As Crónicas de Hermione escrita por Khaleesi Dracarys


Capítulo 7
Será ou não Será?!


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Estive sem tempo, e sem inspiração!
Sei que vão achar grande, e talvez desnecessário e confuso, mas eu precisava explicar a personalidade do Draco, e isso leva tempo, não é?
Dedico o capítulo à minha bela Mione Malfoy, que é graças a ela que eu me obriguei a ficar inspirada. Obrigada! e já agora leiam as fics dela que são maravilhosas.

fiz a adaptação do poema a partir dessa música:
https://www.youtube.com/watch?v=Ud4HuAzHEUc

Boa Leitura, espero que gostem!



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Faltava uma semana para as férias de Natal começarem. Hermione mal acreditava que o tempo tinha passado tão rápido. As aulas voavam, e o tempo livre parecia nem existir, tal era a quantidade de trabalhos que os professores mandavam os alunos fazer.

Hermione e os amigos sentiam o stress que se acumulava, mês após mês. Os professores não os deixavam esquecer que aquele era o último ano, e por isso tinham de dar o seu melhor. E para completar, a Directora McGonagall tinha incumbido o professor Snape, agora vice-director, de os preparar para os Exames de Feitiçaria Barbaramente Extenuantes (E.F.B.E.’s). Nestas aulas preparatórias parecia que o tempo não tinha passado, o mau humor de Severus Snape mantinha-se igual a si próprio, e era realmente extenuante suportar aquelas horas.

Nos momentos em que resolvia ficar sozinha, Hermione dirigia-se à sua sala secreta, e permanecia ali em silêncio. Ali podia fazer os seus próprios trabalhos e dedicar-se à leitura, e até mesmo à escrita. Desde que começara a escrever que se tinha apercebido que se sentia melhor, e por isso não tinha parado. Tinha agora centenas de pergaminhos, arrumados nas prateleiras. Uns tinham poemas, outros rascunhos e ideias.

Na pequena sala, Hermione perdia-se frequentemente em pensamentos. Sobre Ron, essencialmente. Por isso gostava de se manter ocupada, pois só assim evitava pensar no dia em que se tinham encontrado em Hogsmeade. Desde aí que mal se falavam, ele escrevia-lhe mas ela nem sempre tinha vontade de responder. Até porque na maior parte das corujas que recebia do namorado, Ron escrevia que achava Hermione muito mudada, insistia em não aceitar a amizade com Pansy, e em nenhuma delas recebera um pedido de desculpa ou de compreensão. Naquelas em que não falava dela ou de Pansy, Ron falava do seu trabalho como auror, de como era reconhecido por si mesmo pela primeira vez.

Ginny e Harry não ajudavam a que ela se distanciasse do assunto. Ginny lembrava-lhe constantemente que o irmão gostava muito dela e que só queria o seu bem. Dizia-lhe que era normal ele não perceber a nova situação com Pansy, afinal tinha sido estranho para todos, e que ela tinha de o compreender. Quando Hermione se defendia que ele também tinha de a entender, e dar-lhe um voto de confiança, Ginny dizia simplesmente que o irmão era um tolo e que tinha saudades dela. Já Harry escrevia-lhe frequentemente para saber como ela estava e disfarçadamente tentava desculpar o amigo, dizendo-lhe que Ron falava nela a todo o momento, e que estava muito preocupado.

Hermione já não tinha paciência. Parecia que apenas ela tinha de compreender, ela tinha de aceitar e desculpar, mas o Ron, pobre menino grande, não precisava fazer nada. A rapariga perguntava-se quando é que Ron se tinha tornado tão mimado, e quando é que todos aceitavam que ele se portasse como tal. Os seus pensamentos foram interrompidos por três batidas na porta. Estranhou, mas mandou a pessoa entrar.

Pela porta semiaberta, Pansy Parkinson colocou a cabeça e procurou por Hermione. Quando a encontrou no canto do sofá, e seus olhares se cruzaram, a gryffindor notou que a slytherin estivera a chorar. Pansy falou:

– Posso entrar? Não incomodo? – perguntou numa voz fina.

– Nunca incomodas, Pansy. Entra. O que aconteceu? – Hermione perguntou.

– Oh Hermione, eu não sabia com quem falar, e mesmo agora não sei se vais entender. Ninguém entende. – Pansy falava, e cada vez mais deixava Hermione curiosa.

– Pansy, fala logo de uma vez. Eu não posso dizer se entendo ou não, se não dizes o que é.

– O Blaise foi avistado. – Pansy falou com algum receio, esperando pela reacção de Hermione, como esta não se manifestou, continuou – Recebi uma coruja agora mesmo. Eu disse-te que os meus pais estavam a tentar encontrá-lo, contrataram vários detectives para o procurarem em vários países, e receberam novidades hoje. Mandaram-me uma coruja imediatamente a dizer que os aurores alemães se mobilizaram para perseguir um bruxo que entrara ilegalmente no país. A descrição de várias testemunhas é coincidente com o Blaise. Os nossos detectives já foram para lá. Espero que o encontrem antes dos aurores.

