My Soldier escrita por LilyCarstairs


Capítulo 15
Chapter XV


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou gigante e agitado, espero que gostem e não me odeiem ao fim dele. IUSHDAIUASDH
Boa leitura.



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Liguei para Julie enquanto corria para casa e contei tudo o que havia acontecido. Ela tem o dom de entender pessoas chorando/correndo/falando, pois veio imediatamente para minha casa e me fez companhia. Não me lembro de quando parei de chorar ou quando deixei a camiseta (ou o que sobrou dela) em cima da cama para conseguir começar a pintar os quadros para a apresentação do dia seguinte.

Tentei não pensar na camiseta queimada, mas era difícil. Aquelas pinturas não foram meu melhor trabalho, já que eu pintava enquanto chorava e ouvia as palavras acolhedoras da minha melhor amiga.

Em algum momento da madrugada, fiquei brava comigo mesma por não ter corrido mais e não ter percebido o que acontecia antes. Talvez se eu tivesse alcançado Natally, a camiseta ainda estaria inteira.

– Pare de remoer isso, Liz. – Julie falou, com um pequeno sorriso. – Nós vamos revidar.

Suspirei. Agora, estávamos caminhando com os quadros pelas ruas geladas do Maine, rumo à apresentação. Chegamos à porta da escola e Rose nos esperava sorridente.

– Leiam isso e tentem se lembrar de algo para apresentar. – ela nos entregou uma folha de papel com algumas informações do time.

Julie e eu tentamos ao máximo decorar todas as informações enquanto os outros grupos iam apresentando seus trabalhos. A maioria do que estava escrito eu já conhecia por causa de Jonathan, então foi mais fácil para mim.

Natally não estava mais no nosso grupo, fora transferida para outro grupo a pedidos/gritos de Julie. Sorriu para mim quando subimos ao palco do auditório para a apresentação.

Explicamos tudo da melhor maneira que conseguimos. Os quadros não estavam tão ruins quanto eu pensei e conseguimos impressionar a professora com a nossa recuperação milagrosa. Senti um leve sentimento de “Lide com isso, Natally vadia” quando a professora nos elogiou.

Todas as pessoas que estavam lá parar assistir aplaudiram e sorriram. Hóquei é algo importante para o povo do Maine. Descemos do palco e Julie me puxou para um canto, Rose foi sentar-se na plateia para assistir as demais apresentações, o horário havia mudado um pouco de ontem pra hoje e atrás das cortinas do auditório estava um verdadeiro caos.

– Max acabou de chegar com Seth, vamos buscá-los para sua pequena vingança pessoal contra a Natally. – Julie informou, sorrindo. – Garanto que parte da dor da perda da camiseta sumirá depois disso.

– Talvez. – dei de ombros. Vingança não era realmente meu ponto forte.

– Venha logo, sua medrosa. – Julie me puxou para fora de lá, caminhando pelo corredor da escola até um pequeno cômodo inutilizado.

Seth e Max estavam lá dentro, com uma pequena sacola. Eu sabia o que tinha naquela sacola e senti um leve sentimento de culpa borbulhar dentro de mim. Eu iria mesmo fazer aquilo? Bom, sim.

– Tem certeza que isso é uma coisa importante para ela? – perguntei, olhando para Max. Mais cedo havíamos conversado rapidamente com ele para a ideia da vingança. – Acho que isso é meio bobo pra ser realmente importante pra alguém.

– Liz, é importante pra toda garota! – Julie protestou, então corrigiu: - Pra qualquer garota que não vive com o cabelo preso em um coque cheio de manchas de tinta dos quadros.

– Sua observação é ofensiva. – olhei séria para ela.

– Enfim, isso é importante pra ela. Mais do que muitas coisas. – Max garantiu, tirando os itens da sacola. – Vamos acabar logo com isso.

– Seth, comece sua parte do plano, então. – gesticulei para a porta e Seth sorriu. Não sei como nunca havia notado a cor dos olhos dele: azul, tão azul que parecia o fundo do mar. Tão azul quanto a tinta que estava dentro da sacola.

