Capítulo 2 : Meu Aniversário.



   Era manhã de Sábado, minha avó tinha saído. Estava só em casa, naquele momento de silêncio eu era capaz de ouvir o eco dos meus pensamentos. Minha cabeça estava a mil, milhares de perguntas sem resposta rodavam naquele momento. Levantei da cama e vi que o dia estava nublado. A chuva caia fina lá fora. O dia estava um tanto deprecisovo demais para mim, fui em direção a escrivaninha e peguei meu celular, pretendia ligar para Amy, mas não terminei de discar o número dela. O cafe ainda estava na mesa o que dizia que minha avó nao tinha saído a muito tempo. Tomei meu café e deitei no sofá da sala, não tinha vontade de ligar a tevê, então fiquei contemplando a chuva do lado de fora da janela.

– O que você vê de interessante do lado de fora? - uma voz falou baixo me fazendo saltar para fora do sofá. - Não gosto de dias assim, me deixam entediado.
 
– Ferdinand ? O que você tá fazendo aqui ? Por que você sumiu do colégio? - havia várias perguntas que eu gostaria de fazer naquele momento. Ferdinand parecia mais pálido que o normal, os ferimentos que ele tinha na ultima vez haviam sumido. Olheiras fundas se formavam abaixo de seus olhos dando uma aparência mais sombria a ele.

– Tive que voltar para a Irlanda... Assuntos de família. - ele parecia calmo.

– Você ainda nos deve uma explicação. - eu sabia que uma hora ou outra eu cobraria a explicação.

– Tudo tem a sua hora meu amigo. Como eu disse antes quando chegar o momento certo eu contarei a vocês. - sorriu ele.

– Mas por que você invadiu minha casa? - meu tom de voz mudou  seriamente.

– Nâo invadi, sua avó me deixou entrar. Cheguei a Londres hoje de madrugada. Então vim direto para cá. - ele parecia estar se divertindo com aquilo.

– Mas por que logo para a minha casa? Você nao tem a sua? - continuei perguntando.

– Posso dizer que onde eu moro esta incluído no que eu vou contar pra vocês. E estando na situação que eu estou precisava de um lugar pra dormir. Agora se você me der licença vou tomar um banho. - disse ele apontando para suas malas.

  Ferdinand levantou-se e foi em direção a uma das 3 malas que estavam proximas ao sofá, separou uma muda de roupa e foi em direção ao banheiro. Aquela era uma situaçao estranha. Liguei para Leon, ao saber que Ferdinand estava na minha casa ele ficou um tanto irritado.

– É muito arriscado deixar esse cara aí ! Você já falou com a Amy? Eu to indo para aí. - realmente ele estava agitado.

– Já. Liguei para ela antes de ligar para você, ela também tá vindo para cá. - acho que derrepente o nervosismo de Leon passou para mim também.

– Té mais - disse ele desligando.

  Liguei a televisão do meu quarto e sentei na minha cama, não sei o por que mas procurava encontrar a foto de Ferdinand no notíciario, como um assasino fugitivo, ou quem sabe um ladrão de casas. A única notícia era o nevoeiro estranho que cobria Londres, o tempo nas cidades ao redor parecia estar bom. Uns quinze minutos se passaram, eu acho, escutei o barulho da porta abrindo, provavelmente ele havia saído do banho. Eu tinha que o manter alí até que meus amigos chegassem. Tentei pensar em assuntos para conversar, tentar distraí-lo era o que eu faria.

– Posso entrar? - ele batia na porta do meu quarto.

– Entra. - como se eu não soubesse que se falasse não ele entraria mesmo assim.

– Como tem sido as aulas? Muita matéria importante? - pelo que parecia ele queria conversar. - Preciso colocar meu caderno em dia.

– Pode pegar o meu, tá alí em cima da escrivaninha. - então não precisaria arranjar papo.

– Obrigado... - disse ele andando até a estante.

  Ele pegou meu caderno e foi para a sala. Provavelmente seus livros e cadernos estavam em uma das malas. Então voltou carregando uma pequena pilha de livros, sentou-se no chão e começou a folhear as minhas páginas.

– Quero te fazer uma pergunta. Posso? - falei desviando a atenção da televisão. - Por que você veio aqui?

– Bem, Derick, você é o único dos três que eu tive um diálogo. E é o que menos faria perguntas. - disse ele rindo.

– Hum... ele liguei para eles agora, eles estão vindo para cá. - falei enfim.

– Eu já sabia. Era de se esperar que você ligasse para eles.  - ele continuava tranquilo.

– Então você nao se importa que eles te façam perguntas quando chegarem? - falei surpreendido.

– Não, como eu já disse eu gosto deles, não muito de Leon, mas gosto. - brincou.

 Depois de alguns minutos, Amy e Leon chegaram, eles fizeram várias perguntas para ele. Ele respondeu poucas. Apesar de tudo, foi um da divertido. Minha avó chegou por volta do meio-dia, eles almoaçaram conosco. A tarde, demos uma volta. Fomos até uma praça que ficava próximo a minha casa. O clima ainda não tinha mudado, Ferdinand falou algo sobre ser o "culpado" , mas tirando isso foi divertido. Voltamos para minha casa ao anoitecer, Leon ficaria lá, pelo que parecia Ferdinand também. Amy se despediu e foi embora prometendo voltar no dia seguinte. Por mais estranho que fosse Ferdinand era legal. Ficamos vendo tevê até tarde e depois fomos dormir.

