Effie e Haymitch - Desde o Início (Hayffie) escrita por Denuyn


Capítulo 17
17


Notas iniciais do capítulo

aeee depois dessa eternidade sem postar, eu tinha que esmagar vcs com capítulos novos mesmo



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Como escolta, eu teria que ficar com o mentor no backstage até e durante a entrevista, mas eu não me aguentava de nervosismo. Os nossos tributos eram os últimos da fila, e eu e Haymitch estávamos sentados do outro lado do corredor, encarando o amontoado de tributos deslumbrantes que se preparava para expor uma personalidade pronta, falsa como os seios da maioria das mulheres da plateia. Quando a tributo do 1 deu sua primeira risadinha forçada, virei minha cabeça para Haymitch e sussurrei:

– Essa aí está tentando soar de que maneira? Sexy ou guaxinim agonizante?

Haymitch soltou uma gargalhada repentina que chamou a atenção de todas as pessoas presentes na coxia, fazendo-me ficar vermelha como um pimentão imediatamente. Ele então, falou, bem alto:

– Não, eu não acho que consigo deixar a bebida de lado durante as entrevistas! Céus, Trinket, você tem muito a aprender – e tomou um longo gole de seja lá o que fosse que estava bebendo. Senti meu rosto ficar ainda mais vermelho, então lhe lancei um olhar irritado e levantei-me, indo procurar um bebedouro.

Bebi um pouco d’água e fiquei rondando nos corredores antes de ir ao banheiro retocar a maquiagem. Enquanto aplicava o batom vermelho-escuro, a porta se abriu e Sailee entrou, segurando os saltos nas mãos.

– Ah – ela me encarou por um momento – Aí está você.

– Sim, estou! – falei, como se o simples fato de estar no banheiro fosse algo simplesmente ótimo. Céus, como era patético – E você tem certeza que deveria estar descalça? A entrevista começa daqui a pouco, você tem que estar cem por cento preparada!

– O distrito 8 ainda não foi – ela deu de ombros – tenho pelo menos quinze minutos.

– Ora, para fazer o quê? – soei leve, como se realmente não visse razão para sair do backstage do programa.

Ela deu de ombros.

– Para me livrar desses sapatos por mais de quatro segundos – Sailee se encostou na parede – e de Haymitch.

– Hm? – fingi não ter entendido.

– Não consigo aguentar ele. É tão...

– Bêbado? – dei um sorrisinho que ele teria achado detestável.

Sailee esboçou um sorriso.

– É. Mas também inconveniente, rude, intrometido, debochado, irritante e todas essas outras coisas.

Foi a minha vez de dar de ombros.

– Contanto que ele não derrube nenhuma bebida fedorenta na minha roupa.

Agora eu conseguira arrancar uma risadinha leve da tributo.

– Não sei, vocês parecem bem amigáveis para mim.

Pisquei. Eu estava fazendo alguma coisa errada?

– Como?

– Vocês estão sempre juntos. E você fica dando sua bebida pra ele e sentando perto dele o tempo todo.

– Isso porque eu sou uma pessoa muito generosa e tenho que ficar com ele o tempo inteiro; somos colegas de trabalhos, pelo amor de Deus! – ri.

Sailee lançou-me mais um olhar desconfiado que achei parecer malicioso e falou, antes de sair do banheiro:

– Se você diz.

Permaneci com a mesma expressão confusa por alguns momentos antes de balançar a cabeça e guardar o batom, para depois sair do banheiro.

Ao voltar para o backstage, vi que só um dos tributos do 9 já havia ido e Haymitch conseguira uma garrafa nova. Sentei-me com pelo menos vinte centímetros de distância e sussurrei discretamente demais para alguém da Capital:

– Vamos conversar mais tarde.

Ele me encarou com uma sobrancelha levantada, mas deu de ombros e bebeu mais um pouco. Suspirei e esperei que fosse a vez do 12.

Henry foi primeiro. Ele quisera soar simpático e confortável, mas era mais que óbvio que sentia-se tão deslocado quando um peixe numa colmeia.