Depois que ele desapareceu pela porta, começamos a arrumar as coisas para a “Vingança Final”.

~

Foi fácil para o Seth trazer Natally até nós. Ela parecia desesperada para beijá-lo e por isso faria tudo o que ele pedisse. Pobre Natally, mal sabia que estávamos esperando-a dentro daquele lugar.

Quando ela entrou lá, Seth trancou a porta e acendeu a luz. A expressão da garota foi de felicidade para confusão, e quando Max e Seth seguraram seus braços, ela fez uma cara de pânico. Quase senti dó, a não ser pelo fato de ela ter queimado o melhor e último presente que meu namorado me dera.

– Olá Natally. – sorri para ela.

– Me soltem. – ela esperneava, chutando e se debatendo, então Julie segurou suas pernas, fazendo-a gritar.

– Ah, não grite. - coloquei uma fita em sua boca, evitando gritos e ofensas.

Segurei o pequeno recipiente em que havíamos misturado as tintas de cabelo e usei um pincel para aplicar no cabelo loiro de Natally. Ela entrou em desespero, esperneando com os olhos arregalados. Os outros três eram fortes o suficiente para contê-la, então continuei passando a tinta em seu cabelo.

– Espero que você goste de azul, já que seu cabelo ficará dessa cor. – informei à ela, enquanto passava a tinta por metade de seu cabelo. – Espero que goste de verde também, porque a outra metade vai ficar dessa cor. Sim, verde, como a camiseta que você queimou.

Terminei com a tinta azul, então levei o segundo recipiente, com a tinta verde, e mostrei para Natally. Novamente, a pontada de pena que sentia dela sumiu quando me lembrei do que ela havia feito com a camiseta.

Quando acabei de passar a tinta em seu cabelo, ela estava com manchas no rosto também, pois se debatia. Max, Seth e Julie faziam piadas sobre seu novo cabelo multio colorido enquanto seguravam-na. Tirei o último item da sacola e mostrei a ela.

– Acho que agora você não vai poder se debater... – mostrei a tesoura. – Ou você vai se machucar, Natally.

Seus olhos se arregalaram quando me aproximei e cortei uma mecha, deixando-a na altura dos ombros. Ela começou a chorar, mas não se mexeu. Olhava com ódio e tristeza enquanto os fios caiam aos seus pés. Não fiz a menor questão de deixá-los alinhados ou algo assim.

Antes dos outros soltarem-na, me aproximei e disse:

– Se contar isso a alguém ou tentar se vingar, podemos acabar com o resto do seu cabelo e das suas roupas. – ela olhava para meu rosto como se seu olhar pudesse me matar. – Podemos até mesmo bagunçar sua linda pele.

– Ou quebrar seu nariz de novo. – Julie acrescentou, sorrindo.

Olhei para o estrago final: Seu cabelo estava metade azul, metade verde e o corte desalinhado e terrível, parecia que cegos haviam feito isso. Que bom, já que a intenção não era deixá-la bonita. Max dissera que o cabelo era a coisa mais importante para Natally, e agora isso estava destruído, assim como ela fizera com o presente mais importante que eu recebera na vida. Sua aparência estava ainda pior por conta dos curativos em seu nariz quebrado. Ela se parecia com alguma aberração dos filmes de terror.

Eles soltaram-na e ela tirou fita da boca, esperei pelas ofensas, mas tudo o que ela disse foi:

– Tudo bem, Elizabeth. Ninguém vai saber disso, mas espero que você saiba que você agiu de maneira pior do que eu aqui. Você disse que sou alguém horrível, mas olhe só para o que você fez. Você não é diferente de mim, exceto que ninguém estragou seu lindo cabelo loiro.

– Ninguém colocou fogo nas suas roupinhas de grife, queridinha, então saia daqui e vá desfilar seu novo corte de cabelo. – Julie sorriu e apertou a ponta do nariz de Natally, fazendo-a ganir de dor. Mas ela não revidou, parecia irritada/cansada demais para fazer isso. Talvez o cabelo fosse realmente de toda essa importância para ela.

