The Son of Fear escrita por Leila Edna Mattza


Capítulo 1
A more or less normal day


Notas iniciais do capítulo

Nova história! Eu sei, eu sei, eu tenho que terminar Depois de Panem, mas eu queria muito postar essa!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/441182/chapter/1

PERCY

Minha vida mudou para sempre quando fui para o Metropolitan Museum of Art, em Manhattan, com a Academia Yancy.

No início, foi normal. Bem, tão normal quando pode ser quando se está num ônibus escolar amarelo, com minha turma de sétimo ano, havendo mais vinte e sete crianças alucinadas.

Junte isso com o fato de que as cadeiras à minha frente, atrás de mim e ao meu lado na outra fila, estão vazias. Isso era porque todos me evitavam como a própria morte. Suspirei, eu estava acostumado com isso. Bom, pelo menos eu tenho mais espaço, e ninguém me incomoda quando tento focar em algo.

Na verdade, eu acho que nem preciso me focar em alguma coisa. Quer dizer, eu sou disléxico, então não posso ler, só para começar. E também tenho TDAH, então não posso me concentrar em nada, mesmo que eu tente.

Então, a coisa mais divertida que faço para passar o tempo, é assustar as pessoas. Eu acho que eu gosto de ouvi-los gritando de medo. Faz eu me sentir forte, como se o medo deles me desse força e energia. O estranho é que, mesmo nunca tendo conhecido, o sei imediatamente o qual é o seu maior medo. É estranho, mas muito legal. Eu uso isso para brincadeiras. É absolutamente hilário!

Poxa, eu nem me apresentei. Meu nome é Percy Jackson. Tenho cabelo preto que nenhum pente pode pentear, pele bronzeada num tom dourado, e olhos da cor de brasas quentes. Sabe, tipo fogo. A Sra. Dodds insiste em dizer que meus olhos representam o fogo do Inferno, mesmo que até ela ficasse longe de mim.

A Sra. Dodds era aquela professorinha de matemática da Geórgia que sempre usava um casaco de couro preto, apesar de ter cinquenta anos de idade. Parecia má o bastante para entrar com uma moto Harley bem dentro do seu armário, e me odiava. Tinha chegado na Yancy no meio do ano, quando nossa última professora de matemática teve um colapso nervoso.

Fiz uma careta enquanto observava Nancy Bobofit, aquela cleptomaníaca ruiva e sardenta, acertando a nuca do meu melhor amigo, Grover, com pedaços com pedaços de sanduíche de manteiga de amendoim com ketchup.

Grover era um alvo fácil. Ele era magrelo, só para começar, e chorava quando ficava frustrado. Deve ter repetido de ano várias vezes, porque era o único no sétimo ano que tinha espinhas e uma barba rala começando a nascer no queixo. E, ainda por cima, era aleijado. Tinha um atestado que o dispensava da Educação Física pelo resto da vida, porque tinha algum tipo de doença muscular nas pernas. Andava de um jeito engraçado, como se cada passo doesse, mas não se deixe enganar por isso. Você precisa ver como ele corre quando é dia de enchilada na cantina. Grover também tinha medo de mim, mas pelo menos era meu amigo.

De qualquer modo, Nancy Bobofit estava jogando bolinhas de sanduíche que grudavam no cabelo castanho cacheado dele. E eu estava cada vez mais nervoso com isso. Grover era o único amigo que eu já tive. Se aquela garota achava que podia intimidá-lo, estava muito enganada.

Levantei-me do assento. Grover abriu a boca, como se para tentar me parar, mas eu já estava de pé, olhando para Nancy. Ela olhou para mim de baixo para cima, engolindo em seco.

Grover já havia me dito uma vez que eu era muito intimidador. Usava sempre jeans pretos rasgados, coturnos pretos, uma camisa vermelha-sangue, minha jaqueta preta sem mangas, minhas luvas sem dedos decoradas com espinhos, e uma bandana vermelha no cabelo. No meu pescoço, uma corrente de prata, com o pingente de uma caveira que representava o medo. Grover disse isso um pouco depois de nos conhecermos, quando havia admitido que ainda tinha medo de mim, embora me achasse um cara legal.

