POV – Haymitch

Como se o dia já não tivesse sido puxado o suficiente, agora essa garota ainda quer que eu convença a todos de que eles não são necessários amanhã. Eu até concordo que depois de tudo que aconteceu eles merecem uma pausa, eu posso imaginar como eles estão mas quando se entra nesse trem não tem volta, independente de quem esteja a frente, isso aqui não tem fim, uma vez nessa confusão o resto da viajem segue assim. Mas eu também sei o quanto essa garota pode ser cabeça dura e é bem provável que ela faça o que disse mesmo, então eu não tenho outro alternativa que não seja avisar que eles não irão, não é o assunto mais adequado pra se falar no telefone mas eu também não vou agora pra mansão.
O único problema agora é que eu não tenho o número do telefone pra falar com o Plutarch, já procurei aqui no meio dessa confusão em cima da mesa mas sinceramente acho que mesmo que estivesse aqui não acharia, vou ter que encontrar outro jeito de falar com ele e já sei quem pode ajudar, Effie, com certeza ela tem o número de lá. Então eu termino a metade da minha garrafa e vou atrás dela, pelo horário ela já deve está por aqui, tento me preparar psicologicamente para falar com ela, mas quando se trata dela nunca é preparo suficiente.
Chego na frente da porta do apartamento dela e digo a mim mesmo que eu não tenho outra alternativa, então bato na porta, alguns segundos e ninguém atende, bato novamente com mais força e rapidez, então a porta abre e ela aparece.
– Uau! – eu falo assim que a vejo, ela está muito parecida com um ser humano normal e comum e se tratando de Effie Trinket isso é realmente impressionante, ela está sem aquelas perucas, seu cabelo está natural, nada daquelas maquiagens coloridas e está com um roupão de tecido leve. – Effie? – eu pergunto só pra confirmar.
– Haymitch! – ela fala surpresa e eu não espero ela me convidar pra entrar, simplesmente passo por ela e entro no apartamento.
– O que você está fazendo aqui? – ela pergunta ainda parada na porta.
– O que aconteceu com aquilo tudo? – eu pergunto fazendo gestos com a mão pra indicar o cabelo e as roupas. Ela revira os olhos e cruza os braços.
– Óh, eu não costumo dormir daquele jeito não é ?! Mas você veio até aqui só pra me perguntar isso?
Eu dou de ombros. – Katniss e Peeta precisam da sua ajuda! – eu falo logo e isso consegue toda atenção dela, ela fecha porta e vem para o sofá de frente para o que estou sentado.
– O que aconteceu com eles? O que eles querem? – ela fala ansiosa e preocupada mas sempre com aquele sotaque irritante daqui da Capital.
– Eles estão com problemas – eu limito a informação.
– Foi sobre hoje mais cedo não foi? – ela pergunta quase choramingando.
– Então você sabe?
– Só sei que aconteceu alguma coisa, mas não sei ao certo o que foi – ela fala meio confusa.
– Por que será que isso não me surpreende! – eu resmungo.
– Mas então o que houve? – ela pergunta ansiosa.
– O que aconteceu não importa. O que importa é que eles precisam de uma folga – eu falo me encostando no sofá.
– Uma folga? –ela repete quase como um grito – Oh não, isso é impossível! São apenas 5 dias e eles querem uma folga? Não posso! – ela conclui agitada.
– Então você vai ter que tornar o impossível, possível! – eu falo sem muita paciência para os chiliques dela.
Então ela se levanta e começa a andar para um lado e para o outro.
– Haymitch, você não entende. A presença deles amanhã não pode ser cancelada assim, eles precisam está lá. – ela fala cada vez mais preocupada.
– Fale isso pra Katniss! – eu dou de ombros.
– Pois é o que eu vou fazer – ela diz e pega o telefone.
– Não! Não faz isso ou vai ser pior. – eu falo e confesso que estou até me divertindo com o desespero dela.
– Por que não? Ela precisa entender que ... – ela começa a reclamar mais eu já estou cheio disso.
