Picone para si mesmo, mas sua secretária respondeu:

— Estou com a papelada do rendimento do último trimestre da empresa.

Ele não ouviu, seus ouvidos eram apenas da velha em sua mente. Ele sentiu que estava para receber a que se lembraria para o resto da vida, ficou empolgado com isso. “Você não lembra do que você tem que fazer? Você já é um homem crescido e não mais um desses garotos que podem ficar jogando bola até tarde, você tem uma avó pra alimentar e seus irmãos! Sua irmã estava passando mal! E eu também! Todo mundo passou mal! Por que você não estava em casa? Você tem que proteger a sua casa! E se alguém aparecer pra roubá-la? Você esqueceu Picone, você é o responsável por tudo nessa casa!”

Ele não compreendeu porque esse sermão estava aparecendo agora. Ele estava cuidando bem da sua casa, cuidando bem da sua empresa... “Por que me disse isso, vó? Eu não estou entendendo”.

“Você realmente esqueceu!!!!”, muitas exclamações.

“Do que você está falando? Aliás, por que esteve sumida por tanto tempo? Estive com saudades.”

“Eu não posso te responder isso, pera aí que eu vou chamar esse garanhão que eu conheci essa semana. Por isso que estive sumida.”

Então Ramon apareceu.

“Obrigado por me introduzir, bebê”, disse Ramon, então referiu-se à Picone com olhos de reprovação e desapontamento “Não acredito que você esqueceu!!!”. Ainda assim Picone não lembrou.

— É verdade, eu sou o guardião da Terra!!

Alguma coisa explodiu lá fora. E Picone sentiu que era o seu dever ir até lá.


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