Hermione ficou calada. Não tinha resposta para aquilo. Ela sabia que Pansy ainda não tinha perdido a esperança de encontrar Blaise Zabini. Que continuava apaixonada por ele e que faria tudo para o proteger. Mas ao mesmo tempo, ela ainda era Hermione Granger, a menina que queria sempre fazer o mais correcto, e sabia que Blaise merecia estar preso, tal como Malfoy. Mesmo que eles não tivessem sido responsáveis por grandes atrocidades, a verdade é que ambos tinham-se tornado Devoradores da Morte e escolhido lutar pelo lado de Voldemort, e por isso mereciam uma punição. Mas ver o desespero de Pansy, o medo de não saber se o namorado estava vivo, se estava bem, também não a deixava indiferente. Desde que tinham voltado para Hogwarts as duas raparigas tinham-se aproximado muito, e Hermione já a considerava uma amiga, com quem podia contar e que não a julgava. Por isso, ela sabia que também não podia julgar Pansy.

– Oh Pansy, não sei o que dizer! – optou por dizer – Não posso dizer que compreendo verdadeiramente a tua situação. Da minha posição, se eu estivesse no teu lugar, eu aconselharia o Zabini a entregar-se desde o início. Ele cumpriria a sua pena e ficaria livre mais cedo. Tu não sofrerias tanto, pois saberias onde ele estava, e no fim de tudo poderiam ficar juntos. Assim, vives sempre na incerteza, com medo que a pior notícia chegue. Mas é a tua vida, e eu posso apenas apoiar-te na tua decisão. Podes contar comigo, não vou contar as nossas conversas para ninguém, mesmo que às vezes não concorde com as tuas escolhas. Desde que elas não prejudiquem ninguém, incluindo tu, eu não me vou meter nisso.

– Obrigada, pela tua sinceridade. – Disse Pansy entre lágrimas – Eu sei que é difícil de entender, por isso já fico contente que pelo menos respeites a minha situação. Nós somos slytherin, Hermione. Eu sei que é uma justificação infantil, mas que faz algum sentido. Não somos corajosos como os gryffindors. – Pansy piscou o olho a Hermione – Não sei qual a magia do Chapéu Seleccionador mas ele realmente acerta quando nos distribui pelas casas. E depois ainda somos muito orgulhosos: do nosso sangue, das nossas famílias, do nosso dinheiro, de tudo o que é fútil. Ser preso, seria uma vergonha para uma família tão importante. Blaise e todos os outros fugiram porque sabiam que seriam sempre mal vistos pelos outros “sangues puros” que escaparam à prisão. Fugir era simplesmente mais fácil.

Tudo o que Pansy falava tinha a sua lógica, nisso Hermione tinha de concordar. Não fazia sentido para ela, mas fazia sentido para os slytherin.

– Mas só uma coisa, Pansy. Se há a possibilidade de o Zabini ter sido visto porque estás triste?! Entraste aqui com ar de quem chorou, e estás super sensível. – Hermione perguntou por fim.

– Por um lado fiquei feliz, mas depois começaram as dúvidas. E se ele for preso pelos aurores? E pior, se for morto? E depois a dúvida mais fútil: porque é que ele não me escreve há tanto tempo? Ele podia pedir a minha ajuda, seria muito mais simples. Mas não, maldito orgulhoso, slytherin dum raio.

Hermione por esta altura teve de rir com o comentário da amiga. Pansy era muito engraçada quando ficava irritada.

– Ai Pansy, tens de ter mais calma. Por enquanto não há nada que possas fazer, e também não há nada pra te preocupares. Só te resta esperar que tudo corra bem.

– Mas Hermione, eu não aguentaria perder o Blaise para sempre. – Pansy voltara a chorar – Uma coisa é saber que ele anda desaparecido, escondido num lugar qualquer. Outra coisa é saber que ele morreu. Não dá para suportar essa ideia. E se ele for para Azkaban, sei que não durará muito tempo. Ele não é tão forte quanto o Draco, e se até o Malfoy está como está, em pouco tempo Blaise perderia a vontade de viver. Eu tenho a certeza que ele não sairia de lá vivo. Por Merlin, é demasiada angústia.

Hermione compreendia a angústia da amiga, sentia-se assim sempre quando Harry e Ron se afastavam, e ela não tinha notícias deles. E durante os tempos da guerra foram muitos. Ali havia algumas diferenças, mas a amizade e o amor eram os mesmos, e por isso a angústia era a mesma.

Mas no meio de toda aquela conversa, Hermione captou a tristeza de Pansy quando falou de Draco Malfoy. Isso recordou-lhe que ainda não tinha tirado nenhuma conclusão sobre a prisão daquele, as condições em que tinha sido encontrado, a falta de interesse no julgamento. As perguntas de antes inundaram-lhe o cérebro; e ela sentiu que era o momento de perguntar a Pansy. Disfarçadamente, começou por perguntar de forma casual:

– Tens falado com o Malfoy? – fingiu um tom de desinteresse – Como ele está?

Pansy olhou de lado para ela e pensou se devia ou não falar, depois de uns minutos resolveu contar algumas coisas à amiga:

– Como achas que está? Está sozinho num dos piores sítios do mundo bruxo, isolado de todos… Rebaixado e humilhado… Vive sem condições nenhumas! Ninguém merece aquilo. – Pansy chorava pelo amigo – Como já te disse uma vez, ele é demasiado orgulhoso, não quer ver ninguém e por isso não permite visitas. Mas tenho os meus contactos, que me vão informando como ele está. Da última vez, disseram-me que está muito debilitado, subnutrido e desidratado. Insisti para que cuidassem dele, que o obrigassem a alimentar-se se fosse preciso. Tenho medo que ele desista.

