Can I love you? — Clary & Jace escrita por Giovana Serpa


Capítulo 15
Camping


Notas iniciais do capítulo

Aí está o outro capítulo que eu prometi c: Boa leitura.



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O dia amanheceu claro, apesar de estar frio. Eu grunhi, passando as mãos pelo rosto. Eu só percebi que meu celular estava tocando quando criei coragem para me levantar. O identificador dizia: É a Isabelle, eu coloquei o meu número no seu celular. Atenda.

Eu não sabia que dava para fazer um contato com um nome tão grande, mas o celular era tão antigo que fazia sentido – e eu precisava urgentemente de um novo, falando nisso.

Atendi sentindo minhas mãos tremerem. Apesar de ser delicada, Isabelle me dava medo, e não parecia ser diferente com as outras pessoas (o que só era mais assustador).

— Alô – falei, com a garganta seca por ter acordado apenas alguns minutos antes.

Clary Fray! – ela gritou do outro lado da linha. – Estou pensando seriamente na possibilidade de matar você por me assustar daquele jeito!

Fiz uma careta e me joguei sobre a cama novamente.

— Me desculpe, Isabelle – falei, me sentindo verdadeiramente culpada. – Eu deveria ter te avisado, mas deixei o celular em casa.

Onde você e o idiota do Jace se meteram? Acho que vou mata-lo também.

— Podemos conversar depois? – perguntei, me levantando e indo até o banheiro. – Preciso me arrumar para o café da manhã, estou meio... amassada.

Amassada, é? – sua voz soava desconfiada agora.

— Tchau, Isabelle – aumentei a voz.

Tudo bem, tudo bem. Vejo você daqui a pouco, também preciso falar com você. Tipo, urgentemente. Não precisa se preocupar, não vou contar que você e Jace escaparam pelos meus dedos. Adeus.

Ela desligou. Depois de mudar o nome do contato dela apenas para Isabelle, eu me ocupei em tomar um banho quente e rápido. Coloquei um suéter quente e calças jeans, como sempre. Minha cabeça doía, mas talvez fosse só por causa do tempo ruim – é, tempo ruim me dá dor de cabeça, deve ser alguma coisa com o ar gelado demais.

Peguei meu celular e foquei minha atenção na tarefa de achar a sala de jantar. A única que não estava lá era Isabelle. Jace sorriu para mim, me fazendo corar, e Alec pareceu revirar os olhos lentamente. Qual era o problema dele?

Me sentei num dos dois lugares que estava sobrando, entre minha mãe e Jace, o que pode ter sido arriscado, mas eu não estava ansiosa para me sentar ao lado de Robert e Alec.

Isabelle chegou alguns segundos depois, vestindo um luminoso casaco roxo de algum material que brilhava, enfatizando a palidez de sua pele de porcelana. Eu também era pálida, mas não era uma palidez tão bonita quanto a dela.

— Então – Maryse disse, quebrando o silêncio. – Se divertiram ontem, vocês duas?

Eu, Alec, Jace e Isabelle trocamos um olhar, e Jace parecia estar segurando um sorriso. Foi Isabelle quem falou:

— Claro que sim! Todos se divertem quando eu estou por perto, mamãe, sabe disso.

Max, do outro lado da mesa, parecia confuso.

— Até mesmo se fosse em um funeral? – perguntou.

Isabelle revirou os olhos.

— Fique na sua, Max.

Minha mãe me lançou um olhar tão intenso que me fez estremecer e desviar os olhos para as panquecas que estava comendo. Será que ela sabia de alguma coisa?

— E estava muito cheio? – minha mãe perguntou.

— Não – respondi. – Não muito. É inverno, a maioria das pessoas está em casa vendo filmes e tomando chocolate quente.

— É isso que vocês deveriam fazer – minha mãe murmurou baixo, aparentemente para ninguém em particular, porque ela estava encarando a parede.

— Chocolate quente – Jace apoiou o queixo nas mãos. – Seria ótimo ter um chocolate quente agora.

— Também acho – concordei, me sentindo confusa por estar sem graça em falar com ele.

— Ótima ideia – Isabelle sorriu.

Alec olhou para ela sobre sua caneca de café.

— Que ideia? – ele perguntou. – Chocolate quente?

Isabelle piscou, como se só agora houvesse reparado que não estava sozinha ali.

— Ah, não – ela gesticulou para ele. – Eu estava falando comigo mesma, sabe, eu tive uma ideia brilhante.

Ninguém pareceu muito animado com a ideia de Isabelle, mas ela falou mesmo assim:

— Jace, se lembra do que fizemos no inverno passado? – ela não deu espaço para que ele respondesse, se virando para Clary. – Nós montamos um acampamento em frente a lareira, com barracas e tudo mais, e ficamos lá por algumas noites até o frio amenizar um pouco. Alec quase colocou fogo nas próprias roupas.

— Precisa mesmo comentar sobre isso? – Alec grunhiu.

— É engraçado, cara – Jace riu. – Você ficou se debatendo e...

