Seria absolutamente normal pensar que Scorpius e eu não duraríamos nem cinco minutos juntos, que dirá dez. Mas, tudo nesse mundo é nada mais, nada menos do que imprevisível, sempre nos surpreendemos, não há como negar. Então por que diabos há de se pensar que no mundo da magia seria diferente, se somos todos humanos?

O que fizemos? Bem, ficamos sentados em uma pedra no meio da floresta, esperando que o tempo passasse, apesar de não termos relógio para saber quando deveríamos voltar. Um completo tédio.

Após alguns minutos – tensos minutos – de puro silencio Scorpius acaba por se manifestar.

–Quem você acha que era ontem à noite, correndo para fora do castelo?

–Não tenho a menor ideia – respondo.

Ouço um farfalhar alto ao meu lado e logo depois passos apressados. Dou uma olhada rápida a Scorpius, que levanta as sobrancelhas.

–De novo não.

–Vamos – chamo-o, me levanto e começo a andar em direção ao som.

Sinto que Scorpius vem logo atrás de mim e apresso o passo, procurando quem quer que estivesse ali, e desconfiando que é a mesma pessoa de quem fomos atrás noite passada.

Chegamos à extremidade da floresta e não há ninguém a vista, apenas a floresta proibida do outro lado.

Olho para o loiro agora ao meu lado e ele da de ombros.

–Temos que descobrir... – ele diz. – Mas não faz diferença, não é nosso turno.

–Faz diferença sim – falo. – Quem quer que seja está quebrando as regras da escola e além do mais, o que esta pessoa estaria fazendo na floresta proibida, todas as noites?

–Você está certa, mas mesmo que entremos lá e achemos esta tal pessoa, como iriamos explicar à McGonagall o que nós estávamos fazendo na floresta?

Respiro fundo e finalmente me rendo, por mais que eu não queira admitir, Scorpius está certo.

Ele faz sinal com a cabeça para voltarmos e nós o fazemos, ele vai na frente, mas a apenas uns sessenta centímetros afastado de mim.

Jogo minha cabeça para o alto enquanto ando, permitindo-me apreciar as estrelas. O cheiro da natureza me invade e a brisa leve sopra em meus cabelos, sinto como se fosse o mais livre possível.

Bom seria se essa liberdade toda não tivesse resultado em um tropeço feio daqueles. Ora vejam só, uma pedra entra no meu caminho assim, do nada, e depois a culpada sou eu de tropeçar nela.

Scorpius se virara rapidamente antes que eu fosse de cara pro chão e me segurara pela cintura, algo me diz que ele já estava me espionando. Eu posicionei minhas mãos em cima de seus ombros despropositadamente, apenas por desespero.

Olhei para cima e encontrei um par de olhos cinzentos e gélidos me olhando.

–Você podia ter mais cuidado, Weasley – diz.

–Você podia parar de me salvar toda vez, Malfoy – ele da uma pequena risada de deboche e depois volta a me olhar.

Ele não me solta, mas me aproxima ainda mais, seu rosto cada vez mais perto do meu. Finalmente ele cola seus lábios nos meus e eu sinto tudo dentro de mim se aquecer, como se meu corpo tivesse entrado em chamas de repente, e os lábios dele são como mel – doces, confortantes e mornos.

Ele finalmente separa nossos rostos e me solta, sinto-me ruborizar, mordo o lábio e olho para o chão, nervosa.

–Só queria que você soubesse – ele murmura. – A minha resposta para o primeiro desafio que Alvo me deu.

E volta a caminhar sem dizer mais nada. Eu também fico calada e vou logo atrás.

Sinceramente, não sei o que dizer e muito menos o que pensar neste exato momento. Só posso resumir que os lábios dele tem um toque especial que eu nunca imaginaria, e que eu poderia ter permanecido por mais algum tempo naquele beijo.

Se eu não me conhecesse, diria que estou ficando louca por alguns dias atrás o odiá-lo mais do que tudo. E agora um beijo me deixa tão aturdida que não consigo nem ao menos respirar direito. Parece que o Malfoy tem um efeito super forte sobre mim, seja ele bom ou ruim.

–Olha só, eles não se mataram, afinal! – exclamou Molly quando chegamos.

Ninguém estava mais sentado, mas uma grande toalha de mesa vermelha estava sobre a grama, com comidas variadas, e todos estavam de pé comendo algo.

–E pelo visto o joguinho de vocês já acabou – notou Scorpius.

–Aham, acabou ficando sem graça – disse Alvo se aproximando enquanto comia uma maçã. – E a Roxanne ficou nervosa algum tempo depois, acabou voltando para o castelo.

Scorpius foi até a toalha e pegou algo para comer.

