My Soldier escrita por LilyCarstairs


Capítulo 16
Chapter XVI


Notas iniciais do capítulo

Sei lá o que dizer... Apenas espero que gostem. Tentei descontrair um pouco de todo o drama e talz. Enfim, boa leitura. :)



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Lembro-me de ter voltado para a casa de Julie tarde a noite, quase meia noite. A mãe de Jonathan me levou até lá de carro, e parecia menos desanimada com a vida. Fui até o quarto de Julie e ela já estava dormindo, ocupando o espaço da cama e do colchão em que eu dormiria, sabe-se lá como. Então deitei no sofá mesmo e apaguei.

Acordei cedo com a agradável sensação da minha melhor amiga sentando em minha barriga.

– Liz, acorde. Vamos para o shopping. – ela sorria e bagunçava meu cabelo.

– Saia de cima de mim, Juliette.

Ela pegou uma pilha de roupas minhas e jogou em mim, avisando que eu tinha dez minutos para me arrumar. Levantei e caminhei até o banheiro. Como em um filme de drama, assim que fechei a porta e fiquei sozinha, a melancolia me atingiu. Jonathan voltou à minha mente, com seus machucados no rosto/pescoço e o curativo.

– Ferido, não morto... – repeti a mim mesma, tentando me acalmar.

Não conseguia explicar a sensação direito, mas era como se algo apertasse meu coração. Ele não estava morto, apenas ferido, mas isso já era o suficiente para fazer o aperto vir. Talvez eu o amasse demais pra vê-lo machucado, por menos que fosse.

– Liz! Vamos! – a voz de Julie gritava do outro lado da porta.

– Já vou. – tentei manter a voz firme.

Segurei as lágrimas antes que elas saíssem e comecei a me arrumar. Não demorei nem cinco minutos, mas Julie gritava e batia na porta. Parecia animada hoje. Tão animada que estava arrumada, pronta para o shopping, às nove da manhã.

– Por que estamos indo lá tão cedo? – resmunguei, quando ela me fez caminhar pelas ruas frias numa manhã em que eu deveria estar dormindo.

– Max fez uma aposta comigo. – ela disse, dando de ombros. – Sabe como levo a sério as apostas que faço por aí.

Se tem uma coisa que aprendi a não fazer com Julie, é apostar alguma coisa. Pode ter sido há dez anos, ela vai se lembrar de quanto/o que foi e irá cobrar. Terrível.

Chegamos no shopping, mais precisamente na loja onde Max trabalhava e esperei um dos dois me contar qual era a aposta.

– Então, apostei que Natally virá aqui reclamar comigo. – Max contou, enquanto arrumava itens nas prateleiras da loja. Afinal alguém precisava trabalhar naquela amizade, né.

– E eu apostei que ela irá reclamar e fazer drama primeiro para Seth. – Julie sentou-se numa cadeira atrás do balcão e sorriu. – Se eu ganhar, ele se fantasiará de Juliette Mills.

– Se eu ganhar, ela trabalhará aqui durante cinco dias. – ele contou. – Prepare-se para trabalhar aqui, pequena Juliette.

– Preparado para virar uma garotinha, Maxwell?

– Vocês são tão maduros que chega a ser assustador. – comentei, balançando a cabeça negativamente.

De fato, eram dois bobos. Bobos que animam meu dia e fazem os problemas irem embora, mas eles não precisavam saber disso, então deixei o pensamento comigo.

– Então, como saberemos onde ela foi reclamar e fazer seus dramas primeiro? – perguntei.

– Seth também está envolvido, óbvio. – ela respondeu, sorrindo. – Se ela não reclamar pra nenhum dos dois, o O’Brien nos dará 10 dólares.

– Pra cada. – Max falou. Julie e ele trocaram um sorriso.

Tentei entender o sistema de aposta deles.

– Então, Max será uma garota se ela for primeiro para Seth, você será uma empregada da loja se ela vier aqui primeiro e Seth pagará 10 dólares pra cada se ela não reclamar?