– Eu não sabia. – Hermione estava incrédula perante as palavras de Pansy. – Nem sei o que dizer. Mas os Dementors não foram afastados após a queda de Voldemort? Segundo o que me foi dito, Azkaban agora é apenas guardada por humanos.

Pansy interrompeu-a:

– Mas tu vives em que mundo? Achas que apenas os Dementors faziam mal? Afinal eles eram controlados por bruxos. Quem eram os “maus” afinal? Acorda, Hermione, o mundo não é só preto e branco, a vida não é só bem e mal, há toda uma área obscura que me parece que preferes ignorar. Achas que porque o “bem” ganhou, todas as pessoas que estavam do vosso lado eram boazinhas?!

Hermione reflectiu sobre as palavras de Pansy. Não eram novidade para ela, ela não era ingénua ao ponto de pensar que existia apenas bem e mal. Mas de facto havia alguma verdade no que a amiga dizia, havia certos detalhes nos quais ela nunca tinha pensado. E de repente lembrou-se de Sirius que esteve preso em Azkaban injustamente, tendo de suportar a tortura da presença dos Dementors. Só agora tinha chegado à conclusão que os Dementors eram controlados pelo Ministério, que era do “bem” naquela altura, e tal não impedia que aqueles monstros torturassem os presos. Existiam guardas lá, que não faziam nada. Hermione tinha de concordar com Pansy, o bem tinha vencido mas ainda havia muito mal, afinal os bons podiam ser maus, e os maus podiam ser bons.

– Pansy, eu não sou ingénua! – a gryffindor quase gritou para a slytherin – Eu não vivo num mundo de arco-íris e unicórnios. Não precisas fazer esse discurso para mim. Eu já passei por tanta coisa. Eu tive a prova por diversas vezes que os bons podem ser maus e que o contrário também acontece.

– Então diz-me: achas que o Draco merece estar preso, durante um ano, a ser maltratado pelos guardas “bons” do Ministério do bem? Porque eu posso-te dizer que as minhas informações dizem claramente que os novos guardas de Azkaban não respeitam os presos que ali se encontram. Eu sei que muitos dos Devoradores da Morte merecem os maus tratos a que são sujeitos, mas diz-me: achas que o Draco é um deles?

– Eu… Eu realmente não sei o que pensar. Não sabia o que estava a acontecer em Azkaban. – Hermione estava atónita com o que Pansy lhe contava, ela considerava-se justa e aquilo que agora descobria ia contra os seus princípios humanistas. – Eu não sei se o Malfoy merece ou não estar a passar por tudo isso. Eu só conheci o Malfoy preconceituoso e cruel que me insultava sempre que passava por mim. Mas como te disse no comboio, quando fui capturada com Harry e Ron, e fomos parar à Mansão Malfoy, vi um lampejo de humanidade nos olhos de Draco, ele não entregou o Harry quando o podia ter feito. Se isso faz dele bom, não sei. Mas também mostra que ele não é totalmente mau.

Hermione mais parecia que estava a ter uma conversa com ela própria, expunha os seus pensamentos conforme iam surgindo no seu cérebro. Aliás, ela já nem sabia o que pensar direito. Havia algo que lhe escapava. E desde quando ela tratava o Malfoy pelo nome próprio?!

– Deixa-me contar-te algumas coisas sobre o Draco. – Começou por dizer Pansy – Ninguém o conhecia totalmente! Só sabíamos o que ele queria que soubéssemos. Eu conheço o Draco desde que eramos crianças, os nossos pais eram amigos, e acho que desde que nascemos que programavam o nosso casamento. E até ao ano passado, eu também pensava assim, mesmo sabendo que o Draco não é do tipo de casar.

A rapariga sorriu ao pensar naquilo, e continuou:

– Como estava a dizer, eu conheci o Draco enquanto criança, brincávamos juntos muitas vezes, e ele era um menino diferente. Ele era alegre, sorria muito. Porém, um ano antes de entrarmos em Hogwarts, ele começou a mudar. Tornou-se mais distante, mais frio e calculista, quando lhe perguntei o que se passava, ele só disse que era um Malfoy e que tinha de agir conforme o seu nome lhe exigia. Um dia estávamos a brincar na Mansão Malfoy, como nos velhos tempos, o Draco estava alegre, quando o Lucius chegou a casa. Disse ao Draco para entrar em casa e mandou-me embora, mas eu fiquei e entrei em casa sem eles darem conta. Lucius gritava com o Draco que ele não tinha mais idade para brincar, que ele já o tinha avisado para as suas novas obrigações. Os insultos continuaram, e no fim Draco gritou. Quando espreitei a sala, Draco esperneava e gritava de dor no chão, enquanto Lucius mantinha a varinha apontada para ele. No fim, Draco quase chorou, mas Lucius proibiu de o fazer. Ainda me lembro da voz dele, do tom frio com que falou ao filho: “Um Malfoy não chora! Mas você é fraco mesmo, não aguenta sequer um Cruciatus fraquinho sem gritar.” – Pansy imitava a voz de Lucius, mas notava-se que aquele assunto era difícil para ela.

