James Potter

Já havia passado das seis da tarde, eu já deveria estar em casa, contudo a chuva forte de Londres me impedia de sair do prédio e pegar o meu carro, algo que me irritava muito. Com a força da tempestade que caía, nem o elevador estava funcionando devido à falta de energia, o que me obrigava a descer os trinta andares do prédio pelas escadas.

A única parte boa nesse clima londrino era que, por mais exercícios físicos que você fizesse, dificilmente você suaria, por isso, quando cheguei ao térreo, quase morrendo, ainda pude manter a mínima decência e não estar todo molhado. No hall, assim como eu previa, haviam vários funcionários entediados ou preocupados, olhando pelo vidro a fora e esperando que a chuva maneirasse.

Mais para o canto a loira, Fawkes, uma das assistentes da empresa, estava encostada na parede. Vestia uma saia provocadoramente curta e um terninho extremamente sexy. Os cabelos loiros estavam soltos numa cascata ondulada e os saltos, muito altos, davam a ela o exato toque de sensualidade e seriedade que poucas conseguiam ter. Sorri para mim mesmo enquanto olhei para fora, a chuva não parecia dar sinais de que melhoraria.

–Cansada? –Perguntei, assim que me aproximei. Ela olhou-me e sorriu.

–Bastante. E pra ajudar, não posso ir para casa. –Reclamou um pouco, mas não deixou que o sorriso saísse de seu rosto.

–Pois é, não acho que vá melhorar tão cedo, sabe... –Admiti.

–Ou seja, é mais fácil todos ficarem por aqui e já trabalharem amanhã. –Brincou ela.

–Dependendo da companhia pela madrugada, não seria má ideia... –Pisquei marotamente e sorri de lado.

–Querendo passar o tempo enquanto a chuva não te deixa ir embora? –Ela sorriu, maliciosa. Essa é minha garota!

–Fui tão direto assim, loira? –Falei em um tom mais baixo, rouco, para que só ela ouvisse.

–Conheço sua fama, gato. –Sorriu-me ela. –Mas como não temos muito mais o que fazer... –Ela piscou para mim e saiu andando discretamente rumo ao primeiro andar, que estava em reformas para a abertura de uma nova empresa. Acho que esperar a chuva passar poderia ter lá suas vantagens!

Remus Lupin

Chovia torrencialmente lá fora, a internet, pra ajudar, havia caído há quase duas horas e nada de voltar a funcionar e a luz estava oscilando, o que me impedia de assistir TV ou algo similar. Estava deitado no sofá, os braços atrás da cabeça, voando alto, quando um Sirius ensopado e com uma carranca enorme chega em casa.

–Eu vou matar o Pontas! –Resmungou ele.

–Por quê? –Perguntei, ainda deitado.

–Ele me prometeu carona há quase duas horas!

–Bom, ele pode ter ficado preso no trabalho por causa da chuva, sei lá...

–Pô, mas eu liguei! O filho da puta nem pra me atender! –Reclamou ele.

Revirei os olhos, já não adiantava mais reclamar dos palavrões.

–Relaxa, pode ter acontecido algum imprevisto. –Tentei acalmá-lo, apesar de não estar muito crente nessa desculpa.

–Espero que esse “imprevisto” não use mini saia e esteja de quatro pra ele agora! –Sirius esbravejou e bateu a porta de seu quarto.

Há quase um mês Sirius estava sem carro, pois havia capotado na estrada (o que lhe causou uma luxação no tornozelo e alguns cortes) e seu carro estava tão danificado que não valia a pena consertar, o que o obrigou a vender para o ferro velho (finalmente, ninguém mais aguentava aquela lata velha que ele chamava de carro!). Contudo, há quase duas semanas eu estava também sem carro, depois que Sirius o emprestou para ir a um café (o que eu duvido que fosse verdade) e bateu num hidrante; por culpa da velocidade em que o Cachorro estava, os danos foram bem significativos e o mecânico teve que encomendar algumas peças, o que levaria um tempo para consertar. Por consequência, o único a possuir carro no presente momento é nosso querido James.

–Velho, não tem leite?! –Sirius gritou da cozinha um tempo depois.

–Acho que não, não fomos ao supermercado essa semana! –Respondi.