- Será que você pode parar? – Eu disse a Nancy, num tom perigoso que exigia a resposta que eu queria.

Nancy assentiu rapidamente, e eu voltei a me sentar. Percebi que todos no ônibus me olhavam, de olhos arregalados. Não era todo dia que alguém podia assustar Nancy Bobofit.

- Estão olhando o quê? – Eu perguntei num tom de desafio. – Tem alguma coisa na minha cara?

Todo mundo desviou o olhar no mesmo instante.

Olhei para Grover, que parecia meio assustado e meio admirado.

- Cara. – Ele disse. – Não precisava. – Grover baixou o tom. – Você já está sendo observado. Sabe que será culpado se algo acontecer.

Concordei a contra gosto. Ele estava certo. Lembrei-me de que o diretor me ameaçara de morte com uma suspensão “na escola” (ou seja, sem poder assistir às aulas, mas tendo de comparecer à escola e ficar trancado numa sala fazendo tarefas de casa) caso alguma coisa ruim, embaraçosa, ou até moderadamente divertida acontecesse durante a excursão.

- Ok. – Eu disse, suspirando. - É hora de ser bonzinho.

O Sr. Brunner guiou o passeio pelo museu.

O Sr. Brunner era um sujeito de meia-idade em uma cadeira de rodas motorizadas. Tinha o cabelo ralo, uma barba desalinhada e usava um casaco surrado de tweed que sempre cheirava a café. Talvez algumas pessoas não o achassem legal, mas ele contava histórias e piadas, e nos deixava fazer brincadeiras em sala. Tinha uma impressionante coleção de armaduras e armas romanas, portanto era o único professor cuja aula não me fazia dormir. Ele também era o meu professor favorito, porque ele é o único que não tem medo de mim.

Não me interprete mal, eu gosto de assustar as pessoas, mas às vezes fica chato como elas ficam com medo de mim quando estou por perto. É bom saber que alguém não está com medo de você de vez em quando.

Ele foi na frente em sua cadeira de rodas, conduzindo-nos pelas grandes galerias cheias de ecos, passando por estátuas de mármore e caixas de vidro repletas de cerâmica muito velha preta e laranja.

Eu ficava alucinado só de pensar que aqueles vasos e pinturas haviam sobrevivido por dois mil, três mil anos.

O Sr. Brunner nos reuniu em volta de uma coluna de pedra com quatro metros de altura e uma esfinge no topo, e começou a explicar que aquilo era um marco tumular, uma estela, feita para uma menina mais ou menos da nossa idade. Contou-nos sobre as inscrições laterais. Eu estava tentando ouvir o que ele tinha a dizer, porque era um pouco interessante, mas todos ao meu redor estavam falando, e cada vez que eu dizia para calarem a boca, a Sra. Dodds me olhava de cara feia.

Devolvi-lhe a careta. Não era de se admirar que, desde o primeiro dia em nossa escola, a Sra. Dodds tinha adorado Nancy Bobofit, e concluído que eu tinha sido gerado pelo diabo. Ela me apontava o dedo torto e dizia: “Agora, meu bem”, com a maior doçura, e eu sabia que ia ficar detido depois da aula por um mês, não importa o quanto eu insistisse de que não era minha culpa.

Mas, você sabe, as pessoas dificilmente acreditam num Bad Boy.

Certa vez, depois que Sra. Dodds me fez apagar as respostas em antigos livros de exercícios de matemática até meia-noite, disse a Grover que achava que ela não era gente. Ele olhou para mim, muito sério, e disse:

- Você está certíssimo.

Finalmente, Nancy Bobofit, abafando o riso, falou sobre o sujeito pelado na estela, e eu me virei e disse:

- Quer calar a boca?

Ela obedeceu, mas, infelizmente, não prestei muita atenção no meu tom, então acabou saindo mais alto do que eu pretendia.

O grupo inteiro ficou em silêncio total. O Sr. Brunner interrompeu sua história.

- Sr. Jackson – disse ele –, fez algum comentário?

Tentei manter meu rosto sem expressão.

- Não, senhor. – Respondi.

O Sr. Brunner apontou para uma das figuras na estela.

- Talvez possa nos dizer o que esta figura representa.