Hermione mal conseguia acreditar no que ouvia. Aquilo deitava abaixo todas as suas teorias de que os Malfoy no fim de tudo eram uma família, e que Lucius e Narcissa não abandonariam o filho de livre vontade. Agora já não sabia nada, se Lucius tratava o filho assim quando era criança, abandoná-lo quando já era maior de idade, naquelas circunstâncias, seria mais que normal. Ninguém merecia pais assim, e daquela forma era normal que Draco Malfoy se tivesse tornado naquilo que ela tinha conhecido.

Mas Pansy continuou:

– Compreendes agora que tudo aquilo que o Draco mostrava ser, era apenas o reflexo daquilo que lhe foi ensinado? E ele aprendeu da pior maneira. Depois daquele dia, eu contei ao Draco que tinha visto tudo, ele inicialmente negou mas depois aceitou que eu sabia, e pediu-me que nunca contasse a ninguém. Acho que agora não faz mais diferença que eu conte, e também sei que não vais dizer nada. – Hermione assentiu com a cabeça e Pansy continuou – Por vezes, Draco acabava por contar mais algumas das crueldades que o pai lhe fazia, e o incrível é que ele ainda o defendia e admirava-o. Ele queria tanto que o pai se orgulhasse dele.

Surreal, era o que Hermione pensava naquele momento. Seria possível que o rapaz irritante que ela conhecera, era afinal um menino que apenas queria a atenção do pai?!

– Eu nunca imaginei que isso fosse possível. A família Malfoy sempre pareceu a família perfeita, podiam não ter aquele calor e aquela alegria dos Weasley, por exemplo, mas o orgulho que mostravam uns dos outros parecia genuíno. Como é que um pai faz isso com um filho?! Eu não compreendo. Agora faz sentido que eles tenham abandonado o Draco. – Hermione falava de forma incrédula – Sabes, eu nunca quis acreditar nessa teoria, mas o Harry e o Ron insistiam que eles deviam ter abandonado o filho quando este foi preso. Eu dizia sempre que nenhum pai abandonava um filho por escolha, mas agora, perante o que me contas, acho que de facto Lucius e Narcissa abandonaram o filho à sua sorte.

– Também não é assim tão linear, – disse Pansy – quando a Lucius foi preso, a família Malfoy começou a entrar em desgraça, e por isso Voldemort obrigou o Draco a tornar-se um Devorador da Morte, com a missão de matar Dumbledore, nesse momento as coisas começaram a mudar. Draco não tinha mais porque idolatrar o pai, ele percebeu finalmente que os ideais de Lucius Malfoy, a crença inabalável no Lord das Trevas, eram errados e traziam apenas infelicidade e desgraça. Mas ele já não podia voltar atrás, tinha de aceitar as ordens do Lord sem reclamar, tudo porque a sua mãe tinha sido feita refém na sua própria casa. No fim não valeu de nada, Draco não completou a missão e como castigo teve de assistir à tortura da mãe, como exemplo de que ele não devia fugir das suas responsabilidades, daí em diante. Narcissa sempre foi a verdadeira preocupação de Draco. Ele amava a mãe mais que tudo.

O facto de Pansy ter usado o verbo no passado, não passou despercebido a Hermione. Novamente, algo não encaixava naquela história toda.

– Ai Pansy, conta logo tudo de uma vez! Continuo sem entender nada, e quanto mais falas, com mais curiosidade fico. Realmente o Malfoy é uma caixinha de surpresas, eu nem sei o que pensar sobre tudo o que me estás a contar. Devo acreditar que o Malfoy tinha sentimentos? Que ele se importava com outras pessoas que não ele próprio?! E que história é essa de que ele “amava” a mãe? Já não ama mais? Conta-me tudo, sabes que eu não vou contar para mais ninguém.

– Quanta curiosidade, Granger! Estamos a falar da pessoa que tu odiavas até há bem pouco tempo, porquê tanta preocupação? – Pansy falou sarcasticamente.

Hermione fez uma careta para Pansy, encolhendo os ombros. Pansy abanou a cabeça, e continuou:

– Sabes, era fácil sermos mauzinhos. Eramos ricos, de famílias importantes, sentíamo-nos como se fossemos os reis de Hogwarts, e tudo o resto estava lá para nos servir. Simples assim. Por isso no ano passado, em que vocês não estavam na escola, em que o director era um slytherin, nós achávamos que podíamos fazer tudo. Mas o Draco tinha voltado diferente das férias. Não participava das brincadeiras, passava muito tempo sozinho, e quando não podia fugir das situações via-se que ele lutava interiormente sempre que castigava um outro aluno, como se o fizesse apenas por obrigação. Depois, ele confessou-me a mim e ao Blaise que estava farto de estar subjugado a Voldemort, que queria ser livre, que só queria que tudo terminasse, que aquela guerra por causa da superioridade dos bruxos era ridícula, até porque Voldemort era mestiço. Essa foi uma das últimas conversas que tivemos. Quando voltámos das férias da Páscoa, o Draco vinha ainda mais revoltado, mas nunca partilhou o porquê. Agora sei que foi por vocês terem estado na Mansão. Depois deu-se a guerra e a família Malfoy desapareceu.