– Exatamente, garota esperta. – Julie apertou minha bochecha, como se eu fosse uma criança da primeira série que acabara de aprender a escrever o próprio nome.

Sorri e concordei com a cabeça, entendendo o esquema de apostas dos três. De qualquer maneira, alguém sairia perdendo. Pessoas desocupadas fazendo apostas... Agora era esperar e ver quem perderia.

~

Era hora do almoço e nada da nossa querida Natally aparecer com seu drama e reclamação. Estávamos almoçando nos fundos da loja.

– Parece que o pobre Seth terá que desembolsar algum dinheiro. – Max comentou, sorrindo.

– Não devia cantar vitória tão cedo... – avisei.

Como se fosse cronometrado, o telefone de Julie apitou, anunciando uma mensagem de texto. Ela soltou um riso alto quando terminou de ler e mostrou a tela do celular para Max, de modo que pudesse ler. Pela expressão em seu rosto, ele havia perdido a aposta.

– Deixe-me ver, por favor? – puxei o celular das mãos de Julie, e li também.

“Natally está aqui reclamando de como fui mau caráter. Meu Deus o cabelo dela está horrível, bom trabalho para todos nós. Enfim, parece que Max é a nova garotinha Mills.”

Olhei para Max e tentei imaginá-lo como a Julie, e não foi uma visão agradável.

– Maxwell, querido, parece que terá que trabalhar um dia todo vestido da modesta, bela e sempre na moda Juliette Mills. – ela sorriu para ele.

– Isso... Foi armação. – o pobre Max reclamou. Não parecia tão animado com a aposta agora.

– Aposta é aposta. – Julie riu alto e saiu da loja falando. - Você perdeu e terá que aceitar.

Eu conhecia aquela cara. A “assustadora expressão de vitoriosa apostadora”, como resolvi chamar há alguns anos atrás. Max me olhou receoso.

– Ela não vai me fazer desfilar vestido de garota por aí, vai?

– Infelizmente, vai sim. – coloquei a mão no ombro de Max, de modo acolhedor. – A última vez que perdi uma aposta que fiz com Julie, tive que andar por aí com uma fantasia de banana durante uma semana inteira.

– Uma semana inteira...? Como ela é cruel.

– Eu sei, eu sei. – concordei, suspirando. – Aliás, apostou se fantasiar durante quanto tempo?

– Ela não disse... Eu deveria ter especificado? – ele parecia confuso. - Achei que fosse só durante umas horas ou algo assim.

Tentei não rir. Ele realmente achava que ia passar apenas algumas horas fantasiado como uma garota? Bem, não apostando com a Julie.

– Você está brincando com a senhora das apostas, menino Max...

– O que isso quer dizer?

– Que você está ferrado. No mínimo, três dias fantasiado de garota.

~

Julie mandou uma mensagem de texto, avisando que Max e eu deveríamos encontrá-la em sua casa assim que ele saísse do trabalho às três horas da tarde. Chegamos lá e nos deparamos com Seth e Julie segurando roupas de garotas e maquiagens. Vi os ombros do pobre perdedor de apostas ficarem tensos, agora ele sabia que era sério.

– Sente-se aqui. – ela apontou para o sofá, e Max andou até lá lentamente, como em uma marcha fúnebre.

Ele permaneceu em silêncio enquanto Seth e Julie se aproximavam e começavam a transformá-lo em uma garota. Sentei no outro sofá e não pude evitar alguns risos. Em vinte minutos, Maxwell estava irreconhecível. Vestido rosa florido, um dos favoritos de Julie, maquiagem perfeitamente feita e uma peruca cheia de cachos.

– O último toque. – Julie apontou para um par de sapatilhas.

– Comprou sapatilhas no tamanho que ele calça só pra aposta? – perguntei, um pouco chocada.

– Óbvio. Não achou que ia deixar isso escapar, achou? – ela falou, enquanto entregava o par para Max, que tentou vesti-las desajeitadamente.