Olhei para a estátua e sorri, me lembrando perfeitamente dela. Era uma das minhas favoritas.

- São Phobos e Deimos, na carruagem de Ares.

- Muito bem. – O Sr. Brunner assentiu, sorrindo um pouco. – E quem exatamente são eles?

- Eles são os deuses gêmeos do medo e do terror. – Eu respondi. – Filhos de Ares e Afrodite, ajudavam Ares a pilotar sua quadriga de guerra.

- Está correto. – Disse ele, seu sorriso crescendo.

O Sr. Brunner já estava prestes a se virar para outra direção, quando Nancy Bobofit murmurou:

- Como se fôssemos usar isso na vida real. Como se fossem falar nas nossas entrevistas de emprego: “Por favor, explique quem eram Phobos e Deimos, e o que eles faziam.”

- E por que, Sr. Jackson, parafraseando a excelente pergunta da Srta. Bobofit, isso importa na vida real? – Perguntou o Sr. Brunner, erguendo as sobrancelhas sugestivamente.

- Se ferrou. – Murmurou Grover.

- Cale a boba. – Chiou Nancy, o rosto ainda mais vermelho do seu cabelo.

Eu poderia ter sorrido. Pelo menos Nancy também fora enquadrada. O Sr. Brunner era o único que a pegava dizendo algo errado. Tinha ouvidos de radar.

A palavra-chave: poderia. Por causa do comentário ridículo que ela fez, agora vou ter que responder outra pergunta, que agora não tem uma resposta.

Enviei um olhar para Nancy, que a fez empalidecer, antes de olhar de novo para o Sr. Brunner, que tinha a sobrancelha erguida.

- Não sei, senhor. – Respondi, com travando o maxilar.

- Entendo. – O Sr. Brunner pareceu decepcionado. – Muito bem, é hora do almoço. Sra. Dodds, quer nos levar de volta para fora?

A turma foi retirada, as meninas segurando a barriga, os outros garotos empurrando uns aos outros e agindo como bobões. Grover e eu estávamos prestes a segui-los quando o Sr. Brunner disse:

- Sr. Jackson.

Eu sabia o que vinha a seguir.

Disse a Grover para ir andando. Então me voltei para o professor.

- Senhor?

O Sr. Brunner tinha aquele olhar que não deixa a gente ir embora – olhos castanhos intensos que poderiam ter mil anos de idade e já ter visto de tudo. O olhar que conseguia perturbar até mesmo a mim.

- Você precisa aprender a responder a minha pergunta. – Disse ele.

- Sobre o quê, senhor?

- Sobre a vida real. E como seus estudos se aplicam a ela.

- Ah. – Foi tudo o que consegui dizer. Fiz uma promessa silenciosa de me vingar de Nancy por sua pergunta idiota.

- O que você aprende comigo – disse ele -, é de uma importância vital. Espero que trate o assunto como tal. De você, aceitarei apenas o melhor, Percy Jackson.

Eu queria ficar zangado, aquele sujeito me pressionava demais.

Quer dizer, era legal em dias de torneio, quando ele vestia uma armadura romana, bradava “Olé!” e nos desafiava, ponta de espada contra giz, a correr para o quadro-negro e citar pelo nome cada pessoa grega ou romana que já viveu, o nome da mãe e que deuses cultuavam. Mas o Sr. Brunner esperava que eu fosse tão bom quanto todos os outros a despeito do fato de que tenho dislexia e TDAH, e de que nunca na vida tirei uma nota acima de C-. Não, ele não esperava que eu fosse tão bom quanto, ele esperava que eu fosse melhor. E eu simplesmente não podia aprender todos aqueles nomes e fatos, e muito menos escrevê-los direito.

Murmurei alguma coisa sobre me esforçar mais, enquanto o Sr. Brunner lançava um olhar longo e triste para a estela, como se tivesse estado no funeral daquela menina.

Ele me disse para sair e comer meu lanche.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um pouco parecido com o livro, mas com várias alterações. Eu só precisava de descrições, ok?
Um acordo simples: Se eu tiver, no mínimo, 5 reviews, eu posto o 2º capítulo, que por acaso, já está pronto.
Beijos!