Hermione abriu mais os olhos, que brilhavam interrogativos. Pansy sorriu fracamente com aquela curiosidade da gryffindor, e continuou:

– Como sabes não voltei a saber mais nada dele até ter conhecimento que ele tinha sido preso. Faltavam apenas uns dias para ele completar 18 anos, sabias?! – Hermione abanou a cabeça negativamente, eles não eram amigos, ela não tinha como saber o dia do seu aniversário. – Eu escrevi-lhe imediatamente, perguntei como estava, ofereci ajuda, tudo. A resposta que obtive era tipo telegrama. Como disse antes, nós usávamos um código, por isso ele explicou-me brevemente como estava. Dizia que já nada importava, porque os pais tinham morrido. Concluiu a dizer que não o voltasse a contactar, que eu procurasse ser feliz, porque ele estava onde merecia. É tudo o que sei até hoje.

Hermione estava de boca aberta, em choque. Como assim os Malfoy tinham morrido?! Era verdade que que nunca se tinha descoberto nada, Draco Malfoy foi preso sozinho, numa área onde os vestígios de magia eram mínimos. Concluiu-se que deveria ter sido o jovem Malfoy que tinha feito uns feitiços básicos. Então como é que o casal Malfoy morreu?! Teriam morrido há mais tempo?! Hermione mordia a língua para não encher Pansy de perguntas. Esta vendo que a curiosidade da amiga só aumentava, teve de falar mais uma vez:

– Não adianta perguntares, não sei mais nada mesmo! De verdade! Não sei quando nem como morreram, o Draco nunca mais respondeu aos meus bilhetes. – admitiu de maneira triste.

– Eu preciso avisar o Harry e o Ron, – Hermione falou rapidamente – eles continuam à procura dos Malfoy, em vão. – a rapariga evitou contar que eles suspeitavam que Lucius Malfoy era o responsável pela morte dos seus pais, agora já não importava.

– Tu prometeste que não ias contar a nossa conversa a ninguém. – lembrou Pansy.

– Mas… mas… – Hermione ia começar a argumentar que aquela informação era demasiado importante, mas percebeu que não lhe cabia a ela contar. E compreendia que o Malfoy quisesse manter aquela informação secreta, ela própria só revelara que tinha perdido os pais aos amigos mais chegados. – Ok, eu não conto a ninguém. – disse por fim.

– Ainda bem, espero mesmo que não contes nada, seja sobre o Blaise seja sobre o Draco. Por favor. ­– pediu Pansy.

– Confia em mim, não contarei a ninguém, nem mesmo ao Harry ou ao Ron. – assegurou Hermione.

Em silêncio as duas amigas olharam pelas janelas da salinha, e perceberam que enquanto conversavam tinha anoitecido. Era hora de jantar e por isso as duas apressaram-se a dirigir-se ao Salão Principal, para encontrar os amigos.

De facto, Ginny, Neville e Luna já se encontravam sentados na mesa dos Gryffindor, e falavam com outros colegas animadamente, planejando as férias de Natal que se aproximavam.

Assim que Hermione e Pansy se aproximaram, Ginny apontou para a amiga de longa data e começou a falar imediatamente:

– Senhorita Hermione Granger! Vais passar o Natal na Toca, certo? Eu sei que a menina não deu resposta ao convite do meu pai, mas deve ter sido só esquecimento, não foi?! – o tom era de brincadeira, mas deixava trespassar alguma desilusão de Ginny.

Hermione pensou que mesmo que quisesse, naquele momento já não podia recusar o convite. Em todo o caso ela também já tinha decidido ir para a Toca com Ginny. Seria o primeiro Natal sem os pais, não era o melhor momento para ficar sozinha. Podia estar só todo o resto do tempo, mas naquela data ela precisava de rodear-se de pessoas queridas, que amava e que a amavam. O Natal na Toca era o ideal, não teria tempo para pensar na saudade que sentia dos pais. Aquele pensamento recordou-lhe Malfoy. Ele estaria sozinho, completamente sozinho naquela época do ano, em que se deve estar com a família. Ela sabia como ele se devia estar a sentir.

Ginny despertou-a dos seus pensamentos:

– Então?! Que dizes?

– É claro que vou passar o Natal à Toca, onde mais eu poderia ir? – disse Hermione abraçando Ginny.

– Oh que bom, vai ser óptimo poder reunir a família toda. E o Ron vai poder matar saudades da namoradinha. – Ginny riu com o comentário e por ter feito Hermione corar.

– E tu, Pansy, vais passar o Natal a Paris? Ou os teus pais vêm a Londres? –perguntou Hermione rapidamente, para mudar o tema de conversa.

– Oh não, o meu pai trabalha. Eu vou para Paris, já combinei tudo com a minha mãe. Vamos aproveitar as férias para ir às compras. – Pansy sorriu despretensiosamente.

– Ooh la la, que chique! Leva-me contigo, Parkinson. Eu também quero um banho de lojas em Paris. – Brincou Ginny, fingindo ter ficado amuada e com inveja de Pansy Parkinson.

– Quando quiseres, Weasley! – Pansy piscou-lhe o olho.

– E vocês, Neville? Luna? – perguntou Hermione ao casalinho que apenas se ria no meio daquela conversa.

Luna falou pelos dois:

– Inicialmente íamos passar as férias separados, na casa de cada um. Mas depois a avó do Neville convidou o meu pai para irmos passar o Natal em casa dela, e meu pai aceitou. Assim não vamos estar tanto tempo longe um do outro. – Luna sorriu para o namorado enquanto falava, eram um casal muito querido.

