CAPÍTULO 8 – MUDANÇAS

Phoenix, 15 de dezembro de 2081.

Luna POV

Não acredito! Por que isso tinha que acontecer comigo? Nós fomos para Forks verão passado e minha avó estava super bem! Por que agora ela tinha que cair doente?

Os negócios de papai aqui em Phoenix não estão lá essas coisas, eu sei disso. O antiquário está começando a dar prejuízos. E para variar mamãe recebeu uma oferta de emprego mais rentável de um jornal de uma cidade pequena chamada Forks! Dá para acreditar? Forks vai pagar melhor a uma jornalista do que Phoenix! Como pode isso? Está certo que Forks é linda e as praias de La Push também, mas visitar é uma coisa. Morar lá é outra totalmente diferente.

Eu morei lá os primeiros 3 anos da minha vida e posso não me lembrar direito dessa época, mas sei que eu ficava grande parte do tempo presa dentro de casa por causa das chuvas torrenciais que caem lá. E sempre quando tem uma tempestade, eu tenho o mesmo pesadelo. Sempre tem alguma coisa importante que foge de mim e eu corro e corro, mas não consigo alcançá-la e, de repente, me sentia sozinha, abandonada, desprotegida, vulnerável e caía num poço fundo, de onde eu não conseguia sair. Acho que tudo isso é por causa de uma experiência de quase afogamento, quando uma vez, aos 7 anos, eu caí numa das piscinas naturais de La Push, que eu sempre amava, enquanto meus pais não estavam por perto. Foram minutos de muito pânico e desespero, engolindo água e quase me afogando até meu pai vir correndo e pular na água para me salvar. Aquela piscina era muito funda para uma garotinha de 7 anos. Depois daquele trauma, eu voltei poucas vezes para La Push.

Outra coisa que eu não gostava em Forks era o estranho fato de que Forks parecia estar presa ao passado. Enquanto todo o país avançava rapidamente no progresso da tecnologia, Forks parecia estagnada no passado, lá as tecnologias demoravam a progredir, parecia que tudo era lento demais, como se o catalisador de Forks estivesse pifado. Não que eu não goste de coisas antigas. Quem tem um pai dono de antiquário, que, desde quando você usava fraldas, te ensinou a amar as antiguidades, não pode não gostar disso. Mas a sensação de ser deixada para trás é uma coisa que não me agrada, não mesmo!

Mas por que mesmo eu falei tudo isso? Ah, sim... É porque eu estou me mudando para Forks. Estou deixando a quente, calorosa e seca Phoenix, para morar na fria, nublada e molhada Forks. Deixando meus amigos para trás, para morar perto da minha avó que está doente, mas que eu amo muito, num lugar onde o salário da minha mãe será maior e novas oportunidades para o meu pai surgirão. Sabe, até que não parece tão mal assim... lá eu faço mais amigos e não me desligarei dos que eu já tenho aqui. Talvez essa mudança até faça bem para a minha vida... É, vamos acreditar que sim.

Mas bem que eles podiam ter avisado antes... tenho menos de uma semana para me despedir de tudo e de todos! Então é melhor começar logo.

Gastei meus últimos dias em Phoenix saindo com meus amigos, me despedindo do sol, do calor, de tudo e de todos. Tinha uma sorveteria da qual eu com certeza sentiria falta. Seria capaz até de sentir falta da escola daqui. E olha que eu não sou fã de ficar estudando. Gosto mesmo é das companhias que a escola me oferece, mas mesmo assim, não sou uma péssima aluna, se eu fosse, adeus cartão de crédito! Mas antes que façam mau juízo da minha pessoa, já vou me explicando.

Não sou daquelas consumidoras compulsivas que torram o cartão de crédito dos pais nas lojas de grife do shopping. Longe disso! Eu sou daquelas consumidoras nada compulsivas que só torrou o cartão de crédito uma vez numa livraria... É isso mesmo! Numa livraria.

