V

O sol brilhava forte no meu rosto, me fazendo ter energia para levantar mais cedo que o normal.

Eu entrei no banheiro, tomei banho, escovei os dentes e pus uma roupa qualquer. Já estava com a bolsa no ombro saindo do quarto enquanto Hayley estava atrás de mim. Fomos pra aula de geografia, depois pra aula de francês. E finalmente pra aula de história, a ultima do dia. Por isso eu amo a sexta feira. Tem definição melhor de perfeição do que só três aulas no dia?

Entrei sem a Hayley na sala de aula, vazia como sempre. Caminhei até a minha cadeira, o Stefan me seguindo com os olhos, com um sorriso malicioso nos lábios. Revirei os olhos e ri de leve, sentando no meu lugar. Ele já estava do meu lado com os braços cruzados, parecia sério. Desisti de tentar entender como ele faz isso. Olhei pra ele, impaciente. Suspiro, pedindo aos céus um pouco de paciência.

–O que foi, Stefan? – pergunto, minha voz saindo um pouco mais aveludada do que eu queria.

–Eu ainda estou magoado com ontem. – ele continuou sério. Revirei os olhos. Ele não sabe nem fingir.

–Vai sentar vai. – eu disse empurrando ele de leve em direção a sua cadeira. Ele fez uma queda dramática, caindo por cima das cadeiras e rolando no chão de dor. Eu ri com aquilo tudo. Ele ficou no chão por algum tempo. Tava começando a me envergonhar. –Stefan, levanta daí. – ele gemou um ‘’não’’ – Stefan, por favor, levanta, você está me fazendo passar vergonha. - Todo mundo olhava pra mim como se eu fosse uma psicopata violenta. O que eu não era. Ou era?

–Só se você me der um beijo - ele disse, ainda gemendo de dor, com uma mão na costela e outra no rosto.

–Eu vou te bater se você não levantar. – eu falei sussurrando pra ele. – LEVANTA GAROTO!

–Tá... ai. – ele colocou a mão na costela – me ajuda levantar pelo menos? – ele estendeu a mão pra mim.

Suspiro e dou a mão a ele.

E fui puxada com toda a força.

Stefan subiu por cima de mim, apoiando os braços do meu lado, pra ficar mais perto do meu rosto. Contorço-me querendo sair de baixo dele, mas em vão. Ele dá um sorriso malicioso pra mim, cheirando meu pescoço me fazendo arrepiar.

–VOCÊ QUER ME DEIXAR SAIR? – eu gritei com ele morrendo de raiva. Todo mundo tava olhando pra nós dois, rindo.

–Ah, que é isso Valentina. Só relaxa tá? – ele disse, beijando meu pescoço. MAS O QU... Tá eu tava gostando. Mas ele não pode simplesmente me agarrar na frente de todo mundo, e ficar me cheirando e me beijando no meio da sala.

Eu bati no peito dele, o empurrei, o chutei, mas ele continuava em cima de mim, ao invés dele se queixar da dor ele ria com meu desespero.

–STEFAAAAAAAAN!- eu grito desesperada. Por que meus colegas não me ajudavam? Bom, eu não queria fazer isso, mas eu não tive escolha. Chutei entre as pernas dele. Ele continuava me beijando, e eu fiz cara de confusa aquilo deveria doer... não é? Ele percebeu que eu tava parada, assustada, e ele gritou, e finalmente saiu de mim, caindo pro lado, urrando de dor. Respirei fundo. Levantei e limpei minha roupa. Stefan estava lá, deitado no chão com a mão entre as pernas. Puxei-o pela mão, dessa vez ele não me puxou de volta (HAHA!). Ao invés de me matar por eu ter feito isso ele apenas me abraçou, gemendo de dor. Eu estranhei aquilo tudo, mas fiz carinho na cabeça dele, ‘’consolando-o’’ mas ao mesmo tempo dizendo que ele foi o culpado daquilo.

–Bom dia crianças! – o professor disse, animado entrando na sala. Ele parou e fez uma cara de confuso olhando Stefan apoiado meus braços. Ele riu, não entendendo nada. – Que é que aconteceu? - Ele disse franzindo a testa.

–Eu dei um chute entre as pernas dele, eu acho que foi forte demais e agora ele tá assim. – eu disse, alisando seu cabelo.

–Vamos fazer um semi-círculo por favor? – ele disse, ainda rindo.
Eu coloquei uma cadeira do meu lado pra o Stefan sentar. Ele colocou a cabeça no apoio da cadeira, buscando carinho. Não sei o que deu em mim, mas continuei alisando sua cabeça. Quando enfim parou de sentir dor, levantou a cabeça e fingiu estar prestando atenção na aula, mas na verdade estava fazendo carinho na minha mão, mas eu me forçava a me manter neutra, mesmo com um milhão de borboletas fazendo cócegas no meu estômago naquele momento.

O sinal tocou, me levantei e me espreguicei da cadeira. Stefan me olhava, mordendo os lábios. Suspirei.

