Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 14
O passado bate à porta


Notas iniciais do capítulo

Meus amores, quanto tempo! Desculpe a demora, é que lembram pela notícia que eu estava esperando? Então, eu recebi. Sua escritora é a mais nova ESTUDANTE DE DIREITO DA UESC! Sério mesmo, muita felicidade, mas minha vida mudou de cabeça para baixo, mudança, documentos, escola nova, vida nova... Enfim, fiquei sem tempo de escrever!

Aaah, e para completar minha felicidade, recebi minha primeira recomendação! LittlePop Eaton, muitíssimo abrigada, você não tem noção do quanto fiquei alegre com isso, e esse capítulo vai sem sua homenagem.

Então, boa leitura, meus queridos



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Capítulo 14: O passado patê à porta

Os professores falavam e falavam, mas eu pouco prestava atenção. Eu devia ter ficado em casa, enrolada embaixo do meu cobertor morrendo de remorso pelo que eu fiz, como queria. Legal isso, mal começamos nosso relacionamento e já estava daquele jeito. Fiquei feliz quando o sinal tocou e finalmente pude ir embora.

Meu coração quase escapou do meu peito quando cheguei em casa e encontrei Edwad sentado nas escadas da entrada. Desci do carro deixando ele ligado, corri em sua direção. Ele levantou, abriu os braços e eu fui de encontro ao seu abraço duro e frio. Agarrei sua blusa e desabei em lágrimas que nem mesmo sabia que guardava.

— Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa! Eu fiz besteira, eu sei, mas não sabia que...

— Shh... — Ele me abraçava com um braço e afagava meu cabelo com a outra mão. — Eu também exagerei. É que quanto mais velhos os vampiros são, mais rabugentos ficam.

— Vou me lembrar disso. — Ele descansou o queixo sobre minha cabeça por alguns segundos.

— Nós precisamos conversar. Eu sinto que enquanto guardarmos coisas, sempre haverá um paredão entre nós, uma barricada que tentaremos ultrapassar e jogaremos pedras para proteger nossos respectivos lados.

— Metáfora estranha, mas concordo com você.

— Então que tal você arrumar o seu jantar para viajem e vir comigo? Tem um lugar que quero que conheça.

Soltei ele a contragosto. Corri para destrancar a porta, mas parei no meio do gesto, mordendo meu lábio em frustração.

— Charlie!

****

Como pude esquecer Charlie? Estava tão envolvida com meu próprio umbigo que me esqueci do meu próprio pai. Corri para preparar a janta para nós dois, o humor bem melhor depois de ser recebida por Edward.

Acabamos combinando de deixar nossa conversa para o dia seguinte, o que era até bom, já que eu teria um tempo para me preparar psicologicamente. Edward prometeu me contar toda a verdade sobre o passado dele e seria injusto se eu não fizesse o mesmo, mesmo que isso significasse reabrir feridas antigas. Talvez aquilo fosse necessário, parar de guardar toda aquela dor e dividir com alguém que estivesse disposto a ouvir.

— Que cheiro maravilhoso, Bells! — Charlie cumprimentou, entrando na cozinha.

— Tomara que o gosto esteja tão bom quanto.

— Tenho certeza de que vai estar.

****

— Onde é esse lugar misterioso, afinal? Aqui só tem mato!

Decidi matar educação física para sair mais cedo com ele, afinal, ninguém sentiria minha falta ali. Avisei a Charlie que ia sair (não que ia matar aula) e que ele teria que sobreviver com comida congelada naquela noite.

Fazia um bom tempo que estávamos naquele volvo. Saímos de Forks e só era possível ver mato ao nosso redor. Não é que eu não goste da criação da mãe natureza, mas estava louca para conhecer o lugar do qual ele falara.

— Deixe de ser impaciente. — Estacionou o carro no acostamento — Já chegamos.

— Então seu lugar especial é na beira de uma estrada afastada? — Fiz cara de espanto para ele. — Ai meu Deus, você cansou de mim e veio me matar?

— Se não parar de palhaçada vou levar sua sugestão a sério! — Edward desceu do carro e correu para abrir a porta para mim. — O lugar fica mais para dentro da mata. Daqui vamos ter que ir andando.

— Certo, então vamos. — Fechei a porta do carro e comecei a andar, só para ser parada por ele, puxando minha camiseta.

— Calma, apressadinha! Eu levo você. — Olhei para ele sem entender muita coisa e já ia discutir, quando ele me pegou no colo e disparou para dentro do mato.

A paisagem ao redor virou um borrão, tamanha a velocidade em que estávamos. Parecia que íamos bater contra alguma coisa verde e perder um membro no processo. Aquilo me deixou meio enjoada, então escondi meu rosto em sua camisa. Quando paramos, continuei da mesma maneira, com medo de que, se eu me mexesse, meu almoço daria adeus ao meu estômago.