– É verdade. – Neville completou, sorrindo também – A minha avó gosta de ter gente em casa, não fazia sentido nós estarmos sozinhos e a Luna e o pai dela, sozinhos, na casa deles. Assim, passamos todos juntos.

O jantar continuou animado, onde todos falavam sobre o que fariam nas férias. Sem dúvida, iam poder divertir-se e esquecer-se um pouco da pressão das aulas e dos exames. Quando regressassem pensariam no assunto.

Véspera de Natal

A Toca estava uma confusão autêntica: afinal todos os Weasley estavam ali. Arthur e Molly estavam radiantes por ter todos os filhos presentes, só isso afastava a sua tristeza de Percy já não se encontrar entre eles. No entanto, com tanta gente em casa, a Toca teve de ser ampliada novamente. Era agora uma construção ainda mais engraçada, pois tiveram de ser acrescentados quartos para receber toda a gente.

Bill, o mais velho, tinha convencido a esposa Fleur, a visitarem os pais desta apenas no Ano Novo, para poderem ficar na Toca naquele período tão importante. Charlie tinha vindo da Roménia, onde continuava a trabalhar com dragões, aproveitando a ocasião para apresentar a sua nova namorada, uma bruxa romena que se chamava Andreea. Fred e George costumavam animar o ambiente, com as novas invenções que traziam da sua loja “Gemialidades”, mas acalmavam quando recebiam a visita das respectivas namoradas. Fred continuava com Angelina desde Hogwarts, e George tinha começado a namorar com Katie Bell, logo após a guerra. Ron parecia ter esquecido as discussões que vinha tendo com Hermione, e os dois tinham passado muito tempo juntos. Harry e Ginny aproveitavam também para matar as saudades que se faziam sentir há muito.

Molly Weasley sorria constantemente. Apesar da dor que ainda sentia e que sabia que nunca iria passar, pela ausência de Percy, tinha todos os seus outros filhos ali. E todos estavam felizes.

Nessa noite, véspera de Natal, a família iria receber Nimphadora e o pequeno Ted, juntamente com a sua mãe, Andromeda. Por isso, a confusão era ainda maior. Havia gente por todo o lado, conversando, rindo.

Já durante o jantar, os Weasley receberam uma notícia que os deixou ainda mais animados. Bill anunciou à família que Fleur estava grávida. Todos celebraram até tarde. Apesar de tudo o que tinha acontecido naquele ano, todas as perdas que se faziam sentir naquela mesa, foram momentaneamente esquecidas. A felicidade de receber mais um membro da família deixou toda a gente bem-disposta.

No entanto, a manhã do dia seguinte, que devia ser de alegria quer pela boa notícia do dia anterior quer pelas prendas que todos recebiam, rapidamente foi estragada. Ron, que tinha dormido um pouco mais que o resto da família, chegou bem no momento em que uma coruja tinha deixado dois lindos embrulhos para Hermione e Ginny. As duas raparigas sorriam com os bilhetes que acompanhavam os presentes e mostravam os lindos vestidos que Pansy lhes enviara de França. Ron perguntou imediatamente:

– De quem são? Tanta animação apenas por dois presentes?! – falou rispidamente.

– Nossa, que bem-humorado que está o meu irmão! Vai abrir os teus presentes e vê se te animas um pouco, senão ninguém te atura, muito menos a Hermione. – Ginny disse meio que a brincar, mas ao ver a cara do irmão calou-se.

– Não me vão dizer quem enviou esses presentes?! – Ron repetiu a pergunta.

– Foi a Pansy, quem os enviou. – Hermione respondeu calmamente, esperando a explosão do namorado.

De facto, assim que ouviu aquelas palavras, Ron começou novamente a repudiar aquela relação de amizade de Hermione e Ginny com Pansy Parkinson, dizendo que ela as comprava com vestidinhos e afins. Por muito que todos lhe dissessem para se acalmar, ele continuava a insistir que não compreendia como podiam confiar naquela slytherin, falsa e desprezível. Aí Hermione, não aguentou e levou o namorado para o quarto, afirmando que era hora de conversarem sozinhos. Na sala, toda a família Weasley ficou em silêncio, não queriam nem imaginar o que aquela conversa poderia trazer.

Hermione respirou fundo e começou a falar:

– Ron, assim não dá. Já chega de discussões por causa da Pansy. Eu já te disse que vou continuar a ser amiga dela, pois ela tem-se revelado uma pessoa diferente, de confiança. Vais ter de entender que muita coisa mudou.

– Sim, eu entendo que muita coisa mudou. Tu mudaste, Hermione. – Ron falou entre dentes. – Não queres saber da nossa relação, afastas-te dos teus amigos, dás-te com slytherins. Às vezes não te reconheço.

– Posso dizer o mesmo, Ron. – retrucou Hermione.

– Ora, como podes dizer isso? Continuo o mesmo. Apenas cresci e tenho um trabalho, no qual sou reconhecido. E posso dizer que só me dedico dessa forma ao departamento, para criar um futuro para nós. Mas tu não reconheces isso, não queres saber do nosso futuro, porque se quisesses, deixavas Hogwarts e aceitavas o lugar que o Ministro te ofereceu.