–Vocês ficaram mais tempo do que o combinado lá, aproposito – Alvo sussurrou para ninguém mais ouvir e depois me lançou um olhar malicioso.

Eu fiz que não com a cabeça e disse:

–Nós não tínhamos um relógio, Alvo.

–Tá, desculpinha barata...

Lanço a ele um olhar mortal e ele ergue as mãos em sinal de rendição.

–Não vai comer?

–Sem fome – respondo e dou de ombros.

–Musica, pessoal? – Molly mostra um pequeno rádio em suas mãos e depois o liga.

–O que? Musica? Molly, não, alguém pode escutar! – apresso-me a dizer.

–Estamos longe do castelo, não se preocupe, Rose. Além do mais, o volume está no baixo – Lily diz e me lança uma piscadinha.

Eu revirei os olhos, se aquilo desse errado...

–Vamos priminha, está muito tensa, se solte – Alvo me diz.

–Alvo, por acaso você já foi falar com a Molly? – indago mudando de assunto.

Alvo enrubesce à luz do luar e vejo que ele fica sem jeito, sorrio levemente, meu primo apaixonado é tão fofo.

–Ela não desgrudou do Brian a noite inteira – Alvo responde e olha tristemente para os dois que estão a um canto dançando animadamente.

Respiro fundo e pego sua mão, puxando-o para dançar a musica agitada.

–Vamos Al – digo e um instante depois já estamos dançando, e o Alvo também lançando olhares para a Molly.

Todos começam a dançar exceto Scorpius, que está a um canto parado com a mão nos bolsos da calça, não posso deixar de reparar que ele não tira os olhos de mim enquanto danço com meu primo.

– Que tal uma brincadeira, já que estamos aqui para nos divertir? Trocando de casais, pessoal? – sugiro quando vejo Alvo olhar de esguelha mais uma vez para Molly.

Parece que todos concordaram silenciosamente com a minha ideia, porque todos se separaram e Lily que não me viu atrás dela trombou em mim e me lançou contra Scorpius. Mas por sorte eu consegui me endireitar antes de cair em cima dele, mas a proximidade em que estamos me assusta um pouco.

–Quer dançar, Weasley? – Scorpius pergunta e antes que eu possa responder ele pega minha mão e quando vejo já estamos dançando juntos.

Olho para o lado e vejo que o que a tentativa que fiz de juntar Alvo com a Molly não deu muito certo. Molly está dançando com Cole, Alvo está com Sophie e Hugo com Lily, e Brian está parado a um canto sem par.

Scorpius não desgruda os olhos de mim, então decido fazer o mesmo só para provocar. Penso se aquele beijo significou muito mais do que uma resposta a um mero desafio.

Não sei explicar o que sinto, mas só de olhar em seus olhos acinzentados e provocantes eu realmente não quero que ele despregue-os de mim, não quero que ele olhe para mais ninguém. Sua mão quando segurou a minha, o jeito que ele me segurou antes que eu caísse... E quando fixo meu olhar em sua boca... Oh Merlin como eu queria que ele me beijasse novamente, e que nunca mais nos separássemos.

Mas tenho que ser sincera, esses sentimentos malucos estão me assustando um pouco. Como posso eu, uma Weasley gostar de um Malfoy? Eu devo estar realmente delirando se penso que esse sentimento pode um dia ser reciproco.

–Suponho que você vá assistir ao jogo de amanhã, Weasley?

–Grifinória contra Sonserina? Mas é claro que vou, não posso perder isso. Tenho que ver vocês perderem.

Scorpius ri sarcasticamente, vira o rosto por um momento, mas depois volta a me olhar.

–Está brincando? Como é que a Sonserina pode perder com um apanhador tão bom assim? – ele diz e arqueia as sobrancelhas.

–Acho que você é muito convencido, Malfoy – digo revirando os olhos. – Como é que a Grifinória pode perder com um apanhador como o Alvo?

Scorpius está a ponto de dizer algo, mas é interrompido quando a musica para e Molly fala:

–Acho que já abusamos da nossa boa sorte. Vamos voltar para o castelo.

Enquanto cruzávamos o gramado em direção ao castelo, Scorpius começou a andar ao meu lado quando estávamos quase à porta de entrada, ele me parou e sussurrou para que ninguém mais pudesse ouvir:

–Me encontre na torre de astronomia amanhã à noite, venha na hora do jantar.

Eu não respondi, ele não me deu chance para tal, porque depois de dizer isso simplesmente desapareceu pela porta de entrada do castelo.

Mas de uma coisa eu tinha certeza, eu iria quebrar as regras mais uma vez, para ver Scorpius Malfoy.