Alinhamento Astral. escrita por Luali Carter, Rocker


Capítulo 8
Capítulo 7 - Conhecendo meu novo lar


Notas iniciais do capítulo

Estou tentando fazer uma lista de dois blocos, para que as fics sejam postadas a cada duas semanas. Não sei se funciona, e nem se vou conseguir postar todas as previstas, mas tentarei postar sete delas durante o fim de semana, e Alinhamento é uma das que estão na lista. Então aí está ;) E eu sei que vcs vão querer me bater depois, mas tudo vai dar certo no final!



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Capítulo 7 - Conhecendo meu novo lar

CHARLIE

Lua desceu disparada pela Colina na direção de onde eu imaginava que Leo estivesse. Eu ainda estava congelada no lugar, com Nico extremamente próximo a mim. Eu não sabia o que falar, eu não sabia o que fazer, não sabia nem mesmo o que pensar! Mas a única coisa que se passava pela minha mente era que eu estava livre. Estava livre para amar, mas eu não sabia como. Nunca passara por isso e eu tinha medo do que podia vir. Fiquei observando os arredores do Acampamento até que o peso do olhar de Nico se tornou insuportável. Quando eu o olhei, ele estava sorrindo para mim. E isso fez meus olhos se alterarem para rosa, enquanto os cabelos permaneciam no vermelho.

– Você voltou. - ele disse novamente, sorrindo abobalhadamente e foi quase inevitável que um sorriso semelhante se abrisse em meu rosto.

Eu estava radiante apenas ao me lembrar de que ele realmente me esperara. Meus olhos se tornaram amarelados e vi o olhar confuso de Nico sobre eles, tentando decifrar o que as cores diziam.

E de repente o sorriso em seu rosto se apagou.

– Não pensei que voltaria. - ele disse, agora com a expressão séria.

Suspirei pesadamente e senti meus olhos transmutando para o negro.

– Também pensei que não viria. - eu sussurrei.

– Charlie, você parece diferente. - ele disse, dando um passo atrás e me olhando de cima à baixo. Eu até chegava a imaginar o quanto a falta de imortalidade me deixaria abalada.

– Diferente como? - perguntei, com os olhos azuis escuros.

– Você me parece mais pálida. - ele disse, colocando a mão sobre meu rosto e acariciando minha pele com o polegar.

Apenas com esse toque eu senti algum tipo de energia atravessando meu corpo. Era uma sensação incrível e inexplicável.

– Impressão sua. - eu disse rapidamente, mas senti minha voz falhar no fim da frase. Não era impressão, mas eu ainda não tinha ideia de como dizer a ele que eu desistira da Caçada por ele. Não era algo que um garoto ouvisse todo dia.

– Por quê seu arco não está prateado?! - ele perguntou parecendo assustado, olhando para o arco e a aljava pendurada em meu ombro. - O que aconteceu, Charlie? Isso tem algo a ver com o fato de ter me pedido para te esperar aqui?

Suspirei pesadamente, com meus olhos se tornando acizentados. Eu sabia que mais cedo ou mais deveria lhe contar, mas eu esperava, com todas as minhas forças, que isso fosse mais tarde.

– Eu saí da Caçada. - eu disse e percebi a surpresa e o espanto tomando conta de seu olhar.

– Como assim saiu?! - ele perguntou, enfatizando bem o problema. - E isso é possível?!

– Não. - eu respondi, deixando-o ainda mais confuso. - Ontem foi um dia importante. Um alinhamento entre o planeta Vênus e a Lua.

– E daí?

– Daí que Ártemis disse que teríamos esse dia para decidir se quiséssemos sair da Caçada ou continuar.

Acho que ele pareceu mais confuso do que antes.

– Ela simplesmente deu livre arbítrio pra vocês?! Sem mais nem menos?!

– Não. - eu disse e ele estava prestes a comentar algo a mais, mas eu sabia que se não parasse por aí, acabaria dizendo algo que não devia. Principalmente com o olhar profundo dele sobre mim. - Longa história, mas prefiro não falar dela agora.

Ele suspirou de modo derrotado. - Tudo bem então. Mas vai me dizer ao menos o motivo de ter saído?!

Meu coração deu um solavanco e eu sabia que não conseguiria dizer nada a ele. Então apenas balancei a cabeça negativamente, tentando forçar um sorriso no rosto.

– Você deve estar cansada. - Nico disse, tomando a mochila roxa, antes prateada, de meu ombro. Eu estava prestes a discutir, até que fui interrompida. - Nem pensar! Vou te acompanhar até o Chalé de Hécate.

Dei de ombros, sabendo que era impossível discutir com ele. Ainda mais quando eu sentia um nó na boca do estômago toda vez que ele se aproximava de mim.