– Senhoras e senhores – Caesar exclamou alguns segundos antes que Henry entrasse no palco – Com vocês, o tributo masculino do distrito 12! Henry Paleck!

Onda de aplausos, muito barulho, todos sorrindo falsamente, Henry desconfortável. Até que a entrevista chegou a esse ponto:

– Diga-me, Henry: como é a sua relação com a outra tributo? Vocês se falavam antes da Colheita?

Henry hesitou, mas sorriu e disse:

– Na realidade, Caesar, ela é a namorada do meu irmão mais novo.

O burburinho emanando da plateia aumentou de intensidade e Caesar olhou para a câmera com uma expressão cômica qualquer.

– Uuuuuhhh, vejam só! Eles têm alguém em comum! – ele virou-se para Henry novamente – E como é a sua relação com seu irmão?

Henry pareceu pensar um pouco mais para essa, demorando uns dois segundos para dizer, simplesmente:

– Eu espero que ele me perdoe.

Depois de um momento de leve desconcerto, Caesar forçou o sorriso ainda mais.

– E... posso perguntar pelo quê você espera ser perdoado?

Henry riu e se recostou na poltrona pela primeira vez.

– Temo que não, Caesar – respondeu humoristicamente e ainda sorrindo.

Desnecessário dizer que Caesar desperdiçou mais umas duas perguntas tentando tirar isso de Henry, sem sucesso. Para finalizar, ele voltou à questão dos Jogos.

– Finalmente, Henry, gostaria de perguntar: o que você tem a dizer sobre os Jogos desse ano?

– Eu acho que os Jogos desse ano serão espetaculares. Como esperado – completou, abrindo o sorriso mais bonito da entrevista.

Caesar pareceu satisfeito com a resposta e anunciou Henry mais uma vez, levantando-se e apertando sua mão, para finalmente deixa-lo ir. No momento em que ele me encontrou no backstage, lançou-me um olhar tão triste que eu não pude falar nada para confortá-lo; apenas deixei-o sentar-se em outro lugar para esperar Sailee.

Quando ela subiu no palco, era claro que não conseguia andar direito nos saltos. Seu sorriso era muito congelado e mostrava a arcada de baixo e a de cima, dando um ar assustador à seu rosto jovem. Sentar-se na cadeira depois de cumprimentar Caesar pareceu um alívio e ela não conseguiu parar de mexer as mãos durante a entrevista inteira. Quando Caesar parou de perguntar sobre a Capital, o que ela achava de lá e quão interessante era seu visual, ele resolveu cutucar o ferimento e perguntou sobre o namorado de Sailee.

– Bem, Sailee, um passarinho me contou que você tem alguém especial lá no seu distrito. Você tem esperanças de reencontrá-lo?

Percebi que Sailee estava prestes a responder que não, a resposta que queria dar, a resposta que acreditava, mas ao ver a imagem dela própria na Colheita iluminando o painel atrás de Caesar, deve ter se lembrado que queria voltar para aquilo, queria estar com Evan de novo. Eu quase senti o mesmo junto com ela, então quando ela respondeu, eu soltei a respiração que não percebera estar prendendo.

– Eu realmente espero que sim, Caesar. É tudo que mais quero.

As mulheres da plateia fizeram um som parecido com um gato sendo torturado, o que significava que se apiedaram da tributo separada de seu amado. Caesar produziu uma expressão de compaixão e compreensão, tocando o braço de Sailee.

– E torcemos que consiga, querida.

Ela sorriu docilmente, sem mostrar os dentes, e assentiu em agradecimento.

– E isso nos traz à pergunta final – Caesar continuou, agora sorrindo – O que você tem a dizer sobre os Jogos Vorazes desse ano?

