Destinados escrita por Lucy Myh


Capítulo 12
Capítulo 11. TESOUROS




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CAPÍTULO 11 – TESOUROS

Luna POV

Depois do meu ritual matinal e do café da manhã, coloquei uma roupa mais confortável para começar a faxina no meu quarto. Meus pais tinham saído para acertar alguma coisa que eu não faço a mínima idéia do que seja então estava sozinha e à vontade. Coloquei o som alto e comecei a arrumação. Tirei tudo da escrivaninha, passei o pano e coloquei as coisas de volta. Alguns papéis foram para o lixo, outros ficaram. Tirei meu notebook da mala e o coloquei em cima da escrivaninha. Meus livros preferidos também ficaram lá, junto com alguns porta-retratos com fotos da família.

Próximo passo. A estante. Ela ficava ao lado da escrivaninha e por enquanto estava vazia. Passei o pano úmido, seguido pelo pano seco. Quanto pó! Logo depois tentei organizar meus livros. Meu pai tinha subido a caixa dos livros no dia em que chegamos aqui. Agradeci mentalmente a ele. Sabe, papel pesa...

Gastei a manhã toda só para organizar os livros nas prateleiras. Sabe como é, né? Concentração é uma coisa que me falta às vezes. Acabei me perdendo nos livros que não me lembrava direito da história, pegando-os e lendo trechos, até que a história toda me vinha à mente, relia minhas partes preferidas de alguns. Era fácil eu me perder nelas, saber que, embora uma sucessão de acontecimentos desse errado, tudo vai dar certo no final era realmente confortante. Quem dera a vida fosse assim...

Depois de, finalmente, me desvencilhar das histórias dos livros que gritavam pela minha atenção, me peguei decidindo se os organizava por autor, título, preferência, se agrupava em séries, acabei que misturei todas as organizações, ora por nome, ora por preferência, agrupava as séries, os temas e bagunçava de novo. Desisti e deixei sem um padrão específico. Outro dia arrumo melhor. Se não, só termino a faxina no ano que vem.

Agora fui para a cama. Não para deitar e dormir, mas sim para arrumar. Tirei os lençóis e coloquei para lavar. Limpei a cabeceira da cama e coloquei lençóis limpos. Certo... O que falta agora? Acho que só o chão. E que chão sujo! Vou precisa mais do que uma vassoura. Desci para a lavanderia e peguei um balde, enchi-o com água, peguei uns produtos de limpeza, dois panos e um rodo. Será que preciso de mais alguma coisa? Talvez uma escova de chão. É. Agora acho que não falta nada. Fiz duas viagens para levar tudo para cima, para evitar algum estrago maior, tipo derrubar tudo na escada e aproveitar e lavar a casa toda. Estou me sentindo a gata borralheira, só que sem a madrasta má e um príncipe para me salvar.

Comecei com uma varrida básica. Estava muito empolgada varrendo, dançando e fazendo da vassoura meu microfone e quando fui deslizar pelo chão, tropecei numa tábua solta caindo de quatro. É isso mesmo, caí de quatro do mesmo jeito que Napoleão Bonaparte perdeu a guerra. Foi ele mesmo que morreu de quatro, né? Deixa pra lá, o fato é que eu estaria rindo da cena se não estivesse doendo. Sentei direito no chão e massageei meus joelhos e meu pé direito. Quando fui olhar o estrago que fiz no piso do quarto, vi um saco plástico preto, todo empoeirado. O que aquilo estava fazendo ali, no chão do meu quarto? Tomara que não seja um cadáver. Ai, não pensa besteira, Luna! Desse tamanho, só se for cadáver de rato. Mas eu odeio rato.

A curiosidade me tomou e a ansiedade também. Algo me dizia que não era rato coisa nenhuma, nem cadáver de bicho algum. Além disso, não tinha cheiro de bicho morto. Peguei o saco e sacudi um pouco para tirar a poeira. Vamos lá, Luna, abre logo, pode ser um tesouro! Ta, não um tesouro de ouro e pedras preciosas, mas pode ser alguma coisa importante para alguém.

Tirei o conteúdo da sacola e analisei. Tinha uma caixinha transparente com um CD antigo prateado, com certeza é uma gravação caseira, não tinha nada escrito nele. Será que era um CD de dados ou de músicas? Depois eu descubro.

Os próximos itens da sacola eram dois pedaços de papel grosso e envelhecido. Comecei a ler e, pelo que pude perceber, eram passagens de avião de aproximadamente 75 anos nos atrás que nunca foram usadas. Uma passagem estava no nome de Isabella Marie Swan, a outra estava no nome de Edward Anthony Cullen, o destino era Jacksonville, Flórida. Não soube explicar por que, mas sabe aquela sensação de déjà vu? Pois é, eu tive quando comecei a ver o conteúdo da sacola.