— Bella?

— Hum? — Continuei na mesma posição, olhos bem apertados.

— Nós já chegamos.

Bem lentamente fui rodando a cabeça e abrindo os olhos. Valeu a pena. O lugar era perfeito, parecia uma espécie de santuário. Uma clareira perfeitamente arredondada, completamente sem árvores e com grama baixa no meio de todo aquele matagal. Um dos poucos lugares onde o sol podia alcançar realmente.

— Aqui é lindo! — Edward me levou ainda em seu colo para o meio da clareira, onde nós dois nos sentamos.

— Realmente. Gosto de vir até aqui para fugir dos outros. Amo meu dom, mas às vezes prefiro ficar a sós com meus próprios pensamentos. — Ele se jogou da grama e deitei ao seu lado.

— Dói muito? O sol?

— É como eu te falei aquela vez, incomoda um pouco. É bom sentir esse tipo de incomodo, faz com que eu me sinta vivo. Mas pode apostar de que um recém-nascido discordaria de mim.

Tentei imaginar um vampiro “recém-nascido”, alguém que de um minuto para o outro teve toda sua existência modificada. Alguém fadado às sombras e ao desconhecido por um bom tempo, fadado a dizer adeus a todos que conhece. Como Edward um dia teve que fazer. O que me lembrava...

— Como era a sua noiva? — Decidi dar início ao assunto, acabar com o que nos magoava de uma vez. Ele deu um alto suspiro, mas não reclamou, apenas respondeu.

— Elizabeth parecia alguém saído de um conto de fadas moderno, alguém que mais parecia pertencer a essa época do que a sua própria. Desafiava a tudo e a todos, e não abaixava a cabeça para as discriminações e costumes daquele tempo. Parecia guardar os segredos de todo mundo naqueles olhos azuis. Realmente alguém especial. Eu a amava demais.

Não consegui evitar o ciúme. Doía ouvir de alguém que você gosta que ele ama — amava outra. Mesmo que essa outra tivesse morrido há muito. Fiquei calada mesmo assim, não era hora de interromper com bobagens.

— Eu a pedi em casamento pouco mais de um mês depois de nos conhecermos, era como os rapazes faziam na época, conheciam a moça, cortejavam e faziam o pedido. Seus pais faziam muito gosto e quando pedi sua mão ao seu pai, ele quase embrulhou a filha para presente e entregou em meus braços. Já ela me deu um não bem grande e gordo como resposta.

— Sério? — Tive que rir daquilo. Edward não era o tipo de cara para quem se dizia não.

— Não ria, quase entrei em depressão por isso. Nem mesmo deixei que ela desse uma explicação, apenas voltei para casa com o rabo entre as pernas. Qual minha surpresa quando, no dia seguinte, dou de cara com ela em minha sala tomando chá com minha mãe. Ela disse que jamais se casaria com um cara que tinha acabado de conhecer, mas quem sabe não diria sim para um que conhecesse melhor?

— Ela estava fazendo a corte.

— Exatamente. Naquele momento percebi que ela merecia calças bem mais que muitos homens por aí. E se quer saber, ficamos noivos exatos 4 meses e 5 dias depois. — Uau. Ele ainda se lembrava da data exata, mesmo tanto tempo tendo passado. — Foi quando tudo desmoronou. Era o dia do meu casamento, Elizabeth estava linda em seu vestido branco, entrando pela igreja. Aquele foi o único dia de sua vida que resolveu seguir a tradição. Fiquei emocionado e comecei a passar mal. Foi preciso que me levassem com urgência para o hospital. Quando humano, tive um problema cardíaco que me trazia muitas privações, mas nunca havia passado mal daquela maneira. Correram comigo direto para o consultório do Carlisle, que me tratava na época.

A cena foi sendo formada em minha cabeça, vários homens correndo com Edward por uma estrada de chão e uma moça com um vestido branco esvoaçante indo atrás. Na minha imaginação, eu era a moça de branco, e podia sentir todo o desespero que Elizabeth deve ter sentido.

— Carlisle pediu a todos que nos deixássemos a sós. Meu coração palpitava com muita força dentro do meu peito e eu tentava recuperar o fôlego como quem estava se afogando. Carlisle me encarou por um tempo, não entendi porque não fazia nada, até que veio em minha direção e mordeu seu próprio pulso, derramando seu sangue em minha boca. Eu deveria sentir repulsa, só que logo me alimentava de seu sangue como um alcoólatra com sua bebida. Quando se afastou, voltei a sentir dor, e percebi a confusão em seu rosto. Sabe, Bella, sangue de vampiro tem um efeito mágico nos seres humanos, aguça seus sentidos, os deixa desinibidos e cura qualquer injúria. Mas por algum motivo estranho, não funcionou comigo. Carlisle então mordeu meu pescoço. Não entendi nada, só senti um prazer estranho, o que entrava em conflito com a dor em meu peito. Depois disso me matou.