Era a minha primeira compra sozinha, minha mãe disse que eu poderia usar o cartão de crédito dela numa livraria. Acho que ela não sabia que eu podia estourar ele comprando livros... Fazer o quê? Era minha primeira vez, eu quase não tinha livros em casa e tinha vários clássicos que eu queria ler. Ela sempre soube que eu gosto de ler principalmente os livros de um século atrás e esses estavam cada vez mais difíceis de encontrar... a juventude de hoje prefere aqueles livros interativos, sem história nenhuma, eu prefiro os clássicos antigos que quase não são mais publicados e, portanto, custam um bom dinheiro. O fato é: eu fiz a farra na livraria para nunca mais repetir. Levei um sermão dos meus pais, que até hoje penso duas vezes antes de comprar alguma coisa. Agora, cartão de crédito é só para emergências, mas de qualquer forma é bom estar sempre bem prevenido.

Então, né? Voltando para o assunto anterior, vou sentir saudades da minha escola em Phoenix, ela é grande, muito grande se comparada com a Forks High School. Não que eu tenha estudado na Forks High School... eu era muito nova quando saímos de lá, nem em escola eu estudava na época, mas é para isso que a Internet serve. Obter informações.

Não estou muito preocupada em me encaixar num grupo. Embora eu saiba que as chances de encontrar um grupo lá são menores devido ao excepcional número de míseros 473, agora 474, alunos. Sempre fui muito sociável. Não, a palavra certa é popular. Não sei por que as pessoas vêem alguma coisa interessante em mim, eu sou só eu mesma, não sou maria-segue-as-outras, sou, como minha mãe diz, a original, e como meu pai diz, sou a única. A única Marie Claire Fly. Está bem, talvez não a única no mundo todo, afinal, meu nome é muito comum, mas tenho certeza que sou a única Marie Claire Fly, apelidada de Luna, com uma marca de nascença na mão em forma de meia-lua.

Só espero que Forks tire do meu coração o sentimento que sempre me acompanhou de não fazer parte desse mundo. Quem estou querendo enganar? Se nem em Phoenix eu consegui me sentir parte do mundo, por que eu iria sentir em Forks, uma cidade minúscula no interior de Washington, que me encaixo perfeitamente em algum lugar? Acho que me trocaram no berçário do hospital por uma órfã alienígena. Pelo menos, se eu fosse um alien, eu saberia onde é o meu lugar. Mas como eu não sou um, porque não tenho superpoderes, eu fico ainda mais perdida. Mesmo que eu nunca admita isso para ninguém – e eu não vou admitir mesmo! –, eu sinto que eu não pertenço a essa realidade, a essa vida. É como se alguém tivesse roubado a minha verdadeira vida e me obrigado a viver a que eu tenho agora... Certo, agora eu estou ficando depressiva demais. Chega de sentir pena de você mesma, Luna! Você tem uma boa família que te ama, que te apóia e faz o possível para você ser feliz. Mas então, por que eu sinto esse vazio no peito?

Ai, é melhor parar por aqui antes que eu comece a chorar. Ainda tenho que terminar de arrumar minhas malas. Isso! Vamos nos concentrar nas malas! Como é que eu vou levar todos os meus livros? Por falar nisso, cadê os meus livros? Não tem como eles terem sumido assim! Onde eles foram parar? E, bem, em Forks faz frio e estamos no inverno, preciso de mais roupas de frio... Por que eu não decidi arrumar minhas malas antes? Amanhã nós estaremos voando para Forks e ainda não tenho nada pronto! Luna, por que você tem que ser tão desligada assim?

“Mãe!” gritei do meu quarto. “Vem aqui!” me joguei de costas na cama.

“Que foi, Luna?” ela falou colocando a cabeça dentro do meu quarto.

“Por acaso você viu os meus livros?”

“Não seriam aqueles que seu pai disse que ia encaixotar para mandar para Forks e que você disse que tudo bem?” ela sorria.

“Ah, eu disse é?” corei. “Me esqueci.” Dei um sorriso amarelo.

“Só não esquece a cabeça porque está grudada no pescoço.” Ela estava tirando uma com a minha cara? Achei melhor ignorar.

“E preciso de mais roupas de frio.”

“Eu sei, é por isso que vamos hoje à tarde para as compras, por isso é bom se arrumar se não quiser sair assim.”

“Tudo bem, mãe. Já vou me arrumar.” Me levantei. “Já disse que eu te amo?” A abracei.

“Hoje, ainda não.” ela sorriu. Eu retribuí.

Minha mãe me deu um beijo na testa e saiu do meu quarto, logo em seguida comecei a me arrumar. Não que eu fizesse questão disso, mas minha mãe sempre me disse que uma mulher poderosa sempre está bem vestida. Quem sou eu para discordar?