Pov’s Percy

Era umas sete e meia quando acabamos de lavar as roupas.

Estávamos na cozinha. Eu sentado em cima da pedra da pia e Annabeth sentada nas cadeiras altas do balcão, de cabeça baixa entre os braços.

Eu tinha acabado de receber uma ligação da Rachel, que ainda não havia chegado, dizendo que em uma hora estaria em casa.

– Annabeth, temos uma hora pra preparar o jantar – eu disse.

– Am? O que? Por quê? – ela não olhou pra mim, e sua voz saiu abafada.

Pulei da pedra da pia e sentei em uma cadeira alta na frente dela no balcão.

– Rachel disse que vai chegar em uma hora. – eu disse.

– Idae?

– Ela vai querer o jantar.

– Edai?

– Idae que nós vamos fazer

– Nós é muita gente!

– Mentira! É só eu e você!

– Eu não tenho nada a ver com isso. Eu vou dormir.

– Sabia que o jantar faz parte do acordo?

– Não faz não!

– Ah, Annabeth.

– Ah, Percy. – ela levantou a cabeça – Eu sei que você quer fazer é um jantar pra Rachel. E, como não sabe fazer nada, precisa da minha ajuda.

– Esta com ciúmes?

– Claro que não – ela baixou a cabeça – Você tem tanta ideia idiota que parece que você não é normal.

– Ok. Eu vou encomendar alguma coisa pra gente e vou fazer a sobremesa...

– Ai que lindo! Depois você coloca velas na mesa, apaga as luzes, joga pétalas no chão e faz um lindo jantar a luz de velas!

– Ate que pode ser...

– Não no meu apartamento.

– Tudo bem. Mas me ajuda...

– Não. Eu vou dormir.

– Você é a pessoa mais encrenqueira que eu já conheci – eu sorrio e passo as mãos pelos seus cabelos. O estranho foi que ela não reclamou ou me bateu. Então me lembrei de algo – Ei, sua cabeça ainda esta doendo?

– Imagine.

Tinha me esquecido da batida que ele deu no chão lá em cima.

– Tudo bem – eu disse – pode ir.

– Eu não estava mesmo pedindo sua permissão.

E assim ela se levantou com tudo e saiu da cozinha. A voz dela saiu meio chorosa quando ela disse, ou era eu ficando doido.

Peguei o meu celular e liguei pra pizzaria. Estaria aqui as 08h20min, pouco antes da Rachel chegar.

Eu estava animado com a ideia de fazer um jantar pra Rachel, já que a outra estaria dormindo. Teríamos um tempo só pra nos dois. Nos só tivemos isso semana passada, mas não foi muito legal porque ela estava brigada com a Annabeth. Então estava meio chateada. Hoje, eu e a Loirinha estávamos de bem, então acho que ela ficaria mais... Ela.

Ok. Agora eu só precisava achar alguma coisa que eu soubesse fazer para uma sobremesa, e que eu soubesse fazer direito.

Mas esse era o problema: eu não sabia fazer nada!

– Vlacas – Chinguei a mim mesmo.

Olhei no relógio. 19h45min.

Como eu poderia aprender a fazer alguma coisa?

Eu não conseguiria sozinho. Precisava de ajuda.

Fui ate o quarto da Annabeth. Ele deveria estar saindo do banho, então, talvez, eu tivesse tempo de pedir sua ajuda antes que dormisse.

Esse “Talvez” se transformou em “Não”.

Quando eu abri a porta do seu quarto, eu me amaldiçoei.

A pobrezinha estava dormindo profundamente. Ela não estava coberta. Estava com roupas de dormir e seu cabelo estava Souto pelo rosto. Sua mão esquerda estava, mais ou menos, sobre a testa. Ela estava tão linda dormindo que eu poderia ficar ali. Olhando-a dormir ate que acordasse. Ela parecia uma doce garota, calma e tranquila. O contrario de quando esta acordada.

Sai do quarto e fechei cuidadosamente a porta.

Mas e agora? O que eu iria fazer?

Voltei pra cozinha. Sentei na cadeira do balcão. Estava prestes a deixar tudo pra lá e comer a pizza com ela sem nada especial, quando um livro cai na minha frente.

– Mas o que...? – Minha pergunta morreu quando olhei pra trás de mim.

Annabeth estava lá, com a mesma roupa de dormir, com um suéter azul por cima.

– Olha na ultima pagina – disse ela. – Talvez tenha o que você precisa.

Foi quando percebi que aquilo era um livro de receitas. Fiz o que ela mandou e olhei. Tinha uma receita perfeita, fácil e no meu tempo, acho.

– Perfeito – eu me levantei e virei-me pra Annabeth. – Vai me ajudar?

– Nem pensar – disse cruzando os braços – Eu já ajudei muito.

– E pode ajudar mais – eu fiz a maior cara de pidão do mundo. – Por favor. – juntei as mãos.

Ela me olhou bem nos olhos, e por um momento achei que ela iria começar a gargalhar. O sorriso apareceu sim em seu rosto, mas ela descruzou os braços e andou ate a mesa.

