Deixo o carro na garagem e faço o meu caminho para o meu apartamento. Meu dia hoje não foi nada legal. Estou descalça, tirei os sapatos para salvar o idiota do John. Chego ao corredor do nono andar e Keenus, estava lindo como sempre. Vestindo uma camisa em gola v branca, calça jeans e um tênis preto. Estava prestes a entrar no seu apartamento, contudo, para quando me ver, caindo na gargalhada segurando a maçaneta da porta para não cair. Olho-o friamente, ele fica reto e morde o lábio contendo o riso. Passo por ele para ir à porta do meu apartamento. Dou uma tapa em minha própria testa lembrando-me que esqueci a minha bolsa na casa de John. Belíssimo para mim. Suspiro alto percebendo que Keenus ainda estava no corredor.

— Puta merda.

— O que foi? – Perguntou solidário – Aconteceu algo?

— Esqueci-me das chaves no apartamento do meu chefe. Agora não tenho como trocar de roupa porque com certeza ele deve já ter ido para a farra.

Seus lindos olhos azuis me analisam de cima a baixo.

— Hã... Se você quiser eu te empresto alguma roupa. – Ele segura com mais força a maçaneta que ainda segurava.

Franzo a testa. Que tipo de proposta era aquela? Suas orelhas ficam vermelhas, o que me faz rir. Se eu aceitar será que ele vai tentar algo, apesar de que não reclamaria já que sua beleza compensa. Não quero ficar com esta fantasia nem mais um segundo.

— Está bem. Eu aceito. No entanto, nada de segundas intenções. – Aviso.

— Vou ficar quieto.

Ele entrou no apartamento sendo seguido por mim. Ele entra no corredor e eu me sento no sofá da sala. Seu apartamento é bastante aconchegante com piso de madeira inclusive os moveis. O sofá em uma cor marrom magnifica. O que me chama a atenção é o pequeno bar no final da sala. Eu queria muito beber, mas o que preciso agora é um bom banho.

— Você é muito baixinha então uma camisa minha vai ser um vestido seu. – Keenus diz voltando para a sala.

— Eu não sou tão baixinha assim. – Digo me levantando. Ele se aproxima de mim me entregando uma camisa preta de botões.

Tenho que considerar. Eu sou baixinha mesmo. Sou uns dez centímetros abaixo do ombro de Keenus. Acho que meus pais não se esforçaram para me fazerem direito. Quando estou perto de John me sinto anã. Ele é uns vinte a trinta centímetros mais alto que eu. Levanto a cabeça para olha-lo com cara feia.

— Você não gosta de ser chamada de baixinha?

— Não. Por que sei que sou baixinha, não precisa falar uma coisa que já sei.

— Desculpe – Pediu coçando o pescoço – Pode tomar banho no quarto de hóspede se quiser.

— Não vou tomar. Ficar com a mesma calcinha não é legal.

Saio da sala e vou para o quarto de hospede. Tiro a roupa ridícula de galinha vestindo a camisa de Keenus em seguida. Bem que ele disse. Ficou praticamente um vestido em mim e bastante largo. Vou para o banheiro lavar o rosto. Tenho que melhorar esse ar de chata. Lavo o rosto, enxugo com a toalha de rosto do banheiro e solto o cabelo que estava amarrado em um coque alto. Volto para a sala de estar encontrando ninguém. Ouço barulho na cozinha e vou até lá. Keenus remexe os armários, a geladeira, o fogão, parece que procura alguma coisa.

— O que está procurando? – Ele se vira abruptamente.

— Claire, você me assustou. – Respondeu se aproximando – Estou procurando comida. Por incrível que pareça eu não tenho comida decente.

— Bem vindo ao clube. – Disse rindo do seu comentário – Na minha geladeira só existe frutas e latas de ervilha.

Ele soltou uma gargalha contagiante. Acho que está perto do Keenus está me fazendo bem. E eu pensando que ele era aqueles caras chatos e ranzinzas. Sinceramente tenho que mudar meu ponto de vista sobre as pessoas. Apesar de que não sou muito amigável com a sindica do prédio onde John mora. Meu ponto de vista sobre aquela mulher nunca vai mudar. Principalmente John não a suporta. Espera, por que eu estou pensando no John agora. John é um fardo na minha vida. Não posso pensar em trabalho com um homem desses na minha frente. Ainda por cima estou usando sua camisa o que me dá pontos extras.

— O que vamos jantar? – Perguntou pegando seu celular que estava em cima da geladeira – O que quer que eu peça?

— Você conhece o Demitri do apartamento 51? – Ele franze a testa e assente com a cabeça – Ele me chamou para jantar com ele. Vamos?

— Ele convidou você e não a mim. – Disse serio.

— Mas eu te convidei, ele não vai se importar. – Argumentei – E sinceramente não estou a fim de segurar vela sozinha.