"..Quanto mais tempo passava a neblina misteriosa ao redor de Ferdinand aumentava... Por mais que eu corresse, continuava com a impressão de estar sendo seguido. E
por mais que eu soubesse que era apenas um sonho, eu ainda tinha medo que eles me alcançassem..."

– Derick? Você tá bem? - Leon e Ferdinand estavam me olhando um tanto preocupados. - Você tá pálido. E estava falando algumas coisas estranhas.

– Acho que tive um pesadelo - sentia o suor frio escorer pela minha testa. - Eu to bem... - conclui.

– Se você diz, tudo bem. - Leon deitou-se novamente.

– .... - Ferdinand não disse nada, apenas virou-se para o lado.

Por mais estranho que fosse aquele sonho parecia ter sido verdade, eu sabia que fugia daquele seres encapuzados que tinha aparecido no colégio. Agora eu os temia, mesmo sem saber quem eles realmente eram.

Os dois dias antes do meu aniversário foram muito bons, no Domingo Amy foi para minha casa como ela tinha dito que faria e ficamos conversando, Ferdinand contava como era sua vida na Irlanda. Pelo que ele disse sua família era tradicional, e possuia títulos de nobreza no passado, por isso possuiam seu próprio castelo, o que parecia ser muito legal. Seus pais haviam morrido , deixando ele sobre os cuidados de um tutor até que fizesse 18 anos e pudesse realmente assumir a fortuna da família. Leon perguntou a ele onde estava esse tutor, ele apenas disse que ele havia ficado no país tomando conta das propriedades, não entrando mais em detalhes.

A segunda-feira, tambem foi divertida, era realmente legal ter alguem com quem conversar durante as aulas de quimica. Amy voltou finalmente a implicar com a presença de Asheley na mesa, divertindo a todos. Então finalmente chegou o dia do meu aniversário.

– Querido, acorde você vai acabar se atrasando para o colégio. - vovó me chamava.

– Já to levantando! - gritei em resposta. Ferdinand ainda estava dormindo lá em casa. E eu não sabia o que ele tinha dito a minha vó para continuar lá. Levantei-me e fui tomar banho. Nem sinal de Ferdinand na casa. Não demorei no banho, já estava atrasado e não podia abusar do tempo.

– Seu amigo saiu cedo, não eram nem 5:30 quando ele saiu. - comentou ela.

– Estranho. Achei que ele me esperaria para ir pra escola. - havia algo errado alí.

– Quem sabe ele foi comprar algo pra você de aniversário. O meu presente você vai ganhar depois. - eu acho já sabia qual seria o presente da minha avó. Algo me dizia que ele possuia 4 rodas. Mas agora o que importava era o por que Ferdinand teria saído tão cedo. Engoli meu café da manha muito rápido. Fui pegar minha chaves de casa e junto dela havia mais uma chave, logo percebi que se tratava da chave de um carro.

– Obrigado Vovó.-  eu não fazia idéia de que carro era, mas já estava agradecido pelo fato de ter ganho um.

 Quando desci vi enfim meu carro. Era um Porsche Cayenne negro estacionado na rua da frente. E pelo que parecia era meu. Corri até o carro e abri a porta. Não acreditava que aquele carro era só meu, mas como minha vó teria comprado um carro daqueles? Aposto que tinha um dedo de Amy metido alí. Agradeci por ter uma amiga daquela, afinal não é todo dia que temos uma amiga milionária. Liguei o carro e o barulho do motor me fez sorrir. Acelerei para o colégio.

O sabor da velocidade era algo que eu não deveria ter sentido. Quanto mais eu acelerava, mais eu sentia vontade de correr. Cheguei ao colégio em questão de 10 minutos. O estacionamento do colégio já estava com alguns carros. O carro de Amy já estava lá. Estacionei meu carro e fui procurá-la, não precisei procurar muito, ela já tinha me visto chegando.

– E aí o que achou do presente? Gostou? - ela parecia animada.

– Claro! Foi o melhor presente de aniversário de toda a minha vida! - meu entusiasmo deve ter animado ela. - Eu sabia que tinha um dedo seu no presente. Vovó não teria dinheiro para comprar um carro desses.

– Mas o carro foi presente só dela! O meu presente eu ainda não dei...- Amy se aproximou, me olhando nos olhos. - Espero que goste - disse ela encostando seu lábios nos meus.  Aquele foi o beijo que eu esperei minha vida toda. Finalmente eu tinha o que eu mais queria. O beijo foi longo, depois ela apenas sorriu para mim.

Acho que fiquei um tanto sem ar, minha respirção era ofegante, meus batimentos cardíacos estavam acelerados. Ela estava parada na minha frente com os olhos fixos nos meus. Mas então eu percebi algo que não deveria ter acontecido naquele momento. Leon estava paralizado na nossa frente. Seu rosto mesclava raiva e dor.

– Feliz aniversário, Derick. - eu sabia que ele me odiava naquele momento. Eu sempre soube que ele era apaixonado por ela.

Amy ficou chocada com a expressão dele, tentei alcança-lo mas não valia a pena agora, ele não me escutaria. Vi Ferdinand passar por mim. Mas isso não importava agora. Eu tinha certeza que tinha perdido meu amigo...