–Você vem? – perguntei

–Hã?

–Se você vem comigo, comer...

–Como assim? - como ele era lerdo! Revirei os olhos.

–MIM. – eu toquei no meu peito – TU – eu apontei pra ele - SAIR – apontei pra porta – COMER – fiz um sinal que estava comendo. - Entendeu ou quer que eu desenhe?

–Por que você é grossa assim comigo? - ele perguntou cerrando os olhos. Eu gargalhei.

–Vamos logo. – eu disse, saindo porta a fora com ele do meu lado.

–Aquilo doeu!– ele disse olhando pra mim

–Você que pediu! Você é o diabo quando quer sabia?

Ele gargalhou e eu continuava séria.

Entramos no refeitório, pegamos a comida e fomos sentar. Taylor me fuzilava com os olhos, peguei na mão de Stefan, provocando-a, quando sai da vista dela soltei a mão do Stefan. E ele percebeu, e me olhou indignado. Merda.

–Olha Valentina, eu vou deixar uma coisa bem clara. Se for pra me fazer de objeto, me usando, me expondo ao ridículo pra provocar a Taylor, - ele respirou fundo, como se tivesse desapontado comigo, baixei a cabeça. Aquilo foi errado da minha parte. – se for mesmo pra provocar ela – ele olhou nos meus olhos, sério. – que provoque direito, me beijando na frente dela, ela realmente ia ficar muito irritada com você. – ele olhou pra mim, com um sorriso malicioso, eu ri alto, batendo no peito dele.

–Você é muito idiota sabia? – nós dois rimos. Sentamos a mesa. A Hayley escrevendo em um pedaço de papel.

Limpei a garganta pra ela perceber que estávamos ali.

–Ah, oi Romeu e Julieta. – olhei pra ela séria, e ela sibilou um ‘’O QUÊ?’’ eu ri em seguida.

–Tá escrevendo o quê? – Stefan perguntou, mordendo um pedaço da maçã.

–Uma musica... Ta ficando até legal. – ela disse com descaso.

–Me deixa ver? – perguntei empolgada.

Ela deu um sorriso pra mim, escreveu algo atrás do papel e me deu. Stefan tomava refrigerante, enquanto lia um livro de mitologia grega. Sibilei um ‘’ o que é que você fez?’’ ela apenas riu e me entregou. Li o recado:

‘’Fiz essa musica pensando em você, Taylor e Stefan, você vai gostar! HAHA’’

Lá vai então. Comecei a ler. Aquilo era perfeito. Eu fiquei boquiaberta com o talento dela. Tive que me segurar pra não rir. A letra da musica era perfeita. Escrevi atrás do papel.
‘’Isso ficou muito bom! O: Essa musica é perfeita pra mim! HAHA já pensou na melodia? Eu quero que você me mostre depois!’’

Ela riu, e assentiu com a cabeça. Comemos e nos despedimos do Stefan, indo pro nosso quarto.

–Hayley, você tem muito talento! Aquela musica é perfeita!

–E eu a escrevi em menos de vinte minutos!

–Uau! Me mostra a melodia! – eu disse, deitando na cama

–Antes, - ela limpou a garganta e respirou fundo, parecendo querer tomar coragem. - Hã... Olha... Não vai dar. – Hayley disse.

–Não vai dar o quê? - Eu disse, deitada na cama pegando uma revista que falava sobre celebridades

–Não vai dar pra ir comprar contigo.

–O quê? Mas por que Hayley? Eu não sei nada de tecido. – falei, largando a revista e me sentando na cama.

–É muito complicado... Você vai com o Stefan tá?

–Olha Hayley... Eu sei que você quer nos unir, mas não precisa forçar a barra desse jeito ok? Depois eu posso sair com ele, sei lá, qualquer outro dia, mas eu preciso de você! Vamos por favor! Não me deixa na mão! Deixa de ser chata e...

–NÃO VAI DAR! – ela disse, quase gritando. Ela parecia estar frustrada, como se algo a prendesse e ela não pudesse dizer.

Fiquei calada. Baixando a cabeça.

–Me desculpe- ela respirou fundo.

–Me conta por que você não quer ir e pronto! – eu sorri, tentando ser gentil com ela.

–Você não entende. Você nunca vai entender – ela disse, com as mãos no rosto eu acho que ela ta chorando. Eu acho que a TPM dela é pior que a minha. Ou ela guarda algum segredo que não pode me contar. Eu olhava pra ela enquanto tentava decifrá-la. Suspirei.

–Tudo bem então, eu vou com o Stefan. – eu disse, indo pro banheiro tomar banho. Enquanto a água massageava minhas costas e o topo da minha cabeça fico me perguntando o porquê dessa mudança repentina. Decido que vou deixar para lá, afinal eu consigo conviver com pessoas muito mais complicadas do que a Hayley. Arrumei-me, pus uma roupa e saí em direção do quarto do Stefan, torcendo para que ele queira sair comigo.