Keenus pareceu pensar um pouco. Faço a minha cara de pidona, sempre dava certo. Eu queria muito que ele aceitasse, sendo assim teria mais alguém para conversar. Ele respirou fundo e concordou com a cabeça.

— Está bem. Eu vou com você. – Exclamou colocando as mãos para cima se rendendo.

Pulo em cima dele enrolando meus braços em seu pescoço para um abraço rápido. Ele não retribui ficando sem ação. O solto e saio da cozinha. Pego a chave do BMW na mesinha de centro da sala. Vejo que já são 19h30min no relógio da parede. Demitri já deve estar me esperando para jantar. Keenus entra na sala e o puxo pelo braço para fora do apartamento. Espero ele fechar a porta e o puxo novamente para descer pelas escadas.

— Caramba – Keenus diz quando chegamos ao quinto andar – Como você consegue descer e subir de escada todos os dias?

— Já me acostumei. – Dou de ombros.

Vou para a porta com o numero 51 e toco a campainha.

— Será que a namorada dele vai aceitar você ter me chamado sem avisar nada a eles? – Keenus parece nervoso. Franzo a testa ao perceber que ele disse “namorada”. Sorrio e Keenus abre a boca para falar alguma coisa, mas a fecha quando a porta abre.

— Não é bonito deixar as visitas esperando. – Digo empurrando Demitri e entrando no apartamento.

— Claire, por que não me disse que traria um amigo? – Pergunta olhando para Keenus que ainda se encontrava do lado de fora. Volto e puxo Keenus para dentro do apartamento. – E por que você parece que voltou de uma farra? O que é isso? Seu chefe está lhe influenciando?

— Cruzes, quer parar de fazer tantas perguntas. – Pedi chateada com o interrogatório – Esse é Keenus um dos meus vizinhos. Não queria segurar vela então o trouxe.

— Olá, Keenus. Prazer em te conhecer apresentavelmente. Só vejo você de vez em quando e nunca nos falamos. – Disse apertando a mão de Keenus em um rápido cumprimento.

— Eu sei. Desculpe por isso.

— Que nada - Deu de ombros - Me admira você andando com essa doida.

— Muito engraçado – Ironizei – Vem, Keenus.

Puxo Keenus novamente para a sala de jantar. A mesa estava posta para três pessoas. Estava muito bem arrumada e bastante farta. Demitri grita para Ryan que estava na cozinha para trazer mais pratos e talheres. Demitri senta na ponta da mesa. Sento-me à sua esquerda e Keenus senta-se ao meu lado. Ryan entra na sala de jantar com os pratos e talheres.

— Quem mais vai jantar... – Ele para quando ver Keenus – Claire, que bom que trouxe um amigo.

— Esse é Keenus, o vizinho dela. – Demitri como sempre o intrometido – Keenus, esse é Ryan, meu namorado.

Keenus arregala os olhos. Coitado, o entendo totalmente. Inclusive eu nunca tinha imaginado que Demitri era gay se não o conhecesse tão bem. Ninguém percebe. Demitri não é extravagante. Veste-se normal como qualquer homem se veste. Hoje está vestido com uma camisa verde clara e calça jeans velha. Ele é simples e alegre, por isso o admiro tanto. Dou um sorriso para Keenus afirmando com a cabeça. Ele engole seco.

— Desculpe, é que não parece. – Diz um pouco envergonhado.

— Nós sabemos. – Ryan e eu comentamos em uníssono.

Ryan põe os pratos e talheres para Keenus e senta-se a direita de Demitri. Percebo que ele usa terno e não consigo segurar o comentário.

— Ryan, isto não é um jantar formal.

— Ele veio direto do trabalho sua chata – Não disse que o Demitri é intrometido.

— Cala a boca – Digo para ele fazendo uma careta.

— Isso que dá ser baixinha, são mais ignorantes. – Demitri fala colocando uma porção de camarão no seu prato.

Faço uma careta mais feia e dou língua. Keenus e Ryan caem na gargalhada. Sempre tínhamos esse tipo de confronto o que nos unia mais ainda. Quando um de nós precisava de ajuda, sempre contávamos um do outro. Demitri me ajudou muito e eu vou sempre ser grata a ele. A campainha toca e olhamos um para o outro. Tenho certeza que ninguém chamou mais alguém. Ryan se levanta e sai da sala de jantar para atender a porta. Volto à atenção para a mesa.

— Droga Demitri. Você sabe que eu não gosto de coisas do mar e faz camarão logo hoje. – Reclamo. Detestava qualquer coisa que viesse do mar.

— Foi Ryan que fez. Então eu me lembrei de você e fiz um delicioso bife. Muito bem assado como você gosta. – Se defendeu.

Ryan volta para a sala de jantar e está com uma cara atrevida. Faz um gesto para a entrada da sala como se tivesse mandando alguém entrar. E realmente alguém entra. Um John totalmente bagunçado entra na sala.