Por fim, ainda tinha mais papéis. Fotografias coloridas, antigas. A ansiedade foi aumentando em meu peito. Vamos analisar isso, Luna, antes que você pire. Na primeira foto que peguei, havia dois homens sentados num sofá, um mais velho e outro mais jovem, ambos assistindo à televisão. Reconheci a sala, era a sala da minha casa! Essa foto foi tirada nessa casa há aproximadamente 75 anos. Que demais! E ainda por cima, o mais jovem era lindo, mas sua expressão era tão fria e indiferente, com o olhar reservado e cauteloso, que poderia duvidar se não era uma estátua. Não sei como pude traduzir tantos sentimentos dessa foto, só sei que era essa sensação que eu tinha e isso apertava o meu coração.

Decidi passar para a próxima foto, prendi a respiração. Era o mesmo garoto sério da outra foto, mas nessa, ele estava perfeito. Comecei a ficar tonta e lembrei que tinha que respirar. Respira, Luna, respira. Voltei a analisar a foto. Sim, com certeza era o mesmo garoto, mas muito mais... vivo, radiante. Os olhos cálidos, que mesmo na foto, me prendiam como numa hipnose, e os cabelos num tom estranho de bronze, totalmente diferente, único, cuidadosamente desarrumados de uma forma que dava vontade de agarrar e desarrumar ainda mais. Suspirei.

Epa, pára tudo! Luna, suspirando por uma foto? E de 75 anos atrás? O que é isso? Você não suspira nem por um garoto de carne e osso, vai ficar suspirando por um garoto de uma foto de 75 anos atrás? Agora, com certeza ele tem cabelos brancos ou nem isso tem mais, Luna, acorda! Marie Claire Fly você não pode estar apaixonada por um garoto de uma foto de 75 anos atrás! Ele é mais velho que sua avó! Espera aí? Eu considerei a possibilidade de estar apaixonada por uma foto? Eu só posso estar enlouquecendo! Com certeza esse ar puro e úmido de Forks deve estar afetando a minha cabeça! É melhor esquecer isso. Com certeza é a melhor coisa a se fazer, deixar esse sentimento de lado. Isso! Afinal, nunca daria certo.

Não sei por quê, mas me peguei procurando outra foto. Que estranho, podia jurar que deveria ter outra foto aqui, algo me dizia que estava faltando alguma coisa. Ta, to começando a falar como uma louca aqui. Esquece isso! Apaga, apaga! Ok, vamos continuar com a faxina.

Peguei as fotos e as passagens e coloquei dentro da caixinha de música que eu ganhei da minha avó. Afinal, isso ficou 75 anos no chão do meu quarto e ninguém ainda veio pegar de volta, agora é meu segredo, meu tesouro. Se algum dia alguém quiser de volta, o que eu duvido muito, eu devolvo. Mas por hora, vai ser meu tesouro secreto.

O meu tesouro secreto. Não pude evitar pensar na história dessas coisas sob o chão do meu quarto. Quando foram postas ali? Quem as pôs? Por quê? Pareciam ser recordações, lembranças de alguém. Mas de quem exatamente? Algo me dizia que era daquele garoto lindo da foto. Afinal, é ele que aparece nas duas fotos. Ah, as fotos... Aquele garoto estava mesmo lindo nelas, perfeito. Mas por que ele estava radiante em uma e frio em outra? O que aconteceu para isso? Essas perguntas, por mais errado que possa parecer, doíam no peito. Era errado porque eu não tinha nada a ver com aquilo. Eu nem o conhecia, não tinha o direito, mas ver aquela imagem perfeita fria, sem alegria, era angustiante.

Mas, enveredando por outros caminhos, e quanto às passagens? Quem eram Isabella Marie Swan e Edward Anthony Cullen? Quem? O que eles eram? Parentes? Amigos? Namorados? Namorados... era estranho pensar nessa possibilidade. O aperto no peito ao pensar nessa palavra era irracional. Era completamente estranho e irracional. Ao pensar naquela palavra e naqueles nomes e, se de fato tudo estiver relacionado àquele garoto como eu penso, o nome masculino for dele, não consegui evitar sentir ciúmes e inveja daquela Isabella. Mas era irracional demais sentir ciúmes de um nome e, ainda por cima, de uma época remota. Mas, afinal, por que eles não usaram as passagens? Que eu saiba, naquela época passagens de avião não eram tão baratas. O que teria acontecido?

E aquele CD? Qual seria a história dele? Uma seleção pessoal de músicas da época? Ou composições inéditas? Porque eu tinha certeza de que era um CD de músicas, minha intuição me dizia, intuição feminina, eu acho. E a intuição feminina não deve ser ignorada, certo? Pelo menos é o que minha mãe me diz.