– Tudo bem! Eu espero que tenha chocolate.

– Obrigada. – andei ate ela e lhe dei um grande abraço em agradecimento. Ela retribuiu, mais ou menos. Ela afastou o rosto e ficou cara a cara comigo.

– Você cheira a sabão em pó – ela disse.

Eu sorri.

Eu a segurava pela cintura e ela tinha as mãos em volta do meu pescoço. Por um momento esquisito, no encaramos olho no olho e chegamos ate nos aproximar um pouco um do outro, mas Annabeth recobrou o sentido.

– Ah... – ela se afastou de mim e correu ate o armário e pegou uma tigela – Acho melhor andarmos logo e...

Recobrei os meus sentidos.

– É... É claro. Vamos começar.

***

Annabeth era boa cozinheira.

Ela preparou a massa em 10 min enquanto eu derretia o chocolate no micro-ondas. Ok. Foi tudo obra do micro-ondas, mas Annabeth disse que quando o timer acaba, ele fica apitando freneticamente ate dar nos nervos e já causou alguns problemas. Fiquei imaginando o que um “Piiiiii” poderia causar.

– Você nem imagina – disse ela.

Deixei isso pra lá.

Ela pediu algumas coisas enquanto preparava. Ria quando eu fazia alguma coisa errada.

– Eu pedi farinha de trigo – disse ela, rindo – Não farinha de farofa.

Mas não dizia nada na maldade. Ela me ensinava passo a passo o que era pra fazer e o que era o que na cozinha.

Depois de 10 agradáveis minutos, a massa estava pronta. Ela modelou e colocou no forno.

– Quanto tempo? – perguntei.

– Uma meia hora.

– O que? Não vai dar tempo!

– Escuta isso.

Ela pegou o celular.

– “Annabeth” – ela leu a mensagem – “Diga ao Percy que vou demorar um pouco. Piper me chamou pra ir ao cinema, e meu celular descarregou. Mandei mensagem pelo da Piper pra você porque não tinha o numero dele gravado. Volto antes de 21h00min. Beijos, Rachel”. – ela guardou celular – Viu! Temos tempo.

– Tudo bem... Mas, o que vamos fazer agora? – perguntei.

– Ah, agente eu não sei. Mas você vai tomar um banho! Ainda cheira a sabão em pó!

***

Essa foi lei.

Fui ao quarto e tomei um banho. Vesti jeans e uma camiseta vermelha. Depois voltei ate a sala.

Annabeth estava deitada no sofá lixando as unhas.

– Annabeth – falei – Já passou meia hora?

– 20min. – ela disse, olhando para as mãos. – O recheio e a cobertura estão prontos.

Arregalei os olhos.

– Como você conseguiu terminar tudo sozinha?

Ela deu uma risada debochada.

– Ah, Jackson, esqueceu que o lerdo aqui é você?

– Claro, eu sou o lerdo.

“Plin-don”, soou a campainha.

– Eu atendo – dissemos em um uníssimo.

Annabeth levantou-se do sofá, e nos dois chegamos na porta ao mesmo tempo. Ela abriu a porta.

Do lado de fora, estava um homem gorducho e baixinho, bebendo uma coca diet, e segurando uma caixa de Pizza na mão.

– A Pizza. – ele disse.

– Ah, obrigado. – ergui as mãos para pegar e ele esquivou-a – Ei! – reclamei.

– Onde esta o dinheiro? – ele perguntou – Não vou te entregar a pizza antes disso.

– E ele não vai te entregar o dinheiro antes da pizza. – disse Annabeth.

– Ora, Annibel, vejo que encontrou finalmente alguém que a tolere! – disse o homem – Faz muito tempo, não?

– Cale a boca, velho gordo! – disse Annabeth – E entregue logo a pizza.

– Annabeth, silencio. – eu disse.

Ela me obedeceu.

– Ora, que bom que você consegue controlar a matraca da sua namorada! – disse o velho.

– Ah... Desculpe, senhor, mas... – comecei.

– Ah, você precisava ver como ela era com os outros. – ele continuou – Falava, falava e falava. Chegava aqui pra estregar uma pizza, ela e o cara estavam brigando. Na casa do pai dela, estavam brigando. Ela ia à pizzaria, estavam brigando. Ela teve tantos namorados que eu simplesmente perdi a conta. Eu assisti três fins de namoro dela.

Annabeth baixou os olhos, um pouco constrangida e vermelha. Aquele cara estava querendo deixa-la mal por algum motivo, porque pensava que estávamos namorando. Se esse era o objetivo, estava conseguindo. E isso estava me deixando irritado.

– Ah, olhe senhor, eu não faço a mínima ideia do que você esta falando. Deve estar falando de outra pessoa. Porque a minha Annabeth – pus a mão em volta dos seus ombros e a puxei pra perto de mim – não é assim. Então tome o seu dinheiro – tirei as notas do bolso e entreguei a ele –, me de a pizza e caia fora daqui!

O homem arregalou os olhos e fez tudo o que eu mandei.