Julie e os outros riram quando ela saiu, mas as palavras dela estavam na minha mente, fazendo-me sentir culpada. “Pior do que eu”. Eu realmente havia feito algo terrível, mas estava consumida pela raiva. Não pediria desculpas à ela, mesmo que a leve culpa fosse aparecer toda vez que eu a visse.

– Ela estragou uma coisa sua, você uma coisa dela. – Julie disse para mim e minha provável cara de culpa. – Você apenas revidou e agora estão quites. O cabelo dela pode voltar, sua camiseta não.

Julie tinha razão, afinal de contas. Saímos de lá como se nada tivesse acontecido, levando conosco todas as provas do ocorrido.

~

Como era de se esperar, eu estava na casa da minha melhor amiga novamente. Não estava afim de ficar em casa sozinha e deprimida, então levei algumas roupas para lá, assim como algumas telas em branco para pintar quadros e meu computador.

Max também estava lá para assistirmos a algum filme, já que agora fazia parte do nosso circulo de amizades. Eles discutiram durante algum tempo até eu intervir e decidir por um filme qualquer de comédia.

Assistir um filme com esses dois é pedir pra ouvir conversas atrapalhando o tempo todo... Ambos conversavam animadamente sobre a vida, o universo e tudo o mais, enquanto eu tentava apenas assistir à um filme e me esquecer de que eu acabara de destruir os lindos cabelos de Natally.

Meus pensamentos foram interrompidos por um gritinho agudo de Julie. Ela estava em frente ao computador, que emitia um barulho e a foto de Ryan piscava na tela. Ele estava convidando-a para uma chamada de vídeo.

– Ele está bem! – ela sorriu e aceitou a chamada.

Ryan apareceu na tela do computador dela, não estava sorrindo muito menos aparentava estar ferido. Olhou para a namorada e disse:

– Eu estou bem, não se preocupe. Estava com saudades.

– Eu também, Ryan. – ela estava com os olhos cheios de lágrimas.

Ele sorriu, mas estava visivelmente abatido.

– Poderia ficar aqui até amanhã olhando seus lindos olhos, mas preciso realmente falar com a Elizabeth sobre algo importante.

Aproximei-me do monitor assustada, deixando Max no sofá. O namorado de Julie me olhou triste, enquanto contava o que havia ocorrido:

– Infelizmente, a base que foi atacada era a que Jonathan estava. Ele conseguiu escapar e chegou aqui, mas está ferido. Nada grave, ele até consegue acordar as vezes e falar algumas coisas, mas logo em seguida dorme de novo por conta dos remédios.

– Vocês vão mandá-lo de volta para casa? – perguntei. Até onde eu sabia, os soldados feridos voltavam para seus lares.

– Esse é o problema... Muitas pessoas foram mortas no ataque e não podemos abrir mão de um único soldado. – ele suspirou triste.

Um minuto de silêncio triste/tenso, até eu ouvir a voz de Jonathan.

– Onde ele está, Ryan? – perguntei, segurando o monitor.

– Lizzy? – pude ouvir sua voz fraca, mas não conseguia vê-lo.

Ryan ajudou o melhor amigo a se sentar, e só então consegui ver meu namorado. Senti uma dor no coração. Seu rosto estava em parte coberto por ataduras. Ele sorriu para mim fracamente. Senti as lágrimas descendo pelo meu rosto.

– JoJo... – não consegui falar mais nada, apenas chorar em silêncio.

– Eu vou ficar bem, Lizzy. – ele respondeu, ainda com a voz fraca. – Prometi que voltaria, e não pretendo descumprir isso.

– Eu te amo, Jonathan. Eu te amo muito. – era tudo o que eu conseguia dizer. Soava como se eu implorasse de maneira desesperada, desesperada demais para meus próprios ouvidos, mas era como eu me sentia. – Volte logo para mim, eu não aguento mais...

– Ei, não chore. – ele pediu, seus olhos estavam fechados quando falou as duas últimas palavras antes de cair no sono: – Por favor...