Fiquei encarando Edward sem entender nada. Por que Carlisle teve todo aquele trabalho apenas para matá-lo? E se o matou como ele estava ali, comigo, naquele momento? Não foi preciso leitura de mente para que Edward soubesse das minhas perguntas.

— Esse é o processo para transformar alguém. É preciso que exista uma troca de sangue e, por fim, o vampiro responsável pela troca deve retirar a vida de sua vítima. Algum tempo depois acordei em uma casa desconhecida, me sentindo melhor fisicamente, como nunca havia me sentido, mas completamente confuso. Carlisle logo apareceu para me dar explicações. Ele disse para todos que eu havia morrido, e realmente, por um dia ou dois fiquei desacordado e sem qualquer pulso. Chegou a haver um enterro. Carlisle me retirou da cova no meio da madrugada. Lembro que fiquei desesperado, precisava ver Elizabeth e meus pais. Mamãe devia estar desesperada. Corri para fora da casa apenas para ser atingido pela pior dor que alguém poderia sentir. O sol pode não incomodar agora, porém no início é fatal. Carlisle correu para me ajudar, e continuou me ajudando a me adaptar a minha nova existência.

Edward olhava para o nada, perdido em suas próprias lembranças. Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. O quanto ele deve ter sofrido? Saber que seus pais e a mulher que amava pensavam que ele estava morto. Jamais poder dizer adeus realmente. Aquilo eu não conseguia imaginar. Era dor demais para uma única pessoa aguentar.

— Foram anos, Bella, anos afastado de qualquer humano para não me tornar um assassino, como o próprio Carlisle falava. Anos para começar a me acostumar com o vazio, se é que me acostumei de verdade. Quando finalmente senti que estava forte o suficiente, saí no meio da noite para visitar Elizabeth. Só precisava vê-la, saber se estava bem, e acabei me deparando com uma cena que nunca imaginei: Elizabeth estava casada, grávida de seu terceiro filho, e era uma dona de casa impecável. Na hora me recusei a acreditar e a dor voltou com toda a força, mas com o tempo me acostumei com a cena. O homem era bom para ela, as crianças eram adoráveis, e ela parecia feliz, não como antes, mas o suficiente. Foi bom para mim, saber que eu não havia destruído a mulher que eu amava.

Era isso que ele pensava? Que ela ficou bem? Eu não estava lá, mas se Elizabeth era como ele dizia, ela não ficou nada bem. Alguém de personalidade forte simplesmente passar a aceitar o que foi imposto a ela? Eu conhecia bem aquele sentimento. Ela estava apenas tentando sobreviver. Não seria eu quem jogaria sal na ferida dele, então apenas o incentivei a continuar.

— Alice contou que você fugiu de casa depois que ela... Se foi... — ele fechou as mãos em punho, mas continuou falando.

— Eu percebi que os seres humanos são insignificantes. Eles nascem, crescem, envelhecem e morrem. Rápido. Se lhes foi dada uma serventia, por que não fazer uso dela? Carlisle, Esme e meus irmãos não entendem isso. Não entendem que os seres humanos só servem de alimento. Então para não servir de fardo para eles, preferi partir. Conheci o mundo todo, provei cada tipo e herança sanguínea que possa imaginar. Quando fiquei entediado, resolvi voltar, ver se a vida de ensino médio que meus irmão viviam era realmente tão divertida assim para que repetissem ano após ano — ele continuou falando, mas eu fiquei presa na parte em que nós, seres humanos, só servíamos de alimento. Não queria brigar, porém não podia deixar aquilo passar em branco.

— Nós, seres humanos, somos insignificantes. No entanto está aqui se abrindo com um deles — alfinetei.

— É, eu estou. — Pelo seu tom de voz, percebi o quanto ele achava aquilo tudo confuso, mas sua boca se curvou no meio sorriso que eu gostava. — Bom, é isso. O tão interessante passado de Edward Cullen sobre o qual estava tão curiosa.

Não fiz comentário algum. Ele falou aquilo como se tivesse me feito um favor, mas eu sentia que ele estava menos tenso. Ele havia dividido um peso que carregava a séculos, e aquilo obviamente o fez bem, apesar de eu saber que ele nunca admitiria.

— Bom, acho que agora é sua vez. O que Isabella Swan esconde?


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