– Descobriu sobre o lance do vermelho? - Nico perguntou, no caminho que fazíamos até o centro do ômega dos Chalés. - Porque eu ainda quero saber porque só seus olhos estão mudando.

– Eu não sei. - respondi do modo mais sincero que eu conseguia. - Até ontem somente as mechas que mudavam.

– Eu fiquei realmente curioso. - ele disse.

Eu estava pronta para responder alguma coisa, mas ele segurou meu pulso, obrigando-me a parar. A parar em frente a um Chalé que até então não havia me chamado a atenção. Ele era alto, bem alto, e largo. Uma porta dupla de metal roxo e as paredes eram de cristais das cores preto, roxo e laranja - cores que antigamente eram associadas à bruxas. Tinha uma imagem de Lua Nova sobre a porta, com uma bola de cristal logo ao lado e um número 20 entalhado como duas cobras logo abaixo.

Algo pulsou dentro de mim, como se eu soubesse que lugar era aquele, mas apenas não o reconhecia.

– Bem-vinda ao Chalé de Hécate. - disse Nico, arrancando-me do meu transe.

Olhei confusa para ele, sem a menor ideia do que fazer. Até que ele indicou para que eu fosse na frente e foi isso que eu fiz. Mas nada me preparava para o que visse ali dentro. As paredes e o teto eram feitos para reproduzir o céu à noite, com todas as estrelas e a Lua negra brilhando logo onde deveria ser a lâmpada. Quatro camas comuns de solteiro deixavam uma espécia de cruz no centro do Chalé e eu sabia que ali estava representado a divindade das encruzilhadas.

Uma estante que ia do chão ao teto, cheia de livros, frascos abertos e outros fechados com alguns ingredientes que eu diria serem exóticos dentro. Ao lado da estante estava um pequeno caldeirão e eu sabia que ali eu poderia fazer as poções que eu sempre quisera. Onde deveria ser a janela, havia um grande vão arroxeado e eu fiquei curiosa para descobrir o que era aquilo. Havia um painel com o desenho de um cão com três cabeças logo acima da cama que ficava de frente à porta, onde se via escrito as palavras lunar, infernal e marinha, com três diferentes caligrafias. Lembrei-me que Hécate era conhecida como uma divindade tripla, além de ser a personificação da magia, dos encantamentos, das escolhas, da noite e da renovação.

– Uau! - pensei ter dito, mas quando me virei para Nico, ele parecia até mais surpreso e encantado que eu. - Nunca havia entrado aqui!

– É sério?!

– Esse Chalé ficou fechado durante vários anos. - ele disse, atravessando o batente da porta.

Assim que ele passou, a porta se fechou com uma batida estrondosa, nos assustando. Ele me olhou surpreso e preocupado. Fiquei um pouco, até que me lembrei de que eu era uma ex-Caçadora em um lugar fechado com um garoto. Eu não via problema nisso, confiava em Nico, mas mesmo assim não era algo de rotina. Dei de ombro e caminhei até a cama que ficava sobre o painel triplo e me assustei quando vi algo diferente sobre o travesseiro. Era uma tiara com uma crescente lunar.

– Nico, veja isso! - eu o chamei rapidamente, deixando meu arco e flecha recostados na parede estrelada.

– É idêntica à pollos de sua mãe! - ele exclamou surpreso, tentando segurar a tiara, mas ele logo retirou a mão. - Cara, isso queima.

Eu o olhei desconfiada, antes de segurar eu mesma a réplica da tiara de Hécate. Senti apenas um breve choque leve, enquanto eu o levava até minha testa. Virei para Nico, sorrindo.

Ele sorriu também, observando atentamente cada centímetro do meu rosto. - Está linda.

Eu corei e meus olhos se tornaram rosados. O que esse menino me faz?! Tirei a réplica da pollos e a coloquei sobre a estante, antes de pegar um dos livros que havia ali. Estava escrito Magias dos Ancestrais em grego antigo.

– O que é isso?! - Nico perguntou, se aproximando por trás e me dando um leve arrepio em minha espinha.

– Livros de magia. - eu respondi, folheando o livro e encontrando palavras em diversas línguas. Suspirei, voltando com o livro para o lugar. - Seria tão mais fácil se fosse no inglês.

– Mas você é uma semideusa. - Nico disse. - Sua mente está ligada ao grego antigo como primeira língua, não o inglês.

– Acontece que eu nunca quis ser uma semideusa. - eu sussurrei, encostando minha testa em uma prateleira da estante e torcendo para que não ouvisse.