– Sabe, estou repensando se quero mesmo a amizade de vocês três. – ele resmungou, enquanto levantava e caminhava até o espelho. – Cruzes, estou tão...

– Deslumbrante como uma princesa. – Seth riu, sendo acompanhado pelos outros.

– Poderia conquistar o coração do mais bravo soldado. – comentei, e mais risos vieram.

– Não tem graça, tá bom?! – Max virou-se abruptamente, fazendo os cachinhos balançarem em volta de seus ombros. Ele não podia ver nem imaginar o quão hilária era a cena.

Ficamos em silêncio enquanto observamos ele sair pisando forte da sala, abrindo a porta da frente. Acho que ficou irritado demais pra lembrar que estava vestido de menina, pois voltou correndo para dentro.

– Alguém pode me levar pra casa? – ele perguntou, ainda carrancudo.

– Claro que posso, cachinhos. – Seth levantou-se e mostrou as chaves do carro. – Mas só se você me der a honra de um beijinho de despedida.

~

No dia seguinte, o pobre Maxwell ainda estava vestido como uma garota. Seth fez questão de passar na loja onde Max trabalhava apenas para tirar fotos e nos mandar. Julie e eu rimos a manhã toda daquilo. Fantasiar seu amigo como uma garota é um bom jeito de esquecer os problemas... Bom, pelo menos até você se lembrar dos problemas que estava tentando esquecer.

O rosto de Jonathan machucado voltou a me atormentar no fim da manhã. Se o rosto dele estava daquele jeito, o resto do corpo estaria pior, seguindo a lógica das guerras, se é que existe lógica na guerra. Ele provavelmente estaria sofrendo com as dores agora mesmo, ou talvez estivesse sendo atacado... O fato de não saber o que acontecia só piorava tudo. “Não chore”, ele dissera... Como se fosse possível.

– Liz, por que está chorando? – Julie perguntou, confusa. Sai do meu transe e notei que não estava mais prestando atenção no que ela falava.

– Desculpe... O que dizia? – limpei as lágrimas rapidamente e tentei sorrir para ela.

– Por que está chorando? – ela se aproximou e sentou-se ao meu lado no sofá da sala de estar da casa dela. Eu continuava dormindo lá.

– Não é... – antes que eu pudesse desmentir, ela me olhou séria, demonstrando que sabia que algo estava errado. – Sinto falta de Jonathan, e sinto falta de saber como ele está...

Ela me puxou para um abraço. Não precisava dizer que sentia o mesmo, pois era óbvio que sim. E não era preciso dizer que ela estava menos preocupada que eu, afinal seu namorado estava intacto...

Balancei a cabeça e me livrei desses pensamentos. Ferido, mas não morto. Ele sairia da guerra vivo e tudo voltaria a ser bom como antes.

Sorri para minha melhor amiga quando ela sugeriu que fossemos até a escola para ver o time de hóquei treinar. Faria eu me sentir melhor.

Mesmo que não estivéssemos atrasadas ou algo do tipo, corremos até lá como duas bobas que de fato éramos. Julie, mesmo de salto alto e vestido, corria bem mais rápido que eu e por isso chegou primeiro.

Não foi difícil avistar Rose caminhando pelo gramado coberto de neve em frente à escola, se considerar que ela era a única que estava por lá. Hoje a escola estaria vazia, exceto pelo time de hóquei, então deduzi que ela estava ali a pedido de algum professor. Acenei para ela, que correu em nossa direção, contando sobre como todos adoraram meus quadros.

– Ficaram ótimos Lizzy! – ela bateu palmas, animada. – A professora me chamou aqui hoje cedo e conversou sobre isso, sugerindo que vendêssemos seus quadros! E adivinhe só? Consegui boas ofertas para suas obras primas!

– Mesmo? – sorri para ela. Nunca pensei em vender meus próprios quadros, mas parecia uma boa ideia. – Isso é ótimo!