–Nem refrigerante?! –Gritou ele novamente.

–Também acho que não.

–Suco pelo menos?!

–Mano, olha aí! –Gritei de volta.

Minutos depois um Sirius emburrado aparece na sala com um copo de agua e um pacote de bolacha recheada.

–Precisamos fazer compras. –Disse ele de boa cheia.

Lilian Evans

Era fim de tarde, uma quinta-feira tão bonita. Lene havia feito sua segunda palestra esta manhã e os elogios haviam rolado soltos. Já havíamos visitado um barzinho muito bonito, ido ao Central Park, visitado a Estátua da Liberdade, algumas galerias e até mesmo um museu de Arte Contemporânea, mas ainda faltavam tantas coisas da minha lista que eu tinha certeza que não ia sobrar tempo.

Naquele dia em especial resolvemos começar nossas compras em NY, andando por uma das avenidas movimentadas e entrando em todas as lojas que encontrávamos.

–Gente, olha aquela! –Dorc apontou para uma loja com fachada bonita e clássica, uma vitrine quase brilhando de tão limpa e manequins vestidos com belas roupas de verão.

–Você sabe que a gente nunca vai usar uma roupa assim em Londres, né? –Perguntei, rindo.

–Ah, não custa ver, né? –Sorriu a loira, meio constrangida.

–Qual é meninas, estamos de férias, podemos ver tudo se quisermos! –Lene se empolgou, nos puxando para dentro da loja.

As vendedoras, todas vestidas com o mesmo vestido preto, clássico e scarpins de verniz, sorriam exageradamente para suas novas clientes. Uma em especial, com um coque extremamente bem feito, sem um fio solto, de olhos muito azuis, se aproximou de nós.

–Boa tarde, posso ajuda-las? –Ofereceu-se ela.

–Boa tarde! Obrigada, mas nós só estam... –Comecei a dizer, mas fui interrompida por uma Dorcas extremamente animada:

–Claro, você pode me mostrar onde é o provador?

Assim que olhei para a loira, notei em seus braços uma boa quantia de peças de roupa das mais variadas cores e estampas. Impossível mesmo! Acabei rindo, logo constatando que Marlene também se encontrava com a mesma necessidade de local para experimentar tudo aquilo. Elas eram rápidas!

–A senhorita não vai experimentar nada? –Perguntou-me a vendedora assim que indicou a Lene e Dorcas os provadores.

–Estou dando uma olhada, obrigada! –Agradeci, sorrindo para ela.

–Nossa nova coleção chegou, se te interessar! –A mulher insistiu, caminhando para trás de um balcão e tirando algumas peças dos cabides. –Saias, regatas, camisetas...

Mais por educação do que propriamente interesse, fui até a mulher e dei uma olhada nas peças que ela me mostrara. Para ser sincera, a maioria delas era bem bonita, mas não era propriamente algo que eu usasse, como shorts bem curtos, camisetas coladas e afins. Acabei gostando de três peças: uma saia longa azul marinho com estampa branca com desenho de penas, uma camiseta branca de mangas e um short vinho básico.

–Lily, o que achou? –Uma Lene sorridente saiu do provador vestindo um short verde escuro, uma regata branca básica, um colar comprido e uma rasteirinha básica.

–Muito bom, mas acho que Londres não vai te permitir mostrar toda essa pele. –Brinquei, fazendo-a mostrar a língua.

–E qual o problema? Existe o verão, você sabe... –Lene provocou.

–Até lá você já vai ter dado um fim nesse short. –Falei o óbvio.

–Ou não, você não sabe! –A morena disse.

–Eu acho que está lindo, Lene! –Dorc falou, saindo do provador. –E o que acharam?

Dorcas vestia um jeans básico de lavagem não muito escura, uma camiseta com um ombro caído na cor branca com o contorno de um desenho em preto, algo bem básico.

–Acho que você tem que levar! –Lene se animou.

–Aprovado! –Sorri.

–E você Lily? Vai provar! –Elas me encheram o saco, me empurrando pro provador. Comecei a rir, realmente aquelas férias foram a melhor coisa que poderiam ter me acontecido.

James Potter

–Pizza? –Remus sugeriu.

–É isso ou água e bolacha recheada! –Sirius reclamou.