Ryan olhou triste para mim enquanto eu me afastava. Max se levantou e me abraçou forte, falando que Jonathan estava bem, que tudo voltaria ao normal. Deitei a cabeça ombro de Max e chorei todo o estoque de lágrimas. Chorei e chorei mais. Ouvia vagamente Julie conversando com o namorado:

– Eu amo a sua voz. É a voz mais perfeita do mundo. – ela dizia.

– Eu também te amo, cachinhos. – ele respondia.

E depois disso, não ouvi mais nada, pois o som de meus soluços cobriam qualquer som por perto.

~

Não me lembro de quando parei de chorar, mas Max não foi embora ou pareceu se incomodar em nenhum momento, fiquei grata por isso. Julie parecia nas nuvens ao saber que o namorado estava bem. Pelo menos o dela estava. Mas sua animação desapareceu quando a conversa com Ryan acabou. Virou e me encarou.

– Liz, você ouviu quando ele falou que o Jonathan ficará bem! – ela sorriu, se aproximando e me abraçando.

Max estava à minha esquerda e Julie à minha direita, ambos tentavam fazer com que eu me sentisse melhor... Nenhum dos dois conseguiu.

– Talvez um chocolate quente ajude? – Max sugeriu, me encarando com seus olhos cinzas e um sorriso gentil.

Concordei com a cabeça e observei enquanto ele se afastava. Julie me encarou, esperando que eu dissesse algo, mas tudo o que eu queria fazer era deitar e chorar. Fechei os olhos e imaginei meu JoJo com o rosto intacto novamente, antes de toda essa guerra, tão bonito... Imaginei seu sorriso, tão infantil e contagiante, os olhos sempre brilhantes... Tudo isso perdido em meio à curativos.

Max voltou com o chocolate quente e me entregou. Tomei um gole e me senti um pouco melhor. Ambos tentaram puxar conversa enquanto eu bebia o chocolate, eu permaneci calada. Sabia que estava sendo chata com eles, mas simplesmente não consegui sorrir e prestar atenção no que diziam.

De repente, me dei conta de que a família de Jonathan ainda não sabia o que estava acontecendo. Levantei às pressas e caminhei para a porta, avisando onde estava indo. Julie se ofereceu para me levar, mas eu já estava correndo pelas ruas geladas. Lembrei que estava sem casaco quando já estava à alguns quarteirões de distância da casa de Julie. Não tinha tempo para voltar, então me encolhi e continuei correndo.

A mãe de Jonathan pareceu surpresa quando me viu batendo na porta de sua casa com uma expressão desesperada e sem casaco com uma nevasca à caminho. Ela deu passagem para que eu entrasse e me ofereceu algo quente para beber. Recusei educadamente, avisando que tinha algo muito importante para falar.

Sentamos na sala e contei para ela tudo o que Ryan dissera e minha pequena conversa com Jonathan. A pobre moça parecia a beira das lágrimas quando terminei de contar a história.

– Meu filho foi atacado? – ela falou com a voz abafada, já que sua mão cobria o rosto.

– Sim. – concordei, com um nó na garganta. – Ele está se recuperando, mas não será dispensado dos serviços.

– Isso é tão... – ela parecia sem palavras.

– Injusto? Eu sei. – olhei para baixo, tentando não parecer revoltada com a situação. – É o que essa guerra toda é: Injusta.

Trocamos um olhar triste sem saber o que dizer. Ambas estávamos sofrendo e sabíamos o quanto doía a distância e a preocupação de ter alguém amado na guerra. Tudo que pude dizer foi:

– Eu sinto muito.

Agora foi a vez de Anna Marie chorar e eu abraçá-la. Ela chorou durante muito tempo, e em algum momento percebemos que ele não estava morto, apenas ferido... Esse foi o nosso pensamento de autoajuda durante o resto do dia em que passamos sentadas no sofá conversando sobre Jonathan. Ferido, mas não morto.


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Notas finais do capítulo

Se gostou/não gostou/tem dúvida/sugestão só mandar reviews, ou mandar mensagem, ou me contatar em algum lugar.
Até a próxima. :)



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