Perguntas e mais perguntas era tudo o que pensar naqueles simples objetos me dava. Tantas perguntas e nenhuma resposta. Nunca teria uma resposta, teria? Poderia formar várias teorias, fazer várias especulações, mas a verdade, saber a verdade, seria um milagre.

Me fascino com o passado. Se fosse por mim, não me importaria de largar toda essa recente tecnologia para viver no passado. Eu sinto que eu pertenço àquela época, como se eu tivesse nascido na época errada, como se, como sempre, eu tivesse me atrasado. E pensar na história dessas coisas... querer ter pertencido à ela, ter sido parte dela, estava começando a mexer comigo. Estou ficando melancólica. E eu odeio ficar melancólica. Odeio chorar, odeio ser fraca e frágil. Ser destrambelhada não ajuda em nada. As pessoas me subestimam, acham que eu não tenho força suficiente para agüentar. Me tratam como uma bonequinha de porcelana, como se eu fosse quebrável. Mas, oras, eu não sou! E isso me irrita profundamente.

Acalme-se, Luna, acalme-se. Olha onde sua mente foi parar? Volte para a realidade, é nela onde a vida acontece! Ok, voltando à realidade, observei mais uma vez atentamente a caixa e sabe de uma coisa? Só agora que eu percebi que a caixinha que minha avó me deu não é tão pequena assim, ela até que é grande... coube tudo sem precisar dobrar e, se for ver bem, dá até pra mim colocar meus chilenos aí dentro numa boa. É, eu preciso começar a prestar mais atenção nas coisas. Peguei a caixa com o CD e coloquei em cima do criado-mudo para eu descobrir depois o que está gravado nele. Espera aí? Tem um criado-mudo no meu quarto? Como eu só fui perceber agora? Nossa, eu sou muito desligada mesmo! Depois de varrer, ainda vou ter que limpar o criado-mudo!

Coloquei a tábua solta no lugar e terminei a faxina no quarto. Depois de guardar todos os produtos de limpeza – não esquecendo de nenhum, eu acho –, peguei a caixa transparente do criado-mudo e voltei a pensar no que poderia estar gravado nele. Era música, eu tinha certeza disso. Claro, não é uma certeza na qual eu confiasse a ponto de pôr minhas mãos no fogo por ela, afinal, apenas algo me dizia que era música. Achei estranho, ultimamente muitos algos me diziam alguma coisa. Deve ser o ar de Forks mesmo. Decidi seguir minha intuição e peguei um CD Player antigo que foi do meu avô, que deu para o meu pai e passou para mim. É incrível como ainda está em bom estado e é muito estranho pensar que o CD que vou escutar é tão antigo quando a máquina que vai tocá-lo para mim.

Deitei na minha cama, coloquei os fones no ouvido e pus o CD para tocar. Logo que a primeira faixa começou a rodar, percebi que era algum tipo de música clássica, mas não era nenhuma que eu conhecia. Entretanto, ao ouvi-la, era como se eu a reconhecesse, como se eu fizesse parte daquela canção de ninar. Aquela faixa me transmitia um misto de conforto e tristeza, não sabia por que, mas estava emocionada. Aquelas notas musicais mexiam tão profundamente com meus sentimentos que algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto...

O que era tudo aquilo? O que estava acontecendo comigo? Eu não era daquelas garotas sensíveis, eu não era de chorar por motivos bobos, eu não era de suspirar por alguém, eu não era de prender a respiração sem perceber. Antes de retirar aqueles simples objetos do chão do meu quarto, eu não era nada disso. Mas parece que ao libertá-los da prisão que era aquela tábua solta, uma barreira dentro de mim ruiu, libertando aquela garota sensível, chorona e apaixonada que há poucos minutos me foi apresentada. Uma outra Luna, um outro lado de Marie Claire Fly que veio à tona com a descoberta de tantas novas e, ao mesmo tempo, já conhecidas sensações.

Me acomodando com a nova parte de mim que conheci hoje, adormeci exausta na minha cama, com tantos pensamentos em minha mente, tantas sensações em meu coração, numa mistura de euforia e confusão, ao som das mais maravilhosas notas musicais organizadas numa harmonia desconhecida, mas recordada.


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Notas finais do capítulo

Desculpas pela demora, motivos: Vestibulares (enfim encerraram-se as 1as. fases) e bombardeio de provas finais na escola.
Bom, hoje a nota é cuta porque já passam da meia noite e ainda não estudei história :/
Só tenho mais uma coisa pra falar: Próximo capítulo tem convites! Alguém chuta do quê?



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