– Sim! Como eu não queria vender seus quadros sem sua permissão, ou te deixar sem nada, a professora sugeriu que você ficasse com a maior parte e uma pequena quantia seria para a comunidade. – ela me entregou um pedaço de papel. – Aqui estão as ofertas que algumas pessoas propuseram. Ligue para a professora quando se decidir.

– Obrigada, Rose. Você é ótima. – agradeci e ela caminhou para outro lugar, acenando uma última vez. Garota simpática.

Abri o papel e comecei a ler. Ótimas ofertas. Eu não sabia que poderia vender meus quadros por tanto dinheiro, foi até meio surpreendente para mim.

– Como não pensou nisso antes, Liz lerdinha? – Julie riu.

Caminhamos lentamente para o local onde time de hóquei treinava, O Domo. Eu lia as ofertas enquanto caminhávamos.

– Aliás, por que chamar isso aqui de “O Domo”? – Julie perguntou.

– Porque tem a forma de um domo, oras. – respondi, dando de ombros. Ela não pareceu satisfeita com a resposta, mas continuou caminhando.

Como eu estava lendo o papel, não notei quando ela parou de andar e trombei nela com força.

– Julie, ande! – resmunguei, mas logo parei de falar.

Ela olhava assustada para algum lugar. Segui seu olhar e vi que O Domo estava soltando uma fumaça preta, como em um incêndio. Pude ver alguma coisa com cabelo verde/azul na porta do domo. Natally estava gritando alguma coisa e chutando a porta.

– O que está acontecendo? – Julie perguntou assustada.

Corremos até lá o mais rápido possível. Natally olhou para nós, aterrorizada, seu rosto estava vermelho e lágrimas grossas escorriam por ele. O curativo no nariz deixava a cena ainda pior. Sem contar que o cabelo estava bagunçado e irregular. Ela estava semelhante a uma punk muito mal vestida e brigona.

– Seth está lá dentro! – ela disse, o desespero na voz era genuíno. – Eu não consigo abrir a porta e Seth está lá dentro!

– Por que ele está lá dentro? – perguntei confusa. O time só começaria a treinar em uma hora e os jogadores chegariam daqui meia hora.

– Ele é o capitão do time e precisava chegar mais cedo, óbvio! – ela respondeu, ainda socando a porta. – Agora deixe de perguntas e me ajude a abrir isso aqui!

Olhei para a porta e não sabia o que fazer. Aparentemente, alguma coisa estava emperrando sua abertura e O Domo não tinha janela alguma. Procurei algo que pudesse quebrar a porta ao meu redor, mas não havia nada.

Estava começando a entrar em desespero quando lembrei que a parte mais alta da porta era de vidro. Olhei para cima. O vidro ficava a quase dois metros e meio do chão, a porta era gigantesca.

– Natally, deixe-me subir nas suas costas, vou abrir o vidro lá em cima! – gritei para a garota que socava a porta desesperada. Se uma coisa não podia ser negada no momento, é que ela estava desesperada. Não imaginei que ela gostasse de verdade de Seth.

Subi em suas costas e alcancei o vidro. Por sorte, ambas éramos altas. Julie me entregou um de seus saltos, e bati com ele no vidro, até que ele se quebrasse. Avistei Seth lá dentro, abaixado com um pano no rosto. Não vi de onde o fogo vinha, mas não parei para pensar. Joguei-me lá dentro com ajuda de Natally.

Cai com força no chão e agora tinha alguns arranhões nos braços por conta dos estilhaços do vidro. Vi que um pedaço do ferro que sustentava o Domo estava bloqueando a porta. Gritei para Seth vir me ajudar, mas ele não se mexeu. Tentei afastar o ferro sozinha, mas não consegui.

Gritei por ajuda para o lado de fora e em poucos segundos Natally pulou para dentro e me ajudou. Ela era realmente forte. Juntas, conseguimos afastar o ferro e abrir a porta, deixando muita fumaça sair.

Não notei que estava respirando fumaça até desmaiar. Minha última visão foi a de Natally e Julie correndo para dentro do Domo, a fim de ajudar Seth.


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Notas finais do capítulo

Então?
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Até a próxima. :)



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