– A realidade é a seguinte, Katniss já está decidida eles não vão a lugar algum amanhã, se você ou eu ou qualquer outra pessoa tentar convencê-la de outra coisa ela vai embora e você sabe que ela faria isso! – eu dou uma pausa, ela larga o telefone e se afasta concordando
–É verdade, ela anda muito teimosa esses dias, você não sabe o que eu passo tentando transforma-la em algo apresentável - ela se queixa como se isso fosse um grave problema. Eu reviro os olhos e tento não perder o foco.
– Então tudo que você pode fazer é ligar pro Plutarch agora, eu falo com ele e pronto, problema resolvido! – eu termino de falar dando de ombros.
– Isso está errado, toda programação terá que ser mudada, amanhã é a inauguração do hospital e teria ainda a continuação da reunião de hoje e me pareciam assuntos muito importantes – e ela volta a reclamar e choramingar.
– Chega! – eu a interrompo – Nada disso me interessa. Eu só preciso de um número você vai me dar agora ou eu vou ter que esperar todo esse discurso entediante? – minha paciência está cada vez menor.
– Você poderia tentar pelo menos uma vez ser educado! – ela resmunga enquanto pega um caderno e começa a folhea-lo – E só pra te lembrar é você quem está precisando da minha ajuda.
– Eu não! Katniss e Peeta – eu retruco, ela acha o numero anotado e me entrega.
Eu pego o telefone e disco o numero, alguns toques e quem atende é uma mulher.
– Eu preciso falar com Plutarch! – falo diretamente, não estou a fim de bater papo com ninguém.
– Quem gostaria? – a voz do outro lado pergunta.
– Haymitch Abernathy!
– Só um instante- ela pede e alguns segundos depois a voz de Plutarch aparece.
– Haymitch! Algum problema? – ele me cumprimenta já prevendo algo errado.
– Talvez! – eu falo tentando avaliar se é ou não um problema.
– O que é exatamente? – ele pergunta e posso sentir que está preocupado.
– Bom, na verdade acho que não chega a ser um problema, é mais um comunicado. Katniss e Peeta não irão a inauguração e nem a reunião amanhã
– O que? – o desespero e a surpresa na voz dele fez valer a pena esse momento, imagino ele dando um pulo da cadeira e tenho que me segurar pra não rir.
– É isso aí! Não vão não! – eu falo me divertindo.
– Isso não é uma opção! – ele recupera seu tom normal.
Effie está sentada de frente pra mim tentando adivinhar o que ele está falando, na verdade eu estava errado sobre isso ser difícil, é simplesmente cômico ver a reação deles dois.
– Vou ter que discordar. Na verdade essa é a única opção! – eu falo e continuo – Depois de hoje Katniss se recusa a aparecer amanhã em qualquer lugar que seja, portanto Peeta também não irá e segundo ela mesma se alguém aparecer por lá e tentar fazer eles mudarem de ideia ela joga tudo pro ar então eu acho que só resta uma única opção, liberar eles – eu falo ainda me divertindo com isso.
– O que seria ‘’jogar tudo pro ar’’? – ele pergunta tentando se acalmar, eu dou uma gargalhada e continuo.
– Quem pode saber! Eu estou falando de Katniss Everdeen, ninguém nunca sabe o que ela pode fazer – eu falo rindo de novo – Mas se eu tivesse que apostar diria que ela vai te causar grandes problemas, talvez problemas irreversível e nós sabemos que ela tem poder pra isso não é mesmo? – eu pauso esperando ele calcular os riscos.
– Eu não vou ser ameaçado por ninguém Haymitch, ela precisa está aqui amanhã! – ele fala com voz firme mas eu reconheço que ele está receoso.
– Se você prefere arriscar. Mas se eu fosse você pensaria melhor, você sabe tanto quanto eu que ela e o garoto tem grande poder público declarar uma guerra a eles seria o mesmo que declarar contra todos aqueles que apoiam e amam esse casal o que pelas minhas contas são muitas pessoas, mas como o risco é seu! Não me importa! – eu falo de forma mais clara possível.
Ele fica em silêncio alguns segundos.