– Ron, tu ouves o que dizes?! Sabes que eu não ia aceitar um cargo para o qual não tenho qualificações. E sabes que reconheço o teu trabalho. Mas não precisas dizer que é por nós, eu conheço-te Ron. Sei que estás deslumbrado, porque finalmente saíste da sombra de Harry Potter. – Hermione arrependeu-se no segundo seguinte a dizer aquelas palavras. Não era o que pensava realmente, mas estava tao cansada daquelas discussões.

– Então é isso que pensas?! Bom saber que sempre achaste que eu vivia na sombra do meu melhor amigo. Sabes bem como eu me sentia, e agora vens confirmar. Obrigada, Hermione.

– Não era isso que eu queria dizer, – Hermione falou baixinho – tu tiras-me do sério, quando começas a falar do trabalho. Parece que só isso interessa. E depois insistes que eu mudei, quando tu também mudaste. Desde quando te tornaste tão ambicioso? E em relação aos outros, desde quando te tornaste tão preconceituoso?

– O que estás a tentar dizer, Hermione? Também posso perguntar, desde quando te irritas tanto por eu ser como sou?! – Ron perguntou irónico – Pensei que era bom eu ter-me tornado mais confiante, como sempre me aconselhaste.

– E claro que é bom, para ti. Mas… – Hermione tinha lágrimas nos olhos quando olhou para Ron – Mas eu já não sei o que quero. Acho que preciso de um tempo para pensar.

– Um tempo para pensar?! Estás a acabar comigo? – por esta altura, Ron gritava – Como assim? Eu tenho feito tudo por ti, e agora dispensas-me?

– Eu só preciso clarificar as ideias. Acho que neste momento pensamos de maneira diferente! Tu queres uma coisa, eu quero outra, que ainda não sei muito bem o que é. Mas de momento não quero pensar no futuro, quero pensar em mim, e naquilo que eu quero. Se for para ficarmos juntos, quero ter a certeza que é o melhor para nós dois. Quero que sejas feliz, e se eu não sou capaz de o fazer, pelo menos poderás encontrar outra pessoa. – Hermione chorava sem parar.

– Só tu me podes fazer feliz. Mas eu não quero ser segunda opção, Hermione! – disse Ron, num tom de raiva ­– Se queres um tempo, esse tempo será permanente. Porque não sou um boneco que abandonas para descobrires quem és e depois voltas como se nada fosse. Espero que tenhas consciência do que estás a escolher neste momento. Só tens uma opção: queres mesmo acabar comigo?

Hermione soluçava, não tinha mais certeza de nada. Mas ela tinha que admitir que os seus sentimentos por Ron tinham mudado, há já muito tempo. E ultimamente, ela preferia estar sozinha em Hogwarts do que com o namorado. Ela não o podia prender numa relação que ela própria não tinha certeza que teria futuro. Ele merecia ser feliz.

– Sim, Ron. É melhor para os dois terminarmos por aqui. Vai custar, mas é melhor assim, é melhor não prolongarmos mais isto. Eu estou confusa, preciso ficar sozinha. E tu mereces ser feliz.

Ron saiu furioso do quarto, passou pela sala onde ainda se encontrava toda a família, mas não lhes disse palavra. Já na rua, Ron aparatou para Diagon Alley. Precisava beber qualquer coisa.

Hermione saiu do quarto logo de seguida, ainda chorava, tentou seguir o agora ex-namorado, mas Harry impediu-a. Molly disse que iria fazer um chá, e Ginny levou-a de volta para o quarto. Hermione não conseguiu dizer nada aos amigos.

Quando a matriarca da família Weasley chegou com o chá, Ginny e Harry deixaram as duas. Hermione abraçou-se à Sra. Weasley e chorou.

– Oh minha querida, não fiques assim. O Ron vai recuperar e tu também vais ficar bem. Acredito que tenha sido o melhor para os dois, sinceramente! ­– Hermione olhou interrogativamente para Molly Weasley, que logo se explicou – Vocês falaram um pouco alto, principalmente o meu filho! Mas não te preocupes com isso agora. Eu compreendo-te querida, acho que todos compreendemos. Nós todos sabemos que vocês estavam a avançar em caminhos diferentes, era uma questão de tempo até um de vocês perceber isso. Antes agora que mais tarde!

– Obrigada! – fungou Hermione – Pensei que não fossem compreender! Eu não quero perder a vossa amizade. Eu continuo a amar o Ron, mas neste momento preciso de pensar em mim, compreende?!

– Claro que sim, querida! E nunca nos irás perder, continuarás sempre a ser uma filha para nós, já o eras muito antes de namorares com o Ron. – a Sra. Weasley falava calmamente. – Agora descansa, tudo se irá resolver.

Mais tarde, apesar de insistirem que ficasse, Hermione decidiu deixar a Toca. Disse que tinha assuntos para tratar em Londres, e seria melhor para todos que ela não estivesse ali quando Ron voltasse. Harry acompanhou-a, e deixou-a em Grimmauld Place. Ali disse-lhe que compreendia a situação, e que para ele nada mudaria: Ron e Hermione seriam sempre os seus melhores amigos.

Uma vez que Hermione não tinha onde ficar, Harry sugeriu que ela ficasse ali o tempo que quisesse. E sempre que voltasse de Hogwarts poderia ir para ali, já que a casa estava recuperada mas quase sempre vazia porque ele passava a maior parte do tempo na Toca. Hermione abraçou o amigo, agradeceu e acabou por aceitar a oferta.

Dia de Natal, Azkaban

– Malfoy, carta para ti.

