Capítulo 5

Finalmente eu chegara ao fim de Mystic Falls, a placa de “Volte Sempre” estava em minha frente. A mala de rodinha pesava e eu não sabia o que seria de mim daquele momento em diante.

Suspirei, tentando não chorar. As lembranças vieram e eu fiz o possível para não deixar as lágrimas caírem, e elas não caíram. Dei um passo para frente e finalmente estava fora de Mystic Falls, pela primeira vez em minha vida.

Meu primeiro passo era ir até o aeroporto, eu tinha uma boa quantia em dinheiro guardado no banco para minha tão sonhada faculdade, parte era da herança de meus pais, a outra parte era o resultado de três anos de trabalho na lojinha do Sr. Park.

Olhei em meu celular, passava das seis horas da manhã, provavelmente Jeremy já acordara chorando em busca de alimento. Sorri já cheia de saudade enquanto seguia a pé.

Finalmente cheguei num ponto de taxi, na cidade vizinha (já que em Mystic Falls não possuía taxi), dei sinal e um parou. O motorista era um senhor barrigudo dos cabelos brancos e sorriso grande.

– Para onde minha jovem? – indagou sorridente em plena manhã, não consegui retribuir o sorriso e funguei.

– O aeroporto, por favor – pedi. Ele viu que eu não estava bem e não fez mais perguntas, indo para o caminho indicado.

Dentro de meia hora, estávamos no estacionamento do aeroporto, ele me ajudava levando as malas até a entrada.

– Entregue – ele sorriu – Fique bem, minha jovem.

– Obrigada – sorri.

O motorista, que eu descobri se chamar Kevin, não aceitou meu dinheiro, disse que era uma cortesia, já que eu era sua primeira cliente do dia. Acenei e ele voltou ao carro amarelo.

Já no aeroporto, saquei uma pequena quantia do banco, decidindo que iria para Londres, quem sabe lá eu faria minha tão sonhada faculdade de medicina. Sorri com o pensamento quando fui comprar a passagem.

Logo eu estava no avião, rumo a minha nova realidade, uma realidade sem Jeremy, sem Stefan, ou Damon, talvez eu até sentisse falta dos gritos de Tia Jenna, ou não.

Depois de algumas horas cheias de lembranças e lágrimas, finalmente o avião pousou em Londres. Peguei minha mala e chamei um taxi.

– Destino? – ele indagou cansado, já eram duas horas da tarde.

– Eu queria ficar em algum hotel – disse e ele assentiu.

Nós fomos para o centro de Londres, até que avistei um hotel com a fachada vermelha com o nome em uma placa grande com belas letras “Hotel Forbes”. Agradeci e paguei o taxista, ele pegou minha mala e eu entrei.

O ar era aconchegante e logo na entrada, havia sofás e cadeiras, com uma mesinha no centro com uma garrafa de café e alguns copos descartáveis. Fui à recepção e uma moça loira dos olhos azuis me atendeu sorridente.

– Oi! Sou Caroline Forbes, a filha dos donos – ela deu um sorriso modesto erguendo a mão esquerda.

– Elena Gilbert – apertei sua mão e sorri, um sorriso falso, muito falso – Eu quero um quarto.

Combinei o preço de uma semana do quarto e o aluguei. Eu precisava de um apartamento e de um emprego, urgentemente. Ela me levou até o quarto numero 76 do terceiro andar.

– Está entregue, qualquer coisa, pode me chamar, serei toda ouvidos – ela piscou um olho e me abraçou. Seu ato me surpreendeu, e eu vi que realmente precisava daquilo, por mais que ela soubesse nada da minha vida.

– Érr... Obrigada Caroline – disse quando nos separamos, ela sorriu animada, saindo com pequenos pulos até o elevador.

Suspirei, entrando no quarto; ele era decorado em bege, com uma cama de casal bem fofa, havia uma escrivaninha ao seu lado, no canto um guarda-roupa branco. Havia uma pequena parede dividindo essa parte de outra, que era uma minicozinha. E claro, havia o banheiro entre as duas partes, não era tão grande, mas o suficiente para mim.

Joguei-me na cama, me preparando mentalmente para uma nova vida, sozinha. Eu espero me sair bem em tudo isso. Tomei um banho que não me relaxou, a agua caindo apenas me lembrava dos olhos azuis de certo Salvatore.

A única coisa que eu queria naquele momento era me jogar de um prédio de cinquenta andares, com certeza a dor seria menor que a traição de Damon, mas não daria esse gostinho a ele, ou a todos do colégio que colaboraram para minha humilhação, eu iria vencer na vida, iria me tornar uma medica dedicada e boa, iria cuidar das crianças de diversos lugares, e construiria uma família, a mais perfeita de todas.

Sorri diante as lagrimas, sim, eu chorava, porque a dor era dilacerante, ainda não sabia como minhas pernas aguentavam meu peso.

Desliguei o chuveiro e procurei alguma roupa na mala. Coloquei um moletom velho e me joguei na cama, com os cabelos amarrados num coque mal feito. Logo dormi, sonhando com a pior noite da minha vida.

O vídeo constrangedor passava no telão e todos riam, apontando para mim, todos focados em mim, até mesmo o homem que eu sempre amei, ele se controlava para não rir, mas não conseguia, logo gargalhava como todos.