– Tudo bem! Amanhã, apenas amanhã! – ele fala reconsiderando – A propósito preciso falar com você pessoalmente. Estarei te esperando aqui logo após o almoço. – ele fala e desliga e nem é preciso eu estar olhando pra ele pra saber que ele estava furioso.
– E então, o que ele disse? – Effie pergunta sacudindo as mãos agitada.
– Bom, ele achou uma ótima ideia. – eu falo dando de ombros e rindo lembrando da reação dele.
– Que bom! Mas agora eu preciso reprogramar as aparições de amanhã. Você estará lá? – ela pergunta já revisando uma espécie de agenda dela.
– Acho que eu não sou a figura mais indicada pra estar na inauguração de hospitais e escolas – eu falo já me levantando em direção a porta. Quando eu estou quase com a mão na maçaneta da porta, ela fala baixo.
– Obrigada!
Eu me viro sem entender o porque ela está agradecendo.
– Pelo que? Achei que você estivesse me fazendo um favor! – eu devolvo o que ela me falou.
– Eu não estou falando de hoje!
– Então? – eu pergunto fazendo sinal com a mão e espero ela falar, enquanto ela está parada me olhando eu observo ela mais uma vez e é incrível como ela fica diferente sem todas aquelas coisas, eu diria até que ela é realmente bonita. Então ela me chama atenção.
– Plutarch me contou tudo! – ela fala dando um sorriso sem graça.
Isso não é possível, eu disse que não era pra ninguém saber, durante a revolução Effie foi capturada e ficou no poder da capital, claro que ela não sofreu nada parecido com os outros, ela apenas ficou presa em alguma sala esperando ordens, mas isso pra ela já é algo traumatizante, então quando acabou tudo, ninguém sabia ao certo que fazer com aqueles que eram protegidos da Capital, e eu não sabia qual seria o destino dela e mesmo ela sendo na maior parte do tempo irritante e alegre demais eu não consegui ignorar o que poderia acontecer com ela, na verdade nem sei ao certo por que fiz isso, mas eu procurei Plutarch e intercedi por ela, na verdade só falei o que todos sabiam, que ela não sabia de nada e é obvio que não tinha nenhum plano secreto então depois de alguns esclarecimentos ele me garantiu que nada aconteceria com ela, mas eu lembro de ter pedido segredo e ele não fez.
– Não sei do que você esta falando! – eu falo dando de ombros tentando não me importar, viro as costas e volto a porta.
– Haymitch, você sabe do que eu estou falando! – ela fala séria – eu só queria te agradecer, ninguém mais se preocupou, mas você sim! Obrigada.
Eu paro ainda de costas mas não falo nada.
– Eu só não entendo por que? – ela pergunta querendo saber.
Eu me viro pra ela. – Só fiz o que era certo! É claro que você não tinha nada a ver com aquilo tudo então – eu balanço o ombro sem saber o que falar.
– Eu nem sei como agradecer – ela fala baixo mas logo recupera o forte e alegre sotaque quando continua a falar sem parar – Eu fiquei surpresa, afinal, comigo você é sempre mal-humorado, irritante não achei que você, logo você, pudesse fazer isso por mim.
Então eu não sei o que me dá, mas eu vou até ela e lhe dou um beijo, ela fica parada surpresa, e pela primeira vez eu realmente acho que bebi demais e já devo está na hora de parar com isso, onde eu estava com a cabeça pra fazer isso. É a Effie, eu nunca pensei nisso, o único tipo de sentimento que ela me dava era raiva e irritação, eu não sei por que fiz isso. Então eu me separo dela, ela está me olhando confusa.
– Você não sabia como agradecer – eu falo dando de ombros e me virando pra sair – Além do mais você nunca para de falar – eu saio e fecho a porta mas ainda estou tentando entender que espécie de idiotice eu acabei de fazer, não faz o menor sentido, eu volto pro meu quarto ainda tentando entender isso, mas sem entender nada, então pego mais uma garrafa e tento pelo menos esquecer que eu fiz algo assim, mas pelo visto isso não é algo que se esquece assim.