Sailee pareceu pensar por um momento antes de sorrir e falar:

– Acredito que eles darão o que dizer. No bom sentido, claro – abriu o sorriso e foi aplaudida, para depois ser dispensada da entrevista da mesma maneira que Henry, sendo seguida pelos gritos frenéticos da plateia colorida. Quando me viu, ela me encarou nos olhos e tudo que eu fiz foi assentir em compreensão. Eu entendi porque ela disse que tinha esperança; precisava de patrocinadores, e apelar para a compaixão das pessoas era uma boa estratégia, mas ela precisava assegurar Evan que acreditava. Que ainda o amava, que queria vencer para vê-lo de novo. Ele não se despediu dela nem do irmão quando foram sorteados, e aquela fora sua mensagem para ele.

Voltamos para o apartamento em silêncio, apenas o leve ruído do elevador acompanhando nossos pensamentos. No momento em que atingimos nosso andar, Sailee jogou os sapatos no outro lado da sala e correu para seu quarto, virando a chave violentamente. Henry simplesmente ficou parado embaixo do batente por um momento antes de caminhar calmamente até seu quarto e lá se trancar também. Virei-me para Haymitch e suspirei. Sinalizei para que fôssemos até meu quarto e fechei a porta cuidadosamente. Tirei os sapatos e a peruca e me sentei na grande poltrona rosa-chá ao lado da cama, enquanto ele me encarava da outra cadeira.

– Então, eles se decidiram por nós – ele disse, quebrando o silêncio.

Eu simplesmente assenti, então ele mudou de posição e continuou.

– Você acha que isso rendeu patrocinadores?

– Para Sailee, talvez. Henry certamente destruiu qualquer chance com aquela história de perdão. Ele deveria saber que Caesar faria perguntas, e não ter respondido do jeito que a Capital queria estragou tudo. Mas acho que era o que ele pretendia. Já escolheu dar sua vida por Sailee, e acho que devemos respeitar suas decisões.

Haymitch assentiu em concordância.

– Você faz alguma ideia do porquê Sailee disse que tinha esperanças de ganhar? A não ser que eu tenha entendido a coisa toda errado, ela nunca achou que tivessem chances de vencer essa merda. Pra quê mentir justo pra Capital inteira?

– Evan estava assistindo, Haymitch.

– E daí?

Encarei-o por um momento antes que ele percebesse.

– Ah! Ah. Sim. Entendo.

– Pois é.

Depois de um curto silêncio, ele tomou mais um gole da bebida, levantou-se, andou até a cama, perto de mim, e sentou-se, me encarando.

– Mais uma pergunta.

– Sim?

– Qual é a sua bebida favorita?

Eu não pude evitar uma gargalhada que jogou minha cabeça pra trás. Seu tom não era sério, mas eu imaginava que ele perguntaria algo mais relevante.

– Qual é a graça? – ele perguntou, sorrindo – Eu só quero saber a bebida; não precisa ser coquetel ou mistura nem nada!

– E eu lá vou saber, Aber? – apoiei os cotovelos nos joelhos, ficando de cara a cara com ele – Eu só bebo quando alguém mais importante me convida, e sempre peço martíni ou um drinque de licor de cereja e gim.

– Licor, então? – ele quis saber, ainda com o sorriso debochado estampado no rosto.

– Sei lá! Gim é mais provável, talvez?

Ele riu em triunfo e segurou meu rosto para um selinho.

– A-há! Agora eu sei! Viu, não foi tão difícil.

Acompanhei-o nos risos e perguntei:

– E a sua bebida preferida?

– Ora, você devia ter percebido – ele levantou uma sobrancelha – Uísque, é óbvio.

– Ah, sim, claro – sentei-me na cama ao seu lado – Tão óbvio, me perdoe por ter deixado essa passar.

E assim, sentados lado a lado, sorrindo, ele segurou minha mão, aproximou-se e selou nossos lábios. E naquela noite, nós não nos preocupamos com qual tributo ajudaríamos ou se um deles sobreviveria, e sim com não fazer barulho.

Acho que não deu muito certo.


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Notas finais do capítulo

desculpem pela cena de pegação fantasma, prometo que depois dos jogos vai ter :D
é issae, até o próximo capítulo :3 abraços infinitos o/