Annabeth se soltou de mim e virou-se de costas.

– Porque você fez isso? – ela perguntou, meio espantada.

– Eu... Eu não sei – disse eu – Ele estava me deixando nervoso!

– Você não devia ter feito isso – ela estava de costas, mais eu a vi pondo as mãos na boca.

– De nada. Porque ele estava falando aquilo de você?

Ela não respondeu. Simplesmente seguiu pra cozinha. Eu a segui.

– Hey! – eu disse – Calma. Não vou te obrigar a falar. Mas desculpe se agi mal. Estava querendo ajudar.

Ela estava ajoelhada no chão olhando pro forno. Quando levantou-se, pegou uma luva e tirou a forma do forno e colocou em cima da mesa.

Depois inspirou fundo.

– Ok – disse por fim – Obrigada.

Andei ate ela e pus a mão em seu ombro.

– O que agente faz agora? – perguntei.

Ela abriu um sorriso.

– A parte mais legal: decoração e colocar o recheio!

***

Depois de um tempo, estava tudo pronto, organizado e calculado pra não sobrar e não faltar.

– Que cor você vai querer a cobertura? – ela perguntou.

– Azul. – respondi.

– Ok. Cobertura azul. – ela sorriu.

Ela colocou a coloração no Chantilly e logo, logo, ele estava em um tom azul cor do céu.

– Você é boa – soltei.

– Eu só coloquei a coloração no Chantilly e mexi – ela olhou maliciosamente pra mim e pro Chantilly – O que me lembra – ela passou o dedo no Chantilly e passou no meu nariz – Eu estava te devendo da espuma!

– Não estava não! Foi você quem começou, então, agora eu estou te devendo – passei o dedo no chantilly e andei ate ela.

– Oh, não. – ela se afastou – Nem vem.

– É melhor deixar – cheguei perto dela – Se não vai ser pior.

– Esta bem – ela parou na minha frente.

Eu limpei meu dedo na bochecha dela. Ela me olhou de um jeito esquisito.

– Porque esta me olhando assim? – perguntei.

– Assim como?

– Como se não acreditasse que eu tive a ousadia de nascer.

Ela sorriu.

– É um dom. – ela limpou a bochecha com as mãos. Depois as limpou em um pano. – Vamos acabar ligo com isso? Daqui a pouco a Rachel chega. – ela limpou o meu nariz com o pano.

– É melhor.

***

– Ficaram perfeitos! – disse Annabeth, para nossa obra.

– Sim. Os melhores e mais deliciosos Cupcakes que eu já vi!

Ela me olhou de um jeito tímido. Annabeth Chase tinha esse olhar?

– Eu estou sendo sincero – eu disse.

– Sendo assim, obrigada.

Ela suspirou profundamente.

– Bom, meu trabalho acabou – ela disse.

– É, pois é. – eu disse, olhando para os cupcakes.

Ela me olhou furiosa.

– O que? – perguntei.

– Como é lerdo! Não mereço nada?

– E o que mereceria? Uma faixa de melhor cozinheira?

– Que tal um “Obrigado”?

Sorri.

– Por quê? Quem garante que você não colocou veneno?

Ela me deu um soco na barriga.

– Ai!

– Seu idiota! – ela saiu andando da cozinha.

– Ei! – segurei seu braço – Eu estava brincando, Annie.

– Não me chama de Annie.

– Ok, Annie – virei-a de frente pra mim, ainda segurando seu braço – Posso te agradecer sem ser morto?

Ela assentiu.

Eu a abracei. Ela demorou um pouco pra retribuir, mas retribuiu. Com sua altura, mais ou menos na do meu nariz, eu podia sentir o cheiro viciante dos cabelos dela. Sua pele macia tocando a minha. Por um momento não quis me livrar daquele abraço de jeito nenhum. A abracei mais apertado. Era como se todos os meus problemas sumissem, como se só existisse eu e ela ali. Não me importaria de ficar a noite toda nessa posição. Mas Annabeth pelo visto sim. Ela deu uma pigarreada e disse:

– Ahn... Percy? Já me agradeceu o suficiente, ok?

– Tem certeza?

– Absoluta.

Me separei dela.

Ela me olhava de um jeito estranho. Estudando-me. Aqueles olhos cinzentos pareciam estar fazendo um perfil psicológico sobre mim. Revendo minhas atitudes, minhas falas, o que eu pretendia. E eu queria saber a conclusão, já que eu também não me entendia.

– Porque fez isso? – perguntei a ela.

– Isso... O que? – ela disse.

– Me ajudar?

– Se eu não posso te tirar dela, pelo menos posso fazer você merece-la.

– Já pensou em me tirar dela?

– Não. Mas eu ia mostrar quem você era, na verdade.

– E não achou nada de errado, né?

– Claro que achei! Cara, você é um tremendo burro!

– Valeu Annie – estendi a mão pra ela.

Ela aceitou.

– Boa noite pra vocês dois – ela saiu da cozinha.

Não pude deixar de notar essa evolução. “Boa noite pra vocês dois”? Isso sim é novidade!