Por instinto dei alguns passos para trás. Como isso aconteceu? Nana virou alguma espécie de vampira? Eu deveria ter ido atrás dela quando percebi que estava faltando ás aulas. Eu deveria ser uma amiga melhor.

– Desculpa, te assustei? – ela arrumou sua blusa e sua echarpe escondendo todas as marcas.

– Se me assustou? Quase tive um enfarto!

Ela riu.

– Pensei que você já estava mais acostumada com o mundo sobrenatural, Alice.

– O que quer dizer com isso? – sem querer gaguejei um pouco.

– David me falou sobre o que você é – podia notar um pouco de decepção na sua voz – Uma fada. Quem diria, não é? Se me falassem isso antes eu iria dizer que a pessoa está louca e você no máximo seria a Fada da Preguiça Boa – ela riu de sua própria piada – Quando você ia me contar?

– Eu descobri há pouco tempo – disse – Alex...

– Alex – ela me interrompeu – Claro, o ceifador tinha que ter algo a ver com isso.

– Como sabe sobre isso?

– David sabe sobre muitas coisas, me falou tudo que deveria saber. Ele me disse que Alex é uma espécie de anjo da morte que busca as almas daqueles que já se foram e as leva para o outro lado e quem Alex te salvou quando você foi sequestrada. Você devia ter me dito isso.

– Eu já disse que só fiquei sabendo recentemente disso tudo – eu conseguia sentir que Nana não estava realmente prestando atenção nas minhas palavras – Não sabia de nada disso, Alex me fez esquecer.

– Não acredito – ela balançou a cabeça e sorriu – Olá amor.

Virei-me e deparei com David sorrindo atrás de mim. Sem as luzes coloridas ele parecia ainda mais pálido.

– Amor – seu sorriso revelou caninos afiados – Obrigado por trazer sua amiga até mim.

– De nada – Nana parecia um cachorrinho ao ver seu dono.

– O que você quer comigo? – perguntei.

David me segurou por trás de uma forma que me deixou imobilizada, tentei em vão me debater contra sua força sobre humana.

– Quero o que qualquer vampiro quer – disse – Seu doce sangue de fada – ele acariciou meu rosto com sua mão gelada.

Virei o rosto segurando o vomito que subia pela minha garganta. Nana estava imóvel do lado de David sorrindo como se só existissem os dois no mundo e ele não estivesse tentando chupar meu sangue.

Continuei me debatendo numa tentativa inútil de conseguir minha liberdade, David apenas riu.

– Não adianta tentar, pequena Alice – sua voz era tão sedutora e repugnante. Como alguém consegue ter uma voz assim? – A primeira mordida é a que mais dói, mas não se preocupe, não pretendo mata-la tão rápido.

Eu aposto toda minha coleção de pokémons adquiridos nas maquinas de moedas em padarias que ele estaria sorrindo de um jeito bem psicopata.

Algo começou a esquentar no meu peito e me lembrei do que estava escondido por debaixo da blusa. Meu amuleto. Talvez se aquele poder me proteger novamente... Como posso invoca-lo?

– Solte-a agora vampiro bastardo – disse uma voz masculina muito séria.

– Alex – David disse o nome com uma grande admiração – Queria mesmo encontra-lo.

Alex surgiu no meu capo de visão. Ele não estava mais com sua blusa de coelhinho, usava o uniforme de ginastica masculino, uma calça moletom bem folgada e uma regata que marcava seus músculos. Argh! Eu me odeio por pensar tais coisas num momento como esse!

– Se queria me encontrar para morrer mais rapidamente, conseguiu isso – os olhos dele ficaram vermelhos por apenas um segundo antes de voltar a sua cor natural.

– Seria uma honra morrer pela sua foice, ceifador. Infelizmente hoje vim apenas buscar essa garota, claro que se tentar me impedir vamos ter um belo duelo.