–De quem era a vez de fazer compras? –Perguntei, largado no sofá.

–Acho que era minha, mas tô sem carro. –O Cachorro se desculpou. –Se quiser me emprestar o teu...

–Não, não! Relaxa! –Apressei-me em dizer. Depois do estrago que tinha feito no carro do Remus, não queria nem sonhar com Sirius dirigindo o meu. –Eu faço dessa vez, ok?

–Beleza, mas faz rápido, porque a situação aqui tá complicada! –Remus quase implorou.

–Por hoje então ficaremos com a pizza? –Perguntei.

–Por mim, beleza. –Sirius concordou. Remus apenas assentiu. Peguei o telefone e disquei rapidamente a pizzaria do fim da rua, que demoraria menos para chegar.

–Pede de calabresa! –Sirius quase gritava.

–Brócolis, por favor! –Remus tentava pedir.

–Com licença, moça. –Pedi pra atendente do outro lado da linha. –Se ninguém calar a boca, não tem como pedir merda nenhuma! –Reclamei para os dois e voltei a fazer o pedido.

–Grosso. –Sirius reclamou.

–Grande também, gato! –Fiz uma voz boiola pra ele, que me tacou uma almofada.

–Vocês não prestam! –Remus falou, mexendo no computador.

Logo que desliguei o telefone, olhei marotamente para o que Remus fazia. Aparentemente, conversava com a ruiva do outro dia. Lílian Evans. Peguei o celular e entrei na internet, procurando pelo perfil da garota. Eu tinha que admitir, ela era muito bonita! Bem mais bonita do que as meninas que Lupin normalmente conversava, o que era surpreendente. Por um pequeno deslize (só que não) cliquei em adicionar amigos. Poxa, era uma pena, mas ficaria chato cancelar o pedido, então agora era só esperar a boa vontade da ruiva.

Lílian Evans

Lene estava mexendo incessantemente no celular, Dorcas ainda comia as pizzas que havíamos pedido enquanto eu colocava algumas fotos novas no facebook. Como ocorria frequentemente nos últimos tempos, uma janelinha apareceu:

Cara, curti muito as últimas fotos!

Pessoalmente é muito mais bonito, pode ter certeza! ^^

Um dia ainda conheço! Mas e aí... Aproveitando a viagem?

Demais! Até me aventurei nas compras! Haha’

Mulheres...

Haha’ não sou tão adepta assim à lojas e experimentar mil coisas...

Disso eu duvido, hein? :p

Duvide o quanto quiser, Sr. Lupin! Estou dizendo a mais pura verdade!

Foi enquanto eu esperava a resposta dele que eu vi uma nova notificação. Provavelmente seria algum comentário nas fotos que eu havia postado recentemente, mas me surpreendi ao perceber que era um pedido de amizade. James Potter.

Abri o perfil dele, tínhamos dois amigos em comum: um garoto que estudou comigo na faculdade, mas desistiu no meio do curso e foi fazer Administração e Remus Lupin. Estranho. Olhei algumas fotos, parecia ser muito bonito. Revirei os olhos, me sentindo como Lene por alguns segundos ao avaliar um cara, mas não sei se pelo clima de NY ou se pela paz de espírito que eu havia adquirido nos últimos dias, resolvi aceitar.

No chat eu pude ver que ele estava online, mas demorou uns bons minutos para ele vir falar comigo. Na verdade, estava quase de saída quando a janela apareceu:

Oi, tudo certo?

Ooi, tudo sim e contigo?

Previa uma conversa monótona daquelas típicas quando não se tem assunto, mas me surpreendi quando, com muito bom humor, ele desenvolveu um assunto um tanto fora do típico clichê e me fez rir boa parte do tempo. Ao final daquela conversa eu pouco sabia sobre James Potter se não que ele tinha quebrado o nariz jogando rugby quando estava no ensino médio, que ele tinha tido um cachorro quando era mais novo chamado Toddy e que o cachorro não pôde ter filhotes porque não alcançava a fêmea para cruzar, que ele odiava os dias chuvosos de Londres e que tinha o sonho de conhecer a maior quantidade de países possíveis. Pode parecer bem estranho, mas foi uma das conversas que eu mais havia me divertido na vida e, incrivelmente, ele ainda era um completo estranho.