— Ah, cale a boca – Alec parecia quase bem-humorado. – Lembra que você queimou o trabalho de História que Hodge havia pedido?

Jace assentiu e fez uma careta.

— Só Deus sabe quanta bronca eu levei por isso.

— Tá, calem a boca – Isabelle interrompeu. – Podemos fazer isso de novo, o que acham? E, Clary, não finja que não está escutando, estou falando com você também.

— Vou pensar no seu caso – eu estreitei os olhos para ela, mas Isabelle apenas riu.

***

— Como assim você não foi para o Pandemônio? – perguntei, pela terceira vez, para Isabelle.

— Você também não foi, não é? – ela perguntou, se esticando sobre sua cama bagunçada. – Enfim, essa não é a parte importante.

— E qual é a parte importante?

— A parte importante é que eu encontrei um cara no Java Jones.

— Você foi pra lá?

— É, eu achei um lugar legal. Agora cale a boca. Eu encontrei com um cara lá, e nós ficamos conversando sobre alguma coisa que eu não entendi direito, eu estava apenas apreciando como ele era bonito e tinha a voz mais legal de todas, até que eu reparei em uma coisa.

Eu revirei os olhos, sem entender qual era o ponto naquilo.

— Que coisa? – bufei, me afundando mais na poltrona de veludo de Isabelle.

— Várias coisas na verdade. Ele estava falando sobre esses desenhos japoneses idiotas, sobre música e... ele se chamava Simon.

Eu saltei da poltrona, meu rosto queimando por algum motivo que eu não entendia.

— O Simon? – perguntei, um pouco alto demais. – O meu melhor amigo Simon?! Simon Lewis?

Isabelle pareceu prender a respiração por um momento. Ela se sentou em sua cama e cruzou as pernas sobre o colchão.

— Acho que sim – falou. – Só sei que nós ficamos conversando um tempão, e eu soube que ele havia acabado de tocar com a banda dele, e ele disse que estava feliz por eu não ter visto – ela franziu as sobrancelhas. – Olha, no começo eu não sabia que era ele, quer dizer, qual era a probabilidade? Mas então ele comentou algo sobre estar no tédio porque a amiga dele havia saído de férias e então ficou tudo claro como água potável.

Eu suspirei. Pelo menos ele ainda me considerava sua amiga, sinceramente eu pensei que ele me chutaria da sua vida depois do que havia acontecido.

— Oh, droga – murmurei. – Olha, não tem problema, eu acho.

Isabelle parecia indecisa.

— Eu não sei. Isso é esquisito, sabe? O cara acabou de dizer que amou você todos esses anos...

— Isso não importa, Izzy – murmurei, me sentando ao lado dela na cama.

— Tudo bem, eu vou dizer o que é. Às vezes você age como se gostasse dele também, entende? Então eu fiquei com o pé atrás.

Meu queixo quase caiu por um momento, mas eu me obriguei a parecer normal. Mesmo que eu amasse Simon e tudo mais, não conseguia imaginá-lo daquele jeito. E agora ainda havia Jace... Droga. Droga. Droga. Grande droga.

— Acho que não – murmurei. – Quando penso em Simon, não consigo nos imaginar desse jeito – forcei um sorriso. – Hey, o que aconteceu mais? Me conte.

Eu estava tentando soar animada, e esperava ter conseguido. Isabelle deu um sorriso tímido que era totalmente incomum.

— Ele ficou falando por um tempão, e eu apenas concordava com ele, apesar de não entender nada do que estava falando. Nunca fui fã de óculos, costumava achar patético, mas caem tão bem nele – ela suspirou. – Enfim, quando eu finalmente percebi quem ele era – bem, Simon não é um nome incomum – e comecei a hesitar. Dei uma desculpa esfarrapada de que havia uma emergência em casa e voltei. Na verdade... Na verdade nós vamos almoçar juntos amanhã.

Engoli em seco, tentando empurrar o sentimento esquisito para baixo, e sorri. Eu não estava exatamente contente, mas estava feliz por Simon ter conhecido Isabelle, porque eu havia encontrado Jace – mesmo que aquilo não durasse, eu não me importava com aquilo agora.

— Simon nunca foi do tipo que fala demais com garotas, você tem sorte – comentei.

— Sabe, no caminho de volta eu fiquei pensando “Qual é o problema da Clary? Esse cara é simplesmente demais, ela deveria se jogar nos braços dele” – ela baixou os olhos. – Mas então eu aprofundei mais meus pensamentos, até que eu lembrei que você havia saído com Jace, e foi aí que eu me dei conta de que você gosta mesmo dele. De Jace, quero dizer.

Eu pisquei, surpresa não pelo comentário dela, mas por recebe-lo como uma afirmação verdadeira. Claro que eu não iria admitir isso em voz alta, mas estava começando a achar que sentia algo sério e perigoso por Jace. Bufei, expressando toda a minha confusão, e abracei meus próprios joelhos.