Poder. Poder. Poder. Magia branca e pura. Magia branca e pura. Droga! Como faço pra invocar aquela maldita luz cegante que faz os monstros virarem pó?

– Quem disse que eu vou gastar a lamina da minha foice com um bastardo como você?

David vacilou por um momento e afrouxou um pouco seu aperto, infelizmente isso não foi o suficiente pra que eu pudesse fugir.

Alex me explicou que algumas pessoas são transformadas em vampiros através de mordidas enquanto outras nascem de vampiros antigos através de magia. Não consigo entender como alguém que nasce através de magia pode ser um bastardo.

– Você não sabe o que diz ou quem provoca, ceifador.

– Na verdade- Alex sorriu - Eu sei muito bem – como num passe de pagina um caderno preto apareceu no ar. Alex folheou as paginas até encontrar o que queria – Aqui está. David Isnovaik. Filho de uma mulher adultera que era casada com o chefe do clã Isnovaik. Que interessante, aqui diz que quando seu pai descobriu sobre o caso que ela teve com outro homem quando ainda era humana ele a matou na sua frente.

– Papai é um homem louco – David não soava confiante, sua voz e seu corpo estavam trêmulos. Alex soube como acerta-lo onde dói.

– Eu sei como é ser criado por um homem louco – o caderno virou fumaça e sumiu no ar – Você não tem que leva-la, sua linha de vida é longa até mesmo para um vampiro não tem porque se arriscar numa missão suicida como essa.

– Suicida? Eu sou tão poderoso quanto você, ceifador.

– Nenhum sobrenatural é forte como um deus da morte – o ar pareceu mais pesado como se estivesse sentindo a tensão entre os dois – E se você não soltar minha garotinha agora vai conhecer uma ira que é reservada apenas para os piores assassinos.

Ouvi David engolir a saliva várias vezes, ele sem dúvidas está pensando se é melhor sobreviver ou me levar como prêmio.

– Amor – Nana apontou para um ponto mais adiante.

Aos poucos aquele ponto foi se aproximando e identifiquei uma forma humana.

– Dessa vez passa ceifador.

Num rápido movimento David me cortou com suas unhas que pareciam garras e lambeu meu sangue. No segundo seguinte ele e minha melhor amiga haviam desaparecido.

Cai no chão e fiquei olhando para a grama cujo verde se parecia tanto com o dos meus olhos.

– Você está bem? – Alex perguntou.

Fiz que sim com a cabeça e deixei que ele me arrastasse para fora da escola.

Como isso pode ter acontecido? Nana é minha melhor amiga e sempre será. Sempre.

Ela não devia se transformar numa vampira louca que quer ajudar o namorado a me sequestrar isso vai contra os princípios do código feminino e o da amizade.

Quando chegamos na rua Alex tampou meus olhos com as mãos, quando ele as tirou percebi que estava no meu quarto.

– Como ?

– Pérola de teletransporte, isso até que é útil de vez em quando.

– Não – balancei a cabeça – Como Nana se transformou? Como não percebi?

– Nana foi transformada recentemente, ainda posso sentir a vida humana nela. Provavelmente está na fase de dependência, ela depende de David para se alimentar e vai continuar assim até ter o suficiente. Não pense que ela quer te matar, garotinha, ela deve estar hipnotizada pelo sangue.

– Como eu não percebi? – gritei – Que merda de amiga eu sou que não percebe isso?

– Não podemos controlar tudo, Alice. Aceite esse fato.

Cai na cama e enfiei a cara no meu travesseiro enquanto Alex fazia carinho nos meus cabelos.

Talvez se eu tivesse percebido com o sumiço dela ou se fosse mais forte e pudesse dar uma boa surra em David me sentiria melhor agora. E talvez eu possa.

– Alex – chamei.

– Sim.

– Me ensine a ser forte – disse com o máximo de confiança que consegui.

– Estava esperando ansiosamente que você me pedisse isso.

Finalmente me sinto acordada e disposta a lutar por algo.