Levantei da cama assustada, limpei o suor de minha testa e percebi que pequenas lágrimas escorriam. Olhei a hora em meu celular, e o desbloqueei, eram três horas da tarde do outro dia e havia chamadas perdidas e mensagens de Damon e Tia Jenna.

“Onde você está Elena? Não me diga que viajou com o seu namoradinho” – Tia Jenna.

“Elena, por favor, atenda minhas ligações, estou preocupada, de verdade” – Tia Jenna.

“Jeremy não para de chamar por você, e ele está chorando, volta pra casa, estamos preocupados, me dê noticias” – Tia Jenna.

A outra era uma mensagem de voz que me trouxe lágrimas novamente e me fez soluçar entre o choro.

– Lena... Casa... Vota Lena... Jer... Saudade – ouvi a voz do meu bebê e chorei mais ainda, encolhida na cama, Jeremy era um anjinho, tão pouco tempo longe dele e eu já estava morta de saudades.

As próximas eram mensagens de Damon.

“Elena me perdoa. Deixe-me explicar tudo, por favor, eu te amo, te amo muito”.

“Lena, me responde amor. Estou preocupado”.

“Elena, eu sei como eu errei, mas não faz isso comigo, me responde, por favor, juro que vou fazer você a mulher mais feliz do mundo, apenas me dê uma segunda chance”.

Ler aquelas mensagens dele fez meu coração vacilar e mandar a seguinte mensagem “Eu te amo e te perdoou”, mas seria a mais completa mentira, eu o amava, muito, mas o que ele fez nunca teria perdão. Ele me machucou, me quebrou por dentro por dinheiro. Eu fui apenas uma aposta para ele, nada mais, e agora ele se fingia de preocupado.

“Eu achei que você era perfeito, mas mais uma vez eu me decepcionei. Eu te amo, Damon, e me arrependo completamente de ter acreditado em suas palavras” – Enviei a mensagem, minha ultima mensagem para ele.

Havia muitas outras mensagens de Damon, que eu ignorei, segurando as lágrimas. E uma ultima, de Stefan.

“Eu fui um idiota, me envolvi com aquilo e apoiei meus amigos, quando era você quem mais precisava de mim, espero que você me perdoa um dia” – meus olhos se arregalaram com a mensagem de Stefan e apertei o celular contra meu peito.

Disquei os números de casa e logo ouvi o bip.

– Alô? – minha voz vacilou, mas fora Jenna quem atendera, ela suspirou aliviada e quase pude a imaginar sorrindo.

– Elena, graças a Deus você está bem – disse – Onde você está?

– Não conta para o Damon nem para o Stefan, ok?

– Entendo – ela respondeu como se já soubesse do baile, claro, a cidade inteira deve estar sabendo.

– Eu estou em um hotel em... – vacilei, era óbvio que ela iria contar, não podia falar a verdade – Nova Iorque.

– Uau, você foi longe! Quando volta?

– Eu usei o meu dinheiro que estava guardado para a faculdade. Não vou voltar, não tão cedo, vou me ajeitar por aqui mesmo, tia – suspirei.

– Elena, Jeremy está com saudades, não comeu nada hoje, apenas chora e chama por você.

– Passa o telefone para ele, quero falar com ele – ela passou e segurou o telefone em seu ouvido – Oi bebê! – logo ouvi sua risada gostosa e me deu vontade de voltar a chorar.

– Elena... Lena... Lena... – ele cantarolou batendo palmas (ouvi o barulhinho das suas pequeninas mãos).

– É a Lena sim. Olha Jer, você precisa comer, não vou voltar tão cedo, então não nos veremos, mas não precisa ficar tristinho, vou ligar todos os dias e quero que o senhor esteja forte quando foi falar comigo, ok?

– Lena não vota – imaginei-o com um beicinho e sorri.

– Ela volta sim, por você, tudo é por você. Vou desligar meu anjinho, e coma seu almoço viu? Imagine um abraço bem forte que eu sempre dou em você – sorri e ouvi sua gargalhada, logo desliguei a chamada, e passei a encarar o celular.

Meu dia já melhorara muito depois das poucas palavras de Jeremy, que além de meu irmãozinho, era como um filho para mim.

Tomei um banho demorado e coloquei uma roupa casual, estava animada, por mais que só tenham acontecido desgraças em minha vida.

Fui para a recepção e encontrei Caroline conversando com uma mulher loira. Ela acenou e me chamou.

– Mãe, esta é a Elena, nossa mais nova hospede – ela sorriu animada – Elena, esta é minha mãe, Elizabeth, mas ela gosta de Liz, ela é chefe da policia, e meu pai, que não está aqui, é o dono do hotel.

– É um prazer, Sr. Forbes – sorri tímida estendendo minha mão, mas ela me surpreendeu com um abraço.

– Por favor, Elena, me chame de Liz, senhora me faz sentir velha, e eu ainda sei usar uma arma perfeitamente bem – rimos e ela logo saiu, tinha que ir fazer seu turno.

– Você é muito parecida com a sua mãe – disse me sentando ao lado de Caroline.

– Ela é tão incrível, Elena, a mulher mais guerreira do mundo – ela sorriu orgulhosa – E você? Conte-me um pouco sobre você.

– Minha vida não é muito interessante – tentei mudar de assunto – Mas podemos resumir dizendo que ela é uma bosta.