Respiro fundo enquanto me olho no espelho. Encaro uma Rose há quem muito tempo já não via mais, uma Rose arrumada para sair à noite com alguém. Uma Rose que veste uma blusa de alças branca e uma saia vermelha até o meio da coxa com um cinto fino a segurando.

A garota que vejo à minha frente usa um salto alto preto e tem os cabelos presos em uma trança, e ela me confessou que não consegue mais soltá-los completamente, pois isso é um sinal do passado que ela prefere não se lembrar.

A campainha toca, mas não me dou ao trabalho de atendê-la, pois sei que Beatrice fará isso por mim. Ainda encaro a figura a minha frente, há anos não a via.

Abro uma pequena gaveta em minha cômoda a fim de procurar uma pulseira para usar, quando a abro vejo uma rosa vermelha ainda viva após oito anos, havia me esquecido dela. Eu não podia ter aberto esta gaveta. Droga Rose, você tinha que ter se lembrado.

Não consegui me livrar da rosa, sei que olhar para trás e guardar lembranças de algo que tanto me faz mal não é bom, mas eu simplesmente não consegui, mesmo porque a vitalidade dela ainda me impressionava.

Ouço a voz de Luke vinda da sala e fecho abruptamente a gaveta. Não posso ficar remoendo coisas do passado. Não posso.

–Maman, Luke chegou – Beatrice grita e eu me viro para deixar o quarto, mas não posso evitar olhar para trás antes de abrir a porta, é mais forte do que eu. A presença daquela flor é mais forte do que eu.

Tenho que parar com isso.

Luke está vestido formalmente até demais, de terno e gravata e cabelo penteado, me sinto mal vestida perto dele.

Seus olhos brilham quando eu apareço na sala. Sua irmã gêmea, Pietra, está ao seu lado, ela seria a versão feminina completa de Luke, não fosse por seus olhos azuis escuros.

–Ma douce – Luke diz olhando para mim. Rio baixinho com o apelido, mas estou nervosa, apelidos definitivamente não são bom sinal.

–Olá Luke, olá Pietra – cumprimento-os. – Beatrice.

Abaixo-me para ficar de frente para ela e digo severamente:

–Comporte-se, e faça o que a Pietra disser para que você faça, não a desobedeça, está me ouvindo?

–Sim maman – ela confirma com a cabeça, sua expressão é séria.

–Você vai ficar bem?

Ela afirma com a cabeça novamente.

–Não se preocupe Rose. Eu cuidarei bem do seu tesouro – Pietra sorri e eu sorrio de volta.

Dou um abraço em Tris e beijo sua testa.

–Vejo você mais tarde, mon ange. E Pietra, qualquer coisa, qualquer mínima coisa que acontecer, Beatrice sabe o numero de meu celular, e além disso, eu o deixei anotado na agenda telefônica– levanto-me e sorrio para Luke, que me estende a mão.

Hesito um instante em estender a minha, mas acabo o fazendo.

***

–Então Rose, você nunca me disse porque veio para a França – Luke falou.

Nós estávamos sentados um em frente ao outro em um restaurante em Paris, ao qual ele me trouxe.

O que ele me disse é verdade. Embora eu tenha dito a ele que viera para cá terminar os estudos e acabei ficando aqui para sempre, eu nunca lhe expliquei o porquê de ter feito isso. Mas não quero ter que lhe contar isso, não em um jantar que sei que ele me convidou com outras intenções além de amizade.

–Eu... Queria adquirir mais conhecimento, viver e estudar em um país diferente – digo a ele.

Por outro lado, não sei mentir bem. Luke percebe isso e estreita os olhos para mim.

–Você é linda, brilhante e inteligente como nunca vi alguém Rose. Mas por outro lado, é uma péssima mentirosa – ele diz e depois sorri. – Você pode me dizer a verdade, pode confiar em mim. Afinal, somos amigos há anos, não somos?

Faço que sim com a cabeça. Não vou mais conseguir inventar mentiras.

Ele toca alguns dedos em minha mão por cima da mesa. Eu não retiro a mão, embora meu corpo se contraia com seu gesto e eu fique ainda mais nervosa.

–Não gosto muito de relembrar isso, embora eu o faça todos os dias de minha vida, simplesmente porque não consigo me esquecer – começo. – Eu estava grávida de Tris em meu ultimo ano de Hogwarts. Quando descobri isso, meu namorado me abandonou, mas não por causa dela, ele não tinha conhecimento de minha gravidez. Eu era perdidamente apaixonada por ele, uma típica adolescente perdida de amores e completamente iludida, então eu me magoei muito e não pude mais ficar em Hogwarts. Aquilo tudo me fazia tão mal quanto apenas pensar em encontrar aquele me abandonou e a quem eu ainda amava, apesar de tudo. Simplesmente fugi do problema, não fui corajosa o suficiente, talvez eu nem pertencesse realmente à Grifinória.

–Foi corajosa sim – ele apertou minha mão com a sua e fixou seus olhos nos meus. – Se não tivesse sido, não teria criado Beatrice tão bem e com tanto amor, sem ajuda nenhuma. Ei, esse garoto com certeza não mereceu o amor que tinha, não mereceu a garota linda que tinha ao seu lado.

Fiz que sim com a cabeça e dei um leve sorriso.

–Desculpe tê-la feito lembrar-se disso, eu realmente não sabia Rose...

–Tudo bem.

Um clima tenso pairou no ar entre nós e ficamos sem dizer nada por um tempo, até que Luke falou:

–Então, podíamos fazer algo na próxima semana, eu você e Beatrice, quem sabe ir a algum parque.

–Ah, desculpe Luke, é que eu vou visitar minha família na semana que vem – fiquei meio sem jeito de rejeitá-lo dessa vez, mas eu estava dizendo a verdade.

Lily, minha prima, vai se casar logo na próxima semana e eu é claro que não poderia deixar de comparecer. Até porque fui chamada para ser madrinha, e Tris para ser dama de honra.

–Então acho que quando você voltar poderia ao menos pensar?

–Sim, eu poderia – respondi e sorri.

–Se não for muito intrometimento da minha parte, posso saber se algum evento inédito vai ocorrer para você abandonar o trabalho, Srta. Rose Weasley?

–Sim, minha prima vai se casar, Sr. Luke Walker.

Ele ri e permanece com os olhos em mim.

–Isso pode ser o começo de alguma coisa? – Luke sorri mais uma vez e pergunta.

–Talvez... Mas por favor, não se iluda, por favor, não quero te magoar.

É então que penso: por que não dar uma chance a ele? Não posso ficar a vida toda me lamentando de nada ter dado certo com Scorpius. E Luke é doce, gentil, amigo e romântico, o que mais eu poderia pedir?