— E antes que você diga – Isabelle continuou –, eu sei que você está confusa. Não precisa dizer nada sobre isso, eu estou apenas contando um pensamento que eu tive, encare isso como qualquer outro pensamento idiota que eu tenho. Agora é sua vez de me contar o que aconteceu ontem.

Suspirei e franzi os lábios, que ainda estavam inchados por todos os beijos da noite anterior.

— Fomos ao cinema – contei. – Vimos A Morte do Demônio.

— E o filme é legal? – ela perguntou, parecendo mesmo curiosa.

Eu não consegui evitar um sorriso.

— Na verdade eu não faço a mínima ideia de como é o filme, eu só peguei o começo.

Isabelle soltou um gritinho e riu para mim. Eu tentei contar as coisas para ela de um jeito que não fosse tão constrangedor para mim. Não sabia por que estava fazendo aquilo, mas me sentia estranhamente agradecida para com Isabelle. Estava começando a achar que aquela empatia, como Jace chamava, poderia mesmo resultar em uma amizade real, e estava adorando essa ideia.

***

As barracas estavam prontas. Eu ficaria com Isabelle na barraca roxa dela, e Jace, Alec e Max – que havia insistido em ir também – ficariam na laranja, que eles haviam achado nas coisas de Robert.

Estávamos numa sala totalmente vazia (a não ser pela lareira e as nossas coisas, claro), o chão era de um assoalho polido de madeira e com apenas uma janela ampla, que estava coberta por uma cortina fina e clara que praticamente não escondia nada do lado de fora – onde se encontrava o jardim lateral.

Eu estava meio que me sentindo idiota, mas acho que seria legal. Eu e Simon acampávamos na sala quando tínhamos doze anos, mas aquilo, eu tinha certeza, era algo totalmente diferente.

— Espero que ninguém se queime agora – Isabelle comentou, olhando de lado para Alec. – Enfim, quem está com fome? Vamos assar marshmellows na lareira.

Todos estavam com fome, claro, porque o jantar havia sido a quatro horas atrás.Nos sentamos em frente a lareira, eu estava no meio de Isabelle e Jace, que apoiava seu ombro contra o meu. Ele estava com um delicioso cheiro de marshmellow.

— Vamos cantar uma música! – Max falou de repente, fazendo seus óculos pularem de seu rosto e caírem no chão com um barulho de vidro quebrado. – Ops.

Isabelle soltou um barulho abafado.

— A mamãe vai matar você, décima terceira vez esse ano – Alec falou.

— Prevejo alguém de castigo – cantarolou Jace.

Max estava com as bochechas coradas, recolhendo os pedaços de seu óculos estilhaçado.

— Deixe ele em paz, Jace – falei, sentindo pena dele.

Eu estava prestes a acrescentar “Simon quebrava os óculos a todo o momento quando era criança, e quebra até hoje”, mas me contive. Jace olhou para mim e sorriu.

— Consegue enxergar? – Isabelle perguntou, se levantando. Max balançou a cabeça negativamente. – Vamos, vou te levar para a mamãe e dizer que você tropeçou. Sabe que não vai poder voltar, certo?

Ela continuou falando até desaparecer no corredor. Alec continuou olhando para lá.

— Ela vai colocar a culpa em nós, provavelmente – ele grunhiu, se levantando também. – Já volto.

Então ele seguiu atrás de Isabelle até qualquer lugar que fosse, deixando Jace e eu sozinhos naquela sala escura e vazia. Eu o encarei disfarçadamente, mas ele estava me olhando também, então disfarçar não adiantou nada.

— Devo ressaltar que você fica especialmente linda à luz do fogo – ele falou, num tom baixo demais para ser casual.

Me forcei a segurar seu olhar intenso e não corar.

— Obrigada, você também está magnífico.

— É, nós sabemos.

Eu ri, e mal percebi que minha cabeça estava sobre o ombro dele. Por um momento eu pensei que ele fosse me beijar, mas então Jace passou o braço por meu ombro e me puxou para mais perto, me dando um abraço meio desajeitado.

— Clary – ele murmurou, encarando o fogo na lareira. – Preciso te dizer uma...

Ele foi interrompido pelo passo rápido de Isabelle, que estivera correndo. Ela estava puxando Alec atrás de si, estava com uma expressão estranha. Estava sorrindo, mas parecia culpada por isso.

— Tenho uma notícia que não consigo decidir se é boa ou ruim – ela anunciou, juntando as mãos na frente do corpo. – Max foi suspenso do nosso acampamento improvisado por motivos de visão, e ele vai ficar sem assistir TV por uma semana. Estou mal por ele, mas seria horrível ter que acampar com uma criança de nove anos, então...

— Izzy, apenas pare de falar – Alec cortou-a, se sentando sem olhar para mim ou Jace.

Isabelle fez uma careta para ele, mas deu de ombros.

— Tudo bem, então – falou. – Vamos começar a festa.

— Pensei que fosse um acampamento – murmurei, mas não consegui deixar de sorrir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D Mandem reviews!