O rapaz não se mexeu. Ninguém lhe escrevia, ele próprio tinha garantido que ninguém lhe escreveria, nunca. A Pansy ainda tinha insistido, mas ao fim de um mês acabara por desistir. Por isso era impossível que ele tivesse uma carta para ele, sobretudo naquele dia. Ou então, Pansy tinha voltado a tentar que ele comunicasse. Talvez ela ainda tivesse esperança que ele respondesse. Pansy sempre tivera dificuldades em compreender as coisas que iam contra a sua vontade. Mas ela teria de entender que ele estava perdido, ele perdera toda a esperança.

O guarda bateu na porta e insistiu:

– Malfoy, carta para ti.

A música natalícia não parava de tocar há uma semana, dia e noite, sempre a mesma música. Era a nova forma de tortura dos guardas de Azkaban, não só impediam os presos de descansar, como ainda os lembravam constantemente da época feliz em que estavam e que eles não podiam celebrar.

Há uma semana que Draco Malfoy mal dormia, há meses que não falava com ninguém, por isso a sua voz saiu fraca:

– Não estou à espera de correio! Devolva. Deve ser engano.

O guarda riu-se e falou:

– Não, não é engano. Alguém se lembrou de ti no Natal. Pela letra, deve ser alguma admiradora. Afinal há doidas para tudo. – riu com a própria piada, recuperou o ar sério e continuou – Ouve, não sei de quem é a carta, e até a podia deitar fora, mas é Natal. Faz um favor a ti próprio e lê, pois pelos vistos alguém lá fora lembrou-se de ti neste dia.

Draco levantou os olhos para a ranhura da porta que o guarda tinha aberto, por onde passava um pergaminho dobrado e lacrado. Viu-o cair no chão imundo, e observou a letra desenhada, o selo vermelho que o mantinha fechado. E sem pensar, apanhou-o do chão e levantou-o, lendo em voz alta: Draco Malfoy – Prisioneiro Í¥ 525 – Azkaban. De facto, não havia engano, era mesmo para ele. E aquela letra não era de Pansy Parkinson, essa ele reconheceria em qualquer lado. De quem seria então?! A curiosidade falou mais alto, abriu o pergaminho, quebrando o selo e leu para si.

Dor, sem amor.

Dor, eu não tenho suficiente.

Dor, áspera, como eu gosto,

Porque eu prefiro sentir dor ao invés de nada.

Estás cansado de te sentires magoado,

Tu não és o único.

Esta vida é cheia de sofrimento.

Às vezes a felicidade não funciona.

Confia em mim,

Quando as luzes apagarem tu irás entender.

Raiva e agonia,

São melhores do que angústia.

Confia em mim, eu sei o que digo,

Quando as luzes apagarem tu irás entender,

Que a dor não é tão má assim!

PS.: Eu sei sobre os teus pais. Sei como te sentes.

Quando terminou, virou o pergaminho várias vezes. Não tinha assinatura, ou melhor, a única assinatura era uma letra, J., quem era aquela pessoa?! Como sabia dos seus pais? Apenas Pansy sabia a verdade. Ela não contaria a ninguém, certo?

Draco chamou o guarda, queria saber quem tinha enviado aquela carta, precisava descobrir quem era “J.”. Mas o guarda já não respondeu, devia ter ido fazer a sua ronda, ou simplesmente ignorava-o como tantas outras vezes.

– Flashback –

Último dia de aulas antes das férias de Natal, Hogwarts

Hermione já tinha feito a mala, estava tudo pronto para ir apanhar o Expresso de Hogwarts para ir passar o Natal na Toca. Ginny ainda corria de um lado para o outro, tentando não esquecer nada. Por isso, enquanto esperava Hermione avisou a amiga que estaria na sua sala, e que voltaria na hora do Expresso.

Já sozinha, na pequena sala secreta, pegou num pergaminho que tinha deixado ali na noite anterior. Desde que conversara com Pansy sobre Malfoy, e descobrira que os seus pais também tinham morrido, que pensava frequentemente no infortúnio do rapaz. Chegava mesmo a pensar que ele não merecia tanto sofrimento assim.

Então na noite anterior tinha escrito um poema. Ali reflectia a dor que ela sentia e que sabia que ele também sentiria, mostrava a sua compreensão para com o rapaz. Era estranho pensar que o entendia, e que de certa forma se preocupava com ele.

Não conseguia aceitar que tratassem mal as pessoas, mesmo que presas. Ela iria falar com o Ministro se fosse preciso, para saber o que acontecia em Azkaban. Draco Malfoy já tinha sofrido demasiado, para ser maltratado daquela forma na prisão.

Num ímpeto, resolveu enviar aquele poema à pessoa que o inspirou. Todos mereciam receber qualquer coisa no Natal, nem que fosse uma carta, só para lembrar que alguém se preocupava. Acrescentou um PS. e preparava-se para assinar quando pensou melhor, não podia colocar o seu nome. As suas iniciais quem sabe?! Decidiu então assinar apenas J, do seu segundo nome. E assim fez, dobrou o pergaminho, deixou cair umas gotas duma vela vermelha e selou-o, acrescentou o nome e a morada, e dirigiu-se ao corujal.


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Notas finais do capítulo

E então, que acharam? Deixem a vossa opinião, eu vou gostar muito de saber o que estão achando da minha fic...
bjs
Dani