Mas a sorte realmente nunca esteve ao meu favor. Nico se aproximou de mim e segurou minha mão delicadamente. Sua pele, ao contrário do eu esperava, era quente e macia. Eu levantei meus olhos azuis escuros confusos e esperei por mais alguma reação dele. Ele estava extremamente próximo a mim e eu quase podia sentir o calor que, ironicamente, emanava de seu corpo.

– Se não fosse uma, eu jamais a teria conhecido. - ele disse no mesmo tom de voz e meus olhos transmutaram para o vinho de ansiosidade. O que eu faria agora?!

Bem, eu não precisei fazer nada. Ele fez. Nico inclinou seu rosto para próximo do meu e eu sentia sua respiração entrecortada se misturar com a minha. Eu estava nervosa. Nunca beijara antes na minha vida, nem mesmo antes de ter entrado para a Caçada e isso me deixava com um nervosismo aparente nos olhos dourados. Poucos centímetros - ou até milímetros - e eu finalmente experimentaria do gosto que tanto me assombrara durante os meses depois da missão. Mas o som da concha soou ao longe e eu sabia que era hora de ir.

Eu dei um pulo para trás, indo a uma distância de Nico que eu considerava segura.

– Melhor irmos. - eu disse e, por incrível que pareça, não gaguejei.

Nico suspirou. - Tudo bem, mas acho que vou direto para a Fogueira.

– Vou junto, não estou com fome. - eu disse, indo passando pela porta do Chalé e esperando até que ele saísse.

Não demoramos muito a chegar no centro da fogueira e nos sentamos lado a lado, mas sem pronunciar uma única palavra. Eu ficava apenas observando enquanto mais e mais campistas se aproximavam e se aglomeravam ao nosso redor, muitos deles olhando curiosamente em minha direção. Mas eu não estava muito preocupada com isso. Estava mais preocupada em relembrar o quase primeiro beijo que eu tive.

– Então, bruxinha, pensando em quê?! - ouvi a voz de Lua ao meu lado e percebi que ela e Leo haviam se aproximado sem que eu percebesse.

Eu revirei os olhos para o apelido que ela dera. - Em nada, Lu, depois te falo.

Lua olhou entre eu e Nico, que conversava com Leo e parecia evitar me olhar.

– Algo a ver com ele?! - ela perguntou e eu apenas acenei com a cabeça afirmativamente. - O que houve, Char?! Parecia que tudo ia tão bem!

Eu ia responder, juro que ia! Mas quando eu olhei em seus olhos verdes, eu simplesmente soube que não era eu que precisava desabafar, mas ela. Poderia ser eu a ter minhas emoções estampadas em diferentes cores nos meus olhos, mas naquele momento eu tinha certeza que ela precisava mais de mim do que eu dela.

– Luali Carter, o que aconteceu no seu dia com o Leo?! - eu perguntei seriamente e ela abriu a boca para responder, mas foi interrompida.

Interrompida justamente pela voz que eu faria questão de esquecer.

Lottie, posso falar com você.

Eu me virei, surpresa e com o estômago revirando, como se meu corpo ainda não tivesse decidido entre desmaiar e vomitar. Eu ainda estava preparando alguma resposta sarcástica para ele, quando Nico se levantou e ficou de frente a ele, impedindo sua visão sobre mim.

– Saia daqui, Solace. - ele disse dura e friamente e, nesse momento, um arrepio atravessou meu corpo, com um alerta de que ele era realmente perigoso. Mas então eu me acalmei quando a ficha de que ele estava me defendendo finalmente caíra.

– Minha conversa não é com você, di Angelo. - Will o enfrentou e eu instintivamente segurei a mão de Nico, ainda estando sentada. Nico a apertou levemente, em um sinal claro de confiança.

– E muito menos com ela. - Leo disse, levantando-se e se colocando ao lado de Nico. Ele não sabia o porque de todo aquele circo, mas pela posição em que ele se colocara, provavelmente tirara suas conclusões de que não eram motivos bons.

– Não é você quem decide, Valdez. - Will disse e eu já quase não conseguia ouvir sua voz sem acabar relembrando de coisas indesejáveis.

– Não, sou eu quem decido. - eu arranjei coragem suficiente para me levantar e dizer, mas ainda não conseguia olhar em seus olhos. - Pensei ter deixado isso claro há cinco anos atrás.

– Lottie, me desculpe... - ele começou a implorar, mas eu logo o interrompi.

– Não quero suas desculpas! - eu gritei, sem consegui me controlar, e saí correndo dali em direção ao Chalé de Hécate.

Eu sabia que não haveria fogueira nenhuma para mim ali naquele momento. E eu ainda sentia a aura de três pessoas vindo atrás de mim. Não era preciso olhar para trás para saber que eram Luali, Nico e Leo. Tudo o que eu precisava agora era de estar entre amigos.


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